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O que fica quando um clube perde um torcedor símbolo? Obrigado Beto Gil!

De antemão, peço desculpas aos leitores, esse texto não é para vocês. Aqui, nesse texto, eu farei uma homenagem para um amigo. Mais que um amigo, uma dessas pessoas que o futebol dá a nós o privilégio de conhecer e que nos inspira a sermos melhores. Esse texto é para um amigo, mas também para todos os vilanovenses. Contudo, não apenas para eles, é para todos que tem o futebol como parte fundamental de suas vidas.

O Vila Nova tem um lema “O Vila nos une e nada nos separa”, hoje, 21 de março de 2021, o Covid 19 nos separou de um ser humano excepcional.

Gilberto No OBA (Acervo pessoal)

Beto Gil era (é) um torcedor símbolo do Vila Nova que infelizmente foi mais um que teve a vida ceifada pelo vírus que vem assolando a humanidade, e digo, quando um torcedor símbolo morre, o clube morre um pouquinho e o futebol vai perdendo o sentido. Hoje, o Vila Nova morreu um pouquinho.

Não se trata do Vila Nova, mas do futebol. Recentemente o Atlético perdeu dois torcedores símbolo, Gominho e Divinão, o Goiás perdeu Tia Fia, no Ferroviário Dona Ivone Maria, no Bahia o Jotinha, Aroldo Hadlich no Metropolitano, Paulão do Operário Ferroviário, Dona Salomé no Cruzeiro e outros que fizeram de suas vidas uma homenagem a seus clubes e uma extensão deles.

Gil não é um torcedor símbolo por conta da excentricidade, por ser espalhafatoso ou folclórico, pelo contrário, é um torcedor símbolo por conta da gentileza, educação e simplicidade.

Estacionamento do Serra Dourada (Acervo pessoal)

Todos que frequentam estádio sabem que ali todos somos iguais por conta de um sentimento e que ninguém é melhor ou mais torcedor que os outros. Os torcedores que colocamos como símbolo de nosso amor pelo clube, estão ali para nos lembrar disso. O Gil era um desses.

Sempre que nos via no estádio, eu acompanhado de minha esposa, ele nos chamava “Ôô Max, venham aqui tirar uma foto”… boa parte da torcida tem uma foto que o velho amigo Gil tirou e que a guarda com carinho, como o mesmo carinho que ele nos abordava, fotografava e depois publicava.

Comemorando o aniversário do Vila Nova (acervo pessoal).

Uma tristeza que guardo é que faz um ano que o Gil não ia em estádios, o período mais longo de sua vida, com certeza ele estava com a mesma vontade de voltar que eu e todos que me leem estão.

Torcedores símbolo tem a função de unir todos os torcedores, independente da classe social, religião, visão política… é alguém que todo os torcedores olham e veem nele uma explicação do amor que sentimos por nossos times. Hoje, um símbolo desse amor se foi.

O torcedor símbolo existe para nos inspirar, para nos fazer acreditar, no time, no futebol, na vida… em tudo. Hoje, um desses símbolos se foi.

Nos estádios não teremos o Gil nos esperando com seu sorriso e sua câmera na mão, pedindo gentilmente para tirar uma foto. Não iremos para casa e ficaremos aguardando quando ele postará a “nossa” foto. Ficará apenas a memória de tudo isso, de um tempo bom, de uma pessoa iluminada.

Gilberto cumpriu esse papel, ajudou a fazer milhares de pessoas mais vilanovenses, e principalmente, em seu caso, mais humanos.

Encerro com uma frase do grande autor judeu Amós Oz, pois sei que gostava muito “Quase todos os homens atravessam sua vida, do nascimento à morte, com os olhos fechados.”

Você foi um dos raros homens que atravessaram com os olhos abertos, meu amigo Gil… e nos fez abrir os olhos ao que mais importa, o que está à nossa volta, a simplicidade de existir.

Obrigado e fique em paz! Continuaremos aqui sustentando nosso amor eterno pelo Vilaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!


Financiamento Coletivo Ludopédio

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Makchwell Coimbra Narcizo

Doutor em História pela UFU, Graduado e Mestre em História pela UFG. Atualmente professor no IF Goiano - Campus Trindade. Desenvolve Estágio Pós-Doutoral na PUC Goiás. Membro do GEPAF (Grupo de Estudos e Pesquisa Aplicados ao Futebol - UFG). Coordenador do GT Direitas, História e Memória ANPUH-GO. Autor dos livros: A negação da Shoah e a História (2019); A extrema direita francesa em reconstrução - Marine Le Pen e a desdemonização do Front National [2011-2017] (2020) dentre outros... isso nas horas vagas, já que na maior parte do tempo está ocupado com o futebol... assistindo, falando, cornetando, pensando, refletindo, jogando (sic), se encantando e se decepcionando...

Como citar

NARCIZO, Makchwell Coimbra. O que fica quando um clube perde um torcedor símbolo? Obrigado Beto Gil!. Ludopédio, São Paulo, v. 141, n. 46, 2021.
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