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A guerra do Santos: 50 anos de uma viagem histórica – A guerra civil (parte III)

José Paulo Florenzano 23 de janeiro de 2019

A Nigéria obteve a independência em 1 de outubro de 1960, no quadro da descolonização do continente africano. Mas as esperanças suscitadas pela emancipação política foram logo substituídas pelos temores provocados pela guerra civil deflagrada no dia 6 de julho de 1967. O tênue equilíbrio no qual se assentava a coexistência das três principais etnias do país, Hausá, Ioruba e Igbo, concentradas respectivamente no Norte, no Oeste e no Leste, as três regiões administrativas em que se dividia o país -, logo se desfez em decorrência da ação militar de 15 de janeiro de 1966, desfechada por um grupo de jovens oficiais do Exército, identificados em sua maioria com a etnia Igbo. Sob o pretexto de levar a cabo o combate à corrupção instalada na gestão do primeiro ministro Abubakar Tafawa Balewa, os autores do golpe destituíram do poder central o líder Hausá cujo governo representava o domínio setentrional muçulmano sobre a vida política nigeriana.

As três identidades étnicas centrais da Nigéria podem ser consideradas como o “produto da transição turbulenta do status colonial para o pós-colonial”[1]. Como quaisquer outras identidades sociais, elas se revelam “problemáticas” e devem ser encaradas como a cristalização de “ficções idealizadoras”, dotadas, no entanto, de realidade à medida que passam a nortear e conferir sentido à vida dos grupos que nelas creem, vivendo intensamente as referidas “idealizações”, como a sequência dos acontecimentos na Nigéria nos mostra de forma emblemática.

Com efeito, embora frustrado pela reação coordenada por setores das próprias Forças Armadas, o golpe havia deixado um rastro de assassinatos que reavivava antigas feridas na sociedade nigeriana, precipitando-a em uma espiral crescente de violência cujo desfecho viria a ser a luta fratricida. Vários fatores concorreram para tal desenlace. A “competição entre frações da elite política pelo controle do poder federal” certamente despontava como uma questão chave[2]. A eliminação física de algumas das principais lideranças políticas e militares do universo muçulmano, por sua vez, mostrar-se-ia decisiva para infundir no país a crença na existência de um complô articulado pelo povo Igbo para dominar e submeter os demais grupos étnicos da federação[3]. Quanto às medidas centralizadoras adotadas pelo novo chefe de Estado, general John Aguiyi Ironsi, não somente atingiam os interesses político-econômicos das aristocracias Hausá e Fulani, encasteladas nos governos e feudos islâmicos consolidados no Norte, como reforçavam as suspeitas relativas à aludida trama urdida para subjugá-los.

Em 29 de julho de 1966 tais suspeitas e ressentimentos, somadas aos interesses materiais contrariados, resultaram no contragolpe liderado por oficiais da região setentrional. A ação teve como principal corolário o assassinato do general Aguiyi Ironsi, identificado com a maioria Igbo da região oriental, e a ascensão de Yakubu Gowon, jovem militar de religião cristã, pertencente a uma minoria étnica da região setentrional. O poder mudava de mãos mais uma vez e a troca liberava ódios latentes a muito custo contidos e represados.

Convertidos no alvo das sucessivas ondas de violência que passaram a percorrer e convulsionar a sociedade nigeriana desde o fatídico golpe de Estado, cerca de trinta mil integrantes da etnia Igbo perderam a vida nos massacres e pogroms promovidos em várias áreas do país, em especial, no Norte. A deterioração do ambiente político não lhes deixava alternativa senão o êxodo em direção à Nigéria Oriental, região onde se concentrava a população Igbo e para a qual se dirigiam agora cerca de um milhão e meio de refugiados. Às vésperas da secessão, entretanto, os dirigentes nigerianos jogaram uma última cartada na tentativa de evitar que ela se consumasse, redefinindo a estrutura federativa do país em doze estados. A manobra fracionava a Região Oriental em quatro unidades administrativas, visando, dessa maneira, dificultar a articulação política em curso. Mas a ruptura àquela altura tornara-se inexorável.

Um ano após o início dos massacres, face à omissão do governo nigeriano em coibir a violência e prover segurança aos cidadãos atingidos por ela, o general Emeka Ojukwu, governador militar da região oriental, com o apoio manifesto do povo Igbo e com o respaldo expresso da Assembleia Consultiva, proclamava no dia 30 de maio de 1967 a criação da República de Biafra, soberana e independente, com sede na cidade de Enugu, a capital da antiga região oriental[4]. Com esta medida, ele subtraía à federação nigeriana a porção mais rica do território nacional em jazidas de petróleo, avidamente cobiçadas e exploradas pelas multinacionais instaladas no Delta do Níger[5]. Iniciava-se, assim, um conflito armado cujas implicações internacionais tornavam-no uma “guerra mundial em miniatura”[6].

O alinhamento de forças em torno dos contendores colocava em campos opostos as antigas potências coloniais, Inglaterra e França, às voltas com seus cálculos estratégicos na África Ocidental. Embora sem reconhecer oficialmente o novo Estado, Paris assegurava-lhe o fornecimento de armas e manobrava no campo diplomático para levar a Enugu o apoio da África francófona[7]. Em contrapartida, Londres municiava as tropas federais, defendendo a integridade territorial da Nigéria e, por conseguinte, os interesses comerciais da Shell British Petroleum. A Organização da Unidade Africana, por sua vez, buscava mediar o conflito com base no duplo postulado da não interferência nos assuntos internos dos países membros, e da preservação das fronteiras nacionais traçadas no contexto colonial[8]. Através da guerra civil nigeriana reproduziam-se também embates mais vastos como, por exemplo, o árabe-israelense e o sino-soviético[9]. Por razões de ordem político-ideológica, étnico-cultural e econômico-financeira, agências transnacionais, governos estrangeiros e empresas privadas envolvidas com a exploração do petróleo e com o comércio de armas, inscreviam-se no campo de batalha, tomando posição a favor desta ou daquela causa. De acordo com John de St. Jorre, correspondente do jornal londrino, The Observer, nos casos específicos de Portugal, da Rodésia e da África do Sul, a intervenção ao lado das tropas biafrenses embutia um escopo muito preciso, a saber: solapar a unidade dos países africanos; enfraquecer a luta de libertação nacional e reiterar a mensagem racista acerca da instabilidade imanente à África negra[10].

De fato, o conflito atingia o país mais populoso do continente, com cinquenta e cinco milhões de habitantes, considerado pela diplomacia ocidental o exemplo mais “promissor de evolução de um território colonial rumo à maturidade política”[11]. Além disso, a Guerra de Biafra representava um duro golpe na identidade africana, “nascida da humilhação racial e da dominação estrangeira”, forjada na experiência comum da luta contra a exploração econômica e a tutela colonial[12]. Construída a duras penas, ela se via agora confrontada com o dilaceramento de uma guerra civil cujo horror as câmeras de televisão captavam e transmitiam para os quatro cantos do mundo. Com efeito, a desnutrição das crianças biafrenses nas áreas mais densamente povoadas do interior do país, sitiadas pelas tropas federais, evocavam os corpos esquálidos dos campos de concentração da Segunda Guerra. Como nos recorda o escritor, poeta e, à época, diplomata da República de Biafra, Chinua Achebe, estas imagens irrompiam “na sala de estar das pessoas”, desencadeando protestos no mundo todo[13].

“O conflito nigeriano” – sentenciava o órgão oficial do Vaticano – pesava sobre “a consciência de toda a humanidade”[14]. Nas ruas de Bonn, manifestantes promoviam o cortejo fúnebre dos direitos humanos, depositando, diante da embaixada da Inglaterra, o caixão que lhes simbolizava a morte. Nas ruas de Roma, passeatas denunciavam a “guerra do petróleo”, enquanto estudantes portavam cartazes que expressavam o mal-estar na sociedade da abundância: “O sangue dos biafrenses é o preço de nossa riqueza”[15]. Ao mesmo tempo, nas universidades e nos cafés de Paris, intelectuais, artistas e militantes liderados por Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir subscreviam um manifesto contra os governos imperialistas que rivalizavam “nos seus esforços de fornecimento das armas mais mortíferas, para que as matanças pudessem operar-se nas melhores condições”[16]. Com efeito, mais de cem mil soldados perderam a vida nos campos de batalha e entre quinhentos mil e dois milhões de civis depararam-se com a morte, a maioria por causa da fome “provocada ou agravada pelo bloqueio de Biafra” imposto “pelas tropas federais”[17].

Pois bem, foi em meio a uma guerra civil atrelada a interesses econômicos poderosos, imersa em uma crise humanitária de proporções trágicas e envolta em acusações de genocídio contra o povo Igbo, que a delegação santista desembarcou para cumprir dois jogos amistosos durante a excursão de 1969. Por mais que se queira revesti-los com o signo da neutralidade e mantê-los em uma posição de equidistância dos campos em conflito, parece-nos impossível abstrair os eventos esportivos do contexto político, militar e moral em que se achavam inseridos. Nesse sentido eles nos colocam de imediato diante de uma questão incômoda e incontornável que podemos enunciar nos seguintes termos: as exibições da equipe alvinegra se colocavam, de fato, sob o signo da neutralidade, conforme a historiografia tem reiterado sem hesitação ao longo do tempo, exaltando os feitos extraordinários do rei Pelé, capaz de interromper com a sua simples presença os combates fratricidas em curso no país?[18]

Para abordarmos esta indagação convém retomarmos os passos empreendidos pela comitiva alvinegra no transcorrer da excursão, comparando-os com a cronologia da guerra civil a fim de identificarmos, tanto quanto possível, a correlação de forças estabelecida entre os dois exércitos no instante exato da partida de futebol, cuja realização, supostamente, demandara-lhes o cessar-fogo. Conforme lembrava Joel Camargo, refinado zagueiro do alvinegro praiano: “O Santos jogava e dava exibição” e “tinha o maior jogador de futebol do mundo, que todo mundo queria ver”[19]. Inclusive, como reza a lenda, os exércitos envolvidos na guerra civil.

Ao que tudo indica, a Nigéria não fazia parte do roteiro previamente traçado em conjunto por dirigentes e empresários para a viagem do Santos à África. O indício de que ela não figurava na turnê aparece no relato do enviado especial de A Tribuna, Gilberto Marques, feito quando a equipe ainda se encontrava no começo do périplo pelo continente, em Brazzaville. De acordo com a informação então transmitida pelo jornalista brasileiro, a Nigéria tentava “convencer a delegação peixeira a jogar naquele país, conflagrado pela guerra entre nigerianos e biafrenses”[20]. Diante de semelhante cenário tornava-se compreensível a recalcitrância da direção do clube em aceitar o convite, inclusive, observava o repórter, pelo fato de que o jogo “seria num estádio que, recentemente, foi bombardeado num combate entre as duas facções”. Todavia, quando a aventura parecia definitivamente descartada com base nos riscos que ela comportava, eis que se operava uma surpreendente reviravolta na avaliação do quadro. Na sexta-feira, 24 de janeiro, a delegação alvinegra deixava a República Democrática do Congo rumo à República Federal da Nigéria a fim de realizar a sua primeira apresentação em um país da antiga África Ocidental Britânica.

A partida se achava envolta em muito interesse e enorme expectativa. Lagos Weekend a noticiava como “o maior acontecimento esportivo dos últimos anos”, dedicando-lhe, por isso mesmo, “páginas inteiras”[21]. No sábado, 25 de janeiro, o time do Santos e a Seleção da Nigéria entraram em campo para realizar uma partida eletrizante, disputada palmo a palmo, placar de 2 a 2, dois gols de Pelé. Consoante o relato feito por Gilberto Marques, de A Tribuna, o jogador brasileiro brindara os espectadores com uma “excelente atuação”, recebendo dos adversários, em compensação, uma severa marcação, sendo mesmo “duramente atingido” no segundo tempo, a ponto de abandonar o gramado por alguns minutos para ser atendido pelo massagista do time[22]. De qualquer forma, o público torcedor e a crônica esportiva apreciaram a fundo o espetáculo, que ainda na terça-feira, 28, repercutia na imprensa local: “Um duelo que só acontece uma vez na vida”, assegurava aos leitores The Lagos Daily Times, ao mesmo tempo em que criticava os “enormes gastos” necessários para realizá-lo, cerca de trinta mil dólares, segundo o jornal, desembolsados para trazer Pelé & Cia no quadro de uma “guerra civil”[23].

Eis a questão que merece reter a nossa atenção: o que poderia justificar uma despesa tão vultosa em um momento tão inapropriado? Desdobrando a pergunta: quais eram os interesses que estavam por trás das apresentações do time do Santos na Nigéria?

A partida, patrocinada pela Nigeria Football Association (NFA), consoante a nossa hipótese interpretativa, atendia acima de tudo à propaganda de guerra desenvolvida pelo governo militar do general Yakubu Gowon, empenhado em transmitir à opinião pública nacional e internacional a mensagem segundo a qual a situação se achava sob inteiro controle das autoridades federais, com a vida cotidiana fora das zonas de combate seguindo o seu curso normal, constituindo-se a vitória contra o inimigo interno apenas uma questão de tempo. Se esta hipótese interpretativa estiver correta, devemos reconsiderar a narrativa segunda a qual a guerra civil foi interrompida pela passagem do Santos de Pelé. Assim enunciada, ela nos induz a tomarmos como dado inquestionável a neutralidade da esquadra brasileira vis-à-vis as forças em confronto. Contudo, vista sob o prisma dos interesses políticos e militares postos em jogo, talvez seja mais apropriado perfilá-la ao lado do poder central, disposto a pagar alto preço pelo “direito” de instrumentalizar a presença do ícone global do esporte bretão no contexto da guerra civil em curso.

A segunda partida do Santos na Nigéria nos permite projetar um pouco mais de luz sobre a questão. Senão, vejamos. Após a apresentação na cidade de Lagos a delegação alvinegra havia embarcado para a capital de Moçambique, etapa subsequente da excursão. Ao que parece não estava prevista mais nenhuma partida na Nigéria. Entretanto, quando o giro pela “província ultramarina” de Portugal se aproximava do fim, o correspondente de A Tribuna trouxe aos leitores praianos a inesperada notícia de que os nigerianos iriam rever o Santos”[24]. O novo jogo, porém, não estava agendado para a capital do país e sim para a cidade de Benin, muito provavelmente para o estádio que havia sido alvo dos bombardeios mencionados por Gilberto Marques logo no início da excursão, quando surgiram as primeiras sondagens da NFA. Na segunda-feira, 3 de fevereiro, o time do Santos se despediu de Lourenço Marques, via Johanesburgo, em direção a Lagos, deslocando-se em seguida para a cidade de Benin. Ali, já no dia seguinte, a esquadra entrou em campo para derrotar a Seleção do Estado do Centro Oeste, no estádio de Ogbe, pelo placar de 2 a 1. A partida teve ainda a ilustre presença do governador militar da região, tenente coronel Samuel Ogbemudia, o qual – enfatizava o jornalista brasileiro – “havia decretado feriado especial para que o povo, em massa, presenciasse o prélio internacional”[25]. Atentemos para a informação. Ela menciona a suspensão das atividades na cidade, mas não faz em nenhum momento alusão à existência de um cessar-fogo e isto por uma razão muito simples: ele não era necessário!

Com efeito, em fevereiro de 1969, quando o time do Santos aterrissa na guerra civil da Nigéria, a correlação de forças então existente era amplamente favorável às tropas federais. Para mostrá-lo, devemos reconstituir brevemente a cronologia dos acontecimentos[26].

Senão vejamos: logo no primeiro mês do conflito bélico, deflagrado em julho de 1967, as forças militares da Nigéria conquistaram a cidade de Nsukka, importante centro universitário da República de Biafra, e a região de Ogoja, estrategicamente localizada na fronteira com Camarões. Mas quando o avanço sobre a área separatista parecia arrasador, adveio a inesperada contraofensiva. No início de agosto, os exércitos biafrenses capturaram o Estado do Centro Oeste, instaurando a “República de Benin”, entidade de existência efêmera, pois, de fato, logo em setembro as forças nigerianas retomaram o controle do território, submetendo-o novamente ao domínio do governo central. Com efeito, pouco depois da expulsão das forças separatistas, a cidade de Benin retornara ao curso “normal” da vida cotidiana[27].

Uma vez restabelecido o domínio sobre a região do Centro Oeste, as forças federais partiram para o ataque em direção à terra onde se concentrava o povo Igbo. Em outubro tomaram de assalto Enugu, a capital da região separatista e no mesmo mês avançaram sobre Calabar, o berço do futebol no país. A chegada do ano novo não alteraria a evolução do quadro. Em março as tropas nigerianas entraram em Onitsha, importante mercado comercial e maior porto fluvial sobre o rio Níger, e, dois meses depois, conquistaram a estratégica Port Harcourt, a principal saída para o Atlântico e centro da indústria do petróleo na Nigéria. Embalado pela sucessão de êxitos no campo militar, em agosto o general Yakubu Gowon anunciou a “ofensiva final”, avançando em direção a Aba, Owerri e Umuahia, as três últimas grandes cidades do Estado de Biafra, cujas fronteiras a esta altura já haviam encolhido para cerca de um quarto do que eram no momento da sua criação[28].

Todavia, ainda que circunscrita a um reduzido enclave, Biafra resistia com heroísmo, auxiliada, decerto, pelo fornecimento de armas e munições enviadas pela França através do Gabão. Dessa maneira, ela reunia forças suficientes não somente para resistir à ofensiva final, como, no início de 1969, romper o bloqueio e avançar na direção do rio Cross, localizado ao sul da cidade de Owerri, na região oriental do país. Na região ocidental do país, no entanto, não se observava nenhum avanço de tropas, somente ações de caráter guerrilheiro. Com efeito, depois da queda de Port Harcourt, o líder militar de Biafra, Emeka Ojukwu, previra o advento da segunda fase da luta, consubstanciada na adoção das táticas de guerrilha pelas tropas separatistas. A partir de meados de 1968, elas passaram a agir ao longo da margem ocidental do rio Níger, mantendo-se, contudo, distantes da cidade de Benin em cuja área não havia o registro de confrontos armados, embates de exércitos inimigos, ou, mesmo, de atentados de caráter guerrilheiro[29]. Ao contrário, como informava o correspondente do New York Times, R. W. Apple Jr. as operações das forças “rebeldes” não representavam “ameaça” nem à cidade de Benin, nem à cidade de Warri, importante centro petrolífero da região, localizado mais ao sul da capital do Estado do Centro Oeste[30].

Ou seja, no começo de 1969, a luta entre os dois exércitos rivais se situava do outro lado do rio Níger, a cerca de cento e trinta quilômetros de distância da cidade de Benin, no último círculo de soberania dentro do qual se debatia a República de Biafra, como nos mostra a ilustração abaixo:

Sendo assim, à luz do quadro acima esboçado, soa-nos inverossímil a narrativa que atribuí a Pelé a “façanha” de fazer com que “as facções rivais responsáveis pela sangrenta guerra civil nigeriana concordassem com um cessar-fogo durante a visita do Santos ao país”[31]. Ele simplesmente não era necessário, como as fontes documentais consultadas indicam de forma clara. Se o amistoso do Santos foi realizado na capital do Estado do Centro Oeste, isto se dera porque no início de 1969 as autoridades nigerianas classificavam-na como uma área segura, sob controle, capaz de acolher a companhia brasileira de espetáculos. Não por outro motivo, ao invés de um cessar fogo pactuado pelos exércitos rivais, o correspondente de A Tribuna mencionara apenas a decisão unilateral do feriado decretado pela autoridade militar.

No entanto, consideremos por um instante a hipótese segundo a qual a cidade de Benin se achava, como pressupõe a narrativa do Santos, dentro do teatro de operações da guerra civil. Sendo assim, formulemos a indagação: por que razão o governo federal deveria autorizar a apresentação do alvinegro numa região na qual, para que o jogo pudesse ser realizado, tornava-se imperativo a instauração de uma trégua, pouco importando se negociada ou decidida espontaneamente pelas forças em combate?

Basta-nos formular esta simples pergunta para expor a incongruência lógica subjacente à referida narrativa. De fato, não havia sentido algum em levar a partida para a cidade de Benin, caso o governo federal tivesse necessidade de negociar um armistício. Se o que a justificava era a oportunidade de veicular para o público interno e externo a imagem apaziguadora do pleno domínio militar de uma área chave no contexto da guerra, então, negociar a suspensão do confronto para realizá-la significava reconhecer poder bélico ao inimigo, implicava admitir que a região ainda se encontrava em disputa, fora do controle total da autoridade central. Do ponto de vista da propaganda de guerra, portanto, constituía-se um contrassenso realizar o amistoso em tais condições. Não por acaso, enquanto o líder da República de Biafra, Emeka Ojukwu, ansiava desesperadamente por um “cessar-fogo”, o general Yakubu Gowon, da República da Nigéria, condicionava qualquer possibilidade de diálogo à rendição incondicional das forças “rebeldes”[32]. Trocando em miúdos: não havia nenhum interesse do governo federal em instaurar uma trégua e abrir negociações com estas últimas. De fato, na reunião da Commonwealth, em Londres, o comissário da Informação e do Trabalho, Anthony Enahoro, ao ser indagado pelos jornalistas a respeito da proposta de cessar-fogo, foi taxativo: tratava-se de um “plano estúpido”[33]. A rigor, no momento em que o Santos se preparava para excursionar pelo país, o plano declarado do governo federal consistia em deslanchar uma nova “ofensiva final” sobre o que restava do território separatista[34].

Uma vez explicitado o contrassenso que a narrativa da guerra interrompida pelo Santos encerra, devemos agora nos perguntar por que, afinal de contas, o segundo amistoso na Nigéria foi programado justamente para a cidade de Benin? Terá sido por causa dos caprichos esportivos do governador militar, Samuel Ogbemudia, que comparecera ao jogo com um sombreiro mexicano à cabeça para “prestar uma homenagem ao Brasil”?[35] Terá sido por se tratar de uma área na qual o futebol nigeriano mergulhava profundas raízes e gozava de imensa popularidade? Sem descartar as idiossincrasias da autoridade militar, nem a popularidade do jogo na região, as razões da escolha, assim acreditamos, residiam em última instância nos interesses políticos do governo federal. Expliquemo-nos. A tomada de Benin pelos exércitos biafrenses constituíra-se em um dos capítulos mais marcantes da guerra de secessão. Conforme vimos, embora efêmera, a conquista teve um impacto profundo e duradouro em todo o país[36]. De fato, à época dos traumáticos acontecimentos, o popular líder Ioruba e ministro das Finanças, Obafemi Awolowo, veio a público exortar os moradores de Lagos a pegarem em armas face à “iminente ameaça de invasão” empreendida pelas forças separatistas estacionadas na cidade de Benin, distante cerca de duzentos e cinquenta quilômetros da capital. Os temores que acossavam os lagosianos eram motivados não somente pela proximidade geográfica entre as duas capitais, quanto pela identidade multiétnica do Centro Oeste, cuja população abrigava um número significativo de igbos, vistos como aliados potencias das tropas adversárias[37].

Nesse sentido, por certo, não havia nada de aleatório na escolha do local da partida. Tratava-se de veicular a imagem de controle militar sobre uma região estratégica cuja queda no início do conflito disseminara o “pânico” e deixara o país em “choque”[38]. Mais ainda: assim como os biafrenses haviam buscado conquistar, durante a breve ocupação do Estado do Centro Oeste, os “corações e mentes” do segmento não Igbo da população; os nigerianos, uma vez retomado o controle da região, dedicaram-se à mesma e crucial tarefa política, mas direcionada agora para o segmento Igbo da sociedade[39]. Esta estratégia, como se sabe, costuma envolver a instrumentalização do futebol, razão pela qual o correspondente do New York Times, Alfred Friendly, informava os leitores a respeito da construção de um novo estádio na cidade de Benin, projeto anunciado, não por acaso, no período da visita realizada pelo Santos[40]. A presença da equipe de Pelé, finalmente, se mostrava conveniente por um motivo adicional. Àquela altura dos acontecimentos o governo militar do general Yakubu Gowon se deparava com o desgaste provocado pelo prolongamento de um conflito cujo termo não se divisava no horizonte[41]. Os sinais de insatisfação social com a crise econômica se tornavam perceptíveis em cidades importantes da região ocidental, como Ibadan, onde protestos contra os impostos ameaçavam a manutenção da ordem pública, mas também na capital, Lagos, onde o jogo do Santos era mais do que nunca bem-vindo para desanuviar o “clima de mal-estar”[42].

Além das razões de ordem interna, no entanto, a inclusão da Nigéria no roteiro da excursão empreendida pelo Santos na África possuía razões de ordem externa. Com efeito, no plano internacional, o governo federal se encontrava na defensiva, criticado até mesmo pelos aliados, devido aos bombardeios aéreos indiscriminados em Biafra, direcionados contra alvos civis: escolas, hospitais e mercados[43]. Os editoriais do New York Times, embora rechaçassem as denúncias de genocídio formuladas pelas autoridades biafrenses, criticavam com veemência as “indesculpáveis atrocidades” cometidas pela aviação nigeriana contra a população Igbo[44]. Ao mesmo tempo, a crise humanitária provocada pelo bloqueio imposto ao território separatista, que impedia a chegada dos alimentos e medicamentos necessários para salvar a vida de homens, mulheres e crianças, causava comoção mundial[45].

Em Nova York, milhares de pessoas marchavam nas ruas contra os horrores da guerra civil, enquanto Bruce Mayrock, jovem estudante da Universidade de Columbia, ateava fogo ao próprio corpo nas dependências do prédio das Nações Unidas, em um protesto desesperado contra o “genocídio” do povo Igbo[46]. Ainda em Nova York, Joan Baez e Jimi Hendrix promoveram um show beneficente para as vítimas da fome em Biafra[47]. Em Londres, John Lennon devolvia ao Palácio de Buckingham a condecoração de Membro do Império Britânico com a qual havia sido agraciado em 1965 pela Rainha Elizabeth II, como forma de protesto contra a política externa da Inglaterra, de apoio incondicional aos Estados Unidos na guerra do Vietnã, e de envolvimento ativo na guerra de Biafra[48].

Ora, em um contexto político tão adverso para a imagem interna e externa das autoridades nigerianas, a presença no país do maior atleta de futebol de todos os tempos se constituía decerto em um reforço de peso no jogo da comunicação midiática[49]. A incursão do Santos pela guerra civil, nesse sentido, estava longe de se revestir de uma posição de neutralidade face aos exércitos inimigos. Ao invés de paralisar o conflito e veicular uma mensagem de paz, como pretende a narrativa edulcorada que lhe atribui uma missão pacificadora, ela contribuía para reforçar a propaganda de guerra do governo federal contra o território separatista. Se esta linha de raciocínio estiver correta, resta-nos, então, uma última, mas não menos importante questão, a saber: como explicar o advento e a difusão da lenda?


[1] Appiah, Kwame (1997) Na casa de meu pai: a África na filosofia da cultura. Rio de Janeiro, Contraponto, pp.247-248. Nem as nações, nem as etnias, devem ser consideradas enquanto criações primordiais ou essências eternas. Elas se afiguram, ao contrário, como construções históricas forjadas no turbilhão das mudanças sociais, econômicas e políticas. A guerra, no entanto, apresenta-se como “um dos meios mais eficazes de intensificar a etnicidade”. Wolf, Eric (2003) Etnicidade e nacionalidade. In: Antropologia e poder. Organização: Bela Feldman-Bianco e Gustavo Lins Ribeiro, Brasília, Editora da UNB; Campinas, Editora da UNICAMP, p.240.

[2] M`Bokolo, Elikia (2011) África negra: história e civilizações. Tomo II. Do século XIX aos nossos dias. Salvador, Editoria da Universidade Federal da Bahia; São Paulo, Casa das Áfricas, p.650.

[3] Foram assassinados durante a tentativa de golpe: Abubakar Tafawa Balewa, primeiro ministro do governo federal; Ahmadu Bello, o premiê da Região Setentrional; Samuel Akintola, premiê da Região Ocidental. Michael Okpara, premiê da Região Oriental, escaparia com vida da ação militar.

[4] Achebe, Chinua (2012) There was a country. A personal history of Biafra. New York, Penguin Books, p.91. O mapa da República da Nigéria reproduzido na página seguinte encontra-se publicado na referida obra.

[5] De acordo com o correspondente Lloyd Garrison, os investimentos da Shell-British Petroleum na região de Port Harcourt somavam mais de $200 milhões. Por volta de dois terços dos campos de petróleo localizavam-se dentro do território biafrense Cf. “Nigerian Rebels defense of Port Harcourt firm”, New York Times, 2 de fevereiro de 1968.

[6] Mazrui, Ali A`Amin (1998) Introduction. In: L`Afrique tropicale et l`Afrique équatoriale sous la domination française, espagnole et portugaise. In: Histoire generale de l`Afrique. VIII. L`Afrique depuis 1935. Directeur de volume: A.A. Mazrui, Codirecteur: C.Wondji. Paris: UNESCO, p.32.

[7] Em agosto de 1968 Charles de Gaulle manifestou publicamente apoio à autodeterminação de Biafra, cuja luta lhe parecia confirmar a existência de uma “verdadeira personalidade nacional na região”. Havia também o fato de as “sociedades petrolíferas francesas cobiçarem as imensas jazidas de petróleo” da Nigéria. Cf. “Colapso de Biafra comove a França”, Gilles Lapouge, O Estado de S. Paulo, 13 de janeiro de 1970.

[8] A OUA foi criada em um encontro de países africanos promovido em Addis Abeba em 1963. Em sua carta constava o princípio da “não ingerência nos assuntos internos dos Estados”. Por ocasião da primeira cúpula da nova organização, realizada no Cairo em 1964, foi adotada a resolução segundo a qual “os Estados membros se comprometem a respeitar as fronteiras existentes no momento em que se consumou a sua independência nacional”. Elikia M`Bokolo, op. cit., pp. 635-649.

[9] Nesse sentido, como assinala o cientista político Ali Mazrui, o apoio da URSS a Lagos provocava em contrapartida o respaldo de Pequim a Enugu. De modo análogo, à atuação do Egito ao lado das forças unionistas correspondia a intervenção de Israel ao lado das forças separatistas, op. cit., p.32.

[10] St. Jorre, John de (1972) The Nigerian Civil War. London, Hodder and Stoughton, p. 218.

[11] Cf. “Ascensão e fim de Biafra”, O Estado de S. Paulo, 13 de janeiro de 1970.

[12] Ali A`Amin Mazrui, op. cit., p.33.

[13] Chinua Achebe, op. cit., p.199. Conforme assinala John de St. Jorre, era a primeira guerra travada na África sob os olhares penetrantes das câmeras de televisão, op. cit., p. 273.

[14] Cf. “Humanidade no banco dos réus”, O Estado de S. Paulo, 15 de janeiro de 1970.

[15] Cf. “Riqueza que custa sangue”, O Estado de S. Paulo, 14 de janeiro de 1970.

[16] Cf. “Colapso de Biafra comove a França”, O Estado de S. Paulo, 13 de janeiro de 1970.

[17] Elikia M`Bokolo, op. cit., p.650. A questão do genocídio do povo Igbo é controversa. Para as diversas posições sobre o tema, ver Chinua Achebe, op. cit., p.228, e John de St. Jorre, op. cit., p.382.

[18] Murray, Bill (2000) Uma história do futebol. São Paulo: Hedra. Cunha, Odir (2003) Time dos sonhos: história completa do Santos Futebol Clube. São Paulo: Códex, 2003. Boer, Wiebe (2004) A Story of Heroes, of Epics: The Rise of Football in Nigeria. In: Football in Africa: Conflict, Conciliation and Community. Edited by Armstrong,Gary; Giulianotti, Richard. New York: Palgrave Macmillan.

[19] Entrevista concedida pelo ex-atleta Joel Camargo em 29 de junho de 2012 no âmbito do projeto: “História Oral: Futebol, Memória e Patrimônio”, da Fundação Getúlio Vargas/CPDOC e Museu do Futebol/Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB). O autor compôs a equipe de entrevistadores.

[20] Cf. “Santos joga hoje em Brazzaville”, A Tribuna, 19 de janeiro de 1969.

[21] Cf. “Em Lagos, Santos é acontecimento”, A Tribuna, 26 de janeiro de 1969.

[22] Cf. “Santos empata, agora Moçambique”, A Tribuna, 28 de janeiro de 1969.

[23] Cf. “Futebol é festa em Moçambique”, A Tribuna, 29 de janeiro de 1969. De acordo com o correspondente do New York Times, Alfred Friendly Jr., The Lagos Daily Times era um jornal mais “independente”. Cf. “Nigeria`s civilians grow more restive toward military as war goes on”, 9 de fevereiro de 1969.

[24] Cf. “Nigerianos verão de novo o Santos”, A Tribuna, 4 de fevereiro de 1969.

[25] Cf. “Santos volta a vencer na África”, A Tribuna, 5 de fevereiro de 1969.

[26] A cronologia da guerra, apresentada de forma resumida, encontra-se baseada no material jornalístico produzido pelos correspondentes do New York Times, bem como nos textos de Chinua Achebe, op. cit., John de St. Jorre, op. cit. e Ugochukwu, Françoise (2009) Biafra, La déchirure. Sur lês traces de La guerre civile nigériane de 1967 – 1970. Paris: L`Harmattan.

[27] De acordo com o correspondente Alfred Friendly Jr., a captura do Estado do Centro Oeste representara, então, o “maior revés” do governo federal desde o início da guerra civil. Cf. “Nigerian rebel force reported in drive from Eastern Region”, 10 de agosto de 1967 e “Nigerians occupy Eastern Center”, 13 de outubro de 1967, ambas as matérias publicadas no New York Times. A região do Centro Oeste esteve sob controle das forças biafrenses entre os dias 6 de agosto e 20 de setembro. A República de Benin, no entanto, teve uma existência ainda mais breve. Ela foi proclamada às 7 horas do dia 20 de setembro. Pouco depois, por volta das 13 horas, as tropas federais retomaram o controle da capital. Cf. John de St. Jorre, op. cit., p.162.

[28] Cf. John de St. Jorre, op. cit., p.208. Cf. “Biafrans warned of enemy`s ´desperate effort`”, New York Times, 12 de fevereiro de 1969. Aba e Owerri caíram em setembro de 1968, e, Umuahia, em abril de 1969.

[29] Sobre a ofensiva de Biafra no início de 1969 e a adoção de táticas de guerrilha pelas tropas biafrenses, ver John de St. Jorre, op. cit., pp.272/280/291. Cf. “Lagos announces ´final offensive`”, New York Times, 28 de agosto de 1968.

[30] Cf. “Guerrillas enter Nigeria”, R. W. Apple Jr., 26 de maio de 1969, New York Times. Havia, no entanto, preocupação com a eventual presença de soldados biafrenses infiltrados no fluxo de refugiados Igbos para a cidade de Benin, provenientes das áreas de Kwale, Aboh e Okpai, situadas na margem ocidental do rio Níger, consideradas pelas autoridades federais convenientes para as operações de guerrilha.

[31] Bill Murray, op. cit., pp.163-164.

[32] Cf. Chinua Achebe, op. cit., p.212. Cf. “A limited cease-fire proposed by Biafra”, 2 de janeiro de 1969. “Biafra seeks cease-fire”, 20 de janeiro de 1969, ambas as matérias publicadas no New York Times.

[33] Cf. “A limited cease-fire proposed by Biafra”, 2 de janeiro de 1969, “Nigerian oficial bars cease-fire”, 14 de janeiro de 1969, “Biafra seeks cease-fire”, 20 de janeiro de 1969, todas as matérias publicadas no New York Times. Desde o início das hostilidades, agentes e agências internacionais se ofereceram, sem sucesso, para mediar o conflito bélico e alcançar um cessar-fogo: a Organização das Nações Unidas, a Organização da Unidade Africana, a Commomwealth, o Vaticano, o Imperador da Etiópia.

[34] Cf. John de St. Jorre, op. cit., p. 291. Cf. “Nigerians are preparing of another ´final offensive`”, Alfred Friendly Jr., New York Times, 5 de fevereiro.

[35] Cf. “Homenagem”, A Tribuna, 12 de fevereiro de 1969. Consoante a ironia de um atleta santista, o comandante militar, com o sombreiro mexicano, “parecia direitinho um autêntico brasileiro”.

[36] A inesperada ofensiva dos exércitos de Biafra teve em toda a Nigéria uma “imensa repercussão política, militar, econômica e psicológica”. John de St. Jorre, op. cit., p. 165.

[37] Cf. “Nigerians warned on attack on Lagos”, New York Time, 17 de agosto de 1967. Sobre a população Igbo do Estado do Centro Oeste, ver Chinua Achebe, op. cit., p.129.

[38] As expressões em “pânico” e em “choque” foram empregadas por John de St. Jorre para descrever o significado da ocupação da cidade de Benin pelas forças separatistas, op. cit., pp.172/186/190.

[39] Para Yakubu Gowon, a guerra não estava voltada contra a massa “inocente” de Igbos, a qual deveria ser reconquistada para a causa da unidade nacional. Nesse sentido, alimentar os corpos era uma maneira de recuperar “corações e mentes” das vítimas civis do conflito. Cf. John de St. Jorre, op. cit., p.244.

[40] Cf. “Nigeria`s civilians grow more restive toward military as war goes on”, Alfred Friendly Jr., New York Times, 9 de fevereiro de 1969.

[41] Cf. “Thousands giving food for Biafra”, Thomas F. Brady, New York Times, 11 de janeiro de 1969.

[42] Sobre a insatisfação com a guerra e os riscos à ordem pública daí decorrentes, ver Chinua Achebe, op. cit., p.223. Sobre os distúrbios e protestos contra os impostos, ver John de St. Jorre, op. cit., p.272. Cf. “Nigeria`s civilians grow more restive toward military as war goes on”, Alfred Friendly Jr., 9 de fevereiro de 1969 e “Western Nigerian unrest forces a cut in head tax”, Charles Mohr, 18 de outubro de 1969, ambas as reportagens publicadas no NewYork Times.

[43] Cf. “Red Cross accuses Nigeria”, New York Times, 8 de janeiro de 1969.

[44] Cf. Os editoriais: “Atrocity in Biafra”, 8 de fevereiro de 1969 e “Stop Bombing Biafran Civilians”, 23 de fevereiro de 1969, New York Times.

[45] Cf. “Blockaded Biafra facing starvation”, New York Times, 30 de junho de 1968.

[46] Cf. “Marchers at the U.N. urge action to save starving Biafrans”, 9 de agosto de 1968, “Youth sets himself afire at U.N. and dies after Nigeria protest”, 30 de maio de 1969, ambas as matérias publicadas no New York Times.

[47] Cf. “Performance at the scene raising funds for Biafra”, New York Times, 28 de agosto de 1968.

[48] Cf. “A Beatles returns award as a protest”, New York Times, 26 de novembro de 1969.

[49] Nesse sentido, em Londres, o comissário da Informação e do Trabalho da Nigéria, Anthony Enahoro, reclamava da cobertura da guerra civil feita pela BBC. De acordo com ele, a emissora britânica havia dedicado cento e trinta e cinco minutos para retratar a causa de Biafra, e apenas seis minutos e trinta segundos para a expor o ponto de vista da Nigéria. Cf. “Nigéria charges U.S. policy shifts”, Alfred Friendly Jr., New York Times, 6 de janeiro de 1969.

 

Amanhã, estará disponível a parte 4 (A lenda do soldado Nascimento) desta série de artigos.

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José Paulo Florenzano

Possui graduação em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1994), mestrado em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, da PUC-SP (1997), doutorado em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, da PUC-SP (2003), e pós-doutorado em Antropologia pelo Programa de Pós-Doutorado do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (2012). Atualmente é coordenador do curso de Ciências Sociais e professor do departamento de antropologia da PUC-SP, membro do Conselho Consultivo, do Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB), do Museu do Futebol, em São Paulo, membro do Conselho Editorial das Edições Ludens, do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre o Futebol e Modalidades Lúdicas, da Universidade de São Paulo, e participa do Grupo de Estudos de Práticas Culturais Contemporâneas (GEPRACC), do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP. Tem experiência na área de Ciências Sociais, com ênfase em Antropologia Urbana, Sociologia do Esporte e História Política do Futebol, campo interdisciplinar no qual analisa a trajetória dos jogadores rebeldes, o desenvolvimento das práticas de liberdade, a significação cultural dos times da diáspora.

Como citar

FLORENZANO, José Paulo. A guerra do Santos: 50 anos de uma viagem histórica – A guerra civil (parte III). Ludopédio, São Paulo, v. 115, n. 19, 2019.
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