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A Batalha pela Ascensão das Mulheres

Luiza Loy Bertoli 29 de junho de 2017

Frequentemente, observa-se a descontinuidade da prática esportiva quanto a participação das mulheres, as vezes gerada por pressões e proibições de cunho político, outras vezes pela desigualdade de incentivo, principalmente financeiro. Marcelo Okidoi, diretor não remunerado do Juventus FC, equipe paulista, foi objetivo em sua fala ao canal ESPN referente ao futuro de suas atletas: “Temos que ser realistas, infelizmente a maioria delas não vão virar jogadoras profissionais”.

Com a intenção de mudar essa realidade que paira sobre os campos brasileiros do que diz respeito ao futebol feminino, a Conmebol, organização que regula o futebol na América do Sul, com apoio da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), estabeleceu novas medidas que buscam estímulos ao futebol de mulheres. Uma destas medidas foi instituir uma nova regra que obriga os clubes a terem equipes femininas para poder disputar a Libertadores e Copa Sul-Americana. A regra ainda estipula que as atletas tenham acesso a infraestrutura adequada para treinos e jogos, tendo que estar inscritas em competições nacionais, também sendo necessário desenvolver uma equipe juvenil, com o intuito de evitar equipes “decorativas”. Durante o encontro continental organizado em Assunção, no Paraguai, o presidente da Conmebol, Juan Ángel Napout, disse que a intenção da nova medida é assegurar o futebol feminino na região e que a entidade trabalhará em todos os aspectos para dar o apoio necessário à modalidade.

As determinações dos órgãos superiores de futebol já surtem efeito no Campeonato Brasileiro de 2017. A competição está organizada em duas divisões, com mais equipes participantes e maior envolvimento dos times de camisa, além do aumento na visibilidade e um calendário alongado. O Brasileirão feminino sofreu uma interrupção entre os anos 2001 e 2013. Com o apoio da Caixa Econômica Federal, a CBF reviveu a competição, com a participação de 20 equipes. Diferente das edições anteriores, a nova reestruturação na organização em 2017, desfez a disputa por pontos corridos. Inicialmente, a competição conta com duas divisões (A1 e A2), cada uma contém dezesseis equipes separadas em dois grupos. A Série A1 é disputada em quatro fases: sendo a primeira fase de grupos, onde se classificaram as quatro melhores equipes de cada e rebaixam a última, com a grande final prevista para o dia 19 de Julho. A Série A2 conta com apenas três fases. Essa organização se fez de acordo com a posição na tabela do Campeonato Brasileiro masculino de 2016 e o Ranking Nacional dos Clubes de Futebol Feminino da CBF.

Manaus – AM – 21/06/2017 – BRASILEIRÃO CAIXA 2017 – ESPORTES – Jogo 119, Grupo 05 da Série A1 do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino “Brasileirão Caixa 2017” entre, Iranduba da Amazônia X C.R. Flamengo/Marinha, realizado na Arena da Amazônia em Manaus, AM; válido pelo grupo 05 do Brasileirão Feminino 2017 A1. Foto: MICHAEL DANTAS/ALLSPORTS
Iranduba, conhecido como o Hulk do Amazonas faz excelente campanha no Brasileirão Feminino 2017 A1. Foto: Michael Dantas/ALLSPORTS.

Dentre as equipes participantes, temos sete times de camisa na Série A1: Corinthians, Flamengo, Grêmio, Ponte Preta, Santos, Sport-PE, Vitória-BA; e três na Série A2: América-MG, Náutico-PE e Portuguesa-SP. De encontro a essas participações, tivemos o aumento nas divulgações e visibilidade dos jogos, o canal fechado SporTV, comprou o direito de 10 partidas do total de 140 do campeonato. O canal Bandsports também pagou pela transmissão de 15 jogos, mas os exibe dois dias depois da SporTV, assim como a TV Brasil, que também pagou por 15 jogos do Brasileirão Feminino. A logística foi negociada pelos canais com a Sport Promotion, empresa de marketing esportivo responsável pelas transmissões e parceira da Caixa Econômica Federal; além disso, tivemos as transmissões ao vivo nas páginas das equipes no Facebook, ultrapassando a faixa de 30 mil visualizações nos jogos das quartas de final.

O Estado de São Paulo mantém a tradição de investimento forte no desenvolvimento do futebol feminino, das 16 equipes participantes na série A1, cinco são paulistas, sendo que três seguem na disputa de semifinal do Brasileirão: Corinthians, Rio Preto e Santos. Para completar os conflitos decisivos, uma equipe nada convencional no cenário do futebol de mulheres: Iranduba, do Amazonas. A presença do Hulk do Amazonas, como é carinhosamente conhecido, nas finais da competição, demonstra a difusão ocorrida nos últimos anos e a tentativa de descentralização do eixo Rio-São Paulo. Outra surpresa nesse Brasileirão foi a presença do Grêmio F.C. caracterizando a primeira participação de um clube do Estado do Rio Grande do Sul no Campeonato Brasileiro. Iniciou a disputa com vitória, seguida de empate, e depois uma sequência de doze derrotas que o levaram ao rebaixamento para a série A2.

Eldorado do Sul – RS – 03/05/2017 – BRASILEIRÃO CAIXA 2017 – ESPORTES – Jogo 73 Grupo 01 da Série A1 do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino “Brasileirão Caixa 2017” entre, Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense x Grêmio Osasco Audax, realizado no estádio Hélio Dourado em Eldorado do Sul, RS; válido pelo grupo 01 do Brasileirão Feminino 2017 A1. Foto: JEFFERSON BERNARDES/ALLSPORTS
Jogadoras do Grêmio comemoram gol. Foto: Jefferson Bernardes/ALLSPORTS.

Pela primeira vez, além de erguer a taça, as campeãs levarão para casa uma premiação em dinheiro, que de acordo com a CBF será no valor de 120 mil reais. Ainda longe do valor destinado aos homens (R$17 milhões), mas inédito no âmbito do futebol de mulheres brasileiro.

Nem tudo muda da noite para o dia, é preciso paciência para atingir os objetivos que traçamos, sendo assim, a busca pela valorização da modalidade é um processo que mistura expectativas e trabalho diário, a partir de mudanças graduais. Deste modo, estaríamos no caminho de ascensão do futebol feminino?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Luiza Loy Bertoli

Graduanda em Educação Física - UFRGS. Integrante da equipe do Centro de Memória do Esporte (CEME). Integrande do Grupo de Estudos em Esporte, Cultura e História (GRECCO).

Como citar

BERTOLI, Luiza Loy. A Batalha pela Ascensão das Mulheres. Ludopédio, São Paulo, v. 96, n. 29, 2017.
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