Desde a fatídica vitória do São Paulo sobre o Tigre em 2012, e aquela cena memorável de Ceni entregando o troféu para Lucas levantar, o tricolor paulista não voltou a vencer outro campeonato oficial, e durante muito tempo esteve muito longe disso. Inúmeros técnicos, repetindo os mesmos defeitos. Um time pouco competitivo, que quase nunca conseguia ser equilibrado. Por vezes, frágil na defesa, em outros momentos muito pobre no ataque o time do Morumbi teve temporadas razoáveis e até mesmo brigou contra o rebaixamento e estrelou vexames que sempre voltam à tona em momentos delicados. Com a chegada da nova diretoria e uma nova configuração na direção do clube, o fim da “era” Leco, junto com a demissão do último treinador Fernando Diniz, o torcedor  que tanto sofreu em quase 10 anos voltou a ter esperança. Finalmente um início de temporada, com uma boa base e reforços animadores, pode trazer o São Paulo de novo.

A chegada do Crespo e o futebol demonstrado até aqui foi muito satisfatório. No nosso último texto escrevemos que estávamos entre o desastre e a esperança e hoje vemos que estamos muito longe do desastre. O novo treinador trouxe a cara que esperávamos para o São Paulo. Um futebol equilibrado, aguerrido e elegante. É difícil dizer que o torcedor não estava empolgado e esperançoso. Mas também não é possível afirmar que ele estava com altas expectativas. Mas sim, Crespo chegou e colocou todos no mesmo barco. “Estou cresponizado” virou a frase mais falada pelos são-paulinos. Uma bela campanha na primeira fase do Paulistão, junto a consistente campanha na libertadores, tirou do torcedor o medo do vexame como o da última temporada diante do Mirassol.

Hernán Crespo
Hernán Crespo. Foto: Reprodução Twitter

Poucas alterações táticas, poucas mudanças de jogadores e muita mudança na mentalidade. Ganhar um jogo de futebol é difícil e hoje vemos um São Paulo que demonstra clareza dessa situação. Crespo mostrou que podemos mostrar um futebol vistoso e alegre, sem perder a gana de ganhar o jogo. Jogadores já familiarizados com a proposta e o estilo de jogo do treinador, jogadores que vinham mal, crescendo de produção, atuações sólidas se repetindo é o que se vê sob o comando do Crespo, e é isso que credencia esse trabalho a tirar o tricolor da fila.

Porém, nos encontramos no primeiro momento de quebra do ano: final do Paulista. O time sabe que o clube precisa de um título e os benefícios que essa conquista trará para uma estabilização da confiança necessária para prosseguir na disputa da Libertadores. Esse momento crítico é de fato o maior teste para esse time. O Paulista é quase sempre tratado com desdém, mas também é carrasco de treinadores. A vitória pode significar “nada mais que obrigação”, o grito de “é campeão” engasgado, e até mesmo um “é só um paulistinha”. Mesmo não parecendo muito, de longe, é bem melhor que a derrota. O revés contra o Palmeiras vai ser um balde de água fria. Nessa final, o São Paulo vai colocar na mesa a derrota em um clássico, sempre indigesta, a estabilidade de um bom trabalho ainda em seu início e o pior, uma fila de anos sem título que fica ainda maior e ninguém sabe quando acaba.

O São Paulino só acredita vendo, mas ele acredita muito em ver. Nos últimos 8 anos vimos alguns times quase nos trazerem alegria, mas para o são-paulino quase alegria é sinônimo de muita tristeza e lamentação. Esse jogo pode nos representar a chegada de uma trilha curta e divertida onde você se encontra à beira do precipício: lá você pode parar para admirar a vista e voltar, mas o São Paulo nestas situações costuma se jogar ladeira abaixo. Todavia, esse jogo pode significar apenas uma pausa para apreciar o momento e o lugar e depois seguir subindo rumo ao topo. O futuro dessa linha tênue vai ser descoberto através de um único resultado após um jogo de 180 minutos.

Para nós torcedores, nos resta apoiar incondicionalmente, não adianta apoiar o time a chegar a algum lugar e depois empurrá-lo numa emboscada. O processo está sendo feito com qualidade, mas nós temos a capacidade de destruí-lo a qualquer momento. Não podemos deixar o São Paulo cair com uma derrota, ou subir no salto (que demoramos anos para descer) com a vitória. Devemos ter a clareza que a conquista (ou não) do Paulista é só um meio para atingir nossos objetivos e não o fim deles.

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Vitor Freire

Mestre em Educação Física na FEF-UNICAMP, amante de Esportes, são Paulino desde sempre.@vitordfreire@camisa012

Lucas do Carmo Santos

Formado em educação física, professor de ensino médio e são paulino.

Como citar

FREIRE, Vitor; SANTOS, Lucas do Carmo. Vai ou Racha do São Paulo. Ludopédio, São Paulo, v. 143, n. 40, 2021.
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