Após muita polêmica, o skate finalmente fez a sua estreia como modalidade olímpica. O destaque, como já era esperado, ficou para a jovem Rayssa Leal, apelidada “Fadinha do Skate”, de apenas 13 anos de idade. A sua medalha de prata no megaevento veio para coroar os rumos espetacularizados de uma prática que já fora, inclusive, proibida nas ruas de algumas cidades brasileiras.
A conquista de Rayssa se deve a uma confluência de fatores. Antes de tudo, obviamente, aos seus esforços pessoais, à sua competência técnica, à sua disciplina enquanto praticante. Quem a acompanha desde o início, sabe bem do seu compromisso. Além disso, é importante registrar o apoio dos seus pais. Lilian e Haroldo nunca mediram forças para extrapolar os limites da cidade de Imperatriz, no Maranhão, para levar a filha para competições país afora. Não podemos negligenciar, também, os impactos da esportivização e da institucionalização do skate no Brasil. A ocorrência regular de campeonatos e circuitos para várias categorias e modalidades tem contribuído para revelar novos talentos em distintas regiões.
Soma-se a isto um mercado especializado interno que atende a demanda dos praticantes em nível cotidiano, e que contribui, ainda que com certas limitações, para a profissionalização de um seleto grupo que consegue se manter financeiramente com a prática. Por fim, a articulação entre proliferação de pistas públicas em inúmeras cidades, ações estatais como “Bolsa Atleta”, investimentos de grandes corporações multinacionais, e ainda os impactos das redes sociais virtuais, possibilitaram a popularização dos sentidos do skate para além do seu universo, culminando, com efeito, na produção de uma campeã que veio não apenas para conquistar o mundo com o seu carisma, mas também para desestabilizar ideias correntes de que o skate não é algo para mulheres (a exemplo do lamentável depoimento de Nyjah Huston, o nome mais famoso do street skate, para a revista Thrasher Magazine, em 2013)[1].
As mulheres estão no skate desde os seus primórdios e as condições para a prata de Rayssa Leal só foram possíveis a partir dos desdobramentos de muitas lutas travadas no cotidiano das ruas das cidades brasileiras. Podemos apostar com serenidade que a Fadinha do Skate continuará com seus voos e encantamentos.
Notas
[1] “Some girls can skate but I personally believe that skateboarding is not for girls at all. Not one bit” (Nyjah Huston, em entrevista para a Revista Thrasher Magazine, julho de 2013).