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Bangu A. C. x Campo Grande A. C.: a decadência do Clássico Rural

Campo Grande e Bangu: para muitos, são bairros que, inicialmente, representam apenas o descaso e o abandono do poder público quanto aos serviços essenciais. Por outro lado, são bairros que atraem inúmeros espectadores por suas peculiaridades, shows e eventos que acontecem em suas regiões; Bairros históricos, que tiveram trabalhos jesuíticos e, posteriormente, avançaram com o crescimento fabril. No entanto, o que poucos sabem, principalmente os mais jovens, é que esses bairros são o berço de duas agremiações que têm muita história e gols para contar. Equipes que já fizeram jogos inesquecíveis, com torcidas apaixonadas, estádios cheios, que contribuíram para o engrandecimento do futebol carioca. É por isso, que retomaremos um pouco desses feitos, que se expressam em um só título: clássico rural.

No dia 16 de setembro de 1962, os dois bairros mais populosos dos arrabaldes da cidade entraram num frisson completo, era a primeira partida disputada entre os dois clubes suburbanos. O palco do espetáculo, conhecido por Moça Bonita, entrava de vez na história da periferia da cidade, atraindo uma multidão de torcedores que tomavam as ruas que davam acesso ao estádio.

A equipe do Campo Grande Atlético Clube, formada por Barbosa, Brandãozinho, Viana, Gilbertto, Darci, Zequinha, Adilson, Nelsinho, Russo, Décio e Roberto Peniche, foi derrotada de virada por 3 x 2, dois gols marcados por Luis Carlos e um de Beto(Bangu) e Russo e Roberto Peniche(Campo Grande). Naquele mesmo ano, 09 de dezembro, um segundo confronto, desta vez em Campo Grande, estádio Ítalo Del Cima, terminando a partida em empate, com gols de Antoninho e Nelsinho pelo Campo Grande e dois de Hélcio Jacaré pelo Bangu.

Após o ano de 1962, as equipes voltariam a se enfrentar outras 79 vezes, com 28 empates, 34 vitórias para a equipe banguense e 19 vitórias para a equipe campusca. Seu último confronto foi no campeonato carioca de 1995, com vitória por 6 x 2 para a equipe de Bangu.

Esses 17 anos sem o clássico rural refletem, de certa forma, a escassez que se espera para o futuro dos clubes de bairro no cenário atual do futebol profissional. A gestão amadora de alguns dirigentes e falta de captação de recursos, principalmente dos clubes de bairro, apontam o distanciamento do potencial financeiro do futebol, passando longe do conceito de lucratividade como fator de sucesso.

No caso crítico do Campo Grande A. C., as crises no âmbito financeiro e os litígios dentro do departamento de futebol impedem a manutenção do futebol profissional. A dificuldade está na incapacidade de gerar receita. O clube conta apenas com uma feira de roupas e acessórios, tornando inviável a sua participação num cenário cada vez mais profissional e lucrativo. Para se ter ideia, em 2012, a agremiação é excluída do Campeonato Carioca da terceira divisão por dívidas com a FFERJ.

Na busca por soluções, o clube criou um evento de shows, “a Galo City”, com o intuito de arrecadar uma quantia suficiente para, então, saldar as dívidas com a FFERJ. Com o pagamento feito em agosto, o Campo Grande A. C. voltou a ter direito de figurar entre os clubes da terceira divisão carioca, garantindo a sua participação em 2013.

Em melhores condições financeiras, mas ainda distante das cifras exigidas no novo modelo do futebol profissional, o Bangu A. C., figura ainda entre as principais agremiações cariocas. No entanto, sua última participação num campeonato brasileiro da primeira divisão foi 1988, pouco para um clube que já foi vice-campeão da mesma competição.

Bangu Atlético Clube
Fachada do Bangu Atlético Clube. Foto: Junius – Wikipédia.

Dessa forma, os times do Bangu e do Campo Grande, assim como outros clubes tradicionais da cidade do Rio de Janeiro, vivem o mesmo problema, reflexo de expressivos déficits sequenciais. Essa nova realidade do futebol requer uma reflexão sobre a lógica do “negócio futebol” para que as medidas de desempenho, que expressam o modelo de gestão, passem a ser definidas e monitoradas. Se, por um lado, algumas agremiações já começam a transformar seus clubes em negócios extremamente lucrativos, por outro, alguns que figuravam nos campeonatos regionais e nacionais abrem espaços para clubes-empresas ou até mesmo prefeituras, afastando aqueles que exprimem uma identificação local.

Curiosidades…

O Campo Grande A. C. revelou Dadá Maravilha (1967-1968), 22 gols.
Nascido em Bangu, Vágner Love, hoje atacante do Flamengo, teve passagem pelos dois clubes da Zona Oeste: Bangu e Campo Grande.
Vanderlei Luxemburgo começou a carreira de treinador no Campo Grande, no Brasileirão da Série A, em 1983.
Em 1991, Roberto Dinamite, ídolo vascaíno, jogou pelo Campo Grande.
Campo Grande revelou Valdir Bigode.

Ídolos do Campo Grande A. C.

Cláudio Adão
Dadá Maravilha
Edu Coimbra
Elói
Roberto Dinamite
Valdir Bigode
Rocha
Luizinho das Arábias
Barbosa

Seleção de todos os tempos do Bangu A. C

Fausto, Domingos da Guia, Ladislau Antônio da Guia, Plácido Assis Monsores, Zizinho, Antônio Meneses, Nívio Gabrich, Ademir da Guia, Zózimo, Antônio Parada Neto, Ubirajara, José Maria Fidélis, Paulo Luís Borges, Aladim Luciano, Moisés, Arturzinho, Cláudio Adão, Marinho e Mauro Galvão.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Nei Jorge dos Santos Junior

Professor, suburbano de Campo Grande e botafoguense. Doutorando em Lazer pela UFMG e mestre em História Comparada na UFRJ.

Como citar

SANTOS JUNIOR, Nei Jorge dos. Bangu A. C. x Campo Grande A. C.: a decadência do Clássico Rural. Ludopédio, São Paulo, v. 46, n. 1, 2013.
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