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Como analisar partidas e o trabalho do treinador a partir de opiniões não tão populares!

Gabriel Bernardo Monteiro 29 de janeiro de 2020

Vejo muitos comentários e tentativas de se analisar o jogo e o desempenho, o resultado é um fator determinante, mas na visão deste que vos escreve, não deve ser o marco principal da análise de uma equipe, já que apenas uma equipe irá vencer, ou nenhuma em caso de empate. Desde que tive essa reflexão, fico procurando nortes para melhorar a minha análise de jogo e entender um pouco mais do esporte bretão, não do ponto de vista passional, mas do racional!

A partir disso, pensei em frases que não são tão populares, ou seja, não são utilizadas pelos torcedores e a maioria dos comentaristas, mas que resumem minha opinião.

1) ‘Números do sistema tático são importantes, mas a relação de cada um dentro do sistema é infinitamente mais’

Essa é fácil e não tão impopular, treinadores como Guardiola, Klopp e outros até aqui no Brasil estão cada vez mais difundindo essa ideia. Uma pergunta a se fazer é, posso ser ofensivo jogando com 3 jogadores reconhecidos como volantes e posso ser defensivo com 3 atacantes?

Sim! Tudo depende das funções e das características (falarei da importância disso no tópico 2) que esses 3 volantes tem e estão executando dentro do jogo. Se eu alinho 3 volantes com boa qualidade de passe e de infiltração (Cantillo, Paulinho e Elias) posso ter um time ofensivo, com posse! Simplificar a ofensivididade por números é uma análise vazia! O 4-2-3-1 nada mais é do que números ao vento quando não entendemos quem esta em cada número e como se relacionam.

2) ‘Características do jogador e as funções que cada um pode executar dentro do modelo são muito mais importantes do que a posição de cada um.’

É uma sequência do primeiro e já gerou muitas controvérsias por aqui, principalmente quando aparece algum novo volante sondado ou contratado pelo Corinthians.

Sempre aparecem comentários do tipo ‘mais um volante’ ‘vai abrir uma concessionária’ e é algo que me incomoda (em alguns casos), todo jogador tem uma característica, essa característica, dependendo do treinador pode ser potencializada ou pode ser reduzida. Logo, não deve ser só a quantidade (tirando as contratações pra encher o bolso do Garcia) deve ser avaliada, mas sim as qualidades e principalmente como ele pode se encaixar no elenco! Isso em todas as posições. Hoje, temos 3 centroavantes (um número bom mas que alguém pode achar que é alto) e todos são diferentes uns dos outros mantendo algo em comum (cada um a sua maneira) tem bom pivô, isso é montagem de elenco! Ter peças qualificadas para manter o sistema ou mudar o sistema é essencial hoje em dia. Ter 6 volantes (pensando que 2 jogam) com diferentes características não é um exagero tão grande se compararmos a ter 4 volantes idênticos.

3) ‘Tem jogadores que não se enquadram ao modelo de jogo e podem, por isso, nos passar a ideia de serem piores do que realmente são’

Como disse antes, cada jogador tem sua característica. Eu não posso criar um sistema ofensivo e ter um meia ou volante que não seja bom no passe (como nosso Ralf) e também não posso ter um esquema defensivo sólido tendo meias que não a característica (Jadson, Sornoza). Pensando na prática, Richard nos passou uma imagem péssima com o Carille (também o achei horroroso), mas Tiago Nunes resolveu contar com ele nesse ano, em detrimento ao Ralf, que sempre teve um desempenho razoável para bom com o Carille. Logo sugere que dentro do que pensa de futebol, as características do Richard podem ser mais importantes do que do Ralf. (Podemos não concordar, mas claramente esse foi o pensamento). Richard, quando contratado, tinha bons números de passes certos em progressão (Fonte Footstats) algo que não demonstrou aqui, talvez por peso de camisa, talvez por não se entender com o sistema extremamente defensivo do Carille.

Pode ser que ele nos surpreenda, acredito que temos muitas chances disso acontecer.

Carille como treinador do Corinthians no Brasileirão de 2019. Foto: Marcos de Paula/ALLSPORTS.

4) ‘Tudo é treinável e o treino é extensão do jogo’

Futebol é um jogo de enfrentamento, logo os comportamentos coletivos devem ser guiados para melhorar o enfrentamento, certo?

Para se atacar ou se defender bem, temos que treinar para isso e ter em conta que trabalhamos as 4 referências essenciais (Bola, Espaço, Gol e adversário). Logo o método influência muito na qualidade do jogo que se apresenta (oras, Jorge Jesus e Sampaoli foram bem demais aqui e claramente não fazem treinos como o do Abel Braga).

Fazer um treino 11 contra 0 pode ser importante em algum momento, mas não é uma situação real de jogo e pode ser que um 6 contra 4 seja muito mais interessante para treinar o posicionamento dos sistemas. Essa diferença básica de métodos de treino é algo que nos mostra o porque muitos treinadores jovens (como o Nunes) se destacam por times competitivos e cheios de conteúdo porque treinam para isso!

Tiago Nunes comandou o Corinthians na Flórida Cup. Foto: Rafael Ribeiro/Divulgação.

Coelho falava de comportamentos, um dos que ele colocou no fim do ano passado foi o perde-pressiona e foi muito rápido pros jogadores pegarem. Se entrarmos no YouTube da TV Corinthians vemos que o primeiro treino dele foi um X contra X em que ele estimulava o comportamento que ele queria. Não adianta mais só pedir para o atleta fazer no jogo, tem que treinar pra fazer e tem que deixar o treino mais perto do jogo. Alguns comportamentos entram na cabeça mais rápido do que outros mas todos são treináveis. No Brasil temos pouco tempo pra treinos logo muitos comportamentos ficam deficientes e nosso jogo é chato de ver por isso e porque o pouco tempo que sobra para treinar é extremamente mal utilizados!

Logo, não podemos ser injustos de criticar nenhum treinador no começo do trabalho porque muitos tem pouco tempo para gerar esses comportamentos e muita coisa que é treinada demora para ser consistente no jogo.

5) ‘O bom desempenho não é ganhar a qualquer custo, é saber o porquê está ganhando’

Carille ano passado disse que ganhamos o paulista não merecendo! O que significa? Ganhar de 1 a 0 tomando 10 chutes a gol e chutando 3 vezes não é um bom desempenho! Ganhávamos mas ninguém sabia o porquê. No jogo contra o Santos não vimos a bola, nos classificamos porque jogamos bem o primeiro tempo do primeiro jogo, Cássio foi bem no segundo e o Santos perdeu gols incríveis. Logo, não merecemos, mas classificamos.

Marcelo Bielsa disse que não podemos definir o desempenho pelo resultado (vídeo abaixo). Nesse vídeo ele disse que o jogo não pode ser um acaso! Que fazer um gol e ficar torcendo para o outro time não fazer, não é a maneira mais segura já que uma hora a bola entra. Se quem ganha é quem faz mais gols, criar oportunidades e evitar o máximo que o adversário crie é o que diminui o imponderável e torna o desempenho em resultado com mais frequência!

Muitas vezes fomos críticos com a derrotas porque perdemos de 1 a 0, mas criamos oportunidades de gol e não concretizamos e muitas vezes ganhamos de 1 a 0 sem fazer por onde merecer e fomos complacentes! Nossa análise deve priorizar o desempenho para entender o resultado. Não digo pra ficar bravo nas vitórias e feliz nas derrotas mas entender o caminho, o processo e o produto! Vai ter dia que faremos tudo certo, mas a bola não vai entrar. Porém, quanto mais fizermos tudo certo, mais difícil vai ser da bola não entrar!

Acredito muito no potencial do Tiago e acredito que ele tenha uma visão muito parecida com esses tópicos! Espero que gostem e vejam esse vídeo do Bielsa que é uma aula!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Gabriel Bernardo Monteiro

Graduado em Educação Fisica pela Universidade Estadual de Campinas

Como citar

MONTEIRO, Gabriel Bernardo. Como analisar partidas e o trabalho do treinador a partir de opiniões não tão populares!. Ludopédio, São Paulo, v. 127, n. 30, 2020.
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