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O necessário boicote africano à Fifa na Copa de 66

Gabriel de Oliveira Costa 13 de janeiro de 2020

No cenário atual de globalização que a FIFA promove em seus eventos de Copa do Mundo, a sensação de inserção que o futebol traz é fruto de uma luta iniciada na África em décadas passadas. Desde o Egito, em 1934, a Copa não tinha um representante africano sequer, até a edição de 1966. Ainda que as duas primeiras Guerras Mundiais tenham implicado com eventuais torneios, foram exatos 32 anos de espera, até o basta final em 1966.

Seleção egípcia na Copa de 34
Seleção egípcia na Copa do Mundo de 1934, na Itália. Foto: Wikipedia.

Contexto

A descolonização africana começou ao final dos anos 50, com Marrocos e Tunísia (1956). Ainda que os países africanos estivessem cada vez mais independentes, suas participações em Copas do Mundo foram excluídas. 

Apesar da criação da CAF, em 1957, junto da crescente demanda de seleções no torneio, a FIFA pouco olhava para o continente africano, e classificava dez nações europeias, de 16 participantes gerais. Quatro vagas ficavam para a América do Sul. A América do Norte disputava com o Caribe uma vaga, enquanto Ásia, Oceania e África lutavam por uma ocupação.

Jogadores da seleção ganesa dos anos 1960, os Estrelas Negras, posam com alguns dos troféus internacionais conquistados. Foto: Wikipedia.

Com o Egito integrando à FIFA desde os anos 30, e o Sudão nos anos 40, os africanos já tinham espaço no Comitê Executivo da entidade. Com Gana sendo a principal seleção da época, bicampeã africana, Ohene Dijan, ganês e membro do cargo citado, questionou o sistema desfavorável para seu continente.

Em janeiro de 1964, junto do etíope Tessema Yidnekatchew, Dijan foi responsável por enviar propostas de mudanças para o Mundial de 1966. Naquela altura, com 15 seleções no quadro da FIFA, era injusto que o vencedor das Eliminatórias disputasse novas qualificações para entrar no torneio. Sem resposta, todas seleções africanas abriram mão daquele mundial.

Boicote

Ignorado por Stanley Rous, presidente da FIFA, o pedido de Dijan não foi acatado. Portanto, a Coreia do Norte, vencedora da Ásia, foi à Copa do Mundo após vencer a Austrália (Oceania). Sem Gana, principal seleção africana dos anos 60, e os demais africanos, a Inglaterra faturou seu título em casa.

Por ironia do destino, o artilheiro daquela edição seria Eusébio (9). Apesar de jogar por Portugal, o atacante era africano, nascido em Moçambique. Jogador do Benfica, Eusébio tornou-se um dos jogadores mais famosos da história do futebol.

Com gol de François Omam-Biyik, Camarões venceu a Argentina, então campeã mundial, na abertura da Copa do Mundo de 1990, na Itália. Foto: Wikipedia.

O resultado do boicote trouxe efeitos positivos para a África. Apesar de ter somente uma vaga assegurada para a Copa de 70, no México, o continente já tinha um representante garantido no torneio após 1966. Para a próxima edição, a seleção de Marrocos foi quem se classificou.

Portanto, desde então as portas foram se abrindo para as seleções africanas. Anos depois a Tunísia (9º/78), Camarões (7º/90), Senegal (7º/02) e Gana (7º/10) fizeram campanhas memoráveis. Em 2010, a África do Sul seria o primeiro país africano a sediar uma Copa do Mundo. Enfim, na última edição, em 2018, na Rússia, cinco países representaram o continente: Senegal, Nigéria, Marrocos, Tunísia e Egito.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Gabriel de Oliveira Costa

Jornalista carioca, tenho 22 anos. Apaixonado por futebol, fator principal pelo qual sou motivado para trabalhar com  a comunicação social, desde março realizo trabalhos direcionados ao conteúdo esportivo. Há dois anos trabalho com pautas de economia e política.

Como citar

COSTA, Gabriel de Oliveira. O necessário boicote africano à Fifa na Copa de 66. Ludopédio, São Paulo, v. 127, n. 13, 2020.
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