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Torcidas organizadas e escolas de samba (VII): T.U.P.

Nota explicativa. Esta série é parte integrante do projeto “Territórios do Torcer – uma análise quantitativa e qualitativa das associações de torcedores de futebol na cidade de São Paulo”, desenvolvida entre os anos de 2014 e 2015, com o apoio da FAPESP. A pesquisa foi realizada em parceria pelo CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e pelo Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB), equipamento público vinculado ao Museu do Futebol/Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. A proposta aqui é trazer os relatos orais das lideranças de torcidas organizadas, de modo a entender o processo de transformação desses subgrupos torcedores nas associações recreativas conhecidas como escolas de samba. Foram entrevistadas duas dezenas de líderes dessas associações, entre fundadores, ex-presidentes, lideranças e atuais presidentes de agremiações carnavalescas. À luz dos depoimentos, o objetivo é compreender como a memória coletiva desses subgrupos enquadra e justifica o surgimento dos grêmios associativos, quer seja como bloco quer seja como escola de samba. Para tanto, expomos os discursos nativos e as justificativas apresentadas por líderes de cada uma das torcidas-escolas.

TUP no carnaval de 2012.

 

A Torcida Uniformizada do Palmeiras (TUP) é a mais tradicional torcida organizada entre torcedores palmeirenses. Na hierarquia atual, em termos de tamanho e de número de adeptos, está atrás da Mancha Alviverde, e ao lado da Acadêmicos da Savóia, da Pork’s e da Rasta. Criada em 1970, em meio à segunda geração de torcidas que surgiu no final dos anos 1960, a torcida constituiu-se em torno de colegiais secundaristas, de imigrantes italianos do Brás e de moradores do bairro da Pompéia, onde se situava o então estádio Parque Antártica, hoje Allianz Parque.

A criação da escola de samba ocorreu por mimetismo ao processo de conversão das demais torcidas em agremiações voltadas ao carnaval paulistano. Sendo assim, formou-se primeiro como bloco e depois veio a tornar-se uma escola. Não obstante, a torcida tem nos dias atuais uma limitação na comunidade de associados, o que dificulta seu estabelecimento mais estável no universo do samba. Pode-se dizer que é a torcida-escola com os desempenhos mais limitados quanto a resultados positivos nos desfiles. Nunca chegou ao topo do carnaval, isto é, não pertenceu à Liga nem desfilou no Grupo Especial nem no Grupo de Acesso, que equivalem à primeira e à segunda divisão, respectivamente.

Filiada à UESP, poucas vezes alcançou as divisões que permitem a escola desfilar na pista do Anhembi, como o Grupo 1, restringindo-se aos estratos inferiores, que fazem seus desfiles no distrito do Butantã, zona oeste da cidade, ou no Ipiranga, bairro para cortejo dos blocos. Para piorar, em fevereiro de 2014, uma operação da Polícia Federal na sede da torcida apreendeu 300 quilos de droga em um galpão, conturbando os preparativos para o carnaval daquele ano e levando-a a um novo rebaixamento, do Grupo II (quarta divisão) para o Grupo III (quinta)[1].

O sétimo e último texto dessa série terá por base as entrevistas concedidas por um ex-presidente da torcida, no início dos anos 1980, Wanderley Matheus Rodak, bem como pelo atual presidente da TUP, Marcelo Lima. Em complemento à relação entre as torcidas palmeirenses e o universo sambístico, ouviremos também o relato de uma liderança da Acadêmicos da Savóia, Camilo de Carvalho, conhecido pelo apelido de Truqueiro.

De início, sem embargo, vamos começar com uma informação histórica colhida no depoimento de Sergio Valdez Agarelli, torcedor do Clube Atlético Juventus, cuja torcida, a CAJU, nutria nos anos 1970 uma relação de amizade com a TUP.

A referência ao carnaval feita por Agarelli durante a entrevista disse respeito ao movimento Banda Bandalha, organizado por Plínio Marcos, que protestou contra a interdição das torcidas organizadas de participação no carnaval paulista daquele período:

E a partir daí, não que a TUP nos adotou, mas existia uma amizade. Tanto é que, no ano seguinte, o Plinio Marcos, que era um grande teatrólogo, diretor de teatro, bastante contestador, ele fez um movimento, no carnaval – eu acho que as torcidas uniformizadas não podiam sair no carnaval, tinha uma restrição desse tipo –, chamava-se Banda Bandalha. Ele fez todas as torcidas desfilarem juntas pelo centro da cidade. Saiu do Largo do Paiçandu, deu uma volta enorme, e tal. Estava, isso eu tenho foto, na Banda Bandalha. E ele fez a gente, todos desfilarem, e nesse dia, quem também nos acolheu, foram as moças da TUP. Mas eu me lembro que elas eram as poderosas, na época, que foram elas que mandaram fazer. Eu acho que a Mancha Verde nem existia nessa época.

Wanderley Rodak. Foto: Museu do Futebol.

Feita a observação sobre o carnaval dos anos 1970, passamos a palavra para Wanderley Rodak. Relembrando a década de 1980, o presidente da torcida à época afirma que sempre foi contra a expansão da TUP para uma escola de samba, por entender que extrapolava os domínios do futebol. Em seu ponto de vista, defendia que o carnaval não fazia parte do propósito de uma torcida organizada, que era o incentivo ao clube:

Eu tinha amizade com todo mundo, mas existia uma rivalidade, uma queria ser maior do que a outra. Depois a Mancha se tornou uma torcida organizada também, carnaval e tudo. E carnaval eu nunca quis na torcida. Eu sempre fui contra que a torcida se tornasse um bloco ou uma escola de samba, porque não era nossa finalidade, então eu fui contra. “Ah, vai expandir aquilo”. Sabe, não vai representar nada para a gente, só para dizer que é um bloco, uma escola de samba. Então eu sempre fui contra.

De todo modo, mesmo externando sua contrariedade, não deixa de mencionar em seu depoimento que a TUP participou do carnaval já em 1989, na condição de bloco carnavalesco. Rodak conta, ainda assim, que preferiu não participar do carnaval e da organização da escola de samba e que, apesar de ter desfilado, ajudou mais ativamente apenas em uma ocasião, quando foi feita uma homenagem às tradições italianas, origens da qual é entusiasta:

Eu estava, sim, mas foi um período que eu mesmo não me preocupava com o carnaval. Como eu disse, eu terminei a minha função lá e fui cuidar de bandeira, mas eu não participava na organização. Não quero, prefiro, não, preferi não participar. Quer dizer, eu ia no desfile, desfilava e tudo, mas na organização eu preferia não. Teve um ano que eles fizeram homenagem às festas italianas, aí nós levamos todo esse pessoal que trabalha nas festas italianas, todas as mamas, levamos para desfilar no sambódromo, foi bem legal.

Já o atual presente, Marcelo Lima, relata que a decisão da TUP de criar um bloco de carnaval veio após as consecutivas vitórias da Gaviões da Fiel no carnaval. Não que a torcida-escola do Corinthians fosse um exemplo, mas queria se contrapor à ideia de que o carnaval era um território exclusivo dos corinthianos, que assim se autopromoviam.

Segundo Lima, a TUP já possuía uma das melhores baterias na arquibancada, portanto, a decisão de aderir ao carnaval foi viável e rapidamente se tornou comercial.

Então, como que eu estava dizendo para você: à época os caras falavam que só o corintiano que era do samba, corintiano era sambista, tal, não sei quê, que é a Vai-Vai, não sei quê… Eles comentavam isso aí. Eu falei: “Ah, vamos mudar.” A TUP começou a montar… juntou eu, Cabeção, Mariano, Cleber, uns caras… Tanto que a bateria da TUP – não sei hoje ainda, os caras nunca admitem –, mas foi considerada como a melhor das arquibancadas. E aí a gente aprendia. Na época era surdo de madeira… puta, não era nem bordon, era esteira, aquelas caixas de guerra –, não tinha limite para levar instrumentos, se quisesse levar dez, vinte… você ficava descontraindo, você tocava lá, não ficava pensando em querer brigar. Aí eis que, com essa história, os Gaviões e Torcida Jovem, era a maior disputa de bloco carnavalesco que existia no meio do samba… Torcida Jovem, acho que ganhou um ano; a Gaviões ganhou todos os anos. Logo que mudou. E aí nós inventamos essa de fazer um bloco, aonde fomos ganhando, fomos ganhando, e acabou sendo… a gente não imaginava que era assim –, acabou virando comércio, acaba desfilando quem não era palmeirense.

Em continuidade ao relato acima, Marcelo desabafa durante a entrevista e diz que infelizmente a escola é prejudicada pelo próprio palmeirense, que a seu juízo não dá valor aos esforços comunitários em prol do samba:

Você achava que a torcida do Palmeiras, hoje, ela é genuinamente o samba. Não é. A maior dificuldade, hoje, do samba na torcida do Palmeiras é a ingratidão do palmeirense, não digo só da TUP não, digo o próprio trabalho que o Paulinho da Mancha faz aí, de manter a escola, hoje, representando o nosso time Sociedade Esportiva Palmeiras, a dificuldade que o cara passa, assim, a divisão que existe entre – “Ah, não vou no samba, eu não gosto de samba; ah, não vou não sei quê, não gosto” –, mas ali está todo mundo defendendo o mesmo ideal. Estou falando isso hoje porque eles estão falando do nome do clube que eu amo. Não sei se eu falaria isso há um ano atrás. Mas, hoje, a bola da vez é dos caras, acho que todo mundo tem que se unir mesmo, para tentar fazer os caras ser campeão, porque, ele sendo campeão, o Palmeiras também está sendo. Vai quebrar uma barreira muito grande de só o Corinthians, só os caras. Mas a maior dificuldade do Palmeiras no samba é os próprio torcedor palmeirense, que não está aí… desculpa – porra nenhuma! (Depois vocês muda, tá?)

O líder tece críticas aos padrões requeridos para o carnaval, cada vez mais dispendiosos e complexos, em relação às exigências de beleza e de ostentação visual. Em 2015, ano em que concedeu a entrevista, afirma que vai apoiar a Mancha Verde no carnaval, devido ao fato que a TUP foi rebaixada para o terceiro grupo em razão de um processo da UESP.

Em tom extremamente crítico comenta sobre a elitização e a estetização do carnaval:

A gente vai desfilar no Ipiranga. Não, no Ipiranga não, na Zona Leste. Que a gente estava no primeiro grupo, nós passamos por uma fase que o associado, ele não assimilou que, mais um ano, a gente estaria no Especial… Não. Mais um ano, no Grupo 1, de Acesso, e mais outro, no Especial, junto com a Mancha. Aí é difícil, cara, é difícil. Cabeça de torcedor… tem que ser… chapéu de trouxa é marreta – tem que ser na marreta.

Sim, nós apoiamos a Mancha. A gente já foi comunicado. Porque eu acho a torcida do Palmeiras ingrata. Eu digo isso… Assim, cada um tem a sua escola de samba. Minha escola de samba, quando eu comecei no samba, chama-se Imperador do Ipiranga. E hoje, quando eu torço por escola de samba, eu sou TUP. Certo? Mas sou TUP e Imperador do Ipiranga. Mas hoje eu também sou Mancha Verde. É. Hoje eu sou Mancha Verde, no samba. Alguns podem gostar, outros não, porque representa a Sociedade Esportiva Palmeiras lá.

Nós estamos no Grupo Três. Estava no Grupo 1, aí… conseguiu fazer essa façanha de cair para o Terceiro, porque uma escola de samba da UESP entrou com um processo, ganhou, e a TUP era antepenúltima, então, eles voltaram, nós caímos. Como a estrutura nossa estava para o Anhembi, com quatro carros alegóricos e as fantasias gigante, a gente caiu para o Grupo Dois, que seria no Butantã. Todo o negócio do carnaval não cabia na avenida do Butantã. Resumindo, nós chutamos o balde. Você imagina a gente ensaiando um ano… Hoje, a moda de escola de samba é contratar academia, você vai lá, você vê que só as fortonas, as bonitonas… Você não vê mais gente feia em escola de samba. Você já viu alguma gente feia? Banguela, já viu, bêbado? Não vê. Acabou. O samba virou estilo passarela. Você não vê uma pessoa que samba, uma negona sambando, desdentada. Você só vê só as bonitonas; aquelas injeções de silicone, aqueles barato. Você não vê. O samba acabou também. É padrão, você está entendendo? Então, as academias… Você imagina, a gente ia desfilar no Anhembi, vou desfilar no Butantã.

Marcelo narra por fim um episódio delicado, a saber, a operação policial de 2014, que identificou tráfico de drogas na quadra e levou à prisão diversos membros. O ocorrido prejudicou a imagem e a capacidade da escola de samba em disputar o carnaval desde então:

Marcelo Lima. Foto: Museu do Futebol.

Aí aconteceu o negócio das droga lá. Alugaram um caminhão para retirar as esculturas da droga. Pegaram um monte de droga lá, dentro do caminhão, que foi provado que não tinha a ver, tanto que meu filho está na rua; meu filho que estava lá no dia, o meu filho e os responsáveis, foram tudo em cana. É. Aí acabou. Só que aí todo mundo falou, porque quatrocentos quilos de cocaína é dez milhões. A gente não tinha um real. Os cara levou o caseiro preso, que estava com a unha deste tamanho. O cara teve que passar a unha no pé da cadeia para cortar a unha. Só que até você provar inocência, o cara fica lá. Tinha uma pessoa que acho que já estava sendo acompanhada e… não sei… Na realidade, o caminhão que foi alugado. Não sei nem se foi a pessoa ou se foi o caminhão. Até agora, eles não falam nada. Só inocentou porque a dra. Lília, que foi advogada do Marcelinho e dos meninos, ela percebeu que todo o depoimento dos policiais da rodoviária federal era tudo igual. Tinha quinze depoimento igual. Só copiaram. Senão meu filho estaria preso até, lá. E os melhores amigos, que é advogado e tudo, falou: “Nossa. Seu filho não sai”. Quer dizer, o único que sabe o resultado de amanhã é Deus e Jesus, amigão. Fora isso, ninguém sabe de nada. Puta. Essa doutora, foi perto do carnaval, foi até gozado, porque a gente contratou um cara da TUP, acabou dando um problema, e ela ligava todo dia, e eu não queria nem falar com ela… que eles ficaram preso, eu fiquei preso também. Tanto que acho que eu me libertei – ele ficou preso seis meses, eu fiquei um ano. Porque o que acontecia lá, eu sentia, acontecia… não comia, não tomava banho. Para mim, me desprender disso… E não só eu, não. Metade da torcida ficou assim. Foi muito difícil. Aí, sei lá, é Deus que colocou ela no GPS, lá na quadra. Foi Deus que indicou. Porque já tinha sido perdido já. Ela veio com os quarenta e cinco da prorrogação. [risos] Eu até agradeço ela. Que ela só perguntou a verdade, nós falamos a verdade. Enfim, vamos trabalhar para tentar fazer uma torcida forte e ver se esses cara das organizada aí, que pense um pouco melhor, que o fim está próximo.

Depois de Marcelo, passamos a ouvir Camilo, vulgo Truqueiro. Este afirma que a Acadêmicos da Savóia não possui uma escola de samba por ser uma torcida relativamente nova, com pouco mais que uma década de existência. Camilo diz também que um dos impedimentos para a entrada da Savóia no carnaval é a falta de infraestrutura. Diz ser extremamente atarefado em sua vida pessoal, profissional, além das atividades como presidente da torcida.

Camilo, vulgo Truqueiro.

Afirma ainda que as torcidas que participam do carnaval e mantêm uma escola de samba assumem uma carga de trabalho dez vezes maior do que as demais, necessitando de uma estrutura profissional. Considera até a possibilidade de criar um bloco de carnaval exclusivo da Savóia, porém com a condição de que seja criada uma diretoria especifica para a direção do bloco:

Particularmente, eu não sou muito a favor. Se for criado de uma forma para pensar em uma diretoria do carnaval e uma diretoria da torcida, beleza. Só que se você tentar juntar… Imagina, que eu estava te falando que eu não tinha tempo para nada. Se entrar em um bloco, em uma escola de samba, piorou então. Aí que vai ser futebol e carnaval, futebol e carnaval. Mas eu até acharia uma ideia legal, como eu falei, acho que o vínculo seria maior ainda, entre os associados em si. Não, assim, pensando em um negócio profissional, grande, mas só para tirar um lazer mesmo. No carnaval, vamos sair em um bloco aí, só para tirar um barato? Beleza, vamos. Acho até que a ideia seria interessante, mas desde que fosse dessa forma. Uma diretoria para um bloco e uma diretoria para a torcida.

Acervo pessoal de Wanderley Matheus Rodak, ex-presidente da TUP.

Apesar de a sua entidade não participar de maneira formal do carnaval paulista, Camilo aponta que diversos integrantes da Savóia aderiram à cultura carnavalesca e pertencem a outras escolas de samba.

O pessoal da Savóia desfila na escola da Mancha. Não só, acho que em todas as escolas que tem gente… Tinha um menino da bateria, da nossa bateria, que ele é diretor, acho que é da Barrocas. Tinha gente da Pérola, gente de torcida da “Mancha”. Eles desfilam, sim, em outras escolas.


[1] Informação disponível em: http://globoesporte.globo.com/futebol/times/palmeiras/noticia/2014/02/policia-apreende-300-kg-de-drogas-em-galpao-de-organizada-palmeirense.html

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Bernardo Borges Buarque de Hollanda

Professor-pesquisador da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV).

Luigi Bisso Quevedo

Pesquisador do Laboratório de Simulações e Cenários da Escola de Guerra Naval. Mestrando em História e formado História e Ciências Sociais.

Como citar

HOLLANDA, Bernardo Borges Buarque de; QUEVEDO, Luigi Bisso. Torcidas organizadas e escolas de samba (VII): T.U.P.. Ludopédio, São Paulo, v. 116, n. 22, 2019.
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