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Teimosia e objetivo claro

Felippe Guimarães 23 de outubro de 2019

Neste último domingo (20) o Santos foi até Belo Horizonte e saiu derrotado por 2×0 pelo Atlético Mineiro. Com isso, o alvinegro praiano ficou estacionado na 3ª posição do Campeonato Brasileiro com 51 pontos, 13 a menos que o líder Flamengo e 3 atrás do rival Palmeiras. A última derrota do Peixe havia sido na 20ª rodada em casa contra o Grêmio por 3×0. De lá prá cá, foram 4 vitórias (CSA, Vasco, Palmeiras e Ceará) e 2 empates (Internacional e Fluminense), o que não é um retrospecto ruim, mas é abaixo do que um time que busca o título procura, e é sobre isso que este texto de hoje trata.

Gustavo Henrique comemora gol contra o Palmeiras, em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro de 2019, no último dia 09 de outubro. Foto: Paulo Pinto/ALLSPORTS.

O que busco abordar aqui é qual deve, ou deveria, ser o objetivo do Santos para esta temporada. Segundo o Transfermarkt, o time da Vila tem apenas o sétimo elenco mais valioso do campeonato. Mesmo assim é um dos candidatos ao título, encarando de frente rivais com muito mais investimento e chegando a assumir a liderança do brasileirão por quatro rodadas, fato que acabou “iludindo” toda a nação santista. A realidade do Santos desde o início do campeonato era brigar pela classificação direta para a Libertadores. As eliminações precoces na Copa do Brasil e na Copa Sul-Americana contribuíram para um calendário mais “folgado” e assim o Santos chegou ao alto da tabela.

Não me entendam mal. O Santos tem, ou tinha, chances de trazer o enea para a Vila Belmiro. Com o ótimo desempenho de Sampaoli e a grande união aparente do elenco foi possível brigar por ele. Porém, a perda de alguns pontos importantes acabou trazendo de volta a realidade de que o time é inferior ao Flamengo e ao Palmeiras. Fica realmente difícil competir com times que tem investimentos absurdamente maiores, mas acredito que, tanto para mim quanto para a maioria dos torcedores santistas, fica aquele sentimento de que realmente dava.

Empates como contra os reservas do Athletico ou contra o Fortaleza após estar ganhando por 3×0 ambos na Vila tiraram 4 pontos quase garantidos do Peixe. Com esses pontos o Santos seria hoje vice-líder. Fora isso, o empate contra o CSA fora de casa e a derrota de virada contra o São Paulo colocariam o Santos bem próximo do líder. Claro que um time vai oscilar e perder alguns pontos, mas este ano, para realmente superar os dois primeiros colocados, o Santos precisava ser impecável.

Alguns desses pontos podem e devem ser colocados na conta do técnico argentino Jorge Sampaoli. Sem dúvidas, Sampaoli é o maior responsável pela campanha do alvinegro nesta temporada. Não é por isso, porém, que não devemos apontar as decisões questionáveis e a clara teimosia do treinador. Durante todo o campeonato, o argentino não repetiu uma vez sequer a formação inicial do Santos, alegando que pensava a escalação baseada no adversário que enfrentaria – o que é uma prática considerada até comum na Europa. Entretanto, estamos falando de Campeonato Brasileiro, que tem toda uma configuração própria e muitas vezes distinta do futebol do velho continente. Será que realmente esse tipo de metodologia funciona nas terras tupiniquins? Será que em nenhum, absolutamente nenhum, jogo a melhor estratégia não era manter o time da partida anterior?

Jorge Sampaoli durante treino no Santos FC. Foto: Fotos Públicas/Ivan Storti/Santos FC.

Sampaoli continua insistindo em improvisações mesmo tendo pedido jogadores para alguns setores. Após a diretoria ter trazido o lateral-direito Pará – que está longe de ser considerado uma grande contratação –, o argentino continua insistindo em Lucas Veríssimo improvisado no setor mesmo que ele possa ser considerado o melhor zagueiro do elenco. Contra o Atlético, sacou Eduardo Sasha, artilheiro a equipe, para a entrada de Derlis González no onze inicial. Com isso, deixou centralizado Soteldo durante grande parte do jogo, sendo que o venezuelano tem 1,6m de altura e é o nosso grande driblador e quebrador de linhas quando joga aberto pela esquerda. Além disso, montou a primeira linha com Veríssimo, Gustavo Henrique, Luan Peres e Jorge e mesmo assim conseguiu levar o segundo gol numa jogada aérea.

A pergunta que trago com este texto é a seguinte: realmente vale a pena tomar tais decisões? E gostaria de saber qual foi a lógica que passou pela cabeça do treinador santista. Obviamente não entendo um terço de futebol comparado a Sampaoli, mas queria entender qual foi a razão de tais decisões e por que o argentino não utiliza uma formação mais simples e a repete para adquirir e aprimorar o entrosamento. Será que ser simples e entrar com um 4-2-3-1 mais convencional, com Éverson; Ferraz, Veríssimo, Gustavo Henrique e Jorge; Alison, Pituca e Sanchez; Soteldo, Marinho e Sasha seria tão ruim assim? E ainda ter opções no banco como Evandro, Derlis e Jean Mota para tentar mudar o jeito do meio campo atuar durante o jogo não seria uma estratégia plausível?

Não venho aqui pedir a cabeça de Sampaoli de maneira alguma. Sei que o argentino é, provavelmente, o melhor treinador em solo brasileiro de 2019, mas também não pretendo aliviar e não apontar alguns defeitos que podem ser reavaliados e corrigidos durante o restante do ano e a próxima temporada.

Tomara mesmo que eu esteja totalmente equivocado na minha análise e que o Santos tire forças para ir atrás do Flamengo e conquistar o 9° título do principal campeonato do país. Não posso, porém, me iludir com uma hipótese tão difícil. Assim, torço para que pelo menos mantenhamos a boa campanha e que o Peixe conquiste a vaga direta para a Taça Libertadores de 2020. Para a próxima temporada, é importante que se mantenha Jorge Sampaoli no comando do time, e que o treinador aprenda com os erros cometidos em 2019 para buscarmos voos mais altos na próxima temporada.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Felippe Guimarães

Graduando em educação física, santista da gema desde 1996.

Como citar

GUIMARãES, Felippe. Teimosia e objetivo claro. Ludopédio, São Paulo, v. 124, n. 24, 2019.
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