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Cerro Porteño – A cancha do gigante do Barrio Obrero

Artur de Abreu Magalhães 3 de junho de 2021

Quando pensamos em uma relação entre torcedor e estádio, é difícil não lembrarmos do vascaíno com o São Januário. A icônica música homenageando os Camisas Negras, entoada pela fanática torcida cruz-maltina, lembra a apaixonante história do patrimônio: “Veja como é grande meu sentimento, e por amor ergui este monumento (…) Eu já lutei por negros e operários, te enfrentei, venci, fiz São Januário”. Provavelmente, você já conhece essa linda história alvinegra. Entretanto, existe um clube, também sul-americano, que tem uma relação muito semelhante com sua cancha, vamos falar do Cerro Porteño e da fantástica Olla Azulgrana.

bairro Obrero
Um gigante do bairro Obrero. Foto: Reprodução Twitter.

Primeiramente, queria dizer que já sofri algumas vezes quando o Galo, meu time, enfrentou o Ciclón. Das 11 vezes que o Atlético disputou a Libertadores, em 4 caiu no mesmo grupo que esse simpático clube. Esse ano, aconteceu de novo, mas os resultados foram positivos: uma goleada por 4 a 0, no Mineirão, e uma vitória simples, no Paraguai.

hinchada Cerro Porteño.
La hinchada. Foto: Reprodução Twitter Cerro Porteño

Bom, vamos ao que interessa! No dia 1 de outubro de 1912, era fundado o Club Cerro Porteño, em Assunção, no Paraguai. O clube nasceu no famoso bairro de Obrero, um bairro que leva esse nome devido a seus moradores serem, em grande maioria, da classe trabalhadora. O bairro simplesmente respira as cores azul e grená, seja nas paredes pintadas, nas bandeiras nas janelas ou nas pipas no céu. O Cerro é o clube mais popular do Paraguai, seguido pelo grande rival Olímpia (o maior freguês internacional do meu Galo).

Popularmente chamado de Ciclón por sua torcida, o Cerro costuma mandar seus jogos na Olla Azulgrana (a panela Azul-Grená, em português), que, a partir de 2017, virou La Nueva Olla Azulgrana. O estádio foi construído em 1970 e era maravilhoso, porém não tinha uma grande capacidade e a infraestrutura não era das melhores. Então, os jogos mais importantes eram disputados longe de casa, e pior, no Defensores del Chaco, o maior estádio do Paraguai até então, que pertence ao seu maior rival.

Até que, em 2015, o clube anunciou que reformaria sua casa. E, agora sim, a torcida entra em cena! A hinchada do Cerro exprimiu todo o seu amor pelo clube e, literalmente, colocou a mão na massa para reformar La Capital del Sentimento. Os torcedores, simplesmente, entravam na obra, perguntavam em que ajudar, pegavam os instrumentos e começavam os trabalhos. Antes disso, o clube forneceu cursos profissionalizantes para os que quisessem participar.  Quem não podia contribuir presencialmente, fazia na parte financeira, a torcida ajudou a pagar os US$ 22 milhões (aproximadamente R$73 milhões, na época) de custo da reforma.

Após 2 anos, 8 meses, 18 dias e muito suor derramado, a Nueva Olla Alvigrana, el estadio más grande del país, foi reinaugurada. A reforma possibilitou uma significativa ampliação, garantindo uma capacidade de mais de 45.000 torcedores. O estádio novo ficou lindo, mantendo seu formato inicial e tradicional. O projeto não se transformou em uma arena elitizada e moderna como as que vemos ao redor do mundo. O palco segue tradicionalíssimo!

A inauguração foi em uma partida contra o Boca Juniors, obviamente, com o o estádio completamente lotado. A torcida, protagonista dessa reforma, deu show na arquibancada e fez uma festa memorável, criando uma atmosfera incrível dentro da Olla.

Cerro Porteño.
A atmosfera da festa de inauguração. Foto: reprodução twitter Cerro Porteño.

Para agradecer pela paixão de sua hinchada, o Cerro convidou os torcedores que ajudaram a erguer o estádio a deixar seus nomes eternizados nas paredes do monumento. É possível visitar o estádio com certa facilidade e os ingressos são, em média, baratos, para sempre mostrar a aproximação entre o clube e a torcida. Uma curiosidade sobre a cancha: para o plantio de todo o seu gramado, foram usados pedaços de grama que sobraram das construções das arenas da Copa do Mundo de 2014, no Brasil. Logo, temos resquícios do futebol brasileiro em solo paraguaio!

O Cerro Porteño enfrentará o Fluminense nas oitavas da Libertadores e só pode cruzar com o Galo em uma eventual final. É muito improvável, infelizmente, que o Cerro vá tão longe na competição, mas, caso aconteça, todo esse carinho que sinto pelo Ciclón será temporariamente suspenso e voltará apenas após o fim da competição. Dito isso, fico por aqui. ¡Saludos, Nación Azulgrana! Aqui é Galo!

La Nueva Olla Alvigrana
La Nueva Olla Alvigrana. Foto: Reprodução Twitter
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Como citar

MAGALHãES, Artur de Abreu. Cerro Porteño – A cancha do gigante do Barrio Obrero. Ludopédio, São Paulo, v. 144, n. 6, 2021.
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