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O plano da China para se tornar potência no futebol

Nayra Antunes 27 de janeiro de 2021

Os investimentos da China no futebol refletem a estratégia ousada de alavancar o esporte mais popular do mundo no país do oriente. A contratação maciça de brasileiros despertou curiosidades, e foi esse interesse que me levou a tentativa de desvendar as ações do Plano Chinês na busca pelo sonho de tornar o futebol cultural no país.

Donos da segunda maior economia do mundo, a China também é considerada uma potência no esporte. As Olimpíadas traduzem isso quando mostram uma disputa acirrada entre chineses e americanos no quadro de medalhas.

Quis o destino que assim como os americanos os chineses não tivessem tanta tradição no futebol, pelo menos não no masculino. No entanto, o esporte nunca foi tão cobiçado pela China como nos últimos anos.

O país deu diversas investidas no universo do futebol com o ambicioso objetivo de construir não só a imagem de um país de praticantes do esporte, mas também de torna-se uma potência nele. Para isso assumiram sua ignorância no meio e decidiram explorar o conhecimento prático e intelectual dos  países vizinhos com ações que começaram silenciosas.

Renato Augusto sendo apresentado pelo Beijing Guoan, em 2016. Foto: Divulgação/Beijing

Jogadores estrangeiros na China para influenciar

Os clubes chineses passaram a ser conhecidos pelos brasileiros, não pelos títulos ou grandes feitos, mas por seduzirem cada vez mais jogadores para atuar na China. O salário é o principal atrativo, é a troca da visibilidade pelas cifras, é a oportunidade de fazer o “pé-de-meia” como os atletas costumam justificar.

Jogadores com passagem pela Seleção brasileira se renderam as propostas chinesas, como é caso de Diego Tardelli, Oscar, Hulk, Renato Augusto e Paulinho. Um levantamento feito em  dezembro de 2020 apontou que 34  brasileiros atuavam na China.

O volante Rômulo ex- Grêmio e Flamengo  foi transferido há um ano para o Ever Bright, da China. Em entrevista durante seu período de férias no Piauí, ele reforçou o comprometimento dos chineses com o futebol e afirmou que a China “não perde em nada em estrutura para o Brasil”.

Rômulo assinou com os chineses por dois anos. Foto: Divulgação/ Ever Bright

Os sula-americanos são maioria entre os atletas importados. Além dos brasileiros, grandes nomes do futebol argentino passearam por lá, como Carlitos Tevez e  Javier Mascherano. A contratação de atletas em alta e outros já consagrados foi a jogada mais rápida para inspirar a população e levar torcedores aos estádios.

A aposta em institutos de formação e intercâmbio

Um estudo feito em 2019 pela revista Formação Online aponta motivos econômicos e sociopolíticos para os chineses esbanjarem tanto dinheiro no futebol. Isso inclui a aquisição de clubes estrangeiros ou parte deles. Envolve não só times chineses, mas também outros grupos econômicos.

No Brasil, os acordos sobre franquias de escolas de formação tornaram-se comuns. Em 2012, o São Paulo firmou uma parceria de intercâmbio com o Shandong Luneng  e, logo após o tricolor inaugurou sua primeira escolinha licenciada em Taipa, na China. Em 2016, o Santos também anunciou a construção de suas franquias na China visando uma relação de troca e expandir a marca Meninos da Vila.

O mesmo Shandong Luneng comprou o Desportivo Brasil, que passou a receber atletas chineses todos os anos para um intercâmbio que envolve treinamentos e jogos. O clube do interior paulista passou a ter como missão a valorização da cultura chinesa.

O Londrina-PR construiu um alojamento para receber atletas do time do Shanghai SIPG pelo período de um ano com o objetivo de trocar experiências e dá visibilidade a marca do clube londrinense.  O gestor de futebol do Londrina Sérgio Malucelli garante que o clube paranaense construiu sozinho o alojamento.

Em 2011, no velho continente, a empresa chinesa Dalian Wanda Group estabeleceu um acordo com o Atlético de Madrid para a criação de um sistema de seleção de jovens jogadores para o clube espanhol.

Um ano depois, em parceria com Real Madrid, o grupo Evergrande  construiu em território Chinês a Escola Socioesportiva de Guangzhou. No site oficial, os madrilenhos se referem ao centro esportivo como “a maior escola de futebol do mundo”.

E eles não pararam por aí, em 2017 o Shandong fechou uma parceria de cinco anos com o Borussia Dortmund para serem assessorados pelos alemães com o intuito de desenvolver gestão de clubes, treinadores e categorias de base.

A base chinesa em primeiro lugar

Com o tempo os chineses perceberam que tornar seus times e Seleção competitivos para disputar as competições em alto nível necessitava de foco nas raízes e futuras gerações.

“Eles têm uma regra que todo jogo tem que ter um jogador Sub-23 na equipe jogando, porque eles visam sempre os meninos mais novos, sempre pensando no futuro, sabe? E isso é bem legal”, elogia o volante Rômulo.

O jogador se refere a norma instituída no futebol chinês que garante que jogadores de base sempre estejam em campo nas competições nacionais. Pelo o menos dois atletas do Sub-23 precisam atuar.

Com os gastos em alta na compra de jogadores nos últimos anos, a Chinese Football Association (CFA) se viu obrigada a aprovar uma taxa para controlar a transferência de atletas estrangeiros. Uma decisão que faz parte da intenção de investir nas crianças chinesas.

Em 2019, foi anunciado que em cada uma das 32 províncias chinesas haveria uma escolinha de futebol voltada para crianças de até cinco anos. A China quer que a prática do futebol se torne comum no país rumo ao plano nada modesto de se tornar uma potência no esporte mais popular do mundo.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Nayra Antunes

Nayra é teresinense, jornalista de formação. Atua na área de esportes e cobre futebol. Com foco em webjornalismo, se dedica a criação de conteúdo especializado na internet, redes sociais e blogs.

Como citar

ANTUNES, Nayra. O plano da China para se tornar potência no futebol. Ludopédio, São Paulo, v. 139, n. 49, 2021.
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