99.24

Não se compara

Mariana Vantine de Lara Villela 24 de setembro de 2017

Não costumo escrever por aqui sobre meu time, mas hoje ficou inevitável fazer um texto sobre o que vem sendo o Botafogo em 2017. Honrando o hino que diz “foste herói a cada jogo”, esse grupo conseguiu resgatar alguns sentimentos não só nos alvinegros mas em uma massa de apaixonados por futebol.

Poderia estar nesse momento de cabeça baixa, porém, mesmo com a dor da eliminação só tenho a escrever sobre o bem que o Botafogo está fazendo ao futebol esse ano. É verdade que o time não é nenhuma máquina de fazer gols e nem podemos apontar um grande craque, mas vamos recordar tudo que foi feito esse ano para perceber o que há de tão especial nele.

O maior acerto começa no início da temporada fora das quatro linhas. O clube passou a oferecer opções de sócio torcedor a partir de R$13,90, e inclui várias opções de pacotes que dão direito a entrada em todos os jogos no Estádio Nilton Santos, independente de qual competição. Fora isso, o estádio contou com algumas mudanças: as arquibancadas antes azuis passaram a ser pretas e brancas, e também a ter o escudo em destaque nelas; e, o setor norte passou a ser um setor popular, com preços bem mais acessíveis. Já podemos tirar daí a primeira lição alvinegra para o futebol: o número de sócios aumentou, e a torcida passou a comparecer mais, empurrou o time e proporcionou festas inesquecíveis na arquibancada.

durante a partida entre Botafogo e Gremio pela primeira partida das quartas de final da Libertadores 2017 no Estadio Nilton Santos no Rio de Janeiro
Estádio Nilton Santos durante a primeira semifinal da Libertadores entre Botafogo e Grêmio em 2017. Foto: Pedro Martins/Mowa Press.

No que se diz respeito ao jogo de futebol em si, temos que ressaltar um nome: Jair Ventura. Exerceu o seu papel muito bem, montando esquemas eficientes que foram capaz de derrubar gigantes sulamericanos no decorrer da libertadores, mesmo contando com um elenco limitado. Além de conseguir montar um time competitivo, Jair, junto com a torcida, conseguiu motivar os jogadores a jogarem com uma vontade difícil de se ver em tempos de futebol moderno.

Quem imaginaria que esse time chegaria às quartas da Libertadores, semi da Copa do Brasil e ainda estaria disputando o G-6 do Brasileiro? Todos apostaram nos elencos milionários que se formavam, enquanto o Botafogo foi pouco a pouco encantando, e sabe por que empolgou tanto? Porque ele resgatou os valores mais nobres do futebol, nos trouxe de volta a esperança que esse esporte não se resume em dinheiro, ele é pura emoção tanto em campo quanto nas arquibancadas. Futebol é técnica, mas também é raça, entrega e suor. Obrigada Botafogo, sei que ainda dói a eliminação, mas agora é hora de seguir buscando novas conquistas de cabeça erguida, e continuar mantendo vivo nosso sentimento de “não é um esporte qualquer, não é só futebol”.

“Não se compara, quando você joga não importa nada

É diferente, esse sentimento ninguém entende”

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Mariana Vantine

Pesquisadora de Futebol e Políticas Econômicas.Membro do coletivo internacional Football Collective.

Como citar

VILLELA, Mariana Vantine de Lara. Não se compara. Ludopédio, São Paulo, v. 99, n. 24, 2017.
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