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Democratização das transmissões? A Medida Provisória 984

Anselmo Munir 21 de julho de 2020

Em meio à saudade dos estádios e do esporte de maneira geral, a Medida Provisória de número 984 colocada na mesa da Câmara dos Deputados – que sugere dar mais autonomia às equipes nas negociações ao entregar aos clubes mandantes os direitos para as transmissões dos jogos –, surge como mais um capítulo da famosa luta contra o monopólio do Grupo Globo.

O Red Bull Bragantino recusou uma proposta de 30 milhões de reais da emissora para reprodução das 38 partidas do Campeonato Brasileiro. A ideia da direção é oferecer os jogos no canal do YouTube da empresa, que conta com mais de 9 milhões de inscritos e já trabalha dessa maneira com a exibição de outros eventos esportivos.

O Athletico Paranaense criou, em março deste ano, sua própria plataforma de streaming – a Furacão Play, associada diretamente com os planos de sócio torcedor da equipe. O Bahia acena com o mesmo formato, com o aplicativo Sócio Digital.

Num passado recente, a criação da Primeira Liga, o entrave da negociação entre os clubes paranaenses e as cifras oferecidas pela TV Globo – que resultou no primeiro jogo do Brasil transmitido de maneira independente pelas redes sociais, no histórico clássico Atletiba de 2017 – e a negociação de algumas equipes com o Esporte Interativo, do grupo Turner, movimentaram os bastidores dessa novela.

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Enquanto os campeonatos estaduais retornam mesmo sob desconfiança de protocolos suficientes para tal, principalmente no Rio de Janeiro diante da pressa e da irresponsabilidade do governo local, e o calendário das competições nacionais é anunciado pela CBF, discute-se entre os clubes e o Governo Federal as condições das transmissões de futebol.

A briga é pelo maior retorno financeiro. No Brasileirão, por exemplo, a divisão das cotas não é proporcional. Uns ganham mais, outros menos. O preço de consumo é alto e nem todos os jogos ficam à disposição do torcedor. Para acompanhar todas as partidas a única opção é a assinatura do caríssimo pacote pay-per-view.

Dos 20 clubes da série A do Brasileirão, apenas Botafogo, Fluminense, Grêmio e São Paulo não assinaram, até então, o manifesto pela aprovação da MP. O documento, chamado de ‘Lei da Democratização das Transmissões de Futebol’, só não tem um nome mais forte, porque é apoiado pela assinatura de um presidente não lá muito adepto ao tocante da democracia.

Clubes se reúnem com o Presidente da República
Clubes brasileiros em reunião com o presidente. Foto: Marcos Correa/ Fotos Públicas)

Enfim, a foto do encontro entre alguns gestores em Brasília é desanimadora, com toda razão, mas se tratarmos unicamente da pauta e jogarmos a inconveniente figura do responsável pela canetada para fora do campo – afinal é o único nome capaz de sustentar a assinatura devido ao cargo, infelizmente, entregue à ele pelo povo -, a proposta da Medida Provisória é interessante.

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A Liga Nacional de Basquete talvez seja o melhor exemplo diante desse processo de mudança. No início da temporada 2019/20, a NBB anunciou a transmissão de todas as partidas do torneio em seis plataformas. O basquete nacional foi distribuído para TV aberta (Band), TV fechada (ESPN e  FOX) e serviços online (Facebook, Twitter e Dazn). Modelo de distribuição parecido com o adotado pela Conmebol na venda dos direitos da Copa Sul-Americana e Libertadores.

Caso os clubes e as federações se organizem para uma negociação benéfica para todos, a medida poderá render bons frutos para o mercado. Com concorrência e diferentes opções de fonte de receita. Uma forma de evitar até a dependência do adiantamento das cotas de televisão utilizado por muitos cartolas, consumido como um copo d’água no deserto, para maquiar instabilidade em administrações insustentáveis.

Resta saber qual o tamanho da disposição para um crescimento coletivo do futebol, com interesses compartilhados. Considerando o fato das equipes ocuparem níveis de estrutura diferentes entre elas, principalmente nas competições estaduais.

Valeu. Tamo junto!

 

Perfis no Instagram: @anselmomunir | @papodebancada


Referências:

Medida Provisória nº 984. Congresso Nacional

Manifesto dos clubes, a “Lei da Democratização das Transmissões de Futebol”. ESPN

Furacão Play. Meio e Mensagem

Sócio Digital. Torcedores

Red Bull Bragantino recusa oferta de 30 milhões de reais da Globo. Terra

Transmissões da NBB. Torcedores

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Anselmo Munir

Jornalista e Produtor de Conteúdo no @papodebancada

Como citar

MUNIR, Anselmo. Democratização das transmissões? A Medida Provisória 984. Ludopédio, São Paulo, v. 133, n. 49, 2020.
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