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O histórico primeiro título argentino do Colón de Santa Fé

Fabio Perina 10 de junho de 2021

Na última sexta-feira, dia 4 de junho, houve a decisão da Copa da Liga Argentina da temporada de 2021 com um desfecho surpreendente. O primeiro título do tradicional Colón de Santa Fé em seus mais de 115 anos de história. Clube que tem se tornado mais conhecido dos brasileiros e demais sul-americanos por boas campanhas na Copa Sul-Americana: em 2018 eliminou o São Paulo no Morumbi e em 2019 eliminou o Atlético-MG no Mineirão nos pênaltis. Porém na final única daquela edição perdeu para o mais surpreendente ainda Del Valle-ECU, não conseguindo exercer o “fator casa” em Assunção-PAR por ter a maioria da torcida (favorecidos pela curta distância da viagem) e até o grupo musical de cumbia “Los Palmeras” (torcedores assumidos do clube) como atração oficial.

Tradicionalmente já é uma façanha um título ficar com algum clube fora do seleto grupo dos cinco grandes. E maior façanha ainda é um título ficar com algum clube fora da província de Buenos Aires. Conquista até hoje alcançada por apenas outros dois clubes da província de Santa Fé, mas da cidade de Rosario: Newell’s Old Boys e Rosario Central.

Colón
Foto: Reprodução Twitter / ColónOficial

A cidade de Santa Fé (conhecida como a capital do ‘liso’, ou seja, o chopp) é dividida entre o Colón (de camisa vermelha e preta) e seu tradicional rival Unión (de camisa vermelha e branca), fazendo um dos clássicos mais equilibrados quanto a confrontos diretos. Uma informação histórica sempre resgatada é o porquê do apelido de seu estádio. De nome oficial Brigadier Estanislao López, é popularmente conhecido como “Cementerio de Elefantes” por vencer gigantes como Boca, Peñarol e Santos nos anos 60. Estádio também que foi sede de 3 das 4 partidas da seleção argentina na última Copa América sediada no país há exatos 10 anos.

Algumas breves palavras sobre o modelo de disputa no futebol argentino nos últimos anos. Entre 2016 a 2019 houve uma breve experiência de pontos corridos em turno único com o modelo empresarial de Superliga (em paralelo à AFA). Porém junto ao início da pandemia junto foi “implodida” a Superliga com esse formato foi abandonado. Assim os torneios de 2020 e 2021 foram em fase de grupos seguidas por mata-mata. Um ajuste no qual a AFA foi muito criticada pela solução “criativa” de uma incomum suspensão de rebaixamentos. A decisão para momento é por um retorno do formato de pontos corridos para a temporada 2021-22 para se adequar ao calendário europeu. O que certamente dificultará novas surpresas de clubes médios ou pequenos chegarem ao título, pois se sabe ser essa a tendência mundial dos pontos corridos.

Falando agora propriamente da campanha do clube “Sabalero” (quem leva esse apelido pelo vínculo desde sua fundação com pescadores à margem do Rio Paraná). O início da campanha foi avassalador disparando na liderança de seu grupo com 5 vitórias nas 5 primeiras partidas. E manteve o invicto até a 9ª rodada, perdendo para o River Plate. Uma nova derrota para o Racing não prejudicou o caminho para ser líder de seu grupo ao final de 13 rodadas. Já nas quartas-de-final, em duelo de clubes do interior superou nos pênaltis o Talleres de Córdoba em seu próprio estádio.
As fases seguintes de semifinal e final foram disputadas no estádio Bicentenário de San Juan (na região oeste do país) para um maior isolamento das delegações. Na semifinal se impôs sem dificuldades por 2 a 0 sobre o Independiente. E por fim na final um reencontro com outro clube de Avellaneda: o Racing. (Inclusive vale uma menção que na véspera da grande final houve na província vizinha de Santiago del Estero o empate entre Argentina e Chile como a primeira partida da seleção após a morte de Maradona, e claro com grandes homenagens a ele!)

Era o confronto entre uma das melhores campanhas pelo lado do Colón contra uma campanha oscilante na fase de grupos e que foi salva em duas disputas de pênaltis no mata-mata do Racing. Clube tradicional que, apesar de líder de seu grupo na Libertadores, em todo o torneio local o treinador Juan Antonio Pizzi (quem balançou bastante no cargo após uma humilhante goleada de 5 a 0 sofrida pelo River Plate na Supercopa Argentina) encontrou dificuldades em variar de um estilo de jogo muito defensivo e reativo. Com bola rolando na final a menor tradição do Colón foi sendo compensada pelo melhor entrosamento da equipe. Com os gols saindo todos no segundo tempo e jogadas cada vez melhor trabalhadas em cada um deles: um incontestável 3 a 0 com gols de Aliendro, Bernardi e Castro.
Seus destaques individuais são o jovem treinador Eduardo Domínguez (há vários anos no clube) e principalmente a atração do campeonato: o experiente meia-atacante Luís “Pulga” Rodriguez (o “Messi dos pobres”) quem dá um toque fino ao ataque veloz dos demais jogadores. Quem agora mais do que nunca pode ser considerado o “rei do interior” depois das melhores temporadas em sua carreira serem depois de veterano com o Atlético Tucumán (sua terra natal) e nos últimos anos com o Colón. Terminou o torneio como o artilheiro com 8 gols (junto de Borré do River Plate) e um show de assistências e golaços, como se pode desfrutar no vídeo a seguir:

 

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Fabio Perina

Palmeirense. Graduado em Ciências Sociais e Educação Física. Ambas pela Unicamp. Nunca admiti ouvir que o futebol "é apenas um jogo sem importância". Sou contra pontos corridos, torcida única e árbitro de vídeo.

Como citar

PERINA, Fabio. O histórico primeiro título argentino do Colón de Santa Fé. Ludopédio, São Paulo, v. 144, n. 20, 2021.
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