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Um país sem taça! Os 26 anos de jejum da Argentina

Rafael Miguel 26 de julho de 2019

Imagine o mundo em 1993. O Brasil ainda não tinha o Plano Real, apenas três estrelas estavam acima do escudo da CBF, Ayrton Senna ainda encantava o mundo e o pagode dominava as paradas de sucesso da música brasileira. Também em 93, a Argentina conquistava seu último título oficial de seleções. Isso mesmo, há 26 anos os hermanos não sabem o que é levantar uma taça de futebol.

Naquela temporada, a 36° Copa América foi disputada no Equador entre os dias 15 de junho e 4 de julho. As 10 seleções da Conmebol mais Estados Unidos e México, que foram convidadas, foram divididas em três grupos com quatro equipes em cada um. Na fase de grupos, a Argentina se classificou em 2° na chave C, com 1 vitória (1 x 0 Bolívia) e 2 empates (1 x 1 contra México e Colômbia). Nas quartas de final, os hermanos eliminaram o Brasil nos pênaltis, na fase seguinte foi a vez de mandar a Colômbia para casa, novamente nas penalidades máximas. Na final, a Argentina enfrentou o México e venceu por 2 x 1, conquistando a 14° Copa América da história do país.

Argentina campeã em 1993. Foto: Arquivo AFA.

Mal os nossos vizinhos, que ficaram tão felizes naquele 4 de julho, sabiam que tão cedo eles não voltariam a levantar um caneco. Aquele time de 93 contava com nomes históricos da Argentina, como o goleiro Goycochea, Redondo, Simeone e Batistuta, autor dos dois gols da decisão. O técnico era outra lenda do futebol do país, Alfio Basile. De lá para cá, os argentinos já disputaram sete Copas do Mundo (1994, 1998, 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018), nove Copas América (1995, 1997, 1999, 2004, 2007, 2011, 2015, 2016 e 2019) e duas Copas das Confederações (1995 e 2005). Foram 17 chances de títulos, sendo sete vezes vice-campeões, mas nada de taças.

Ao longo desses 26 anos foram diversas gerações de grandes atletas, jogadores que conquistaram renome e títulos por gigantes europeus, mas que não conseguiram sucesso com a albiceleste. Verón, Riquelme, Crespo, Tévez, Galhardo, Ortega, Ayala, Sorín, Zanetti… são só alguns dos craques que surgiram no futebol argentino nas últimas duas décadas e se aposentaram sem conseguir levantar uma taça pela seleção.

Messi é expulso na disputa do terceiro lugar contra o Chile pela Copa América de 2019. Foto: Alan Morici/CA2019.

Nem mesmo Lionel Messi, cinco vezes melhor do mundo, considerado um dos maiores jogadores da história do futebol, conseguiu quebrar o estigma dos hermanos. Campeão de tudo o que disputou com a camisa do Barcelona, Messi é duramente criticado em seu país, tanto pela falta de títulos, quanto pelas más atuações com a camisa argentina. Ao que tudo indica, o camisa 10 vai ficar marcado como a principal peça de mais uma ótima geração de argentinos sem sucesso na seleção do país. Aguero, Di Maria, Otamendi, Mascherano, Higuaín… são atletas com grande destaque internacional nos últimos anos, mas que também não levantaram taças por seu país.

Afinal de contas, qual seria o problema da Argentina? O que impede o país de levantar uma taça? Se jogadores de talento não faltaram nestes 26 anos, qual seria o grande motivo para esta seca argentina? Mesmo com mais tradição e mais craques, os hermanos viram outros países crescerem e se tornarem potências do futebol nas últimas décadas. Espanha e França que nunca haviam vencido uma Copa do Mundo, levantaram suas taças. No âmbito sul-americano, o Chile que nunca havia ganhado um torneio de seleções, conquistou duas vezes a Copa América. Até mesmo a Colômbia conquistou o torneio.

Má administração da AFA (Asociación del Fútbol Argentino), escolhas e trocas equivocadas de treinadores, jogadores desinteressados em sua seleção ou até mesmo a má sorte já foram levantados ao longo dos anos como causas para a falta de títulos da Argentina. A verdade é que o país segue o seu calvário em busca de voltar a vencer. A eliminação para o Brasil na Copa América 2019 soou como mais uma grande decepção do futebol argentino, a ponto de deixar Messi revoltado como jamais havia demonstrado com a camisa albiceleste.

No ano que vem os hermanos têm mais uma chance de saírem da fila. A Copa América será disputada na Argentina, em conjunto com a Colômbia. O torneio pode ser a última chance de esta geração enfim levantar um troféu e devolver a alegria a um povo que não sabe, há 26 anos, o que é conquistar um título.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Rafael Miguel

Jornalista e radialista, formado em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Como citar

MIGUEL, Rafael. Um país sem taça! Os 26 anos de jejum da Argentina. Ludopédio, São Paulo, v. 121, n. 35, 2019.
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