131.16

Por um outro futebol! Por um outro mundo!

Roberto Jardim 8 de maio de 2020

https://www.facebook.com/corinthians/posts/3176496499056187

Esse episódio Raí x Caio Ribeiro x Casão tem muito a ver com a criação do projeto Democracia Fútbol Club.

A proposta surgiu lá atrás, em 2016, a partir da provocação de um amigo e da ideia de listar jogadores politicamente engajados.

Quando estava prestes a começar a publicar os perfis produzidos para a série DFC, um apresentador, digamos esportivo/bigbrodiano, tascou um comentário dizendo que política e futebol não se misturavam.

Isso foi lá no começo de 2018.

A frase, por certo, não se referia aos inúmeros cartolas e boleiros que se aproveitaram/aproveitam de suas famas para adentrar no mundo da política, ou da politicagem, como prefiro dizer.

Certamente também não se referia a diversos líderes políticos, autoritários ou democratas, mas, certamente, populistas, que sempre usaram, e ainda usam, o jogo de bola para angariar visibilidade.

A frase do apresentador – que até virou neologismo, “a leifertização do jornalismo esportivo” – criticava, isso sim, atletas, dirigentes e jornalistas que faziam e fazem bom uso político do futebol.

Era contra aqueles que usam o futebol para fazer a política do dia a dia, aquela que está presente no cotidiano, nas nossas lutas diárias por uma vida melhor.

Reclamava dos que veem o futebol como algo mais do que apenas futebol. Que enxergam o jogo de bola além das quatro linhas.

Esses boleiros, técnicos, dirigentes e jornalistas que fazem questão de unir futebol e política viam e veem o futebol como uma ferramenta transformadora da sociedade.

Como um ponto de partida e não como um fim.

Como um apoio, por que não, das lutas sociais.

Para esses profissionais, e para mim, o futebol só tem sentido se fizer parte da sociedade como um todo. Do contrário, não terá nenhuma importância nem fará diferença nenhuma na vida das pessoas.

Sendo assim, Raí tem todo o direito, como pessoa e como dirigente de um clube, de não falar só de futebol.

O Casagrande, por sua história junto à Democracia Corintiana, e também por sua luta contra as drogas, é a prova viva de que futebol nunca foi, não é nem nunca será apenas futebol.

Quanto ao Caio, democraticamente ele tem direito à opinião dele, de achar que futebol e política não se misturam.

Ele só se esquece, porém, que ao defender esta ideia está deixando espaço aberto para aqueles que apostam nessa alienação, para aqueles que acreditam no futebol como um fator alienante.

Porque não misturar futebol com política é tudo o que esse tipo de político, que prefiro chamar de politiqueiros de plantão, quer.

E tudo que eles querem é usar o futebol dentro da velha tática do pão e circo.

É preciso acrescentar ainda que, ao defender que o jogo de bola e a política não se misturam, Caio esquece que também está fazendo política.

Talvez diga que não, mas está. Afinal, negar a política como integrante de todas as instâncias da vida é, sim, um gesto político. Que, apesar de muitos não perceberem, é tudo o que os poderosos querem.

Além do mais, chegam informações de São Paulo dando conta de que o pai do comentarista é conselheiro do São Paulo. E é oposicionista da atual diretoria.

Se Caio não está fazendo política no sentido amplo, está, no mínimo, fazendo política clubística. Mascaradamente, mas está. 

Se ele não quer que essa confusão ocorra, deveria ter deixado de comentar o posicionamento de Raí, declarando-se impedido de opinar, devido a interesses familiares. 

Por tudo isso, fazemos questão, com muito orgulho, de misturar futebol e política!

Para que, usando a força do futebol, possamos, ainda que utopicamente, lutar por um mundo melhor.

Como diz um amigo, um outro futebol é possível. Um outro mundo é possível.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
Seja um dos 14 apoiadores do Ludopédio e faça parte desse time! APOIAR AGORA

Roberto Jardim

Jornalista, dublê de escritor e pai da Antônia. Tudo isso ao mesmo tempo, não necessariamente nessa ordem. Autor dos livros Além das 4 Linhas e Democracia Fútbol Club.Como fazer jornalismo independente, mantém uma campanha de financiamento coletivo no Apoia.se, que ajuda na produção do projeto Democracia Fútbol Club, que tem o objeto de contar a história de jogadores e técnico, times e clubes, torcedores e torcidas que usaram a desculpa do futebol para irem além das quatro linhas.

Como citar

JARDIM, Roberto. Por um outro futebol! Por um outro mundo!. Ludopédio, São Paulo, v. 131, n. 16, 2020.
Leia também:
  • 178.27

    Torcida organizada e os 60 anos do Golpe Civil-Militar: politização, neutralidade ou omissão?

    Elias Cósta de Oliveira
  • 178.25

    Jogo 3: Galo 3 x 2 Peñarol

    Gustavo Cerqueira Guimarães
  • 178.23

    A dança proibida

    José Paulo Florenzano