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Mar calmo não faz bom marinheiro

Leonardo Megeto Montelatto 21 de julho de 2021

Essa frase, utilizada pelo comandante Abel Ferreira na entrevista coletiva pós virada frente ao Bahia já nos acréscimos, dentro do Allianz Parque, resume muito bem o que é o Palmeiras. Uma capacidade imensa de autogerar conflitos e crises mesmo nos bons momentos dentro de campo.

Abel Ferreira
Foto: Cesar Greco/Palmeiras/Fotos Públicas

O mais recente exemplo trata das renovações de contrato de alguns jogadores que possuem vínculo se encerrando em dezembro de 2021, mesmo período do fim do mandato do presidente Maurício Galiotte. Jaílson e Felipe Melo, além dos emprestados Danilo Barbosa e Luan Silva, deixarão o elenco na virada do ano caso não exista evolução em suas situações. O fato de que outros atletas renovaram recentemente com o clube, como Willian, Zé Rafael, Raphael Veiga e Rony, sendo que os três últimos ainda tinham vínculo maior anteriormente, parece causar rusgas internamente.

Analisando caso a caso, percebemos situações particulares porém semelhantes quando observadas pela ótica da gestão do clube. Danilo Barbosa e Luan Silva, emprestados por Nice da França e Vitória, respectivamente, demandariam um investimento por suas contratações. Tendo em vista a postura tímida adotada pela diretoria nesta temporada, além do fato de Danilo ser um reserva, ainda que importante pela sua polivalência, e Luan apresentar diversos problemas com lesões ao longo de sua estadia no clube, fica difícil imaginar que os dois continuem em 2022.

Jaílson, que completou quarenta anos no dia vinte deste mês, parece se tratar de um caso de passagem de bastão para Vinicius Silvestre, goleiro revelado no clube e que ganhou oportunidades durante o campeonato Paulista, como reserva imediato de Weverton. Espera-se que sua despedida seja conduzida de maneira muito melhor do que a de Fernando Prass, outro goleiro ídolo e peça importante na reconstrução recente do clube. Por último, Felipe Melo. O volante já se encaminha para a reta final de sua carreira, e pelas informações, uma questão muito mais conceitual impediu a renovação. Felipe desejava mais dois anos de contrato, enquanto a diretoria ofereceu apenas um (prática comum adotada com jogadores acima dos 35 anos no clube, caso de Willian, por exemplo). Além de que, apesar de ser um importante líder dentro do vestiário, atua em uma posição repleta de jovens com grande potencial, já estabelecidos e campeões, juntamente de todo “pacote” Felipe Melo de polêmicas que ele traz junto e muitas vezes prejudica a imagem do clube.

Jaílson
Foto: Cesar Greco/Palmeiras/Fotos Públicas

Todas essas situações são normais no dia a dia de um clube. Jogadores, dirigentes e funcionários chegam e saem a todo momento. O que incomoda e muitas vezes constrange é a forma como tais processos muitas vezes são tratados. Felipe Melo, por exemplo, trouxe à tona sua situação numa entrevista pós vitória contra o Grêmio dentro de casa, que naquele momento alçava a equipe para a liderança do campeonato Brasileiro. A resposta do presidente Galiotte veio da mesma forma, através de uma entrevista.

Caso semelhante ocorreu a não muito tempo. Depois de várias cutucadas menores, Abel Ferreira explodiu com a diretoria pela não chegada de reforços solicitados até aquele momento depois de uma derrota para o Red Bull Bragantino. Muito irritado já pelo excesso de jogos no ano, calendário, perda de jogadores para a Copa América, lesões, gramados ruins, cobranças excessivas (a equipe é a atual campeã da Libertadores e da Copa do Brasil, enfrentou uma maratona insana de jogos, e as principais derrotas ocorreram em disputas por pênaltis) após resultados ruins, o português soltou os cachorros pra cima de Galiotte e do diretor Anderson Barros. A resposta? Também via imprensa, em um programa esportivo do dia seguinte, onde Galiotte tratou como desnecessária as declarações de Abel.

Por fim e para ficarmos apenas nos exemplos mais recentes, os casos dos jogadores na vida noturna em plena pandemia. Primeiro, Lucas Lima. Já trintão e experiente, flagrado por integrantes da Mancha Verde na saída do que ele justificou ser um restaurante onde acompanhou o jogo da seleção pela Copa América.

Patrick Palmeiras
Foto: Cesar Greco/Palmeiras/Fotos Públicas

Quando que, NA MESMA SEMANA, o jovem Patrick de Paula, no mesmo dia de um jogo em que ele deixou a equipe com menos um jogador em campo por estar utilizando um brinco!?!? e não conseguir retirá-lo durante cinco minutos, é acuado na saída do que ele alegou se tratar de um bar, protegido por um segurança que evitou várias agressões físicas contra ele por parte dos torcedores, com tudo sendo gravado pelo ex-presidente da torcida organizada e divulgado nas redes sociais. Ambos foram “afastados” e retornaram após testarem negativo para a Covid. Patrick, grande revelação e esperança de negociação que reforce o caixa do clube num futuro próximo, vem aos poucos recuperando espaço na equipe, entrando no decorrer dos jogos. Já Lucas Lima afundou-se no banco de reservas, não tendo entrado em nenhum jogo desde então.

Quando olhamos todos esses conflitos, imaginamos uma equipe com muitos problemas e dificuldades dentro de campo. Uma equipe que vence um jogo importante e tem turbulência nos bastidores, que o presidente e o treinador divergem pela imprensa, que jogadores ignoram a atual situação do mundo e sem um pingo de noção da imagem e responsabilidade que possuem saem em horários indevidos.

Só que este não é o Palmeiras. Pelo menos de 2015 para cá. Se alguns anos atrás a equipe tinha problemas extra e dentro de campo, as coisas mudaram de figura. Atual líder do campeonato Brasileiro e com uma boa situação na Libertadores, tudo transcorre muito bem para o elenco. Peças importantes reencontraram as boas atuações (como Raphael Veiga, Zé Rafael e Willian), líderes defensivos retornaram da Copa América e recuperaram a solidez defensiva da equipe (Weverton, Gomez e Viña), além dos retornos próximos de lesão de Rony e Luiz Adriano que aumentarão o leque de opções ofensivas da equipe assim como a recuperação de ritmo de Dudu, grande reforço do ano. E talvez esses mares agitados que Abel muito bem exemplificou, tornem o grupo muito mais forte para enfrentar adversidades e conquistar os resultados e títulos que todo torcedor corneta e espera.

P.S. Seria excelente nenhuma decisão da Libertadores ir para os pênaltis, porque senão…

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Leonardo Megeto Montelatto

Formado em Educação Física pela UNICAMP. Professor de futebol na Arena Belletti e na Associação Rocinhense.

Como citar

MONTELATTO, Leonardo Megeto. Mar calmo não faz bom marinheiro. Ludopédio, São Paulo, v. 145, n. 42, 2021.
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