135.60

O PAOK e a sua jornada entre conquistas e perdas

Dyego Lima Universidade do Esporte 26 de setembro de 2020

Se desmembrarmos a sigla, obteremos os seguintes termos: Panthessaloníkios Athlitikós Ómilos Konstantinopolitón. Traduzindo para o português, Clube Atlético Pan-Tessalônico de Constantinopolitanos. O PAOK é um clube oriundo da cidade grega de Tessalônica, segunda maior do país e capital da região administrativa da Macedônia Central, localizada na periferia da Grécia. É um dos maiores clubes gregos, possuindo a terceira maior torcida.

O PAOK foi fundado no dia 20 de abril de 1926 por refugiados gregos que fugiram de Constantinopla para Tessalônica durante a Guerra Greco-Turca, que durou de 1919 até 1922. Os conflitos se deram durante a separação do Império Otomano, ocorrida ao fim da Primeira Guerra Mundial. As batalhas foram travadas entre os revolucionários do Movimento Nacional Turco, que posteriormente fundariam a República da Turquia, e a Grécia, a quem os Aliados da Primeira Guerra haviam prometido o território que pertencia ao Império Otomano. Seu nome, juntamente com o emblema do clube, a águia de cabeça dupla, honra a memória do povo e dos lugares, principalmente da cidade de Constantinopla, que pertenceram ao Império Bizantino.

PAOK em 1926.

A casa do clube é o Toumba Stadium, nome vindo do distrito onde o estádio está localizado. Inaugurado em 1959, possui capacidade para cerca de 29 mil torcedores e recebe o apelido de Inferno Negro. Em grandes duelos, enquanto os atletas estão passando pelos túneis em direção ao gramado, o sistema de som reproduz a música Hells Bells, da banda australiana de rock AC/DC. Assim como os rivais Olympiacos e Panathinaikos, o PAOK nunca foi rebaixado da principal divisão da Grécia. No entanto, é a única equipe do país com mais vitórias que derrotas em competições europeias.

O início

Quando surgiu, a equipe tinha a política de ser aberta para qualquer cidadão de Tessalônica, fazendo com que surgisse logo uma rivalidade com o AEK Thessaloniki, o outro clube oriundo de Constantinopla estabelecido na cidade, o qual só permitia que refugiados fizessem parte do time. No dia 4 de maio de 1926, o PAOK jogou sua primeira partida: vitória por 2 a 1 em amistoso contra o Megas Alexandros Thessaloniki. Kostas Andreadis, primeiro técnico dos alvinegros, passou cinco anos no cargo sem exigir remunerações.

Na temporada 1926–1927, a equipe participou do 2° nível de um campeonato local organizado pela Associação de Clubes de Futebol da Macedônia. Apesar de finalizar o certame no topo, o PAOK foi forçado pelo Comitê Organizador a derrotar todos os clubes da primeira divisão em sequência para ter o direito de subir de nível.

Sem problema. O clube venceu todos os quatro adversários: 4 a 1 contra o Thermaikos, 2 a 1 no Aris, 1 a 0 ante o Atlas Ippodromiou, finalizando com um 1 a 0 frente ao Iraklis. Em 1927–28, o time já estava na elite.

Em março de 1929, o rival AEK Thessaloniki acabou encerrando suas atividades. Assim, seus funcionários, bem como boa parte das antigas instalações, passaram a ser de propriedade do PAOK. No lugar da antiga sede do AEK, hoje funciona a Faculdade de Teologia da Universidade Aristotélica de Tessalônica. Em 1937, o clube venceu seu primeiro título da Liga da Macedônia. Sotiriadis, Kontopoulos, Kosmidis e Anastasiadis são alguns dos nomes que fizeram parte daquela conquista.

O time de 1937.

Primeiras aparições em alto nível

O PAOK jogou sua primeira final da Copa da Grécia no dia 28 de março de 1939. Acabaram sendo derrotados por 2 a 1 pelo AEK Atenas. Foi o primeiro de muitos vice-campeonatos que o clube colecionaria neste torneio ao longo da história. Porém, na temporada seguinte, conquistaram o Campeonato do Norte da Grécia.

Em 28 de outubro de 1940, estourou a Guerra Greco-Italiana, um dos conflitos realizados durante a Segunda Guerra Mundial. A Itália, com ajuda de tropas alemãs e búlgaras, invadiu e dominou Grécia e Albânia. Por esses eventos, todas as atividades esportivas foram interrompidas no território grego. Dois jogadores do PAOK foram recrutados pelo Exército Helênico e acabaram morrendo no campo de batalha: o goleiro Nikolaos Sotiriadis, de 33 anos, e o lateral-esquerdo Georgios Vatikis, de 22. Spyridon Kontoulis, do AEK Atenas, e Mimis Pierrakos, do Panathinaikos, foram os outros dois futebolistas gregos que morreram no confronto.

Com o fim da Segunda Guerra, o futebol voltou à ativa. Entretanto, com um país muito polarizado, iniciou-se a Guerra Civil Grega, que durou de 1946 até 1949. O conflito se deu entre as forças armadas do governo monárquico grego, apoiadas pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos, contra o Partido Comunista da Grécia, aliado de algumas frentes armadas do país, além de Bulgária, Iugoslávia e Albânia. Em 1948, o PAOK ganhou seu segundo título do Campeonato da Macedônia. Os jogadores dedicaram a conquista ao seu ex-capitão Thrasyvoulos Panidis, morto durante a batalha alguns dias antes da partida final.

A alternância entre vitórias e derrotas

Em 1950, o clube conquistou a Liga outra vez. Na temporada seguinte, foi vice da Copa da Grécia novamente, perdendo por 4 a 0 para o Olympiacos. De 1954 até 1957, a equipe venceu o Nacional quatro vezes consecutivas, sendo as três primeiras de forma invicta. A derradeira marcou o último troféu dos alvinegros no Campeonato da Macedônia, uma vez que em 1959, a Alpha Ethniki, a Liga Nacional Grega, foi estabelecida no país. Entrementes, em 1955, a terceira derrota na final da Copa: 2 a 0 frente ao Panathinaikos.

Nos primeiros dez anos de existência da Liga, as campanhas do PAOK foram apenas medianas. Os melhores resultados vieram em 1963 e 1967, com o quarto lugar. No entanto, a década de 1970 foi, possivelmente, o melhor período na história do clube. Sob o comando do presidente Giorgos Pantelakis, a equipe venceu o Nacional de 1976, as Copas de 1972 e 1974, batendo Panathinaikos, então vice-campeão europeu, e Olympiacos nas finais, respectivamente. Além dos dois títulos, o time foi vice da Copa da Grécia em 1970, 1971, 1973, 1977 e 1978.

Na temporada de 1973–1974, o PAOK fez sua melhor participação em uma competição europeia. Foi na Cup Winner’s Cup, onde o clube acabou eliminado nas quartas de final. Depois de passar por Légia Varsóvia, da Polônia, e Lyon, a desclassificação veio diante do Milan, campeão europeu há algumas temporadas.

No dia 31 de maio de 1981, outro choque. Gyula Lóránt, técnico do time, sofreu um ataque cardíaco aos 16 minutos de uma partida contra o Olympiacos. Os médicos tentaram reanima-lo no local, mas ele acabou morrendo a caminho da ambulância. No intervalo da partida, os jogadores foram informados apenas que ele teve de ser levado ao hospital. A notícia da morte só veio ao final do jogo. O PAOK venceu por 1 a 0 com gol do reserva Vassilis Vasilakos, que estava sentado ao lado de Lóránt quando ele sofreu o infarto. Os jogadores desejavam dedicar o título da Copa da Grécia em sua memória, mas acabaram derrotados pelo mesmo Olympiacos na final por 3 a 1. Em 1983, a equipe disputou novamente a decisão do torneio. O duelo aconteceu no novíssimo Estádio Olímpico de Atenas. Porém, o resultado não foi novidade: derrota por 2 a 0 para o AEK.

O segundo título nacional veio na temporada 1984–1985, sob comando do técnico austríaco Walter Skocik, e com uma dupla de ataque formada por Giorgos Kostikos e Christos Dimopoulos. A taça veio com três pontos de vantagem para o vice Panathinaikos. Mais tarde naquela mesma época, mais uma derrota na final da Copa: 4 a 1 para o Larissa. Foi o 11° dos treze vice-campeonatos do PAOK na competição até hoje.

Episódios marcantes

Na temporada de 1987–88, o clube encerrou a Liga na 3° colocação, conquistando uma vaga para a Copa Uefa seguinte. O PAOK enfrentou o Napoli de Maradona, Careca e Alemão, e apesar de dois duros confrontos, acabaram sendo vencidos no placar agregado por 2 a 1. Em entrevista para a RAI TV, emissora italiana, o camisa 10 argentino contou como foi encarar a atmosfera do Toumba Stadium, com os torcedores alvinegros atirando objetos no gramado constantemente:

“Joguei muitos jogos, mas nunca vi nada assim. Não conseguimos encontrar ritmo. Foi uma partida estranha”.

PAOK x AEK no Toumba Stadium (1989–1990).

Na época 1990–1991, um episódio curioso aconteceu. No minuto 77 de um clássico contra o Panathinaikos, com o PAOK perdendo por 3 a 0, Thomas Voulinos, presidente do clube à época, furioso com a atuação da arbitragem, invadiu o campo e ordenou que seus jogadores se retirassem. Em entrevista pós-jogo, ele declarou:

“Nós nos sentimos como ovelhas que estavam sendo massacradas, e isso era inaceitável”.

Após julgamento, a equipe foi condenada com uma dedução de três pontos na classificação, além de cinco jogos como mandante com os portões fechados. Mais tarde naquela mesma temporada, os times voltaram a se encontrar, dessa vez pela semifinal da Copa da Grécia. E pasmem: aos 57 minutos da partida de volta, Voulinos tornou a invadir o campo em protesto contra as decisões da arbitragem. O Panathinaikos acabou vencendo por 2 a 1. Entretanto, esses dois episódios não foram casos isolados na história do PAOK.

Em 2018, os alvinegros e o AEK lutavam ponto a ponto pelo título nacional, e acabaram se enfrentando no Toumba Stadium. Já nos acréscimos, com a partida empatada em 0 a 0, Ivan Savvidis, então presidente do PAOK, invadiu o campo com um revólver na cintura e ordenou que seus atletas deixassem o gramado. Ele protestava por um gol de sua equipe ocorrido minutos antes que o juiz chegou a validar, mas depois acabou anulando. Depois de muita confusão, e alegando falta de segurança, a arbitragem foi para os vestiários antes do fim e suspendeu a partida. Por conta desse incidente, o campeonato ficou paralisado por três semanas. Savvidis acabou preso dias mais tarde, punido com uma multa de 100 mil euros e proibido de frequentar estádios por três anos. O clube teve de pagar uma multa de 63 mil euros.

Voltando um pouco no tempo, no dia 1º de outubro de 1992, a partida entre PAOK e PSG, válida pela Copa Uefa, teve de ser abandonada devido a conflitos nas arquibancadas. O clube alvinegro acabou sendo punido pelo comitê disciplinar da Uefa com a proibição de participar de competições europeias por um ano. Avançando, a temporada 1995–1996 foi a pior na história da equipe. Acabaram se salvando do rebaixamento nas últimas rodadas, encerrando o campeonato na 14° colocação.

O período de luto

Em 1996, Thomas Voulinos deixou o clube, que passou a ser presidido por Giorgios Batatoudis. Já em maio de 1997, após cinco anos de ausência, o PAOK voltou a figurar nas competições europeias ao se classificar para a Copa Uefa. E foi uma campanha, de certa forma, surpreendente. Após eliminar o Spartak Trnava, da Eslováquia, veio uma classificação frente ao Arsenal, que naquela temporada venceria a Premier League e a FA Cup. O adeus foi na rodada seguinte, em duelo maluco contra o Atlético de Madrid: 5 a 2 na ida, 4 a 4 na volta.

Na noite de 9 de fevereiro de 1998, a dor da perda voltou a atormentar o PAOK: Panagiotis Katsouris, meia do clube de apenas 21 anos, morreu enquanto voltava de um torneio amistoso. Ele perdeu o controle de seu carro e chocou-se contra uma barreira na estrada. Em homenagem, um busto seu foi levantado no Toumba Stadium. Mais tarde, na madrugada do dia 4 de outubro de 1999, outra tragédia. Após empate por 1 a 1 contra o Panathinaikos, um ônibus que trazia os torcedores alvinegros de volta à Tessalônica colidiu com um caminhão e seis pessoas morreram: Kyriakos Lazaridis, Christina Tziova, Anastasios Themelis, Charalampos Zapounidis, Georgios Ganatsios e Dimitris Andreadakis. Desde então, uma cerimônia é feita anualmente em forma de homenagem.

Pouco tempo depois, os triunfos voltaram. O clube venceu a Copa da Grécia em 2001 após bater o Olympiacos por 4 a 2, e em 2003, vencendo o Aris pelo placar de 1 a 0. O técnico Angelos Anastasiadis se tornou o primeiro na história do PAOK a conquistar a competição como jogador – em 1974 – e treinador.

Novas polêmicas e reconstrução

No fim de maio de 2006, a situação do clube começou a ficar complicada, com os jogadores declarando abertamente que não recebiam há meses. A Uefa proibiu a equipe de participar daquela edição da Copa Uefa. Grupos de torcedores organizados declararam guerra contra o presidente Giannis Goumenos, chegando até a ocuparem os escritórios no Toumba Stadium por alguns dias. A situação piorava à medida que as negociações com possíveis investidores falhavam.

Surgiram alegações de fraudes por parte do presidente, que ficaram mais fortes quando Salpingidis, craque do time, foi vendido ao Panathinaikos. Em novembro daquele ano, Goumenos renunciou à presidência, deixando o clube com dívidas enormes. Nikos Vezyrtzis e Apostolos Oikonomidis assumiram a administração de forma temporária. Em junho de 2007, Theodoros Zagorakis, capitão da Grécia campeã europeia de 2004 e ídolo do clube, assumiu como presidente. As finanças melhoravam aos poucos com a ajuda de novos patrocinadores e dos torcedores. Sob o comando de Fernando Santos, e contando com o brilho de Vieirinha em campo, o PAOK encerrou a temporada 2008–2009 no 4° lugar.

A equipe conseguiu uma vaga na fase classificatória da Champions League de 2010–2011, mas acabou perdendo o técnico Fernando Santos, que decidiu não renovar seu contrato. Ele foi substituído por Mario Beretta, que logo daria lugar a Pavlos Dermitzakis. Esse tornaria-se o treinador com menos tempo de comando na história do clube, passando apenas 38 dias. Com esse ambiente conturbado, o resultado não poderia ser outro: eliminado pelo Ajax na competição europeia.

A volta por cima

Em agosto de 2012, Ivan Savvidis se tornou sócio-majoritário do clube pela bagatela de cerca de 10 milhões de euros. Já em 2014, sob o comando interino de Georgios Georgiadis, o PAOK alcançou a final da Copa da Grécia, mas bateu na trave novamente: 4 a 1 para o Panathinaikos. O clube acabaria vencendo a competição consecutivamente nas temporadas de 2016–17, 2017–18 e 2018–19, ao bater o AEK Atenas por 2 a 1, 2 a 0 e 1 a 0, respectivamente.

A época 2018–19 foi a melhor na história recente do time. Além da Copa, a Liga foi vencida com autoridade, de maneira invicta. O PAOK ganhou 26 jogos e empatou quatro, um recorde no futebol grego. Foi a primeira vez na história que o clube conquistou os dois troféus na mesma temporada. Foi também a primeira vez que uma equipe conseguiu vencer as duas competições sem derrotas, com o Campeonato Nacional já no formato de turno e returno.

PAOK 3–2 Spartak Moscow, agosto 2018. Foto: Эдгар Брещанов.

Na última temporada, o clube alvinegro encerrou o Campeonato Grego no segundo lugar, atrás do Olympiacos. Já na Copa, a eliminação aconteceu na semifinal, também perante o mesmo rival. Os resultados credenciaram o PAOK a disputar a atual edição da Champions League, ingressando nos duelos de playoffs. A equipe eliminou os turcos do Besiktas e o Benfica, comandado por Jorge Jesus. Na última fase, o time enfrenta o Krasnodar, da Rússia. Após perder a ida por 2 a 1, os gregos buscam, em casa, superar o último adversário que os separam de uma inédita participação na fase de grupos da principal competição de clubes do continente.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
Seja um dos 16 apoiadores do Ludopédio e faça parte desse time! APOIAR AGORA

Dyego Lima

Jornalista formado pela UFRN. Aficionado por esportes. Futebol principalmente, mas não somente.Made in Universidade do Esporte! 

Como citar

LIMA, Dyego. O PAOK e a sua jornada entre conquistas e perdas. Ludopédio, São Paulo, v. 135, n. 60, 2020.
Leia também: