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Amoroso

Marcel Diego Tonini, Aira F. Bonfim 17 de abril de 2016

A entrevista faz parte do projeto Memórias dos boleiros: histórias de vida de atletas e de integrantes de comissões técnicas brasileiras que atuaram no exterior. Esse projeto foi fruto de uma parceria entre LUDENS-USP, Museu do Futebol e o portal Ludopédio.

Esse projeto tem como proposta reunir as histórias de vida de jogadores de futebol e de integrantes das comissões técnicas que tenham atuado no exterior. Ao optarmos pela história de vida, teremos acesso a uma série de discursos até então pouco investigados. Isso pode ser verificado quando se recorre à história do futebol e se percebe que existe uma história que é considerada “oficial”. Essa pesquisa será uma forma de ampliar discussões sobre o futebol a partir da história de vida dos jogadores e integrantes das comissões técnicas. A história oral será o método adotado para a construção de um diálogo com o referencial teórico das Ciências Humanas, mais especificamente a produção da Antropologia, da História e da Sociologia. Por meio da história de vida, ainda será possível registrar memórias, histórias e experiências dos sujeitos mencionados, além da criação de um banco de vídeos com as entrevistas realizadas de modo a constituir um acervo para preservar a elaboração de tal memória, quer se refira de modo restrito à carreira dos mesmos, quer, de modo geral, ao futebol brasileiro.

Amoroso
No dia da entrevista Amoroso visitou o Museu do Futebol. Foto: Museu do Futebol.

 

Primeira parte

Amoroso, quando você estava jogando e morando fora do Brasil, o que mais você sentia falta daqui?

Ah, do Brasil, é a família. Meus pais, irmãos, primos, tios, que são as pessoas que eu sempre tive muito contato, minha família sempre foi muito unida, uma família muito grande. A família Amoroso é muito grande no Rio de Janeiro. E quando eu voltava pra cá eu procurava passar a maior parte do tempo perto deles. Porque eu não podia levar todos pra lá. Às vezes meu pai ia, minha mãe ia junto, mas meu irmão não podia ir, nem minha irmã. Então quando eu vinha pra cá eu sempre procurava ficar perto deles. O que eu sentia falta também era dos amigos, aqueles que quando voltava pra cá estavam sempre em casa, meus tios, primos, da bagunça que a gente fazia quando voltava de lá. Porque eu acabei, praticamente, vivendo a maior parte da minha carreira como atleta profissional fora do país. Eu saí muito jovem pro Japão e eu já sabia que a minha história ia ser mais fora do Brasil do que aqui dentro. Tanto que eu fui revelado pelo Guarani em 94, fiz um ano maravilhoso, acredito que se eu não tivesse machucado o Guarani tinha grande chances de ter sido bicampeão brasileiro, porque muitas pessoas falavam que era o time a ser batido, que nós ganhamos daquele Palmeiras, campeão brasileiro daquele ano, no Parque Antártica com um gol meu de cabeça. Tanto que o Vanderlei Luxemburgo, quando ele encontra, ele fala que se eu não tivesse machucado eles não teriam sido campeões, porque o nosso time estava numa fase maravilhosa. Eu sabia que pra mim seria uma história de vida, uma trajetória feita mais fora do país do que aqui, então quando eu retornava, e voltava pra cá eu procurava ficar com a minha família, porque eu acabei me acostumando lá fora e eu sentia saudades de voltar logo, então quando eu passava um tempo com meus familiares eu falava assim: “Não, tem que ir embora, que eu já tô com saudades, vontade de voltar pra lá, já tá coçando a mão, tem que ir embora, vamos embora, vamos embora”. Então era isso que eu pensava.

Mas eu gosto muito do Brasil. Toda vez que eu vinha pra Seleção Brasileira, vestir a camisa da Seleção, eu tinha vontade de ficar aqui, vestir a camisa do Brasil era pra poucos, então eu jogava com muito amor, com muita dedicação, e nas oportunidades eu fui privilegiado porque em todas as minhas convocações só teve uma que eu não tive oportunidade de sair jogando como titular, todas as outras eu voltava e eu era titular, e jogava, então não tenho que reclamar de nada não. Às vezes, sinto que me faltou uma Copa do Mundo, que eu achava que merecia ter tido essa oportunidade, então eu acabei transformando aquele título do São Paulo em 2005, do Mundial de Clubes, na minha Copa do Mundo pessoal, porque eu também fui muito bem recebido no São Paulo, pelos torcedores, e pra mim foi o título mais importante da minha carreira. Ter ganho Libertadores, ter ganho Mundial de Clubes, foi o título de maior expressão pra mim, sendo que a Copa América pela Seleção também foi um título importante, mas ser campeão Mundial de Clubes é difícil, não é fácil, porque você tem que ganhar Campeonato Brasileiro, ficar entre os quatro, tem que ganhar a Libertadores, tem que viajar, tem que mudar sua rotina, tem que preparar o time num país diferente, é fuso-horário, é tudo complicado, e enfrenta times europeus dificilíssimos, acostumados a grandes conquistas e a grandes competições. Então, faltou uma Copa do Mundo pra mim no currículo? Faltou, pra mim seria a Copa ideal a de 2002, a Copa do penta, era a Copa pra mim, que eu tinha certeza que eu iria, porque eu tinha sido artilheiro do Campeonato Alemão com o Borussia Dortmund, eu estava em grande fase, campeão alemão, melhor jogador da Alemanha e era titular absoluto do Vanderlei Luxemburgo na Copa América de 99 e nas Eliminatórias, e quando o Vanderlei saiu, e entrou o Felipão, eu não fui mais convocado, e aí eu achava que se o Felipão me desse uma chance só, de me ver no grupo dele, como ele deu chance pra vários outros atletas, eu acho que eu teria ido pra Copa também, principalmente pela experiência que eu já tinha, e de estar num momento bom, mas são coisas do futebol, e quem sabe um dia eu possa ver um dos meus dois meninos aí que tem talento, que eu aposto muito neles, eu falo toda hora neles porque, eu vendo o futebol de hoje, não precisa jogar muito pra ser um ídolo, nem pra ser um grande jogador, infelizmente.

Antigamente, pra se jogar futebol tinha que ser bom, hoje, modéstia à parte, qualquer um pode jogar, qualquer um hoje se torna um jogador famoso pela mídia que tem. Ele mesmo se paga, ele mesmo cria a mídia dele. Na minha época não, na minha época só jogava quem era bom, quem entrava em campo e não sabia dar um passe não jogava. Antigamente você jogava com dez craques no time e um “burrinho”, que era o carregador de piano do time, era o que tinha menos qualidade; hoje você vê dez “burrinhos” e um jogador diferenciado, e olhe lá, todo mundo acha que é craque. Então, eu falo: “Pô, se meus filhos jogarem 50% do que eu joguei eles vão ganhar dinheiro pra caramba e vão chegar à Seleção, porque do jeito que tá…”. Isso é ruim pra gente, porque hoje o futebol virou business, então não se joga mais por amor, pelo clube, por você ser revelado no clube, querer chegar lá em cima na sua, numa trajetória de infantil, juvenil, júnior, aspirante, profissional, falar: “Agora vocês podem me vender porque o clube merece o retorno que eu dei, que eles me deram, nesses anos todos aqui, de suporte”. Hoje ninguém pensa mais nisso, então é por isso que eu falo pra vocês que o futebol, daqui pra frente, a tendência, entre aspas, “melhorar” financeiramente pra aqueles que trabalham fora do futebol e piorar em termos de revelação de jogadores. Hoje a gente não revela mais como antes.

A Seleção Brasileira é o espelho que a gente vê hoje, o ranking que o Brasil se encontra. Antigamente era inadmissível você ver o Brasil perder pra seleções de menor expressão, então acabou esse respeito, principalmente porque as pessoas hoje não estão pensando mais na questão de vestir a camisa do Brasil, porque aqueles que estão hoje com a Seleção Brasileira são jogadores bem sucedidos já, não precisam da Seleção Brasileira pra serem vendidos e ganhar dinheiro, já ganham milhões, então, vir por vir, tá bom, convocado, beleza. Antigamente não, a Seleção Brasileira era feita dentro do Brasil, dentro do seu país, com jogadores que queriam chegar na Seleção Brasileira pra serem negociados, aí rendia, Hoje já muda bastante, eu falo por experiência própria, porque quando você joga no Brasil você corre mais do que os que já estão lá fora, aqueles lá estão tranquilos, já têm salários de milhões, então, ser convocado, no fundo, não vai mudar a vida deles. Infelizmente é o espírito que a gente vê hoje na nossa Seleção. Eu falo pra você que vai ser muito difícil ser campeão em 2014, vai ser duro, mas é o dia-a-dia, é o mundo de hoje que a gente vive. Então, eu falo pra vocês que a minha Copa do Mundo, meu título mundial, foi aquele título pelo São Paulo, porque você dar um título pra um torcedor de clube é diferente de você dar um título pra um torcedor de seleção, porque tem gente que fala “Eu não torço pra ninguém, só torço pro Brasil”, então um cara que torce pra um clube é fiel ao clube, ele sofre, então você chegar e falar que você é campeão mundial, pô, não tem preço pro torcedor.

Amoroso, a gente sempre pergunta para os nossos entrevistados: se ele pudesse escolher um país por onde ele passou – Japão, Itália, Brasil, tanto em Campinas quanto o Rio de Janeiro – aonde você ficaria, independente de clube, independente de contratação?

Ah, eu passei por Japão, Itália, Alemanha, Espanha e Grécia, foram cinco países, o que eu mais me identifiquei foi a Itália, primeiro por eu ser descendente, eu ter parentes, meu bisavô era italiano, os bisavós da minha esposa são italianos também, meu filho nasceu lá, o mais velho, então cria-se um laço, a Itália ela acabou ficando viva nos nossos pensamentos porque é um país que se come muito bem, que se vive bem, que você chega, você pode deixar sua casa tranquila, não tem violência na rua. Eu gosto muito do Brasil, pra mim é um país que tem suas qualidades, tem seus defeitos também, como até a Itália tem, como qualquer outro país tem, mas quando você tem o respeito, principalmente quando você volta depois de você ter vivido e ter criado um nome fora do país. Você sai de um país e vai pro país dos outros e você é reconhecido quando você retorna lá como ídolo, isso aí não tem preço. Eu tenho essa experiência, porque toda vez que eu desço no aeroporto, em Roma ou em Milão, me olham e falam “Oh, Marcio Amoroso, tudo bem? Você tá precisando de alguma coisa? Oh, você jogou muito, você foi isso, você quer que eu faça isso pra você, e tal?”. Você vai aos restaurantes e os cozinheiros fazem questão de vir de fora falar oi pra você, te respeitam independente de você ter jogado no clube dele ou não. Falam “Não quero nem saber porque não jogou no meu time não”, o cara vai lá, faz questão de ir lá apertar sua mão, te reconhecer pelo que você fez dentro do país dele. Então por isso que eu respeito o povo italiano, por isso que eu respeito o italiano, porque ele reconhece aquilo, o feito que você fez. Quantos ídolos, hoje, são esquecidos dentro do nosso país? Quantas pessoas que fizeram tanto, não só no futebol, mas em qualquer profissão, não têm o reconhecimento, infelizmente. A gente tem que deixar o nosso país pra ser reconhecido e idolatrado no país dos outros, e isso é muito, muito feio, é deprimente, é a situação do nosso país, é a educação. Então, o que eu criei na Itália, o respeito do povo italiano, em qualquer cidade que eu vou, em qualquer lugar que eu passo, que a pessoa lá fora fala “Ah, vou tirar uma foto com você porque você fez isso, você veio pro país e provou ser bom, você provou que realmente é um grande jogador e foi um grande atleta também”, já basta, isso aí não tem preço.

Amoroso, queríamos que você falasse um pouco da sua ida pra Alemanha. Como é que foi? Você se esforçou um pouco por conta da contusão que você teve no Parma? Como é que foi essa ida pra Alemanha, pro Borussia?

Então, a minha ida pra Alemanha foi como a transação mais cara da história do futebol alemão, num momento em que eu tinha sido contratado pelo Parma por uma cifra, também, naquele ano, maior do futebol europeu. Quando eu fui pro Borussia, eu estava muito adaptado na Itália, já falava fluentemente o italiano, minha esposa já falava também italiano fluente, já tava com o Giovani, com cinco anos, então ia ser uma mudança muito radical, principalmente pela língua, pelo idioma, porque, você saindo do Brasil e indo pra Alemanha é uma coisa, você vivendo na Itália cinco anos, tendo toda aquela mordomia, ia ser complicado, porque na família ia ser difícil de falar a língua, e até pra mim, tanto que meu intérprete era italiano, não era nem português, porque eu não queria perder o laço com a língua italiana, então pedi um intérprete italiano, porque o português é minha língua mãe, não vou esquecer nunca, mas o italiano, se eu não praticar, eu posso vir a esquecer.

No início foi maravilhoso, o Borussia fazia muitos anos que não ganhava o título alemão, não tinha um artilheiro do campeonato também, e eu fui o primeiro brasileiro da história do futebol alemão a também ser o artilheiro e campeão naquele mesmo ano, melhor jogador, então eu tinha falado pro meu empresário que eu queria jogar na Alemanha um ano e voltar pro futebol italiano, porque eu queria me reerguer, que eu tinha vindo de contusão no Parma, séria, então quando eu cheguei pro meu empresário falei: “Ó, faça o contrato longo, mas eu quero jogar um ano e voltar”. Acabou o campeonato, falei “Quero ir embora”. Ele falou: “Não, agora você não tem como ir embora, porque vai disputar a Liga dos Campeões e não tem como eles te venderem”. Eu falei “Não, mas não interessa, pô, eu falei pra você que eu queria um ano”. Criou toda aquela insatisfação, porque a minha esposa também não estava bem, e ela não estando bem eu também não rendia, mas ela nunca chegou e falou que ia embora, porque isso tem muita influência na maioria dos atletas que vão pra fora do país, porque quando a família não tá bem, você acaba sendo prejudicado também, mas ela nunca chegou e falou “Não, vamos embora, aqui eu não vou ficar”. Eu via nela, ela não falava, mas eu via que não tava bem, entendeu? Então, isso me criou uma situação muito, muito ruim, de ambiente, no dia-a-dia, e eu não aceitava algumas coisas que o treinador fazia, então tudo começou a partir pro lado pessoal, e aí, depois, eu acabei me machucando, fiquei lesionado durante um período muito longo, e no terceiro ano de Borussia voltei muito bem no início da temporada, acho que logo com seis ou sete rodadas do Alemão eu tava com cinco gols, já tava brigando pela artilharia de novo, e aí acabei tendo uma contusão no joelho que me impediu de continuar, e aí foi o fim, porque nós brigamos lá com o clube, acabei rescindindo o contrato e acabei indo embora da Alemanha.

Mas, foi um país que não tenho o que reclamar, o povo é muito sério, muito correto, o alemão, sempre muito fechado, mas era difícil você fazer amizade, era difícil você se adaptar mesmo ao país, porque eles são muito centralizadores, muito fechadão, então não tinha muito o que conversar. Minha amizade era mais com os brasileiros que jogavam lá, o Ewerthon, o Léo, Dedê e o Evanílson, e dois ou três atletas que eram de outros países que a gente tinha mais afinidade, que era os dois tchecos, que era o Rosicky’, que hoje tá no Arsenal, e o Jan Koller, e o Miroslav Stevic, que era um iugoslavo que falava italiano e que me ajudava muito também. Mas, o Borussia foi um clube que, de maior torcida que eu pude jogar mesmo, é fiel mesmo. Todo jogo 86 mil torcedores, fanatismo gigantesco, respeito total comigo, sempre me idolatrando, foi um time que fez música pra mim, que tocava em karaokê, tocava em discoteca. Então, o respeito que o torcedor tinha comigo era gigantesco, tanto que eles falaram que o Amoroso é “Keine spiel so schön wie”, “Ninguém joga tão bonito quanto o Amoroso”, então, isso me deixou muito feliz porque, realmente, o reconhecimento do torcedor pro meu futebol lá foi grandioso, e eu fiz por merecer também porque, chegar e ser campeão alemão e astro do campeonato na primeira temporada não é fácil não.

Você estava falando da sua esposa, que não se adaptou direito. O que foi? Foi a língua, foi a localidade, as pessoas do bairro que não se relacionavam?

No início a gente morava fora de Dortmund, morava a quinze quilômetros do centro da cidade, morava numa outra cidadezinha, e ela ficava muito sozinha, ela e o Giovani, então não tinha muito contato com a língua. Quando saia, era complicado você não falar, mesmo que ela falasse um pouco do inglês, as pessoas não respondiam em inglês, respondiam em alemão, então isso começou a criar um clima muito, muito ruim. Então, toda vez que sair tinha que chamar uma pessoa pra poder ajudar. Isso aí pesou muito. Pesou porque o idioma é tudo, se você não falar, se você não se comunicar, infelizmente, fica ruim pra qualquer lado.

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Amoroso em visitação ao Museu do Futebol. Foto: Museu do Futebol.

Você falou também dos estrangeiros, que você se dava melhor com os brasileiros e também com alguns estrangeiros do Borussia. Fala um pouco disso pra gente, dessa questão dos estrangeiros nesses times, seja na Alemanha, que eram poucos, seja na Itália. Havia alguma distância entre os nacionalistas e os estrangeiros?

Ah, sempre tem um pouco de receio, até você se adaptar, até os caras ganharem a sua confiança é difícil, seria ais fácil quando você chega com nome, com o status de jogador internacionalmente conhecido, aí é outra história, mas quando você vem pra um clube que já tem alguns jogadores famosos, que tá se sentindo ameaçado, isso atrapalha um pouco, porque você vê já um pouco de olhares. Então, quando eu cheguei na Alemanha, até eu me adaptar, principalmente porque eu não falava alemão, não é que eu não fazia questão, é porque era muito difícil, e eu não falava, eu não vou falar alemão em lugar nenhum depois. Onde eu vou falar alemão a hora que eu sair dali? Eu não vou morar na divisão da Suíça com a Alemanha, eu não vou morar na divisão da França com a Alemanha, entendeu? Então, onde eu vou falar alemão? Só na Alemanha e nesse lugar, mas eu não vou morar lá, eu gosto de calor, não gosto de frio. Então, o italiano eu vou falar, porque se um dia eu quiser voltar pra Itália, eu moro seis meses na Itália e moro seis meses no Brasil, vou pegar o calor lá, que é bom, pega o calor lá e quando tá frio lá eu venho pra cá (risos). Mas o italiano é mais fácil de você lidar, entendeu, então não vou fazer questão de aprender alemão, mesmo eu tendo a facilidade com o idioma.

Eu entendia muito mais a língua do que eu falava, porque eu escutava o alemão falar, escutava, escutava, escutava e na hora de eu falar eu falava em português ou em italiano, e isso dificulta um pouco também, porque quando você precisa se comunicar, você tem que sempre chamar uma pessoa pra poder você expressar aquilo que você tá sentindo, e às vezes, na emoção que você passa pra pessoa que tá te traduzindo, não é a mesma emoção que ele passa pra pessoas que vão receber a mensagem, a não ser pela expressão que você faça. A pessoa pode entender, mas não é a mesma coisa. Aí eu falei “Ah, se eu tiver a oportunidade de voltar pra Itália eu vou voltar”. Aí eu acabei tendo uma contusão, acabei negociando com o clube a minha saída, e acabei parando na Espanha, parei em Málaga, fiz um contrato em Málaga de um ano com opção de mais dois anos, time que eu sabia que eu ia correr na subida. Quando a gente fala “correr na subida” é subir ladeira pra poder enxergar lá e não ser rebaixado no campeonato, porque o Málaga era um clube de metade da tabela pra baixo, e aí tava formando um time, eu cheguei com a pompa de um grande jogador pro time, uma das mais importantes contratações do Málaga, e aí acabei pegando um time que nos primeiros seis meses ficou ali brigando na zona do rebaixamento. Mas peguei um treinador muito gente boa, peguei um treinador muito humano que era o Gregório Manzano, era um treinador que me adorava, me colocava pra jogar sempre, independente se eu estivesse com dor ou não, ele falava “Não, você tem que jogar porque você, pra mim, é muito importante”. E aí eu ganhei muita confiança dele, fizemos uma amizade muito legal. E no segundo semestre, na volta do returno, ele foi mandado embora, saiu, e chegou outro treinador, que já não gostava de mim, e eu nunca mais jogava, e ficou aquela: “Pô, não me coloca pra jogar, eu vim aqui pra jogar, e assim, como é que eu não vou jogar aqui? E o treinador me colocava sempre no segundo tempo, ou quando o jogo já tava ganho, ou com o jogo difícil ou perdendo, aí eu entrava pra tentar ser a solução. Mas, tudo bem, passou, foi uma cidade em que eu me adaptei muito bem, fiz amigos também, duas famílias de amigos, que uma é a família do goleiro, que é o Arnau, que jogou no Barcelona, que a gente morava junto um do outro e a outra família das pessoas que alugaram a casa pra mim, que moravam também no mesmo condomínio. Então, fazendo amizade com essas pessoas, pra mim ficou muito mais fácil ambientar minha esposa, as crianças, o Mateusinho já era bebê, já tinha um ano e meio, então foi tudo mais fácil, e o espanhol é uma língua latina mais fácil de se comunicar, o Giovani já ia pra escola, Internacional Espanhola, já falava espanhol, então, ficou tudo bem.

Só que o clube não ajudava, porque o clube era um clube que brigava pra não cair, e eu falava “Pô, ano que vem pra segunda, se a gente for rebaixado, não vou jogar a segunda divisão aqui de jeito nenhum, então tem que jogar bem, tem que ter oportunidade de jogar, pra ver se eu não vou pra outro clube aqui na Espanha”. Então, já que o Valência me queria uma época, eu de repente “Pô, quem sabe eu não vou pro Valência, pô, jogo bem contra o Real Madri, tenho história, tenho nome, então, quem sabe não aparece uma oportunidade? O Vanderlei Luxemburgo tá no Real, vai que ele me leva, né? Então tem que jogar bem e o treinador me colocar pra jogar”. Comecei a perceber que naquele time ali eu ia ter problema com ele, comecei a pensar “O que eu vou fazer? Porque meu contrato é esse ano e opção de mais dois”, “Pô, se pintar alguma oportunidade em algum outro clube aqui na Espanha eu já vou negociar porque eu posso, porque eu não tenho nada assinado”. O meu contrato, mesmo com a opção, me dava a oportunidade, ele me dava o direito de eu assinar com outro clube se aparecesse, se o clube não tivesse interesse de renovar, então podia renovar antecipadamente, acertar o contrato antecipadamente. E aí acabou a temporada, e eu vim embora pro Brasil.

Málaga é uma cidade maravilhosa, é chamada a Costa do Sol, enquanto tava frio na Europa, lá em Málaga tava dezoito, dezessete graus, então quando tava inverno ainda e no inverno tava quinze, em Málaga tava vinte e seis, então já dava pra ir pra praia. O espanhol tem um hábito de almoço e janta diferente dos outros países. Na Espanha você almoça duas da tarde e vai jantar dez horas da noite. Na Itália, se você almoçar duas horas da tarde, você vai pegar a cozinha fechada e o dono do restaurante com uma tromba desse tamanho de você chegar pra ele ter que fazer comida pra você. Então eu tive que me adaptar. Na Espanha se treinava meio-dia, então o treino acabava uma e meia, tomava banho, pra poder almoçar aquela hora, e o Giovani saia da escola quatro horas da tarde, então como o treino acabava duas horas, eu ia pra praia, ficava lá na praia esperando dar o final da aula do Giovani pra pegar ele e ir pra casa, aproveitar o dia; ou quando ia pro treino, ia pra praia de manhã. “Pô, vou trenar só meio-dia”. Ia pra praia até onze horas, eu ficava na praia, onze ia pro treino, depois ia pra praia, então fiquei numa vida boa, “Maravilha, tô no paraíso aqui”. E aí me adaptei a Espanha, adorei Málaga, pô, meus amigos, a gente sempre fazia reunião em casa, sempre tava junto.

E aí acabou que eu voltei de férias da temporada, e quando eu cheguei aqui no Brasil, o São Paulo veio me procurar pra disputar a Libertadores. O Grafite tinha se machucado, e aí eu optei por voltar pro Brasil, optei por vir pro São Paulo pra disputa da Libertadores, mas a Espanha foi também um país maravilhoso, ali eu me dei bem também, foi muito legal, mas foi mais cultural, familiar, do que profissional, porque depois que esse treinador chegou, eu comecei a ter menos espaço dentro do time, mas no final eu joguei, o time acabou classificando entre os dez, fomos disputar o Intertoto. Mas foi legal, foi um país muito bom também, que gostei bastante.

Amoroso, voltando um pouquinho à questão dos estrangeiros. O Paulo Sérgio, que jogou no Bayern e depois na Roma, comentou que fizeram placas contra ele, contra o Cafu, torcidas que fizeram alguma coisa contra. Com você aconteceu alguma coisa assim? Você presenciou uma situação dessas com algum companheiro brasileiro ou estrangeiro?

Não, felizmente nunca passei por uma situação dessa e também nunca tive no elenco, nos clubes por onde eu passei, esse tipo de preconceito contra estrangeiro ou de racismo, ainda bem que eu nunca passei por isso, mas a gente sabe que é uma situação muito constrangedora, principalmente por você sair do seu país e passar por isso longe dele. Então, quando você chega e acaba passando por essa situação, eu não sei como eu reagiria, pra falar a verdade pra você, se fosse comigo eu não sei como me comportaria num caso desses. A gente sabe que aqui no Brasil, quando aparece aquelas faixas escritas “Fora fulano, fora ciclano” não é o torcedor que escreve porque não é o torcedor, o desejo do torcedor, isso aí é política, explicitamente política dentro do clube, porque eles querem tirar a responsabilidade das costas deles e passar pro atleta pra que possa baixar um pouco, dando um aviso, uma satisfação pra vocês, chegaram dois, três bodes expiatórios, então agora, paz. Porque não é do torcedor que vai chegar lá e pichar, a não ser que seja uma questão muito séria, uma questão assim que comprometa a visibilidade do clube, mas por um atleta não estar em fase boa, ou por um atleta que ganha muito e não está correspondendo, isso aí é tudo política, isso aí é questão pra que eles possam dar uma satisfação pro torcedor. Então, sobre esses negócios de faixa, eu não acredito que o torcedor seja capaz de fazer isso, mas sim a mando, pois tem dirigente que manda fazer esse tipo de coisa. Agora, fora do país, pode ser que tenha esse tipo de situação sim, por parte de preconceito racial, por torcedores, mas não de dirigentes, porque não é importante pra imagem do clube, interessante, que um diretor mande xingar um de azul, outro de verde, de amarelo, pra que esse atleta vá embora ou pra dar uma satisfação, não, isso aí, infelizmente, acontece muito lá fora por preconceito mesmo, mas eu, felizmente, nunca passei por isso e espero nunca passar.

E nem na sociedade mesmo, às vezes indo num restaurante, num mercado?

Num mercado eu tive uma situação, na Alemanha, mas não foi comigo, foi com a minha esposa. E eu já falava um pouquinho de alemão também, eu entendia mais do que eu falava, mas eu sabia dar umas respostas um pouco mais ríspidas. Teve um dia que a minha esposa, como eu falei pra vocês, ela não falava alemão, ela falava inglês, e o alemão não respondia em inglês, ele respondia em alemão. Certo dia eu tô no supermercado, fazendo compras, e a minha esposa chegou, chamou a moça que trabalhava lá e perguntou pra ela, é: “Please”, perguntou, “Por favor, você poderia me indicar aonde tá isso e isso?”. A mulher virou e falou assim pra ela: “Ué, se você não fala a nossa língua, o que você tá fazendo aqui no nosso país?”. E eu escutei, porque eu tava do lado, e falei: “Desculpa, mas eu não entendi o que a senhora falou pra minha esposa”. Quando ela me viu e viu quem era, que tava conversando com ela, ela pediu milhares de desculpas, mas aí você já vê que já entra o lado da pessoa ser conhecida, da pessoa ter um nome, pra eles poderem respeitar, entendeu, porque se é uma pessoa comum é complicado, e eu nem me passei como brasileiro porque eu tava lá fora. E eu usei o Schumacher como exemplo, porque ele não dava entrevista em italiano, trabalhando pela Scuderia Ferrari, então quando ele é entrevistado ele não falava em italiano, ele falava em alemão, quem quisesse que entender entendia, então tinha que traduzir pra língua dele, e o italiano de maneira alguma falou “Não, você tem que falar a minha língua, você vai falar italiano, não vai dar entrevista em alemão”, mas ele falava em alemão; e quando eu falei pra ela que a minha esposa só falaria o alemão quando o Schumacher falasse italiano, e era o ídolo do país dela no país dos outros, aí ficou “Desculpa”. Mas foi só essa situação, no resto, não tive outra. Ah, uma vez, num restaurante, quando eu tava machucado, em Parma, uma senhorinha tava no restaurante, foi até engraçado, porque eu tava comendo, e ela sentou numa mesa ao lado e falou assim “Setanta miliares de lira per stare lì seduto, senza fare niente”. Falou assim, que é setenta milhões, nesse caso seria 35 milhões de euros, que convertia pra lira na época, que ainda não fazia parte da Comunidade Europeia. Trinta e cinco milhões pra estar ali sentado sem fazer nada. Aquilo ali me subiu um sangue na cabeça, e eu machucado, porque a gente não tem culpa de se machucar, não é que eu tava ali por querer. Só foram esses dois episódios comigo. Lá na frente acabei fazendo uns golzinhos com o Parma, perdemos uma final de Copa Itália, mas depois ganhamos a Supercopa Italiana, então acabou ficando elas por elas mesmo. No final ela deve ter falado “Pelo menos um título ele ganhou aqui, tá bom”.

E aqui no Brasil, acontece muito isso? De acontecer uma situação dessas e só quando você “Ah, é o Amoroso”, aí muda a situação?

Tem, bastante, nossa, o que mais tem é isso, é o interesse, isso infelizmente tem, não só na minha profissão, mas em qualquer outra. Mas eu procuro não pedir nada pra ninguém, eu vivo a minha vida, se eu tiver condição de pagar pra entrar eu vou pagar pra ir, não chegar e “Por favor”, a não ser que eu seja convidado e a pessoa me venha e fale “Ó, você quer vim?”. Mas chegar e falar “Ó, eu sou fã, me abre aí”, não, nunca fiz isso principalmente porque você acaba se comprometendo com uma pessoa e sendo troca de favor, “Ah, você faz isso…”, “Não, quanto que é”. Ah, tem condição? Pago e acabou, pra depois não vir falar: “Ah, mas eu te fiz um favor”, “Não, eu paguei”. Eu vejo que é diferente o tratamento pra uma pessoa pública e pra uma pessoa que não é conhecida. Lá fora também tem isso, não é só aqui, lá também tem bastante.

Racismo aqui no Brasil também nunca passou?   

Não, nunca passei, graças a Deus, nunca passei. Eu não gostaria de passar e não sei como eu reagiria numa situação dessas, sou tranquilo pra caramba, mas não sei qual seria minha reação se acontecesse uma situação dessas comigo, num momento que a gente tá, de repente, com um probleminha, passando por um momento conturbado, com um estressezinho à mais, uma reação física poderia até acontecer, mas eu sempre evitei esse tipo de situação, principalmente porque eu nunca gostei do meu nome vinculado a polêmicas, em páginas de jornais, por ser um ídolo, por querer sempre passar pra uma criança o máximo respeito. Como é que você, um pai, vai chegar e falar “Aquele lá jogou, é o ídolo do pai”, aí o menino vai pesquisar sua história e fala “Pô, mas esse cara é o seu ídolo? Pô, mas ele fez isso, isso e isso? Sabe, eu prefiro ficar mais tranquilo. Mas no futebol, dentro de campo, eu sempre procurei não me envolver, ficar mal com ninguém, eu nunca polemizei com um companheiro de profissão, ou menosprezar porque às vezes eu tava num momento melhor do que o do cara, jogando num time maior, como uma vez eu fiz, mas eu pedi desculpas, “Ah, eu jogo aqui, você joga aí”, porque no momento do jogo que você tá apanhando, tá tomando botinada, e o cara te xingando, te cuspindo, e aí rola algumas coisinhas dentro do jogo, mas depois fala “Pô, não queria falar isso, me perdoa porque eu não sou assim”, quando eu polemizava mais pra poder trazer o jogo, a emoção pro torcedor, de uma rivalidade saudável, mas em nenhum momento pra menosprezar ninguém, porque não era o meu jeito de ser, nunca foi, então eu sempre procurei passar os bons exemplos, porque eu sei que eu tenho filhos, eu sei que eles gostam da minha profissão, que eles pretendem exercer, e que lá na frente eu não quero que eles escutem “Ah, mas seu pai fazia isso, não era correto”. Então, pra falar a verdade, se acontecesse comigo alguma coisa em cima de um racismo, ou de uma situação parecida, dependendo do momento, você age de um jeito, mas tentava me controlar ao máximo, isso aí eu posso garantir pra você, mas a gente nunca sabe o dia de amanhã.

E por ter jogado em tão alto nível você era, às vezes, alvo de outro jogadores, por exemplo, na pancada ou em xingamentos?

Nossa Senhora, o que mais tinha era isso, ainda mais na Itália. Na Itália não era qualquer faltinha que o juiz apitava. Eu me lembro que depois o cara ficou até meu amigo, trocamos camisa e tudo, mas é uma história legal. Chegou num jogo contra o Piacenza e a região de Piacenza, Vicenza, Parma, é uma região de neblina, é o que eles chamam de Penúria Padana, que quando chega é impressionante, é uma questão assim de dois minutos, você não enxerga nada, é um perigo andar, porque eles andavam de carro na estrada, trinta, quarenta carros engavetados, e aí teve um dia que a gente tava jogando e tinha a previsão do tempo de que ia chegar a neblina tal hora no jogo. Ah, não deu outra, a gente jogando em Piacenza, o céu lindo, azul, um céu lindo, maravilhoso, daqui a pouco, passa dois minutos você não enxergava, o jogo comendo, e o juiz falou “Não, não vou parar o jogo”. Tinha um cara ali, e a gente jogava, e o cara marcando individual, é a pior marcação que tem, você vai ali o cara vai ali, você vai aqui o cara vai aqui, e o cara dando pancada, e eu puto da vida já. Teve um escanteio, falei assim: “Agora esse cara vai tomar uma que eu não vou deixar passar esse momento”. E neblina, o juiz já não enxergando nada. Na hora que foi bater o escanteio, ele tava me marcando, eu fiz um movimento assim, “tum”, abri a mãozona, “pá”, pegou no rosto dele, pra poder sair da marcação. Nossa, ele olhou pra mim, eu falei “Ele vai querer me dar uma agora, que eu tenho que ficar esperto, vou correr ali pra perto do bandeirinha, porque se ele me der o bandeira tá ali perto, vou jogar aqui”. Ah, mas não deu tempo, na hora que eu dei três passos, pô, tomei uma muqueta de mão fechada, atrás, aqui na nuca, “tum”, que eu andei uns quatro quilômetros pra cair na grama. Aí os amigos meus vieram, viram que eu tinha tomado esse soco, mas não tinham visto que eu tinha dado o tapa nele dentro da área, rapaz, mas que confusão que deu no jogo. Depois desse dia, passei dois anos jogando contra ele, e toda vez que eu jogava contra ele, porra, e ele falava assim pro treinador: “Eu marco o Amoroso”. Depois ele falou pra mim, porque a gente fez amizade, eu falei pra ele: “Pô, vamos parar, vamos virar amigo, cara? Você quer minha camisa? Eu fico com a sua camisa, aí acabou essa brincadeira…” (risos). Com a risada, ele ficou meu amigo, aí ele falou assim “Não, eu pedia pro treinador pra marcar você, porque eu sabia que você não gostava de ser marcado porque, se eu desse espaço, você ia colocar a bola por debaixo das minhas pernas, ia fazer gol, velocidade”. Ficou nisso aí. Então, são coisas que acontecem só lá dentro, mas depois ficou amigo.

Confira a segunda parte da entrevista no dia 29/04/16

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Marcel Diego Tonini

É doutor (2016) e mestre (2010) em História Social pela Universidade de São Paulo, sendo também bacharel (2006) e licenciado (2005) em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP - Campus de Araraquara). Integra o Núcleo de Estudos em História Oral (NEHO-USP) e o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Futebol e Modalidades Lúdicas (LUDENS-USP). Tem experiência nas áreas de Ciências Sociais e História, com ênfase em Sociologia do Esporte, Relações Étnico-raciais, História Oral e História Sociocultural do Futebol, trabalhando principalmente com os seguintes temas: futebol, racismo, xenofobia, migração, memória e identidade.

Aira F. Bonfim

Mestre em História pela FGV com pesquisas dedicadas à história social do futebol praticado pelas brasileiras da introdução à proibição (1915-1941). É produtora, artista-educadora e por 7 anos esteve como técnica pesquisadora do Museu do Futebol. O futebol de várzea, os  debate sobre patrimônios e mais recentemente o boxe e o circo, são alguns temas em constante flerte... 

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