24.7

Considerações e comemorações

João Paulo Vieira Teixeira 24 de junho de 2011

A ausência de títulos nos últimos anos somada a uma série de episódios que mancharam a história do clube fizeram com que o triunfo tivesse um sabor especial. O grito ecoou mais forte que o normal não só em função do longo jejum, mas também porque esta foi a primeira vez, em décadas, que o Vasco voltou a ser grande sem ter sua imagem vinculada à figura nefasta e antipática de um dirigente que gerava repúdio na maioria dos torcedores brasileiros.

Comemoração do título. Foto: Fábio Borges/FOTOCOM.NET.

Um grande amigo, em tom de gozação (aquela saudável, inteligente e que realmente vale a pena) me disse que trata-se do primeiro título do Vasco na era das redes sociais. Considerando que o Orkut começou a se popularizar no Brasil em 2004 e que o Facebook é uma moda ainda mais recente, trata-se da mais pura verdade – apesar da provocação inserida no comentário. E ao que parece, este novo universo amplifica as conquistas. O despeito de alguns adversários, o exagero de quem não sabe ganhar e a revolta de quem não consegue ver o rival vencer fica ainda mais explícito nessa nova esfera de relacionamentos.

Mas a tecnologia também se torna uma poderosa aliada da paixão. Multiplicam-se os registros. Momentos depois do jogo podemos ter acesso a vários vídeos e fotos que recriam o olhar de um torcedor comum. Não somos mais reféns da narrativa hegemônica da grande imprensa. Um título agora pode ser contado através de vários vídeos postados no Youtube por torcedores que estavam no estádio. Também é possível ver como foi a carreata dos vascaínos em Manaus.

Saindo das páginas da internet e talvez até motivados por elas, viu-se uma manifestação impressionante da torcida vascaína. As ruas do Rio de Janeiro foram tomadas. Teorizamos muito e buscamos explicações para tantos assuntos, mas como entender manifestações como as registradas no vídeo (clique aqui). A torcida vascaína transformou a Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio de Janeiro, durante um mero dia de semana, em um animado bloco de carnaval.

Com reações tão intensas, o mais comum é ouvirmos coisas como: “só meu time vence assim”, “com o meu time é sempre sofrido”, “ganhamos sempre na raça”, “superamos tudo e todos”. Mas será que só a nossa equipe tem este perfil? Ou só o nosso próprio time é capaz de nos emocionar e causar reações tão intensas?

Alecsandro comemora o gol. Foto: Fábio Borges/FOTOCOM.NET.

O fato é que os cariocas estão se acostumando a estas reações e recepções calorosas. Apesar da chuva de críticas – muitas delas pertinentes – o futebol do Rio de Janeiro conquistou cinco títulos nacionais nas últimas seis temporadas. Em 2006, o Flamengo foi o campeão da Copa do Brasil. No ano seguinte, a coube ao Fluminense levantar a taça. Mas se preferir valorizar apenas o Campeonato Brasileiro, antes de desmerecer o futebol carioca, é preciso lembrar que Fluminense e Flamengo também são os dois últimos vencedores.

Títulos importantes que fazem com que alguns “profetas do acontecido” mudem de ideia da noite para o dia. Antes de sair da fila, o Vasco era enxergado como um time sem grandes aspirações no Brasileirão. Mas bastou conquistar o título para que passasse a ser considerado um dos favoritos. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. O mesmo aconteceu com o presidente e deputado Roberto Dinamite. Suspeitas de irregularidades começavam a ser levantadas sobre a conduta do atual mandatário, mas o caneco parece ter feito a mídia mudar o discurso e já recolocá-lo no posto de salvador da Nau.

Por fim, é bom destacar que a festa foi muito bonita pelas ruas do Rio. Mas seria ainda mais agradável se, ao invés do ônibus e do trio elétrico, os jogadores estivessem no bom e velho (tão bom quanto velho) carro do Corpo de Bombeiros. Mas o time do Governador também não se entendeu bem com os grevistas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Como citar

TEIXEIRA, João Paulo Vieira. Considerações e comemorações. Ludopédio, São Paulo, v. 24, n. 7, 2011.
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