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A “origem clubística”; e o “torcer contra”; da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2018

Cristiane Nestor de Almeida. 26 de dezembro de 2018

Quase em seu fim, o ano de 2018 foi também marcado pela realização da Copa do Mundo de Futebol Masculino na Rússia.

Além da Rússia, a anfitriã, a seleção brasileira foi a primeira a garantir sua participação no Mundial, continuando a ser a única a participar de todas as edições. Nessa Copa, a participação do Brasil foi até o dia 6 de julho de 2018, quando foi eliminado por 2 a 1 pela Bélgica, nas quartas de final.

Porém, nesta edição mais do que nas outras, existiu um movimento de “torcer contra” a seleção brasileira, até mesmo para os mais aficionados por ela. Motivos podem ser os mais diversos: a cicatriz deixada pelo 7 a 1 na eliminação vexatória para a Alemanha na Copa de 2014; a corrupção política nas entidades que regem o futebol brasileiro; a elitização dos estádios elevando o preço dos ingressos e também a origem da seleção que atua quase totalmente fora do Brasil.

Diferentemente da seleção campeã – a França – e apelidada de multicultural por causa das diversas nacionalidades de seus jogadores, o Brasil manteve a nacionalidade dos seus jogadores, mas sua “origem clubística” foi quase toda internacional. Dos 23 jogadores, levados para a Rússia, apenas três deles atuam no Brasil: Cássio, Geromel e Fágner.  O quadro 1 ajuda a ilustrar essa informação.

Cássio durante treino da seleção brasileira. Foto: Pedro Martins/Mowa Press.
JOGADORPOSIÇÃO
CLUBE ATUAL
 
1)      AlissonGoleiroRoma
2)      EdersonGoleiroManchester City
3)      CássioGoleiroCorinthians
4)      DaniloDefensor / lateralManchester City
5)      GeromelDefensorGrêmio
6)      Filipe LuísDefensor/ lateralAtlético de Madrid
7)      MarceloDefensor/ lateralReal Madrid
8)      MarquinhosDefensorPSG
9)      MirandaDefensorInternazionale
10)   FágnerDefensor/ lateralCorinthians
11)   Thiago SilvaDefensorPSG
12)   CasemiroMeio campistaReal Madrid
13)   FernandinhoMeio campistaManchester City
14)   FredMeio campistaShakhtar Donetsk
15)   PaulinhoMeio campistaBarcelona
16)   Philipe CoutinhoMeio campistaBarcelona
17)   Renato AugustoMeio campistaBeijing Guoan
18)   WillianMeio campistaChelsea
19)   Douglas CostaAtacanteJuventus
20)   Roberto FirminoAtacanteLiverpool
21)   Gabriel JesusAtacanteManchester City
22)   Ney marAtacantePSG
23)   TaisonAtacanteShakhtar Donetsk

 

O fator, “origem clubística”, consiste no fato de que os jogadores saem cada vez mais cedo do Brasil para jogar futebol e, possuem cada vez menos vínculo com os torcedores e com o país. Quando há jogos no Brasil a CBF não faz o mínimo de esforço para essa aproximação, elevando os preços dos ingressos, tornando o relacionamento torcedor /seleção cada vez mais distante.

O que chamou atenção é que nunca esse índice de rejeição foi tão grande, e isso se deve ao fato de que 2018 não foi apenas ano de Copa, mas também ano de eleição em nosso país, fato que marcou o país de expectativas e cercou a população em geral de incertezas, exatamente assim: esperança por ser um ano eleitoral e medo também por sê lo. O título de país do futebol também causa cada vez mais estranheza, será que ainda somos mesmo, ou o fato de sermos ainda o único país pentacampeão ainda coopera para tal título. Os números de frequentadores nos estádios também poderiam colaborar para nosso título, mas também andam meio instáveis, mesmo “juntando” os frequentadores de jogos da seleção e do campeonato brasileiro. Ou também se pensássemos nos praticantes do futebol do Brasil: profissionais, amadores, entre outros.

Somos o país do futebol? Foto: André Mourão/Mowa Press.

O mesmo vem perdendo força e temos nos aproximado cada vez mais do que Nelson Rodrigues cunhou como “complexo de vira-lata”, ou seja, uma descrença nos rumos do país, incluindo também o futebol.

Assim vivemos um delicado momento em que muitos não enxergam mais a poesia que emana dos gramados, tornando o “torcer contra”, o que seria uma espécie de hater, que são a grosso modo odiadores de algo, cada vez mais natural. Porém é possível torcer pela seleção e ter senso crítico, é possível ser torcedor e não ser alienado, o que desde 1970 vem sendo comprovado pelo intenso estudos acadêmicos voltados para este novo campo de estudo: o futebol.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Como citar

ALMEIDA., Cristiane Nestor de. A “origem clubística”; e o “torcer contra”; da seleção brasileira na Copa do Mundo de 2018. Ludopédio, São Paulo, v. 114, n. 27, 2018.
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