108.20

O gol que gerou um terremoto artificial

Murilo Roncolato 19 de junho de 2018

Aos 35 minutos do primeiro tempo, a seleção mexicana tomou a bola no campo de defesa. Depois de alguns poucos passes em um contra-ataque rápido, Hirving Lozano já estava com ela nos pés dentro da área da Alemanha. Um corte no zagueiro, o chute no canto direito do goleiro: 1 a 0. “Explosão da massa mexicana”, notou um narrador comentando a reação da torcida. O gol marcou a vitória do México, logo na estreia, contra a seleção que é a atual campeã na Copa do Mundo na Rússia no jogo de domingo (17).

Mas também motivou um tremor na capital mexicana, na outra porção do globo terrestre. “O sismo detectado na Cidade do México se originou de maneira artificial. Possivelmente pelos saltos massivos durante o gol da seleção do México no mundial. Ao menos dois sensores dentro da Cidade o detectaram às 11h32”, avisou o Simmsa, o departamento de sismologia oficial do país.

O evento foi confirmado pelo órgão de sismologia do Chile, país que registrou uma situação parecida durante o jogo da seleção peruana com a da Dinamarca – do qual, sem a mesma sorte que o México, o Peru saiu derrotado. Quando o juiz marcou um pênalti a favor do time andino, em Lima – “cidade peruana com mais gente e também com a maior quantidade de sensores ativos” – a terra tremeu.

Celulares de chilenos munidos de um aplicativo oficial cuja função é alertar a população em caso de tremores ocorridos em todo o mundo também vibraram. Tanto o México como o Chile são países muito suscetíveis a terremotos e mantêm sistemas ativos de monitoramento geológico.

“Essa vibração [sismológica] produzida pelos pulos [dos torcedores] (…) de maneira coordenada fez com que os acelerômetros [aparelhos que medem a aceleração de um objeto em relação à gravidade] de vários dispositivos detectassem essa perturbação e a interpretassem como um sismo, mesmo que na realidade não seja um natural”, disse a agência técnica chilena.

Sensores localizados dentro da Cidad do México detectaram tremores
Sensores localizados dentro da Cidade do México. Foto: SIMMSA/Reprodução.

Sismo ou o quê?

A vibração da terra, ainda que percebida por sensores – e não pelas pessoas – localmente, pode ser chamada de tremor, mas não necessariamente se trata de um sismo, termo usado para se referir a abalos na crostra terrestre resultantes de causas naturais, como choques entre placas tectônicas. “Não se denominam sismos ou, nesse caso, deve ir acompanhado pela palavra ‘artificial’ para determinar claramente que não se trata de um evento geológico”, escreveu o instituto sismológico mexicano. Tremores artificiais se diferem dos sismos por não terem epicentro ou intensidade definidos. Esta última, no entanto, pode ser estimada em razão da aceleração da movimentação registrada. No caso do jogo peruano, ela foi de 20 cm/s²; na capital mexicana, no domingo, 37 cm/s². “O que é similar a um sismo de intensidade máxima de grau 4 na escala de Mercalli”, notou o órgão técnico do Chile, lembrando que raios fortes também causam tremores de impactos similares.

nexo_jornal_logo-600x152-minEste texto é uma republicação de artigo publicado no site Nexo Jornal.

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Murilo Roncolato

Jornalista e redator do Nexo Jornal

Como citar

RONCOLATO, Murilo. O gol que gerou um terremoto artificial. Ludopédio, São Paulo, v. 108, n. 20, 2018.
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