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Helsinque 1952 – Um tom mais forte de vermelho nas Olimpíadas

Paulinho Oliveira 17 de junho de 2021

Dos escombros da Segunda Guerra, brotou uma nova ordem mundial. Hitler e Mussolini eram coisa do passado. Os Aliados derrotaram as forças do Eixo com um consórcio que juntou países unidos em uma mesma causa, mas muito diferentes entre si. Destes, dois – cada um com suas especificidades, glórias e problemas – emergiram como superpotências geopolíticas. Uma delas, os Estados Unidos, já eram uma superpotência no campo esportivo. No somatório de medalhas conquistadas desde Atenas 1896, os atletas norte-americanos superavam, e muito, os demais. Dos onze Jogos Olímpicos disputados até Londres 1948, os Estados Unidos foram os líderes do quadro de medalhas em oito – só foram superados em Paris 1900 (pela França), Londres 1908 (pela Grã-Bretanha) e Berlim 1936 (pela Alemanha).

Assim, os norte-americanos já se encontravam consolidados no mundo olímpico, mas não apenas no esporte – a parceria da Coca-Cola com o Comitê Olímpico Internacional, iniciada em Amsterdã 1928, se mostrava cada vez mais presente. A outra superpotência geopolítica que surgia da Segunda Guerra Mundial era a União Soviética, a qual, ao contrário dos Estados Unidos, jamais participara dos Jogos Olímpicos. Tivera até oportunidade de comparecer a Londres 1948, não fosse o esfriamento de suas relações diplomáticas com a Grã-Bretanha por conta do Bloqueio de Berlim – cidade que, após a derrota do nazismo, fora rateada entre os vitoriosos, dividida em quatro zonas de ocupação (norte-americana, francesa, britânica e soviética). Preparou-se, contudo, de forma tão disciplinada quanto metódica para a formação de campeões capazes de demonstrar a superioridade do comunismo em relação ao mundo capitalista.

Estados Unidos e Grã-Bretanha não suportavam a União Soviética, mas tiveram de engoli-la como parte do mesmo time durante a Segunda Guerra. Nem o presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt, tampouco o primeiro-ministro britânico Winston Churchill queriam contrariar o líder soviético Josef Stalin e seu desejo de expansão territorial soviética pelo Leste Europeu. Hitler era o inimigo comum a ser vencido por capitalistas e comunistas, e foram justamente a tentativa frustrada do führer de invadir a União Soviética e a derrota alemã na sangrenta Batalha de Stalingrado, em 2 de fevereiro de 1943, o ponto de virada da Segunda Guerra Mundial em favor dos Aliados.

Stalin determinou, a partir de então, que suas tropas empurrassem os alemães até seu próprio território, que, afinal, teve sua capital conquistada pelo Exército Vermelho em abril de 1945, o que levou ao suicídio de Hitler. Foi, então, a bandeira vermelha com a foice e o martelo amarelos o pavilhão fincado em Berlim, primazia que norte-americanos e britânicos tiveram de aceitar, já que por demais ocupados com a frente ocidental de combate.

Todavia, os Estados Unidos sabiam que não poderiam retornar a uma política isolacionista tal qual adotaram após a Primeira Guerra Mundial – tempo em que sequer ingressaram na Liga das Nações. Roosevelt e, posteriormente, seu substituto Harry Truman determinaram-se a levar adiante a influência norte-americana aos países que porventura ocupassem por força de sua vitória na guerra, mesma pretensão de Stalin em favor da expansão do ideário soviético.

No terreno pacífico dos Jogos Olímpicos, Londres 1948 fora palco de uma supremacia dos Estados Unidos tamanha, ao ponto de seu total de medalhas de ouro ser mais que o dobro do que conquistara a Suécia, segunda colocada. Sabiam, porém, os norte-americanos que, com a entrada em cena dos seus grandes rivais geopolíticos na arena olímpica, não seria razoável acreditar na manutenção de tão flagrante hegemonia. A União Soviética tratava o esporte como política de Estado – a formação de campeões nas mais diversas modalidades era fator preponderante para a propaganda positiva do regime comunista de partido único. Havia ainda um diferencial que pesava em favor dos soviéticos, o seu entendimento peculiar do conceito de amadorismo esportivo, ainda vigente à época. Enquanto nos países capitalistas como os Estados Unidos um atleta, para disputar as olimpíadas, teria de (pelo menos oficialmente) ganhar seu dinheiro em outra atividade profissional, notadamente na iniciativa privada, na União Soviética a solução encontrada foi empregar seus potenciais campeões como militares. Assim, para todos os efeitos, os soviéticos não eram atletas profissionais, mas, na prática, em lugar de pegar em armas, os soldados de Stalin eram pagos para treinar arduamente em suas respectivas modalidades esportivas, buscando superar seus limites (inclusive no que dizia respeito a recordes) através de treinamentos metódicos e altamente disciplinados, ministrados por professores que eram verdadeiros agentes a serviço do regime.

Helsinque 1952
Abertura dos Jogos Olímpicos de 1952. Foto: Wikipédia.

Por tais razões, o mundo esportivo aguardava, com ansiedade, o dia 19 de julho de 1952, quando seriam inaugurados os Jogos Olímpicos de Helsinque, capital da Finlândia, ocasião em que retornaria, depois de dezesseis anos, a vila olímpica, erguida no bairro de Käpylä, com uma infraestrutura invejável – 13 casas com 545 apartamentos, espaços para treinamento, restaurante, hospital, saunas, posto telefônico e correios. Na vila de Käpylä, foram acomodados atletas masculinos de 61 países; às mulheres de 36 nações, reservou-se a Escola de Enfermagem, a um quilômetro do Estádio Olímpico. Em nenhum desses espaços, contudo, ficaram os atletas da União Soviética e dos demais países de sua esfera de influência que foram a Helsinque 1952. Os competidores soviéticos e os de Bulgária, Tchecoslováquia, Hungria, China, Polônia e Romênia foram alojados em outra vila olímpica, improvisada nas instalações da Escola Técnica de Otaniemi – um distrito da cidade de Espoo, a 8 quilômetros de Helsinque. Assim, com os atletas norte-americanos e soviéticos separados em vilas olímpicas distintas, teve início a Guerra Fria nos Jogos Olímpicos.

O começo da Guerra Fria Olímpica em Helsinque 1952

Helsinque teve pouco mais de cinco anos para se preparar até o início dos Jogos de 1952 desde a data de sua escolha como anfitriã, mas muitos palcos de disputas já estavam erguidos há bastante tempo. O Estádio Olímpico, por exemplo, teve sua construção iniciada em 1934 e finalizada em 1938, no embalo da candidatura de Helsinque para sediar os Jogos Olímpicos de 1940. Como estes acabaram sendo cancelados por conta da Segunda Guerra Mundial, o primeiro evento esportivo internacional a ser sediado no estádio acabou sendo o Desafio Fino-Sueco de Atletismo de 1940, competição regular da modalidade que reunia apenas atletas finlandeses e suecos, mas com a participação especial, naquela edição, de uma delegação da Alemanha nazista. Nem mesmo a capital finlandesa pôde sediar a Olimpíada Internacional dos Trabalhadores de 1943, também em razão da Segunda Guerra.

A construção do Estádio Olímpico foi um dos fatores que contribuíram para o crescimento de vagas na construção civil em um país ainda predominantemente rural, com elevados índices de desemprego no tempo da Grande Depressão, especialmente entre os mais pobres. Na década de 1950, por seu turno, a Finlândia já era uma nação mais urbanizada, embora mais da metade da população e 40% da produção nacional se concentrasse no setor primário da economia, ou seja, nas áreas rurais – o que explica o fato de o Partido Agrário ainda ser, na época, uma das legendas mais fortes da política finlandesa. O crescimento de Helsinque ao longo da primeira metade do Século XX inflou sua população: de 111.654 habitantes em 1904, passou a 205.833 em 1925, um crescimento de mais de 84% em apenas um quarto de século. Em 1950, a população da capital finlandesa atingia a marca de 368.519 habitantes.

Ser anfitriã dos Jogos Olímpicos induziu Helsinque à construção de um novo aeroporto, na cidade vizinha de Vantaa, para substituir o antigo, no distrito de Malmi, inaugurado em 1936. A capital finlandesa consolidava, assim, sua modernização em andamento desde o início do Século XX, com a introdução e ampliação da rede de bondes elétricos. Em 1939, ano em que começou a Segunda Guerra Mundial, cerca de 61 milhões de pessoas por ano viajavam nos bondes da cidade, sistema de transporte que, todavia, ficou comprometido com os bombardeios sobre Helsinque durante a Guerra de Inverno e a Guerra de Continuação, entre 1939 e 1944. Em 1º de janeiro de 1945, foi criada a Transportes Municipais de Helsinque (HKL), que passou a administrar a rede de bondes e ônibus elétricos, estes introduzidos em 1946. A evolução dos transportes, todavia, não se refletiu nas comunicações. Os Jogos de Helsinque 1952, além da cobertura impressa, foram transmitidos pelo rádio, sendo a emissora responsável pela difusão das informações a Yleisradio Oy (Companhia Finlandesa de Radiodifusão), fundada em 1926 – a televisão só chegaria à Finlândia em 1957.

Além do Estádio Olímpico, outros equipamentos que foram edificados visando os Jogos Olímpicos cancelados de 1940 foram o Estádio de Natação, o Helsinki Velodrome (sede do ciclismo de velocidade), o Tennispalatsi e o Messuhalli (palcos das disputas do basquete, sendo que o último, além de sediar a final da modalidade, também era o local do boxe, da ginástica e das lutas). Todos necessitaram de reformas para os Jogos de 1952. Essas despesas foram somadas às utilizadas para a construção do novo aeroporto de Helsinque-Vantaa, da vila olímpica de Käpylä, da preparação de Otaniemi para receber as delegações da União Soviética e seus países satélites e da decoração da cidade com temas olímpicos. No total, pelas contas oficiais do comitê organizador de Helsinque 1952, foram gastos 1,404 milhão de marcos finlandeses – sem contabilizar os gastos com os assentos complementares de madeira do Estádio Olímpico e a instalação do inovador placar eletrônico, o que elevou a despesa total para 1,58 milhão de marcos finlandeses. A receita, por sua vez – incluindo venda de ingressos, hospedagens, comercialização de alimentos, selos comemorativos e revistas oficiais com a programação dos Jogos, além de doações –, somou 1,392 milhão de marcos finlandeses. O prejuízo, portanto, foi de quase 200 mil marcos finlandeses. O Estado finlandês foi o principal provedor da Olimpíada de Helsinque, por meio da sociedade XV Olympia Helsinki 1952, cujo patrono era, justamente, o presidente da República Juho Kusti Paasikivi, que, em 1950, fora reeleito para o cargo.

Paavo Nurmi acende a chama olímpica.
Paavo Nurmi acende a chama olímpica. Foto: Wikipédia.

As disputas esportivas giraram predominantemente em Helsinque e arredores, com exceção de Hämeenlinna (pentatlo moderno), Harmaja (vela), Kotka, Lahti, Tampere e Turku (sedes do futebol, com exceção da final). O Estádio Olímpico, todavia, era, como de praxe, o palco principal dos Jogos, a começar pela cerimônia de abertura, que começou às 13 horas de 19 de julho de 1952, um sábado bastante chuvoso. Mais de 70 mil pessoas assistiram à tradicional marcha das nações, que abriu, como de costume, com a delegação da Grécia e finalizou com a da Finlândia, país-sede, terceira maior delegação com 258 atletas (sendo 30 mulheres). Em seguida, após o presidente Paasikivi declarar abertos os Jogos, o novíssimo placar eletrônico anunciou a chegada do lendário Paavo Nurmi, portando a tocha olímpica. Era a primeira vez que se escolhia um premiado atleta nacional para tal responsabilidade solene. Helsinque 1952, entretanto, foi além: enquanto Nurmi acendia a pira que ficava visível a toda a plateia no Estádio Olímpico, outra lenda do atletismo finlandês, Hannes Kolehmainen, se posicionava no topo da torre ao lado das arquibancadas principais para acender outra pira olímpica, a que ficaria acesa durante toda a Olimpíada. A torre media 72,71 metros, medida exata alcançada por mais uma lenda do esporte local, Matti Järvinen, ao estabelecer o recorde olímpico do lançamento do dardo em Los Angeles 1932.

Os Jogos de Helsinque 1952 contaram com a participação de 4.955 atletas (sendo 519 mulheres, o equivalente a 10,47% do total) de 69 países, o maior número até então. A Olimpíada marcou o retorno do Japão – com uma diminuta delegação de 69 atletas (sendo 11 mulheres) – e da Alemanha – oitava maior delegação, com 205 atletas (sendo 32 mulheres). Esta, aliás, competiu como se fosse um só país, o que, na verdade, não era. Desde 1949, a nação – que, após a Segunda Guerra, fora dividida em zonas de ocupação norte-americana, britânica, francesa e soviética – se convertera em duas: República Federal da Alemanha (ou Alemanha Ocidental, com capital em Bonn); e República Democrática Alemã (ou Alemanha Oriental, com capital em Berlim Oriental). Do espólio alemão do pós-guerra, ainda adveio o Sarre, protetorado da França que competiu com delegação autônoma em Helsinque, em sua primeira e única participação olímpica, com 36 atletas (sendo 5 mulheres).

Além do Sarre, estrearam em Jogos Olímpicos outras 13 nações. Bahamas, Guatemala e Antilhas Holandesas foram três das 18 delegações do continente americano. Da Ásia, vieram 17 delegações, sendo estreantes Hong Kong (dependência da Grã-Bretanha), Indonésia, Israel, Tailândia, Vietnã e a República Popular da China. Esta, aliás, compareceu com apenas um atleta, o nadador Wu Chuanyu. O plano inicial do COI era que os chineses participassem com 38 atletas (sendo 2 mulheres), em uma delegação unificada entre a República Popular da China (proclamada como tal em 1949 por Mao Tse-tung) e a República da China (chamada “nacionalista”, cujas forças governavam o país antes da derrota na Guerra Civil Chinesa e que fugiram para a ilha de Taiwan). Porém, os “nacionalistas” discordaram e se retiraram dos Jogos em 17 de julho de 1952, dois dias antes da abertura oficial, deixando apenas Chuanyu competindo em Helsinque, onde foi estendida, pela primeira vez, a bandeira vermelha com cinco estrelas amarelas da China comunista. A África, por sua vez, foi representada por 4 delegações, sendo duas estreantes: Costa do Ouro e Nigéria. A Oceania enviou os de sempre, Austrália e Nova Zelândia, e a Europa continuou a ser predominante, com 28 delegações no total.

Nenhum país estreante, porém, estava sendo tão aguardado quanto a União Soviética. Os vermelhos enviaram a Helsinque a maior delegação dos Jogos de 1952, com um total de 295 atletas, sendo 55 mulheres. A expectativa justificou-se ao final da Olimpíada: logo na estreia, a União Soviética alcançou o segundo lugar no quadro de medalhas, com 71 no total, sendo 22 de ouro. A maior parte das conquistas soviéticas veio da ginástica artística, modalidade que, pela primeira vez, reservava provas específicas tanto masculinas, quanto femininas – até Londres 1948, somente os homens disputavam aparelhos individualmente, sendo reservada às mulheres apenas a competição por equipes. Assim, a partir de Helsinque 1952, a União Soviética começou a fazer escola na ginástica, especialmente a feminina. Victor Chukarin, entre os homens (com 4 ouros e 2 pratas), e Maria Gorokhovskaya, entre as mulheres (com 2 ouros e 5 pratas), foram os maiores destaques individuais.

Os grandes vencedores, porém, nesse primeiro capítulo da Guerra Fria Olímpica, foram os Estados Unidos, com um total de 76 medalhas, sendo 40 de ouro – em seis oportunidades, atletas norte-americanos ganharam ouro, prata e bronze, sendo este um recorde ainda hoje vigente em Jogos Olímpicos. Se, do lado soviético, o foco principal era a ginástica artística, do lado norte-americano eram o atletismo, o boxe e a natação. No boxe, por exemplo, os Estados Unidos ganharam o ouro em cinco das dez categorias. No atletismo, os grandes destaques individuais foram Bob Mathias (que defendeu, com sucesso, o título olímpico do decatlo conquistado em Londres 1948) e Harrison Dillard (com 2 ouros em Helsinque e 4 ouros contando os que havia ganho quatro anos antes na capital britânica). Na natação, destacou-se Ford Konno (com 2 ouros e 1 prata). Além disso, um capítulo à parte do triunfo americano em Helsinque 1952 foi o basquete, no qual derrotaram os grandes rivais soviéticos na decisão por 36 a 25.

Os Estados Unidos foram os únicos não-europeus a figurar entre os 10 melhores países dos Jogos de Helsinque. Dentre os demais, além da União Soviética, destacou-se a Hungria – um dos países sob a esfera de influência de Moscou. Com uma delegação de 189 atletas, os húngaros alcançaram o terceiro lugar, com 42 medalhas no total, sendo 16 de ouro. Seus principais destaques foram as ginastas Ágnes Keleti (1 ouro, 1 prata e 2 bronzes) e Margit Korondi (1 ouro, 1 prata e 4 bronzes), o boxeador tricampeão olímpico Lázló Papp e a seleção húngara de futebol – que venceu o torneio olímpico de forma invicta e permaneceria sem perder uma partida até 4 de julho de 1954, quando seria derrotada pela Alemanha Ocidental na final da Copa do Mundo, em Berna (Suíça). Já a Finlândia, país-sede, finalizou na excelente oitava colocação, com 22 medalhas no total, sendo 6 de ouro.

Helsinque 1952 também seria uma Olimpíada histórica para o Brasil. Após participar com sucesso de Antuérpia 1920 – onde ganhou 3 medalhas, sendo uma de ouro –, passou em branco nas quatro edições seguintes, deixando, inclusive, de participar dos Jogos de Amsterdã 1928. Em Londres 1948, voltou a ganhar uma medalha pela primeira vez em 28 anos, o bronze da seleção masculina de basquete. Em Helsinque, o país igualou, em número absoluto, sua participação de Antuérpia, com 3 medalhas no total. Ganhou uma medalha de ouro pela primeira vez depois de 32 anos por meio do saltador Adhemar Ferreira da Silva, que havia terminado em oitavo lugar no salto triplo em Londres 1948 com a marca de 14,49 metros. A vitória de Adhemar em 1952 foi ainda mais especial pelo recorde mundial de 16,22 metros, 21 centímetros a mais do que o próprio brasileiro havia alcançado em setembro de 1951, no Rio de Janeiro. Após sua vitória, Adhemar, tomado de contentamento, percorreu inteiro o Estádio Olímpico, empunhando uma bandeira brasileira e saudando o público que, entusiasmado, o aplaudia. Introduziu, assim, sem o saber, o costume que viria a ser conhecido como Volta Olímpica.

O grande destaque individual de Helsinque 1952, porém, foi um corredor de provas de fundo vindo da Tchecoslováquia, país que terminou a Olimpíada na sexta colocação no quadro geral de medalhas, com 13 no total. Emil Zátopek, com as vitórias nos 5 mil, 10 mil metros e maratona – a única vez, até hoje, que tal proeza seria alcançada –, foi o responsável por quase a metade das 7 medalhas de ouro conquistadas por seu país. Sua esposa, Dana Zatopková, campeã no lançamento do dardo, fez com que a família como um todo ganhasse mais da metade dos ouros da Tchecoslováquia – nação integrante da esfera de influência da União Soviética e que fez em Helsinque sua melhor campanha na história olímpica até então. Zátopek, além de lenda das pistas, era considerado um competidor limpo e seria agraciado com a Medalha Pierre de Coubertin em 1975 – é, até hoje, o único tcheco a receber tal honraria.

(O artigo é parte do Capítulo 12 do livro JOGOS POLÍTICOS DA ERA MODERNA, de Paulinho Oliveira.)
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Paulinho Oliveira

Jornalista (MTb 01661-CE), formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC) em 2004.Escritor, com duas obras publicadas: GUERREIROS DE SANTA MARIA (Fortaleza, Premius Editorial, 2013, ISBN 9788579243028) e JOGOS POLÍTICOS DA ERA MODERNA (Fortaleza, publicação independente, 2020, ASIN B086DKCYBJ).

Como citar

OLIVEIRA, Paulinho. Helsinque 1952 – Um tom mais forte de vermelho nas Olimpíadas. Ludopédio, São Paulo, v. 144, n. 31, 2021.
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