O sheik que apitou uma partida na Copa do Mundo na Espanha
O Estádio José Zorrilla, em Valladolid, sediou há quase 36 anos (21 de junho de 1982) uma das partidas mais memoráveis da Copa do Mundo. O motivo não foi pelo resultado esportivo da França. O confronto parou quando os franceses marcaram o quarto gol. Todo o resto é história.
Agora que muitas vozes são críticas, e com razão, com a eleição do Catar para a Copa do Mundo de 2022, pode-se dizer que o futebol teve muitos conflitos relacionados ao Golfo Pérsico durante anos. Um deles, certamente, o mais curioso foi a disputa entre a França e Kuwait durante a Copa do Mundo da Espanha em 1982.
A França vencia confortavelmente a partida por 3 a 1, quando um apito soou e os jogadores rivais pararam. Em seguida, a França marcou o quarto gol e produziu-se uma das imagens daquela Copa do Mundo. De repente, enquanto os franceses comemoravam o gol, os kuwaitianos diziam que ouviram um apito, aparentemente das arquibancadas.
Das tribunas, um homem de manto e turbante se levantou e fez gestos claros com as mãos, convidando os jogadores da seleção do Kuwait a deixar o campo. Estamos falando do sheik Fahid Al-Ahmad Al-Sabah, presidente da Federação Kuwaitiana de Futebol e irmão do emir do pequeno país do Golfo Pérsico. Ele apareceu no campo de jogo, como um Moisés diante das águas, para falar com o árbitro e seus jogadores.
O impacto das imagens foi tanto, que as forças de segurança não fizeram grande oposição. Eles estavam mais preocupados com os fotógrafos, do que para em retirar o sheik do campo de jogo. Talvez devamos ter em mente que a Espanha estava vivendo os seus primeiros anos de uma democracia, e uma imagem dessas não chamava tanta a atenção. Fahid conversou com seus jogadores, e o mais incrível, com o árbitro para que não concedesse o gol (legal) à França.
O gol foi anulado, e um minuto depois do jogo reiniciar, os franceses voltaram a marcar e, graças a Deus, aquele momento do sheik não interferiu o desfecho da partida. A FIFA deveria agir, mas o fez fracamente diante do sheik, aplicando com uma leve multa de 10.000 dólares, valor que certamente Fahid Al-Ahmad gastava em poucas horas. No entanto, o árbitro Miroslav Stupar perdeu suas credenciais da FIFA e nunca mais foi convocado para apitar uma partida internacional.
Oito anos depois, o famoso sheik daquela partida em Valladolid, foi assassinado pelas tropas iraquianas durante a Guerra do Golfo. Um desfecho trágico para um dos protagonistas de uma das partidas mais excêntricas e constrangedoras da Copa do Mundo.
Tradução: Victor de Leonardo Figols
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