Não em reais, mas em valor humano: o custo dos jogos com público
Aconteceu! E os planos para seguir assim parecem acelerados. Apressados! Talvez essa palavra faça mais sentido. Além do retorno precoce do Campeonato Carioca, seus organizadores projetam jogos com público. A restrição dos portões fechados desmorona junto da preocupação com a pandemia.
Se já não bastasse toda a exposição dos jogadores, comissões técnicas e todos os demais funcionários envolvidos na realização de uma partida, a prefeitura do Rio de Janeiro está disposta a incluir torcedores dentro dessa zona de risco. A medida, prevista para ser empregada já no mês de julho, prevê 1/3 da capacidade do estádio, distanciamento de 4m² e venda de ingressos somente no ambiente virtual.
A necessidade do retorno dos eventos esportivos e de uma importante engrenagem para a economia é indiscutível. Já os cuidados para que o preço, não em reais, mas em valor humano, de vidas, a ser pago por essa volta precisam ser contestados. São essas discussões o motor para construção de um ambiente saudável e de tomadas de decisão mais justas. Embora ainda haja quem evite esse tipo de evolução.
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Paulo Autuori, técnico do Botafogo, é um dos críticos da falta zelo dos organizadores do Campeonato Carioca. Ao critica-los, foi punido, privado de comandar sua equipe por 15 dias. A FERJ alegou que o treinador “ofendeu e denegriu a imagem da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro [FERJ] e do Presidente da entidade, Dr. Rubens Lopes da Costa Filho […]” ao utilizar as palavras “mamata” e “espertos” ao impor sua opinião sobre a volta do calendário em meio a pandemia ainda fora do controle.
Além da falta de abertura para críticas, o uso da palavra ‘denegriu’, de referência histórica racista, na composição de um documento jurídico, só fortalece a falta de atenção de alguns envolvidos.
Apesar de todos os cuidados e testes antes das realizações, Fluminense e Volta Redonda se enfrentaram mesmo após 3 jogadores do Volta Redonda terem testado positivo para Covid-19 antes da partida. Pois bem, esses atletas estiveram em contato durante os treinos com toda sua equipe, que passou a ter contato com o time do Fluminense durante 90 minutos. Abrimos margem para contaminação.
Falta dinheiro, mas é preciso responsabilidade para recuperá-lo. A CBF estuda o retorno, previsto para agosto, das competições nacionais. Isso implicará em uma maratona de jogos para o término de todos os estaduais e situações vulneráveis para o desenrolar dos jogos em todo o país. São as condições físicas dos atletas, arbitragem, os funcionários e a logística de viagem, sem falar em todas as famílias envolvidas.
Todos esses pontos ainda precisam ser replicados para categoria feminina, que além de todas essas dificuldades, contam com a falta proporção de investimento e atenção repassada para o masculino.
Paralelo a todos esses cuidados, a conscientização do torcedor é imprescindível para que cenas de ruas italianas e inglesas não se repitam por aqui, principalmente em uma eventual liberação para jogos com público. Foi na conquista da Copa da Itália pelo Napoli e na comemoração do Liverpool ao garantir a Premier League que tivemos exemplos negativos de como se comportar durante a conquista de um título em tempos como esse.
O esporte, mais uma vítima da crueldade de uma doença, não pode ser fator de propagação do vírus, de maus exemplos e irresponsabilidade, contrariando sua essência social de proporcionar qualidade de vida e oportunidades para as pessoas.
Valeu. Tamo junto!
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Referências
Expressões racistas. Carta Capital
Prefeitura planeja liberar jogos com público. Globo Esporte
Paulo Autuori punido após críticas à FERJ. Globo Esporte
CBF planeja retorno das competições nacionais. Globo Esporte
Impacto financeiro da pandemia nas equipes femininas de futebol. Globo Esporte
Risco de contaminação na partida entre Fluminense x Volta Redonda. O Globo
Klopp alerta sobre comemorações da torcida do Liverpool. GOAL
OMS critica aglomerações da torcida do Napoli, na Itália. UOL