145.46

Futebol latino-americano em Olimpíadas

Fabio Perina 24 de julho de 2021

Paris-1924 e Amsterdam-1928

Duas medalhas de ouro do Uruguai marcaram a década de auge do futebol no país consagrada com a sede e a conquista da primeira Copa do Mundo, em 1930. Vale mencionar que a construção do estádio Centenário homenageou as duas cidades europeias com cada “cabecera” atrás do gol recebendo um nome. Ainda em 1928, a prata para a Argentina diante dessa final sul-americana esquentou a rivalidade para dois anos depois, em Montevidéu.

Uruguai 1924
Seleção Uruguaia de 1924. Foto: Wikipedia
Após o fim do jogo os jogadores uruguaios deram a volta no campo para cumprimentar os torcedores presentes. Tal atitude ficaria conhecida como a volta olímpica. Foto: Reprodução Twitter

Anos 50 e 80

Entre os anos 50 e 80 houve nas Olimpíadas um amplo domínio do leste europeu nos pódios, sendo a União Soviética (2) e a Hungria (3) as maiores vencedoras do período. Fica algum destaque para o 4º lugar do México, em 1968. No ano que foi o anfitrião pôde testar para a Copa do Mundo do ano seguinte alguns dos estádios mais importantes como o Jalisco (Guadalajara), o Ciudad Universitaria e claro o Azteca. Já nos anos 80 vieram as primeiras medalhas de prata para o Brasil: Los Angeles-1984 e Seul-1988. Mesmo com as traumáticas derrotas para França e União Soviética, respectivamente, ficou de positivo anos depois que várias peças da geração do futuro Tetra passaram por esses torneios: Taffarel, Jorginho, Ricardo Gomes, Dunga, Mazinho, Bebeto e Romário.

Atlanta-1996

O Brasil conquistou o bronze porém essa foi certamente a derrota mais traumática em Olimpíadas: perder de virada de 4 a 3 para a Nigéria com gol na prorrogação após ter uma vantagem parcial de 3 a 1. A equipe contou com peças do futuro Penta: Dida, Roberto Carlos, Rivaldo, Juninho Paulista, Luizão e Ronaldo. O treinador do Tetra, Zagallo ainda reforçou a convocação com veteranos da conquista de 2 anos antes também no mesmo país: Aldair e Bebeto. Na final, a ótima Nigéria de Kanu e Okocha conquistou o ouro contra uma ótima geração da Argentina que subiu praticamente inteira para a seleção principal: Ayala, Zanetti, Sorín, Simeone, Verón, Crespo, Ortega e outros.

Sidney-2000

Mais uma vez o filme dos traumas insistia em rondar a seleção brasileira. E mais uma vez um fantasma africano. Primeiro na fase de grupos, perdendo de 3 a 1 para a África do Sul. Depois nas quartas-de-final, em partida dramática contra Camarões. Na qual a equipe de Alex e Ronaldinho Gaúcho esteve perdendo por 1 a 0 a maior parte da partida, porém com dois jogadores a mais. Foi então que o segundo empatou nos minutos finais em cobrança de falta. Na prorrogação, após vários gols perdidos, em contra-ataque Camarões conseguiu sua vitória e sua posterior arrancada rumo ao ouro. Eliminação que custou o cargo de Luxemburgo, quando já vinha de má campanha nas Eliminatórias e principalmente pela recusa em não levar Romário nem mais nenhum veterano ao apostar tudo no grupo pré-olímpico. O surpreendente destaque no futebol latino-americano nessa edição de Olimpíadas, a primeira no Hemisfério Sul, foi o Chile. Equipe com o volante Maldonado, com passagens por São Paulo, Santos e Cruzeiro, que na época despontava como uma das melhores revelações do mundo. Além dos veteranos: o goleiro Tapia e o atacante Zamorano.

Atenas-2004

Dessa vez a vergonha da seleção brasileira foi bem mais precoce: assim como em 1992, sequer avançou do Pré-Olímpico. A surpresa foi que, tal qual em 1928, houve nova final sul-americana: ouro para a Argentina e prata para o Paraguai.

A “Albiceleste”, treinada por “Loco” Bielsa, contava no elenco com craques que se destacariam no futebol brasileiro: Tevez no Corinthians e principalmente D’Alessandro no Inter. Alguns destaques do título mundial sub-20, de 2001, continuaram na equipe do ouro: como Burdisso, Coloccini, Maxi Rodriguez e Saviola. A seleção foi ainda reforçada pelos veteranos Ayala na zaga e Kily González na meia. Já a “Albiroja” se reforçou com veteranos de peso da ótima campanha na Copa do Mundo de 1998: o zagueiro Gamarra (com passagens por Corinthians e Palmeiras), o volante Enciso (ex-Inter) e o atacante José Saturnino Cardozo. Uma seleção recentemente marcada pela força na defesa, também contou com jovens atacantes de muito destaque como Roque Santa Cruz e Haedo Valdez. Quem junto dos demais jovens do elenco estiveram na evolução posterior do futebol paraguaio na ótima Copa do Mundod e 2010.

Pequim-2008

A Argentina conquistou outro ouro olímpico com uma geração ainda mais produtiva para a seleção principal em anos posteriores como o vice-campeonato mundial de 2014. O treinador Sergio Batista levou Riquelme como único veterano a completar um elenco com o goleiro Romero, os defensores Garay e Zabaleta, os meias Gago e Mascherano e os atacantes Si Maria, Aguero, Lavezzi e Messi. A final contra a Nigéria teve um gosto especial de revanche a 1996. Foi o último africano em uma final consagrando suas melhores décadas de 90 e 2000. E principalmente a semifinal contra o Brasil, treinado por Dunga, quando venceram por um contundente 3 a 0.

Londres-2012

Chamou a atenção a particularidade desse torneio que apenas os donos da casa, a Grã-Bretanha, foram a única seleção europeia classificada em uma segunda fase dominada por asiáticos e latino-americanos. A final latina reuniu o Brasil treinado por Mano Menezes e o México treinador por Luis Fernando Tena. Nova derrota brasileira, com dois gols do centro-avante Peralta, prorrogaram a frustração e levaram à demissão de Mano.

Rio 2016
Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, Brasília, DF, Brasil, 4/8/2016 Foto: Andre Borges/Agência Brasília

Rio-2016

Na segunda edição dos jogos olímpicos na América Latina, a pressão sobre o Brasil foi maior do que nunca. Tanto pelos sucessivos fracassos no próprio torneio olímpico de todas as maneiras em edições anteriores. Quanto principalmente pelo recente desastre do 7 a 1 na Copa do Mundo de 2014. Ainda mais com um treinador pouco conhecido: Rogério Micale. Uma campanha que na fase de grupos começou decepcionante com empates sem gols contra África do Sul e Iraque (ambos em Brasília). A classificação somente veio com uma vitória sobre a Dinamarca por 4 a 0. O caminho rumo à final teve dois confrontos latino-americanos: 2 a 0 na Colômbia (em partida com muitas agressões) e 6 a 0 em Honduras. A final contra a Alemanha, o mesmo fantasma de 2 anos antes foi tensa: empate no tempo normal em 1 a 1 e após a prorrogação somente nos pênaltis veio o tão sonhado primeiro ouro. Por fim, vale uma menção aos estádios. A proximidade com a Copa do Mundo de 2014 no mesmo país levou a uma repetição de algumas sedes: Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Salvador, Belo Horizonte e Manaus. A cidade do Rio foi a única com dois estádios: Maracanã e Nilton Santos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
Seja um dos 14 apoiadores do Ludopédio e faça parte desse time! APOIAR AGORA

Fabio Perina

Palmeirense. Graduado em Ciências Sociais e Educação Física. Ambas pela Unicamp. Nunca admiti ouvir que o futebol "é apenas um jogo sem importância". Sou contra pontos corridos, torcida única e árbitro de vídeo.

Como citar

PERINA, Fabio. Futebol latino-americano em Olimpíadas. Ludopédio, São Paulo, v. 145, n. 46, 2021.
Leia também:
  • 178.2

    Memória, Verdade e Justiça também no futebol sul-americano

    Fabio Perina
  • 173.17

    Neoliberalismo, esporte e elitismo descarado

    Gabriela Seta Alvarenga
  • 170.6

    O futebol e o olho eletrônico: reflexões sobre a lesão de Sanchéz em lance com Marcelo

    Verônica Toledo Ferreira de Carvalho, Renato Machado Saldanha