30.2

Boas relações e conspirações

Henrique de Almeida Soares Coelho 6 de dezembro de 2011

Desde que comecei a pensar no tema deste texto, havia prometido a mim mesmo que não escreveria sobre um certo tema, por considerá-lo árido e político demais para um espaço como este. Porém, a importância e a repercussão dos fatos mostrados a seguir, inclusive na blogosfera e nas redes sociais, me obrigou a fazê-lo. Peço, portanto, a licença para ocupar a sua tela de pc, Ipad ou Notebook.

Na sexta-feira, dia 25 de novembro, o atual presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, foi nomeado pelo mandatário da CBF, Ricardo Teixeira, como novo diretor de Seleções da entidade. Novo e ressuscitado, pois o cargo estava extinto desde a década de 90, como lembra a matéria no site do Estadão sobre o assunto. Há também depoimento do próprio Andrés sobre o assunto (leia aqui). Não é preciso muito para imaginar que Andrés Sanchez possa ser, em breve, o novo presidente da CBF.

O presidente do Corinthians, Andrés Navarro Sanchez, fala durante audiência pública. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil.

Até aí uma notícia surpreendente, e que por si só já mereceria um post lembrando de todas as polêmicas envolvendo o ex-dirigente da Gaviões da Fiel e o ex-genro de João Havelange. A amizade recente entre os dois é publica, notória e conhecida por todos que acompanham futebol. Quem os aproximou foi um amigo em comum com uma certa influência, o ex-presidente Lula. Andrés, então, já indicou um amigo para entrar na brincadeira. Sim, estamos falando de Mano Menezes (que inclusive não era a primeira nem a segunda opções da CBF. Quem não tem Muricy, caça com Mano), campeão da Série B de 2008 e do Campeonato Paulista e Copa do Brasil em 2009 pelo Corinthians. Talvez alguns precisem lembrar de toda a questão sobre o estádio em Itaquera, na zona leste de São Paulo, prometido ao Corinthians e que, após muita pressão de Andrés, foi confirmado como palco da abertura da Copa de 2014, muito embora o investimento inicial da construtora contratada nem tivesse sido depositado ainda. Mais uma prova da influência do dirigente nos rumos do futebol e da política brasileira. Até mesmo porque são poucos os que conseguem financiamento para um estádio desse porte sem amigos como Ricardo Teixeira e o ex-presidente Lula.

Em 2007 o, então, presidente Lula e Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, comemoram os 30 anos de conquista do Campeonato Paulista. Foto: Ricardo Stuckert/PR.

E essa indicação é, no mínimo, imprudente, levando em conta as acusações de favorecimento ao Sport Club Corinthians Paulista, inegáveis fora de campo e discutíveis dentro dele( teria esta discussão o mesmo viés da pesquisa sobre a Fla-Press?). A meu ver, esse time do Corinthians 2011, caso seja campeão, não vai ter a mesma mancha que o time de 2005 (com Tevez, Carlos Alberto, Roger e Nilmar em grande fase), com os jogos remarcados pelo STJD e o erro crasso de arbitragem contra o Internacional no jogo entre as duas equipes no Pacaembu. Mas as acusações já começaram. Aqui e aqui, percebe-se que muitos já davam como favas contadas o título corintiano. Fábula esta que Bernardo tratou de eclipsar aos 45 do segundo tempo no clássico de domingo passado, dando emoção demais para um campeonato que já tinha campeão definido. Ao mesmo tempo, ouvi e li teorias estapafúrdias de que Diego Cavalieri teria entregue o jogo para o Vasco. Sinceramente, não sei o que me surpreende mais: a capacidade que alguns têm de achar uma conspiração sempre que for conveniente, ou isso ser discutido e compartilhado em meio a um final de campeonato tão emocionante e disputado como há muito não se via no futebol brasileiro.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Henrique de Almeida Soares Coelho

Sou um jornalista recém-formado,apaixonado pelo que eu faço, por futebol, por leitura e muitas outras coisas. Talvez com os textos vocês possam conhecer um pouco mais a meu respeito.

Como citar

COELHO, Henrique de Almeida Soares. Boas relações e conspirações. Ludopédio, São Paulo, v. 30, n. 2, 2011.
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