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As lições do Senhor Carter

O filme Coach Carter – Treino para a Vida conta a história de um treinador de basquete que aceita comandar um time aplicando um método disciplinar. Disso, há muitas lições que podemos tirar para o esporte e para a educação.

Coach Carter
Capa oficial do filme. Fonte: Wikipédia

Lançado em 2005, O filme Coach Carter – Treino para a Vida, de Thomas Carter, retrata um caso real que aconteceu em uma escola de Richmond, Califórnia, e teve muita repercussão. O protagonista Ken Carter, interpretado por Samuel L. Jackson, volta para esse local, onde estudou na adolescência, como treinador de basquete do time.

Detentor de vários recordes da história do basquetebol na escola, Carter aceita o cargo do seu antigo professor com a condição de fazer tudo aos seus modos. Seu objetivo era disciplinar os estudantes para que se tornassem adultos responsáveis e para que tivessem um futuro, não somente habilidade no esporte.

Em Richmond, Carter encontra uma equipe muito displicente dentro e fora de quadra, que vem de uma temporada ruim. Ele exige que, para os atletas serem do time, teriam que cumprir um contrato assinado, que contava com requisitos:
. Notas acima da média
. Prestar serviços comunitários
. Vestir gravatas nos dias de jogo
. Assistir todas as aulas
. Sentar na frente durante as aulas

Coach Carter — Treino para a vida | Netflix
Cena do primeiro dia de Carter como Treinador. Fonte: Reprodução Netflix

Disciplina na quadra

Além dos pré-requisitos envolvendo o desempenho escolar, o treinador aplicou aprendizado quando houvesse indisciplina: desrespeitar o treinador, chegar atrasado, descumprir regras e mais.

Dentre as prendas, estavam as flexões e o “suicídio” – aquecimento onde o atleta corre e volta em cada linha da quadra, tocando-as com a mão -.

No início, os treinos eram assim, apenas físicos. Carter reconhecia o talento individual dos jogadores, então passou a treinar a consciência defensiva e o condicionamento físico. Foi isso que o fez vencer a primeira partida: resistência.

Aos poucos, as vitórias começaram a acontecer mais e mais na competição regional, que antecede a ida para o estadual.

Disciplina na escola

O desempenho dentro de quadra foi conquistado, a defesa e o ataque melhoraram. No filme, a equipe venceu todos os jogos e conquistou o regional de maneira invicta.

Antes disso, Carter vinha cobrando relatórios de desempenho escolar dos professores e da diretora e nunca recebia. Só após a final, o treinador teve acesso aos boletins escolares dos seus jogadores e boa parte deles não cumpriu a média.

Pelo descumprimento do acordo, o ginásio foi fechado e o basquete foi cancelado em Richmond até que os jogadores alcançassem as médias escolares novamente.

Por isso, os pais se revoltaram, os professores se revoltaram e toda a cidade começou a se revoltar. Jogo após jogo sendo cancelado gerou uma repercussão grande na mídia.

Enquanto isso, o discurso do treinador para os seus alunos afirmava que não importava se eles ganhassem em quadra, se não ganhassem na vida. Apenas 6% dos alunos de Richmond iam para a universidade. Homens negros da escola tinham 80% mais chance de ir para a cadeia do que para a universidade.

Não adianta de nada jogar bem, ir para a universidade com uma bolsa de aluno-atleta, se o aluno não aprende a cumprir regras e a amadurecer.

Mesmo com o conselho anulando o cancelamento dos treinos e jogos, os membros do time de basquete continuaram estudando até atingirem as suas médias e então voltaram para jogar o estadual.

Coach Carter
Jogadores do time estudando na biblioteca durante o veto. Fonte: Captura de tela / Microsoft.com

Timo Cruz: crime x desenvolvimento

No primeiro treino, o personagem Timo Cruz, um dos melhores atletas do time, acaba saindo agressivamente do clube por não concordar com as ideias do treinador.

A obra deixa claro que Cruz era envolvido com crime, com cenas nas quais ele mostra um comportamento agressivo e trabalhando com tráfico para o seu primo – única pessoa que demonstrava afeto por ele.

Em certo momento, ele decide voltar para o clube. O treinador então exige que, para isso, ele deva cumprir uma meta de exercícios durante uma semana. Ele não cumpre, mas os outros membros do time decidem ajudá-lo a bater os objetivos como uma equipe.

A partir desse ponto, Cruz volta a jogar bem, ser disciplinado nos treinos, mas isso acaba com a frustração de quando o desempenho escolar faz o basquete parar na escola. Ele deixa o time mais uma vez.

Após voltar a andar armado por aí, ele chega a defender seus amigos de uma briga de rua, mas acaba vendo seu primo ser baleado. Desolado, procura em Ken Carter uma saída, pedindo uma chance de recomeçar.

Quando o grupo se reúne para continuar estudando mesmo depois do decreto de que os treinos deveriam voltar, Cruz faz um discurso sobre como Ken Carter salvou a sua vida.

Coach Carter
Personagem Timo Cruz. Fonte: Captura de tela / Microsoft.com

A lição final

Após o crescimento do trabalho de equipe e da disciplina, os jogadores saem da situação caótica para desempenharem bem na quadra e na aula.

Classificados para o estadual, os garotos enfrentam o melhor time da Califórnia: Saint France. Eles fazem uma excelente partida, mas não conseguem vencer.

Apesar da frustração da derrota e de não ser um final de conto de fadas, como diz Carter, eles realmente amadureceram e se tornaram homens.

Boa parte da equipe conseguiu bolsas para universidades boas dos Estados Unidos. O trabalho disciplinar de Ken Carter impactou positivamente nas estatísticas, na escola, na cidade, no esporte e principalmente na vida daqueles rapazes.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Marcus Arboés

Acadêmico em jornalismo na UFRN, narrador esportivo em formação e apaixonado por um futebol bem jogado e com aproximações, no melhor estilo latino! Atuo no Universidade do Esporte.

Como citar

ARBOéS, Marcus. As lições do Senhor Carter. Ludopédio, São Paulo, v. 143, n. 56, 2021.
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