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Um campeonato verdadeiramente gaúcho

Régis Nazi 24 de abril de 2017

Ano após ano enchem o peito para dizer que os estaduais não precisam existir, que ninguém liga e que clubes grandes não podem arriscar seu patrimônio em torneios que não são importantes, leia-se, não fazem parte do caminho ao Mundial de Clubes. Esse discurso ganha adesão ao passo em que que em nenhuma parte do mundo há campeonatos estaduais e, principalmente, quando clubes grandes veem de perto problemas estruturais com os quais a maioria dos clubes do Brasil defrontam-se todos os dias.

Aos simpatizantes da ideia de que estaduais não deveriam existir, faço duas perguntas. Primeira indagação: desafio vocês a encontrarem um jogador que nunca tenha passado, durante toda a sua formação, por um clube que só disputa estaduais ou sobrevive apenas de base e amador. Segunda interrogação: vocês possuem alguma ideia para solucionar o problema do calendário, ou querem simplesmente ignorar a existência da maioria dos clubes brasileiros por que estes seriam um “estorvo” no caminho para enfrentar um clube europeu no final do ano?

Bueno, pessoalmente considero que o modelo atual do Gauchão não atrapalha a dupla Gre-Nal, um jogo por final de semana não mata ninguém que tenha 30 inscritos na competição. Entretanto, a agenda reduzida da maioria dos clubes é alvo de preocupação. E não falo pelos clubes que jogam o nacional, mas sim por clubes como Passo Fundo, Veranópolis e Cruzeiro, que podem totalizar 11 jogos no ano inteiro caso não disputem as copas regionais (fracasso de público e renda) no segundo semestre.

04/03/2017- Porto Alegre- RS, Brasil- Campeonato Gaúcho: Lance da partida entre Grêmio e Internacional, disputada na noite deste sábado (04), na Arena. Foto: Lucas Uebel / Grêmio FBPA
Campeonato Gaúcho: Lance da partida entre Grêmio e Internacional, disputada na noite de sábado (04/03/17), na Arena. Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA.

Há cinco anos, este mesmo galpão propôs mudanças para o torneio de 2013 e 2014. A primeira e mais significativa era dividir o campeonato em duas etapas: a primeira no segundo semestre do ano, em grupos regionais com os clubes que não estavam nas três primeiras divisões nacionais. A segunda, com os times que estavam garantidos nacionalmente (na época, 2012, dupla Gre-Nal e Caxias), somados aos campeões regionais.

Baseando-me nisso, optei por adaptar a ideia utilizando os clubes que disputarão as divisões estaduais em 2017, utilizando as datas do ano de 2018. Como a Série D se limitará à seis jogos aos eliminados precocemente, seria injusto retirar da disputa os clubes participantes, que em caso de avançarem nacionalmente, poderiam ter o calendário remanejado.

Times garantidos no Gauchão por participarem das três primeiras divisões nacionais:

Série A: Grêmio;

Série B: Brasil, Internacional, Juventude;

Série C: Ypiranga;

SulNorteSerraCentroMetropolitana
BagéEliteBrasil-FAAvenidaAimoré
FarroupilhaGaúchoCaxiasGuarani-VACruzeiro
Guarany-BGPanambiEsportivoInter-SMIgrejinha
Guarany-CQPasso FundoGlóriaLajeadenseNovo Hamburgo
PelotasSão LuizNova PrataRiograndenseNovo Horizonte
Rio GrandeTrês PassosPRSSanta CruzSapucaiense
São PauloTupiVeranópolisSão GabrielSão José
União

Em um breve INSIGHT com os times presentes nas atuais três divisões seria possível fazer algo assim e com as seguintes vantagens: jogos aos finais de semana somente; clássicos regionais; viagens curtas; menos gastos com deslocamentos e hospedagens. Em suma, maior público, renda e um título contra os rivais em jogo!

15/04/2017- Porto Alegre- RS, Brasil- Campeonato Gaúcho 2017: Inter vence Caxias por 1 a 0 no Beira-Rio. Foto: Ricardo Duarte/Internacional
Pelo Campeonato Gaúcho 2017: o Inter se classificou para a final após vencer o Caxias nos pênaltis. Foto: Ricardo Duarte/Internacional.

Levando em conta a atual Série D, que acaba em julho para alguns clubes, a ideia é deixar o meio de semana livre em algumas ocasiões para que caso seja necessário, jogos sejam remarcados. Um time no máximo jogará três partidas em casa durante o mês, ou seja, o efeito da espera para o jogo existe, ao mesmo tempo em que os atletas descansam pois também não viajam muito.

Proposta de calendário para os regionais a seguir.

1ª rodada: 21/7 ou 22/7

2ª rodada: 28/9 ou 29/7

3ª rodada: 4/8 ou 5/8

4ª rodada: 11/8 ou 12/8

5ª rodada: 15/8 ou 16/8

6ª rodada: 18/8 ou 19/8

7ª rodada: 22/8 ou 23/8

8ª rodada: 25/8 ou 26/8

9ª rodada: 1/9 ou 2/9

10ª rodada: 5/9 ou 6/9

11ª rodada: 8/9 ou 9/9

12ª rodada: 15/9 ou 16/9

13ª rodada: 22/9 ou 23/9

14ª rodada: 29/9 ou 30/9

15ª rodada: 6/10 ou 7/10

16ª rodada: 14/10

Quartas de final ida: 20/10 ou 21/10

Quartas de final volta: 23/10 ou 24/10

Semifinais ida: 27/10 ou 28/10

Semifinais volta: 4/11

Final ida: 11/11

Final volta: 18/11

Gauchão com Taças Piratini e Farroupilha com semifinal e final de ida = 15 datas. Dois míseros jogos em meio de semana! Os times das Séries A, B, C atuais (torceremos para que apareça mais três!) com os campeões regionais em turno e returno, totalizando 10 times. Valendo duas vagas na Série D e outras duas na Copa do Brasil.

Rodada 1 da Taça Piratini: 31/1

Rodada 2 da Taça Piratini: 3/2 ou 4/2

Rodada 3 da Taça Piratini: 10/2 ou 11/2

Rodada 4 da Taça Piratini: 17/2 ou 18/2

Semifinal da Taça Piratini: 21/2 ou 22/2

Final da Taça Piratini: 25/2

Rodada 1 da Taça Farroupilha: 4/3

Rodada 2 da Taça Farroupilha: 10/3 ou 11/3

Rodada 3 da Taça Farroupilha: 17/3 ou 18/3

Rodada 4 da Taça Farroupilha: 24/3 ou 25/3

Rodada 5 da Taça Farroupilha: 1º/4

Semifinal da Taça Farroupilha: 8/4

Final da Taça Farroupilha: 15/4

Final do Gauchão ida: 22/4

Final do Gauchão volta: 29/4

16/04/2017- Porto Alegre- RS, Brasil- Jogo entre Gremio e Novo Hamburgo disputada na Tarde deste domingo, na Arena, valida pela semifinal do Campeonato Gaucho 2017. FOTO: Lucas Uebel / Grêmio FBPA
A outra semifinal foi disputada entre Grêmio e Novo Hamburgo e também foi decidida nos pênaltis. O Novo Hamburgo venceu e se classificou para a final contra o Inter. Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA.

Outros clubes serão divididos em duas divisões com campeonato indo até junho.

Série B: 20 clubes de acordo com a colocação nos regionais (segundo a quarto e alguns quintos para completar). Dois grupos de 10, com turno e returno, com quartas, semi e finais, essas sim, com jogos em meio de semana, pois . Valendo uma vaga na Série D e uma vaga na Copa do Brasil.

1ª rodada do turno: 31/1 ou 1º/2

2ª rodada do turno: 3/2 ou 4/2

3ª rodada do turno: 10/2 ou 11/2

4ª rodada do turno: 17/2 ou 18/2

5ª rodada do turno: 24/2 ou 25/2

6ª rodada do turno: 3/3 ou 4/3

7ª rodada do turno: 10/3 ou 11/13

8ª rodada do turno: 17/3 ou 18/3

9ª rodada do turno: 25/3

Quartas de final do turno: 28/3

Semifinais do turno: 1/4

Final do turno: 4/4

1ª rodada do returno: 7/4 ou 8/4

2ª rodada do returno: 14/4 ou 15/4

3ª rodada do returno: 21/4 ou 22/4

4ª rodada do returno: 28/4 ou 29/4

5ª rodada do returno: 5/5 ou 6/5

6ª rodada do returno: 8/5 ou 9/5

7ª rodada do returno: 12/5 ou 13/5

8ª rodada do returno: 19/5 ou 20/5

9ª rodada do returno: 26/5 ou 27/5

10ª rodada do returno: 30/5

Quartas de final do returno: 3/6

Semifinais do returno: 7/6

Final do returno: 10/6

Final da Segundona ida: 17/6

Final da Segundona volta: 24/6

Série C: os outros clubes em turno e returno. Valendo uma vaga na Copa do Brasil.

1ª rodada do turno: 3/2 ou 4/2

2ª rodada do turno: 10/2 ou 11/2

3ª rodada do turno: 17/2 ou 18/2

4ª rodada do turno: 24/2 ou 25/2

5ª rodada do turno: 4/3

Quartas-de-final do turno: 7/3 ou 8/3

Semifinais do turno: 10/3 ou 11/3

Final do turno: 14/3

1ª rodada do returno: 17/3 ou 18/3

2ª rodada do returno: 24/3 ou 25/3

3ª rodada do returno: 31/3 ou 1º/4

4ª rodada do returno: 7/4 ou 8/4

5ª rodada do returno: 14/4 ou 15/4

6ª rodada do returno: 22/4

Quartas-de-final do returno: 28/4 ou 29/4

Semifinais do returno: 5/5 ou 6/5

Final do returno: 13/5

Final da Série C ida: 20/5

Final da Série C volta: 27/5

12/03/2017- Caxias do Sul- RS, Brasil- Campeonato Gaúcho: Internacional x Juventude, no Estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul. Foto: Ricardo Duarte / Internacional
Lance da partida do Campeonato Gaúcho entre Internacional e Juventude, no Estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul. Foto: Ricardo Duarte/Internacional.

A ideia original, de cinco anos atrás, era de dividir os clubes que não avançaram nos regionais nos mesmos grupos no início do ano, entretanto, percebe-se que jogos que se repetem muito acabam saturando o público (vide as Copas Regionais de 2013). Considerando isso, sugeri divisões, mas não fixas, no início do ano. Valendo vagas nacionais, mantém-se a chama acesa para que os clubes disputem outras competições, sem a exaustiva repetição de adversários e ainda valendo um caneco!

A fórmula proposta obviamente teria seus problemas, mas seria uma tentativa de manter os clubes ativos o ano inteiro, fazendo com que eles disputem canecos entre seus iguais, com um calendário mais racional e, se organizado, até com transmissões televisivas e negociações de naming rights. A ideia de acabar com rebaixamentos vem ao encontro de poupar custos.

No mais, acredito que todos devemos pensar nos clubes menores, que são os grandes celeiros do futebol brasileiro e os que fazem do nosso país ser essa fonte inesgotável de talentos. Uma tentativa de diálogo para manter e aumentar o número de clubes ativos no Rio Grande do Sul deve ser realizada e partir da iniciativa dos próprios clubes. E se tu pensas mesmo que seu time é muito bom para disputar etapas regionais, repense seus conceitos e deixe o egoísmo de lado, pois clubes de futebol não são como empresas que sobrevivem sozinhos em determinado mercado ou segmento. E sim, um misto de competição e cooperação, que perde valor caso haja monopólio ou oligopólio!

Mostrar para quem não acredita que se pode fazer algo para melhorar o nível técnico, envolver mais comunidades, ao mesmo tempo em que se cortam custos não seria sensacional? Pois então, foi isso que pensei com a minha proposta de remodelação do Campeonato Gaúcho. Assim como, tornar o ludopédio pampeano mais viável, evitar que os clubes atuais tenham o mesmo fim de Guarany de Cruz Alta, Grêmio Santanense, Riograndense de Rio Grande e tantos outros, quem sabe, trazê-los de volta e abrir portas para novos clubes. Precisando fazer algo, pensei nessa medida, pois precisamos debater, de verdade, o futuro da raiz do futebol gaúcho e brasileiro!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Régis Michels Nazi

Mestrando em Administração - UDESC Graduado em Administração (2015) - UFPel

Como citar

NAZI, Régis. Um campeonato verdadeiramente gaúcho. Ludopédio, São Paulo, v. 94, n. 27, 2017.
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