Lições do Mirassol: exemplo e consequência, da base ao calendário
A repercussão da história de superação do Mirassol no retorno do Campeonato Paulista já era enorme antes do início das fases finais. Após conquistarem a classificação para semi diante do São Paulo, no Morumbi, ficou ainda maior.
Toda eliminação de equipes com mais recursos para times mais limitados levanta a bola para discutirmos a ineficiência de um grupo com maior investimento e o porquê de tantas dificuldades em outros centros de treinamento.
O Mirassol não conseguiu manter 18 jogadores durante a pandemia. Ficou insustentável arcar com os custos desses atletas depois de 4 meses de paralisação. Com isso, 11 meninos da base foram integrados ao profissional e contratações pontuais foram necessárias para ajudar na composição do elenco.
Um deles, Zé Roberto, autor de 2 gols na vitória para cima do Tricolor, foi inscrito dias antes da decisão. Participou de apenas 1 treino e terminou a noite como o grande personagem da semana.
Temos dois pontos de destaque nesse episódio. O primeiro é a importância das categorias de base. Essa remontagem da equipe não é simplesmente um catado como a contratação do carrasco do Morumbi sugere. A promoção dos garotos é fruto de investimento.
Foi assim que surgiu a possibilidade para construção de um Centro de Treinamento de 6 milhões de reais, por exemplo, em 2018. Luiz Araújo, jovem jogador da casa, saiu do Mirassol para o São Paulo, de lá para o Lille, da França. As cifras dessa transação renderam a oportunidade para investir na estrutura do clube.
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Com um trabalho constante e bem estruturado a rodagem desse fluxo pode ser uma porta para o crescimento das equipes. Para todas as instituições, das menores às maiores.
Tudo dependerá da administração desses investimentos. Quando acompanhamos a venda de promessas para o exterior ficamos frustrados com a falta de oportunidade de vê-las brilhar aqui no Brasil antes de partirem para outros continentes. A verdade é que em muitas situações essa é a oportunidade de equilibrar as contas de gestões desorganizadas.
A pior parte de negociarmos nossos atletas tão cedo é precisarmos disso para sustentar a parte financeira. Assim como a venda antecipada das cotas de televisão, dinheiro para tapar buraco.
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Recentemente o Vasco negociou uma de suas crias, Marrony, com o Atlético Mineiro. Parte do tesouro serviu para pagar salários atrasados. Enquanto os clubes não focarem em gestões sustentáveis, cenas como essas seguirão se repetindo.
Outro ponto é a importância da manutenção de um calendário anual de competições. A troca de jogadores e as contratações de última hora do Mirassol recorrente da crise da pandemia é uma realidade para muitos em tempos “normais”.
Um levantamento divulgado pelo Globo Esporte, em 2018, mostrou que de 267 times participantes das primeiras divisões dos estaduais espalhados pelo Brasil, 71% delas tinham programação de apenas 1 semestre. Ou seja, apenas meia temporada.
Dessas equipes, de 8.863 contratos de atleta, 43,5% eram temporários. O profissionalismo do futebol para essa galera parece ainda mais distante.
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E se a manutenção dos estaduais é uma discussão em pauta, sem eles a situação seria ainda pior. Dessas 267 equipes, menos da metade, apenas 123 participam de algumas das séries – A, B, C ou D –, do Campeonato Brasileiro.
Falta calendário para manter essas instituições em movimento constante. Quanto maior a instabilidade, mais difícil de alcançar patamares de organização sustentáveis.
As notícias do Mirassol geram esperança de uma instituição que, aparentemente, está buscando rumos mais sólidos de gestão. E escancaram a importância de planejamento, investimento e a força das categorias de base.
Valeu. Tamo junto!
Referências
Ricardo Catalá, técnico do Mirassol, fala sobre mudanças na equipe e importância da base. Globo Esporte
Mirassol constrói CT com dinheiro da venda de Luiz Araújo. Globo Esporte
Vasco aproveita dinheiro da venda de Marrony para pagar dívidas. Super Esportes
Não é ruim vender David Neres. Papo de Bancada – Medium
Calendário das equipes de futebol. Globo Esporte