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O sucesso contemporâneo do CFR Cluj

Dyego Lima Universidade do Esporte 6 de fevereiro de 2021

Surgido em um lugar costumeiramente retratado nas telas de cinema como o lar de seres assustadores, vide o Conde Drácula, o CFR Cluj tem se tornado, desde o início dos anos 2000, um verdadeiro terror na vida de seus adversários no campeonato nacional. Fundado em 1907, o clube é da cidade de Cluj-Napoca, na Transilvânia, centro-oeste da Romênia. A sigla “CRF” é uma abreviação de Caile Ferate Române, uma transportadora ferroviária estatal do país. Sua grande rivalidade é com o outro clube da cidade, o Universitatea Cluj. Eles fazem o chamado Derbiul Clujului.

Sua casa é o Stadionul Dr. Constantin Radulescu, em homenagem ao antigo jogador e técnico do clube. Construído em 1973, comportava apenas 3 mil pessoas. Quando a equipe se classificou para Champions League de 2008, o estádio foi reformado e ampliado para adequar-se às normas da Uefa. A obra possibilitou a presença de 25 mil torcedores. Em 2009, um quarto estande foi construído, deixando-o com a capacidade atual de 30 mil.

Estádio Constantin Radulescu do Cluj-Napoca em 2012. Foto: Richard Matthews/Wikimedia.

Surgimento

A equipe foi fundada com o nome de Kolozsvári Vasutas Sport Club. A cidade de Cluj-Napoca, antes chamada de Kolozsvár, ainda era parte do antigo Império Austro-Húngaro. Até 1910, o time participava de um campeonato municipal, mas nunca conquistou resultados satisfatórios. Em 1911, acabou vencedor do Campeonato da Transilvânia, além de ser vice nos anos subsequentes até 1914, quando o torneio teve de ser interrompido em decorrência da Primeira Guerra Mundial. Após os conflitos, em 1920, a Transilvânia passou a fazer parte da Romênia, e o clube decidiu adotar o nome de CFR Cluj.

Foram mais alguns anos de luta e nenhuma conquista. Após a Segunda Guerra, a equipe jogou uma temporada na Divizia C e conseguiu o acesso para a segunda divisão do país. Antes do início da temporada 1947–48, o clube se uniu a outro time local, o Ferar Cluj, e jogou a Divizia A pela primeira vez na história. No entanto, apenas dois anos depois, acabou rebaixado, ficando fora da elite da Romênia por 20 anos. Em 1960, outra junção. Dessa vez, com o Rapid Cluj, que resultou no surgimento do CSM Cluj. Porém, em 1967, a equipe voltou com o seu nome original.

Os altos e baixos

Sob o comando de Constantin Radulescu, em 1969, o Cluj foi campeão da Divizia B com 40 pontos, cinco à frente da Politehnica Timisoara. Depois de duas temporadas consecutivas escapando do rebaixamento na última rodada, a diretoria resolveu agir para a época 1972–73: Mihai Adam, duas vezes artilheiro do campeonato e considerado um dos melhores romenos de sua geração, foi contratado do rival Universitatea Cluj. O resultado foi a melhor colocação do clube em sua história: 5° lugar, seis pontos atrás do campeão Dínamo de Bucareste.

Na temporada 1973–74, mesmo com Mihai Adam sendo mais uma vez artilheiro com 23 gols, o Cluj escapou do rebaixamento por pouco. Já na época seguinte, com muitos jogadores acima dos 30 anos, o clube foi condenado ao descenso, marcando sua última participação na elite no século XX. Depois de vários anos alternando entre a segunda e a terceira divisão, além de quase declarar falência na década de 1990, uma nova esperança chegou à equipe. Em janeiro de 2002, Árpád Pászkány, chefe da S.C. ECOMAX M.G., firmou uma parceria com o Cluj, que logo conquistou o acesso para a Divizia B.

A campanha na segunda divisão foi intensa. Logo no início da temporada, Pászkány foi envolvido em um escândalo de compra de arbitragem. Isso afetou o desempenho da equipe, que perdeu partidas em sequência. O técnico Cioceri foi demitido, mas recontratado pouco tempo depois. Após sua volta, o Cluj foi uma fênix: ganhou catorze e empatou uma partida nos últimos 15 jogos do campeonato, alcançando a liderança da Divizia B pela primeira vez em 28 anos, e sendo campeão com um ponto de vantagem sobre o Jiul Petrosani.

O retorno à primeira divisão, em 2004, foi de altos e baixos. Depois de encerrar o primeiro turno em sexto, na segunda metade do campeonato a equipe degringolou: somou apenas doze pontos em 15 jogos. Encerrou a temporada na 11° colocação, conseguindo evitar o rebaixamento. No ano seguinte, o Cluj participou de sua primeira competição europeia: a Copa Intertoto, que era formada pelos clubes que não alcançavam as principais competições da Uefa e que, até aquele ano, era vencida por três clubes. Ao longo dos anos, a gradual superlotação do calendário acabou dificultando a realização de uma fase final entre os times que avançavam. Assim, declarar mais de um campeão foi a saída encontrada pela Uefa.

Depois de eliminar FK Vetra, da Lituânia, Athletic Bilbao, Saint-Étienne, e FK Zalgiris Vilnius, também da Lituânia, o Cluj fez uma das finais contra o RC Lens, da França. Ao fim de tudo, derrota por 4 a 2 no placar agregado de dois jogos e vice-campeonato.

O período de ouro

A temporada de 2007–08, com o clube vivendo o seu centenário, foi perfeita. Sob o comando de Ioan Andone, o Cluj iniciou bem o campeonato, liderando a Liga com oito pontos de vantagem ao fim do 1° turno e ainda invicto. Porém, o desempenho caiu na segunda metade e o time foi ultrapassado pelo Steaua Bucareste faltando apenas duas rodadas. Nesses dois jogos, a equipe somou seis pontos, e o Steaua, só três. O Cluj se tornou a primeira equipe de fora da capital romena a conquistar o campeonato nacional em 17 anos, além de conseguir uma vaga na fase de grupos da Champions League. Três dias depois da Liga ser vencida, o clube bateu o Unirea Urziceni por 2 a 1 e foi campeão da Copa da Romênia. É importante ressaltar que há apenas seis temporadas, o Cluj estava na terceira divisão do país.

Na Champions League de 2008–09, o Cluj ficou no grupo A, ao lado de Roma, Chelsea e Bordeaux, da França. Apesar de ter encerrado em último lugar, os quatro pontos conquistados foram significativos: empate em 0 a 0 na Romênia contra o Chelsea, e vitória por 2 a 1 contra a Roma, em pleno Estádio Olímpico. Juan Emmanuel Culio, autor dos dois gols, foi o herói do triunfo.

Equipe do CFR Cluj em partida contra o Chelsea em 2008. Foto: John_Dobbo/Wikimedia.

O Cluj voltaria a ser campeão romeno nas temporadas de 2009–10 e 2011–12, justificando os altos investimentos em infraestrutura, gerência e transferências de jogadores. Por outro lado, na temporada 2014–15, as dificuldades financeiras prejudicaram o desempenho em campo. Por dívidas, a Federação Romena de Futebol decidiu tirar 24 pontos do clube, que acabou caindo para a última colocação da Liga. Porém, em maio de 2015, após novo julgamento, a Corte decidiu retroceder, e devolveu os pontos retirados. No entanto, a Uefa puniu o clube, proibindo-o de participar de suas competições durante alguns anos. O Cluj acabou a Liga na 3ª colocação.

Já em 2016, depois de derrotarem o Dínamo Bucareste nos pênaltis, venceram novamente a Copa da Romênia, sendo a sua primeira conquista desde 2012. No ano seguinte, o empresário Marian Bagacean comprou 62% das ações do clube, ajudando-o financeiramente ao tornar-se o sócio-majoritário. Após o fim do período de punição imposto pela Uefa, o Cluj pôde voltar a participar das competições europeias, inclusive estando presente nas edições de Champions League desde a temporada 2017-18. Com a ajuda do renomado técnico Dan Petrescu, o time é o atual tricampeão nacional, feito inédito em sua história.

Alguns jogadores conhecidos, como o lateral uruguaio Álvaro Pereira, passaram pelo Cluj. O brasileiro mais renomado a atuar por lá foi o meia Júlio Baptista. No entanto, o seu período no clube rendeu uma situação curiosa: ele atuou por apenas 43 minutos e anotou um gol. Ele assinou contrato em agosto de 2018 e rescindiu em março de 2019, recebendo um salário de cerca de 52 mil euros por mês.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Dyego Lima

Jornalista formado pela UFRN. Aficionado por esportes. Futebol principalmente, mas não somente.Made in Universidade do Esporte! 

Como citar

LIMA, Dyego. O sucesso contemporâneo do CFR Cluj. Ludopédio, São Paulo, v. 140, n. 11, 2021.
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