Reformular é preciso
A última temporada do Corinthians não foi marcada apenas por um ano conturbado, imprevisível, com mudanças de hábitos, dias de luto, e jogos sem público nos estádios, tudo isso por conta da pandemia mundial que enfrentamos, agravada pela falta de políticas públicas de combate a transmissão da Covid. O ano do Corinthians foi bastante ruim como agremiação esportiva. Resultados decepcionantes em campos e um processo eleitoral para presidência no clube um tanto quanto controverso. Se por um lado a última gestão de Andrés Sanchez era bastante criticada, as eleições de 2020 colocaram Duílio Monteiro Alves como novo presidente do Corinthians, mesmo este fazendo parte do grupo da antiga gestão. Posto isso, quais foram os grandes problemas do Corinthians no ano de 2020? Os obstáculos enfrentados pelo clube foram pontuais; ou já vem de médio prazo e se tornaram estruturais no time? Tentaremos responder essas e refletir acerca de outras questões.
Nas últimas temporadas o Corinthians estabeleceu um padrão de contratações: contrata-se muito, sem muito critério. No último ano foram muitas as matérias e levantamentos feitos, em que indicavam que o Corinthians naquele momento (segundo semestre de 2020) contava com mais de 100 jogadores sob contrato. Vários destes contratos foram feitos para durarem 2, 3, 4 anos, com salários inflados. Não foram poucos também os atletas que entraram na justiça contra o clube, por descumprimentos de ordem trabalhista. Se o clube assinou junto aos atletas estes contratos, cabe ao Corinthians respeitar as cláusulas de quebra de vínculo, sendo legítimas as ações iniciadas pelos jogadores/ex-jogadores. Por conseguinte, e não só por, o clube está cheio de dívidas, com dificuldades para manutenção do elenco, além de não conseguir trazer atletas que agreguem ao plantel potencial competitivo.
Nos últimos anos, o Corinthians realizou vendas e sobretudo fez contratações bastante duvidosas. A última temporada elucida bem esse modus operandi; o time não engrena, não consegue os resultados esperados e cobrados pelos torcedores. Numa busca desenfreada, cortando etapas, o clube contrata não um, mas vários jogadores, muitos deles sem jogar a certo tempo, por conta de condições físicas ou porque são atletas preteridos em outros clubes. É verdade que alguns destes atletas chegaram e impactaram positivamente o coletivo na temporada de 2020, casos de Fábio Santos e Cazares. Em contrapartida, uma série de outros atletas chegaram e não somaram ao time. Pelo contrário, pouco jogaram, e quando atuaram não acrescentaram a performance da equipe.
Um caso bem apontado pela torcida é o do atleta Jonathan Cafú, que será emprestado ao Cuiabá, time que recentemente obteve acesso à série A do Brasileirão. Cafú não atuava a um bom tempo, foi contratado às pressas por um Corinthians que havia apresentado muitas dificuldades em fazer gols. O contrato do atleta foi firmado com validade até o final de 2023. Jonathan jogou 3 jogos pelo time, somando 104 minutos com a camisa corintiana. O caso de Cafú fica a critério de exemplo, mas a diretoria do Timão fez dezenas de contratações nesses moldes nos últimos anos.
Agora o time encontra-se em uma situação que não consegue contratar (atletas valorizados no mercado), pois não tem margem de orçamento para isso. Também não é possível diminuir tanto – e tão rápido – o valor da folha salarial do time, pois muitos atletas possuem longos contratos e as respectivas multas de demissões seriam altíssimas. Neste momento a diretoria vem buscando dispensar atletas, como foi com Boselli, Sidcley e possivelmente com Marllon. Uma série de outros jogadores estão sendo emprestados. Válido ressaltar que muitas das vezes o clube que cede jogadores por empréstimo continua arcando com grande parte dos salários, assim como mantêm a validade do vínculo original. Atletas que foram emprestados até agora: Sornoza, Walter, Jonathan Cafú, Éderson, Matheus Davó, Janderson, Thiaguinho, Matheus Alexandre, Rafael Bilú. Alguns outros atletas devem integrar essa lista em um futuro breve, sendo emprestados para a disputa do Campeonato Paulista ou com empréstimos válidos para toda a temporada.
No momento o Corinthians vem utilizando muito jogadores recém saídos das categorias de base. Fica a impressão que em muitos casos essa ascensão ao time profissional foi catalisada pelos problemas que o time encontra em seu elenco (e bem recentemente por conta do surto de covid no clube). Como torcedor acredito que devemos ter um pouco de calma neste momento. É um período delicado quando jogadores que ainda são adolescentes são alçados ao time profissional. Eles precisam de sequências de jogos, de apoio no que estão desempenhando. É muito mais complicado subir ao time profissional quando este passa por um momento conturbado. O Corinthians é um dos clubes brasileiros mais vitoriosos na última década (se não o mais), entretanto o momento atual do clube é diferente. Teremos de ter um pouco de paciência, cobrar uma reestruturação bem feita do clube. Assim voltaremos a disputar os títulos. Não dá para cortar etapas.
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