108.36

Dos acordos implícitos nos jogos soporíferos

Luciane de Castro 29 de junho de 2018

Ou como placares confortáveis proporcionam jogos desinteressantes

Chegamos ao último dia de jogos da fase de grupos da Copa do Mundo entre classificações sofridas e desacreditadas e outras praticamente definidas na rodada dois. E enquanto estou sentada diante do computador para escrever este breve texto para o Ludopédio, encontra-se em andamento a peleja entre Inglaterra e Bélgica, o que define os confrontos de oitavas-de-final nos dias 2 e 3 de julho.

Dado o relativismo do tempo, posso afirmar, sem medo de errar, que o primeiro tempo demorou uns 365 dias num corte de espaço/tempo paralelo a este. O segundo tempo da peleja segue na mesma pegada. Parece que entrei num buraco de minhoca e estou revendo o primeiro tempo.

Ambas as seleções estão classificadas para a próxima fase e, talvez por este motivo, o jogo tenha se tornado soporífero a ponto de me fazer duvidar em qual dimensão me encontro.

bolacopa
Alguns jogos foram apenas para cumprir tabela. Coitada da bola. Foto: RFU SU.

Não é exclusividade de belgas e ingleses este estado morno dentro das quatro linhas. França e Dinamarca no último jogo do grupo, também proporcionaram esta sensação. Pelo grupo H, Japão e Polônzzzzzzzzzz..

Ok, não serei purista e achar que em jogo entre adversários já classificados, maluco vai dar o sangue e correr riscos. A partir de sábado, 30, é seguir ou se despedir da Rússia, e neste quesito todos os classificados chegam babando, visando o avanço na competição.

Essa é a hora, amiguinhos, onde se separam os homens dos meninos. A estratégia e equilíbrio emocional da inépcia e desarranjo.

Não vai ter tempo pra toquinho de lado, pra demorar segundos infinitos pra cobrar uma falta, tiro de meta ou lateral. O tempo, a partir de sábado, não será relativo. Será algoz e não dará espaço para acordos que colocam o girar dos ponteiros do relógio em pé de igualdade com uma lesma.

E que nesta fase as seleções latino americanas mostrem o brio do nosso futebol e não aceite nada menos que um jogo jogado a vera. É ganhar ou perder, mas sem fazer a torcida dormir.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
Seja um dos 14 apoiadores do Ludopédio e faça parte desse time! APOIAR AGORA

Lu Castro

Jornalista especializada em futebol feminino. É colaboradora do Portal Vermelho e é parceira do Sesc na produção de cultura esportiva.

Como citar

CASTRO, Luciane de. Dos acordos implícitos nos jogos soporíferos. Ludopédio, São Paulo, v. 108, n. 36, 2018.
Leia também:
  • 178.19

    Atlético Goianiense e Vila Nova – Decisões entre clubes de origem comunitária

    Paulo Winicius Teixeira de Paula
  • 178.17

    Onde estão os negros no futebol brasileiro?

    Ana Beatriz Santos da Silva
  • 178.15

    Racismo no Futebol: o golaço do combate ao racismo pode partir do futebol

    Camila Valente de Souza