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Museu Brasileiro do Futebol: formação humana e profissional a partir de ações didáticas e educativas

Aberto ao público em 2013, o Museu Brasileiro do Futebol (MBF) apresenta-se como uma opção de lazer em Belo Horizonte. Sediado no Estádio Governador Magalhães Pinto (Mineirão), o MBF possui a potencialidade, a partir do seu Acervo, de proporcionar diversas experiências de aprendizado ao expor, pesquisar e preservar artefatos do futebol brasileiro.

A equipe de Educadores do MBF explora as múltiplas facetas da exposição e do estádio Mineirão de forma lúdica, crítica e criativa, podendo propiciar ao público visitante uma compreensão do futebol em seu contexto social, cultural e político. A partir de exposições interdisciplinares e interativas estimula-se a reflexão em torno da cultura do futebol, transcendendo a esfera meramente esportiva, realizando uma leitura ampla desse fenômeno sociocultural (ABDO; AUGUSTO, 2016, p. 145).

Ao todo, o museu possui 14 salas interativas que buscam apresentar e problematizar como o futebol se tornou um dos elementos centrais da cultura brasileira (COSTA, 2016, p. 282). Cada sala possui a sua peculiaridade, mas neste texto voltarei as atenções exclusivamente para a sala denominada “Futebol e Outras Artes”, a partir de um relato de experiência.

Sala do Museu Brasileiro do Futebol denominada “Futebol e Outras Artes”. Foto: Divulgação/Acervo do Museu Brasileiro do Futebol.

Na sala “Futebol e Outras Artes”, apresenta-se o futebol na cultura brasileira e a sua integração às linguagens artísticas. É exibido para o público visitante como o futebol pode dialogar e ser representado a partir da música, da dança, da literatura, da escultura etc. (COSTA, 2016, p. 288). Nessa sala, encontra-se uma exposição de caricaturas de jogadores marcantes na história do futebol mineiro, dentre elas, uma ilustração do jogador José Reinaldo de Lima, mais conhecido como Reinaldo, ídolo do Clube Atlético Mineiro. Essa caricatura foi desenhada pelo publicitário, jornalista e ilustrador André Fidusi. Destaco esse desenho de Fidusi, para então relatar uma das várias experiências incríveis que pude vivenciar durante o período em que realizei um Estágio Extracurricular no MBF.

Caricatura do Jogador José Reinaldo de Lima. Ilustração de André Fidusi exposta no MBF. Foto: Autoral.

Enquanto estagiário, foram muitos os aprendizados a partir de mediações em visitas, assim como no planejamento e desenvolvimento de atividades e projetos educativos que exploravam diversas temáticas a respeito do futebol, tais como: “História do futebol em Minas Gerais”, “Futebol e machismo”, “Futebol e homofobia”, “A presença feminina no futebol”, “Futebol e profissão”, entre outros.

Durante esse estágio, pude acompanhar visitantes de diferentes locais do Brasil e de outros países, de diferentes faixas-etárias e classes sociais. Decerto, é intrigante e muito especial receber um público vasto, em média, 200 pessoas diariamente, em um estádio de futebol em dias que não está acontecendo uma partida de futebol.

Em uma situação específica, fiquei responsável em mediar a visita de um grupo com cerca de 20 pessoas. Tratava-se de uma excursão de um grupo escolar, proveniente de um colégio público e periférico, com estudantes que tinham entre 12 e 14 anos de idade. Logo me identifiquei, pois, durante toda a minha trajetória escolar, estudei em escolas públicas, em que os estudantes eram predominantemente moradores de favelas.

Após me apresentar e conhecer esses ilustres visitantes, os direcionei para a sala “Futebol e Outras Artes” e lá apresentei a caricatura do jogador Reinaldo. Mencionei que aquela obra ilustrava não só a imagem de um atleta que fez história com a camisa do Atlético-MG e que se consagrou como o maior artilheiro de todos os tempos do Mineirão, mas também de um jogador que comemorava os seus gols erguendo um punho cerrado, que simbolizava seus posicionamentos contra a Ditadura Militar e contra o racismo.

Em seguida, percorremos todas as salas do museu com muito entusiasmo. A cada sala, os estudantes demonstravam estar muito empolgados com as exposições e com a partilha de conhecimentos. Para além do percurso no museu, os educadores do MBF também mediam as visitações nos bastidores do Estádio do Mineirão. Nessa dinâmica, os visitantes exploram os espaços da sala de aquecimento, dos vestiários, da sala da coletiva de impressa, da zona mista, até a emocionante experiência de chegarem à beira do gramado. Desse modo, terminando o passeio dentro do museu, direcionei o grupo para a visita aos bastidores.

Chegando à zona mista, todos já estavam extremante ansiosos para sentir a emoção de vislumbrar a vastidão do gramado do Gigante da Pampulha, como o estádio é carinhosamente chamado. De costas para o grupo, pronto para subir as escadas da zona mista que dão acesso ao campo, finalmente, convidei os estudantes para essa emocionante experiência. Até aquela ocasião, aquelas crianças só tinham visto um estádio de futebol pela televisão. Então, quando me virei de frente para aqueles jovens de escola pública, crianças negras, moradoras de favelas, lá estavam com os seus braços erguidos e seus punhos cerrados, prontos para brilhar, dar um espetáculo no Mineirão. E foi assim que o grupo subiu as escadas da zona mista até chegar à beira do gramado, fazendo o mesmo gesto que Reinaldo fazia ao comemorar seus gols.

A experiência de Estágio no MBF, certamente, foi uma oportunidade que me proporcionou uma valiosa formação humana e profissional. Compreende-se o museu como um espaço de lazer, assim como a sua grande potencialidade de compartilhamento de conhecimentos. Nesse sentido, entende-se o lazer como um fenômeno que pode aguçar as sensibilidades e estimular o pensamento crítico e emancipatório. Decerto, os esportes, os museus e o futebol são meios que podem trazer positivas mudanças sociais.

Educativo. Foto: Divulgação/Acervo do Museu do Futebol Brasileiro.

Referências Bibliográficas

ABDO, L. M.; AUGUSTO, M. Futebol e memórias indígenas entram em campo no Museu Brasileiro do Futebol. In: II Simpósio Internacional Futebol, Linguagem, Artes, Cultura e Lazer, 2016, Belo Horizonte. Anais do II Simpósio Internacional Futebol, Linguagem, Artes, Cultura e Lazer.

COSTA, T. C. A exposição do Museu Brasileiro do Futebol: escrita da história e cultura do esporte. In: II Simpósio Internacional Futebol, Linguagem, Artes, Cultura e Lazer, 2016, Belo Horizonte. Anais do II Simpósio Internacional Futebol, Linguagem, Artes, Cultura e Lazer.


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Anderton Taynan Rocha Fonseca

Licenciado em Educação Física pela Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais (2017). Foi membro do Programa Rede de Museus e espaços de ciência e cultura da UFMG, vinculado ao Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do Lazer, no período de 2015 a 2017. Foi integrante do Programa Educativo do Museu Brasileiro do Futebol de 2017 a 2019. Atua como professor da educação básica na Rede Estadual de Educação de Minas Gerais. Integrante do grupo de pesquisa FULIA - Núcleo de Estudos sobre Futebol, Linguagem e Artes. Doutorando do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer da UFMG.

Como citar

FONSECA, Anderton Taynan Rocha. Museu Brasileiro do Futebol: formação humana e profissional a partir de ações didáticas e educativas. Ludopédio, São Paulo, v. 140, n. 9, 2021.
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