Algumas manchetes ou chamadas utilizadas pela imprensa podem ser repetidas em diversos momentos. Basta atualizar o fato que remete a ela. “Valdívia se lesiona contra _____ e desfalca o ________”; “Apesar de resultado negativo contra o ___________, Rogério Ceni cita números e diz que está no caminho certo”; “Messi (ou Cristiano Ronaldo) faz ___ gols e atinge nova marca” e por aí vai.
Uma destas frases, a que quero destacar, é sobre a Portuguesa: “Em pior momento da sua história, Lusa perde para ______ e é eliminada (ou rebaixada)”. É assim desde 2013. É só completar a lacuna e ter-se-á um título pronto.
Culpa da CBF? Do STJD? Da mídia excludente? No início da derrocada até poderia ser. Agora, não mais. A Portuguesa fez tudo o que não podia para chegar ao ponto de não ter sequer uma vaga assegurada na Série D do Campeonato Brasileiro. Isso menos de dois anos após devaneios de Libertadores do ano do centenário, quando o time juntava forças para jogar no terceiro escalão do futebol nacional.
Impensável? A se julgar pela camisa, sim; pelas acontecimentos, não. Foi até previsível.
Mas não pensemos em 2014, 15 ou 16. Pensemos de janeiro para cá, quando o time começou a ser montado. Ou melhor, voltemos um mês antes. Sem elenco, mas com o presidente já eleito desde o dia 6 de dezembro, meia dúzia de jogadores que não ficariam eram preparados por um treinador que não seria o comandante da equipe na Série A2 do Campeonato Paulista. Este foi o planejamento traçado pelo presidente mais jovem da história da Lusa, mas com visão estreita e cheirando a mofo como seus últimos antecessores.
Foram necessários 15 dias para que o nome do treinador fosse definido. Tuca Guimarães, com bom histórico no futsal, mas não no futebol de campo, chegou à Lusa no mesmo dia em que Emerson Leão foi apresentado como consultor. Leão deixou a Lusa dois meses depois reclamando das condições de trabalho e também de não participar nas principais decisões do futebol, como a contratação do veterano Rico. Um consultor que não era consultado, portanto. Tuca saiu três dias depois para dar lugar a Estevam Soares, que caiu durante a disputa da Série D.
Como no Paulista, os reforços para o Brasileiro chegaram perto do fim da participação lusitana. Guilherme Queiroz, artilheiro da equipe em 2015 e contratado para ser a referência do time após quatro das seis rodadas, sequer estreou, já que só teria condições de jogo a partir da janela de agosto, pois tinha os direitos presos a um clube do exterior. Teve jogador entrando em campo pela primeira vez faltando cinco minutos para acabar a última partida. Dos três jogos em casa, um foi disputado com os portões fechados por falta de laudo.
Agora o presidente, que se diz conhecedor de futebol ha mais de 20 anos e, portanto, teria autoridade sobre o vice-presidente de futebol que sequer chegou a ser anunciado, pede desculpas e assume o fiasco. Apenas mais um. Foi ele quem montou o time com jogadores que racharam o elenco já ruim. Que permitiu que um jogador experiente mandasse mais que qualquer diretor, indicando até o treinador da equipe; que virou herói com um discurso populista na posse, desengavetando um projeto de modernização do estádio do Canindé existente há muito tempo para ser aclamado como o salvador de uma pátria que ele mesmo ajudou a destruir.
O presidente que se gaba por ter pago um mês dos salários atrasados dos funcionários do clube porque este período não correspondia à sua gestão. Ora, não era mais que obrigação. Como também não é mais que obrigação pagar em dia quem ainda está no clube seja jogador, médico ou porteiro.
Em 2017, dinheiro não faltou. Faltou sim capacidade administrativa, competência para tocar o clube no pior momento de sua história (olha a frase aqui outra vez) e humildade para perceber que não era dotado de habilidade e capacidade para tanto.
Aos que se perderam pelo caminho (como eu) e aos que se mantiveram fortes na derrocada, aos torcedores que tinham na Associação Portuguesa de Desportos o seu lugar de reunião, de pertencimento, de identidade e identificação, será difícil aceitar e engolir o desaparecimento de uma das camisas mais respeitáveis do futebol brasileiro do século XX.
Que consigamos explicar essa grandeza aos nossos netos.
A coluna Camisa 8, de Marcos Teixeira, retorna em Agosto!