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As mulheres entram em campo: dribles contra a desigualdade

Recentemente, entre os dias 7 de junho e 7 de julho, com a realização da 8ª edição da Copa do Mundo Feminina de Futebol, na França, além dos lances e das jogadas marcantes durante os jogos, houve também, dentro e fora dos gramados, a expressão de jogadoras que reivindicaram a igualdade de gênero no esporte.

A jogadora Marta, camisa 10 da seleção brasileira, utilizou a sua chuteira e as redes sociais para manifestar a situação de desigualdade existente em relação à remuneração de jogadores e jogadoras profissionais. No dia 13 de junho, durante o jogo entre Brasil e Austrália, válido pela segunda rodada da fase de grupos, ao marcar um gol em cobrança de pênalti, Marta comemorou o tento com outras jogadoras da seleção brasileira e apontou para o seu pé, indicando o símbolo da igualdade, que estava impresso na chuteira.

Comemorando gol contra a Austrália em seu primeiro jogo na Copa do Mundo de 2019, na França, Marta aponta para o símbolo da igualdade. Foto: Divulgação/Go Equal.

 

Essa foi a forma utilizada por ela para protestar e colocar em destaque esse problema que perpassa o universo do futebol e que prejudica as jogadoras. Fora dos gramados, no dia 14 de junho, ela publicou a seguinte mensagem em sua conta do Facebook[1]:

“Nós precisamos de apoio. Mas mais do que apoio, nós precisamos de respeito. E dar valor é a melhor forma de mostrar respeito a alguém. No esporte. Na vida. Por isso a equidade é algo pelo qual todas, todos e todxs devemos lutar. E a hora de agir é AGORA. Faça o gesto de igualdade e poste marcando a nossa hashgtag #GoEqual”.

Essa mensagem, escrita em 3 idiomas (português, espanhol e inglês), foi postada junto com uma imagem da jogadora fazendo o gesto da igualdade com os braços.

Marta fazendo o gesto de igualdade. Foto: Reprodução.

Outra jogadora que se posicionou a favor da igualdade de remuneração, entre homens e mulheres, no futebol, foi Megan Rapinoe, uma das integrantes da seleção que conquistou o primeiro lugar da Copa do Mundo de 2019. No dia 7 de julho, ao vencer a seleção da Holanda por 2 a 0, a equipe dos Estados Unidos subiu ao pódio e alcançou o tetracampeonato.

Seis dias após o jogo da final da Copa do Mundo de Futebol, Megan fez a postagem de uma imagem em sua conta do Facebook[2], na qual estava destacada a seguinte mensagem: “equal pay isn´t a game”.

Imagem postada no Facebook da jogadora Megan Rapinoe. Foto: Reprodução.

Em sua publicação, Megan promoveu a ideia de que o pagamento igualitário não é um jogo. Do mesmo modo que a jogadora brasileira, ela se posicionou em defesa da igualdade de remuneração no esporte. Assim elas nos alertam para necessidade do respeito à equidade salarial, entre homens e mulheres. Esse é um aspecto que deve ser considerado, se realmente defendemos a igualdade entre homens e mulheres, valendo para o futebol, para outras modalidades esportivas e para outras profissões.  

A realização da Copa do Mundo Feminina de Futebol pode incentivar o desenvolvimento dessa modalidade, bem como dar visibilidade às equipes participantes. A apresentação das jogadoras, durante a Copa, pode ser um estímulo para o surgimento de novas adeptas. Mas, e quando a Copa do Mundo termina? O que poderia estimular a participação das mulheres e o respeito às atletas?

Existem outras situações que podem interferir no surgimento de novas jogadoras, tais como: a organização de calendários anuais de competições regionais e nacionais; a estruturação de equipes femininas nos clubes; e a disponibilidade de locais para a prática, facilitando o acesso e a permanência das praticantes.

Outro aspecto que perpassa as relações cotidianas e que merece a nossa atenção, de modo a ser superado, é o distanciamento das mulheres em relação à prática do futebol. Nos últimos quatro anos, ao me aproximar de alguns campos de várzea, em Belo Horizonte, acompanhando as atividades da escolinha de futebol, os treinos e os jogos, observei que a presença de mulheres jogando futebol ainda é pequena, se comparado ao público masculino. Essa situação demonstra que, além de promover programas e projetos, incentivando crianças e adolescentes a praticarem o futebol, é necessário criar estratégias para incluir também o público feminino de diferentes idades.

E, entre um lance e outro, o jogo segue, dentro e fora de campo, com dribles, toques e chutes para marcar o gol, bem como a busca pela igualdade, pelo respeito e pelo direito ao jogo justo para homens e mulheres.

Notas

[1] Disponível em: <https://m.facebook.com/martavsilva10/photos/a.101763289971974/1283462688468689/>. Acesso em: 07 ago. 2019.

[2] Disponível em: <https://m.facebook.com/photo.php?fbid=3056450117706189&id=244622642222298&set=a.263023650382197&source=54&ref=page_internal>. Acesso em 08 ago. 2019.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Luciana Cirino

Integrante do Núcleo de Estudos sobre Futebol, Linguagem e Artes (FULIA), da UFMG.

Como citar

COSTA, Luciana Cirino Lages Rodrigues. As mulheres entram em campo: dribles contra a desigualdade. Ludopédio, São Paulo, v. 122, n. 24, 2019.
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