Depoimento de Armando Giesta (1928-2011), torcedor-símbolo do Fluminense, ex-presidente da Young-Flu e fundador da ASTORJ (Associação de Torcidas Organizadas do Rio de Janeiro), em 1981.


– Entrevista concedida a Bernardo Borges Buarque de Hollanda
– Gravada em áudio no dia 2 de março de 2005
– Local: Biblioteca do Fluminense Football Club.
– Transcrição: Bernardo Buarque de Hollanda

– Edição: Pedro Zanquetta Junior.

 

Armando Giesta. Foto: Imagem de arquivo.

 

Segunda parte

 

Quando você ingressou na Young-Flu?

A torcida foi fundada em 12 de dezembro de 1970 e eu já conhecia o pessoal que a formou desde 1968, contudo só ingressei em 1974. Não me filiei antes porque não via razão para estar em uma organizada quando tudo corria bem com a equipe. A partir do momento em que o time passou a fracassar, teve início uma tensão entre torcedores e diretoria e considerei que precisava fazer algo para pacificá-la. A minha intenção, naquele momento, era montar uma associação, algo que só conseguimos em 1982, após muitos anos de luta.


Em que contexto surgiram as torcidas jovens no Rio de Janeiro?

Durante a administração pública do Francisco Negrão de Lima (prefeito do Distrito Federal de 1956 a 1958 e governador do Estado da Guanabara entre 1965 e 1971), os clubes travaram uma disputa com o governo e se recusaram a pagar a taxa de quinze por cento estabelecida para o uso do Maracanã. No fim das contas, eles conseguiram uma redução de cinco por cento, mas, em contrapartida, passou a ser exigido que os sócios pagassem pelos seus ingressos. A partir de então, o quadro social dos clubes foi diminuindo e os ex-filiados foram para as arquibancadas, onde se agruparam. Eram pessoas que anteriormente compunham o grupo da sauna, dos militares, da piscina, do tênis… Eles deram início a um movimento político de contestação às diretorias. Esse fenômeno ocorreu simultaneamente em todos os grandes clubes do Rio de Janeiro.

No caso específico do tricolor, essa mobilização também foi incentivada pelos resultados ruins que o time obteve após o título estadual de 1964 e pelo fato da torcida organizada até então existente ser ligada ao clube. O Paulista – chefe da organizada – tinha um vínculo forte com os gestores e abaixava a cabeça para tudo eles que decidissem.

Os ex-associados, insatisfeitos, passaram então a exigir bastante dos dirigentes.Com esse impulso, em 1967, surgiu a Jovem Flu, torcida formada por artistas como o Hugo Carvana e o João Roberto Kelly que durou pouco e só voltou a atuar em meados da década de 1970. No ano seguinte, houve uma grande campanha para que se montasse um time forte e isso foi decisivo para que o tricolor voltasse a ser campeão no estadual de 1969. No final de novembro de 1970, um grupo desses torcedores fundou a Força-Flu e, dezessete dias depois, a turma do Armando Cavalcante, do Sérgio Bopp e do Paulo César Pedruco criou a Young-Flu.


Então, todas as torcidas jovens nasceram em oposição aos clubes?

Sim. Todas elas eram compostas por ex-sócios que, a partir do momento em que se desvincularam de suas agremiações, não podiam mais ser punidos e, manifestaram livremente suas insatisfações. Desse modo, na passagem da década de 1960 para a de 1970, surgiram a Jovem do Flamengo, em 1967; a do Botafogo e a Flamante, em 1969; e a Força Jovem do Vasco, do meu amigo Ely Mendes, em fevereiro de 1970.


Por que todas elas adotaram o nome de “jovem”?

Primeiramente, devido ao fato de os chefes de torcida antigos serem todos velhos. O Jaime da Charanga, o Paulista… Afora isso, o final dos anos 1960 é marcado pela eclosão dos movimentos jovens ao redor do mundo. Aqui no Rio de Janeiro, dentre outras coisas, eles passaram a dominar e a tomar conta das torcidas.


Qual era o perfil dos membros que as compunham?

A maioria era estudante. Tanto que, hoje, oitenta por cento daqueles que participaram da formulação delas são engenheiros, médicos, dentistas, advogados, militares…Em geral, faziam parte da classe média, havendo ainda um número pequeno de pobres.


Existiam mulheres entre os componentes?

Sim, muitas! [Risos] Um dos principais erros das torcidas organizadas foi perdê-las. Havia, inclusive, uma competição entre a Raça Rubro-Negra e a Young-Flu para ver quem tinha mais mulheres bonitas. Era um inferno! [Risos] Eu fazia questão de tê-las entre nós porque elas contêm a violência, impõem honestidade e vibram muito mais que os homens. Além disso, estabelecem um clima de camaradagem entre os membros, pois organizam aniversários, festas de final de ano, amigo oculto… Antigamente, quando havia uma festa de aniversário de uma torcedora na nossa sala no Maracanã, não dava para saber se era da Young-Flu, da Raça Rubro-Negra ou de uma organizada do Vasco, pois havia uma ligação entre elas e todas festejavam juntas.

Ainda temos um grupo pequeno de garotas que ficam próximas à bateria. Elas gritam e pulam muito mais que os homens! São todas casadas e corretas, todavia na agitação, são terríveis. [Risos]


Você sabe por que razão a Young-Flu recebeu esse nome em inglês?

Certa vez, apareceu um cara de quase dois metros de altura no Maracanã com uma faixa comprida onde se lia “Jaimão da Young-Flu”. No final da partida, eu pedi a faixa a ele e cortei a parte em que estava escrito “Jaimão”. Nós a penduramos depois e todo mundo gostou. Na partida seguinte, levamos uma maior. O pessoal achou que era um nome bacana. O inglês era moda na época por causa do rock e no centro da cidade as lojas anunciavam big liquidações… Havia essa mania de misturar os idiomas. O Armando Cavalcante viu aquilo e decretou: – “Boa essa! De hoje em diante, nós somos Young-Flu”. No início, uns chamavam de Ung-Flu, outros de Kung-Flu, ninguém acertava. [Risos] Um dia um garoto surgiu com uma bandeira grafada “Kung-Flu”. [Risos] Apesar da confusão, o nome pegou. Fui, então, até um talentoso desenhista do Flamengo e pedi: – “Jorge, eu queria que você fizesse uma faixa para nós com uma letra rasgada igual a da Viação Jurema de Caxias”. Ele brincou: – “Pô, vocês não são a Kung-Flu? Vou misturar essa letra com umas chinesas!”. [Risos]O resultado ficou bom e permaneceu.Era importante para cada torcida criar algo novo que a diferenciasse das demais. Já havia muitas “jovens” quando ela surgiu e impusemos algo inédito com o nome em inglês e a letra chinesa.


E a camisa da Young-Flu, quem criou?

Fui eu. Desenvolvi esse modelo porque considero a camisa do tricolor a mais bonita e o primeiro modelo utilizado por nós era verde. Parecia com o da Força-Flu. Eu não era integrante da torcida ainda, porém reclamei: – “Armando, troque essa camisa!”. Elas eram fabricadas em Petrópolis e, quando chegavam aqui, a tia dele bordava a letra da Young-Flu e o escudo do time. Fui com ele até lá e encomendamos cem unidades brancas. Tempos depois, encontramos uma malharia na Ilha do Governador que fazia uma camisa cheia de flocos. A primeira bonita de verdade, foi fabricada lá.

Além dessas criações, anos mais tarde, fui o responsável por conseguir o primeiro patrocínio para uma torcida organizada aqui no Rio. Uma agência de automóveis chamada Flu-Car nos financiou por muitos anos.


Vocês desenvolveram muitos lemas ao longo dos anos, não é?

Sim. Tínhamos o “A Young não é somente uma torcida. É uma paixão também”. Depois, criamos o “Uma paixão em torcida”, que segue até hoje. Quando íamos viajar, dizíamos sempre: – “Brigar, nem pensar. Agora, correr, nunca.” Eu mandava publicar no Jornal dos Sports: “Domingo a Young vai sair e passar por tais ruas. Se ninguém se meter, nós chegamos inteiros. Se aparecerem, não vamos correr”. Hoje em dia é “Young-Flu até morrer”. É só o que eles falam. Querem porrada até a morte! [Risos] Isso não leva a nada. Quando se cria uma torcida, deve-se pensar em tudo, menos na briga.


Apesar da sua participação nos momentos de formulação da torcida, você disse que apenas ingressou, de fato, a partir de 1974, não é? Como foi sua atuação, naquele momento?

Exato. Logo após a minha entrada na torcida, o Francisco Horta assumiu a presidência do clube. Em sua gestão, ele contratava jogadores e não dava a mínima para o que dizíamos. Quando reclamávamos, ele retrucava: – “Se vocês não quiserem torcer pelo Fluminense, podem ir embora que eu contrato uma torcida”. Cansamos de ouvir isso.

Em virtude dessa postura, em 1975, iniciei uma campanha para que os dirigentes ouvissem mais a opinião das organizadas. No ano seguinte, apareceu como candidato à presidência, o Sílvio da Silva Vasconcelos, diretor da Light (presidente do clube entre 1978 e 1981). Nós nos reunimos, passamos a apoiá-lo e ele conseguiu se eleger. Aquele foi um momento especial em que as torcidas organizadas compostas por pessoas que não eram sócias dos clubes conseguiram ter influência ao ponto de elegerem seus candidatos preferidos. No Flamengo, ocorreu a mesma coisa e o Márcio Braga foi eleito, em 1977. Graças a esse feito, as organizadas passaram a dar ordens e os dirigentes, a ouvi-las. Chegamos a elaborar tabelas de campeonatos, ditávamos os preços dos ingressos… [Risos] Até que se criou poder demais e os líderes começaram a usá-lo de forma errada e a criar indisposições com a imprensa. Brigar com a mídia é burrice, eu nunca fiz isso.


Com a experiência de ter ocupado a presidência da Young-Flu, o que você considera necessário para ser um líder de torcida?

Em primeiro lugar, personalidade. Além disso, é preciso ser incorruptível, ter uma conduta exemplar e impor sua vontade sobre as demais. Um pouco de ditadura é necessário. É importante ser machão também, senão fica difícil administrar todos. [Risos]


Quando você liderou a Young-Flu, como era a rotina nos dias de jogos?

Geralmente, nós tínhamos um horário estabelecido para entrarmos no Maracanã e chegávamos cedo. Apesar de cada torcida ter direito naquela época a duas carteiras de ingressos para entrar de graça, nós sempre dávamos um jeito de pularmos o muro para começarmos a ajeitar tudo antes. Nas partidas importantes, nós dormíamos na nossa sala no estádio para acordarmos cedo e arrumarmos as bandeiras e o pó-de-arroz, picarmos papéis, aprontar os instrumentos da bateria… Eu coordenava tudo com um megafone e tínhamos cornetas grandes de caminhão para chamarmos os componentes.


Inicialmente, as bandeiras utilizadas pelas organizadas eram apenas do Fluminense, mas, depois, passaram a ter o nome das torcidas, não é?

Exato. Eu comecei a colocar o nosso nome e escudo nelas. Criei um padrão não só disso, mas de uma porção de coisas. Em uma época, os bambus verdes foram proibidos pela Polícia Militar, pois eram pesados e cortavam as mãos dos meninos. Negociei com eles e consegui a permissão para usarmos bambus de pesca, que são leves e não servem para uma briga. Passei, então, a pintá-los de verde para combinar com as bandeiras.


Como era a questão da violência naquele período?

Antes das organizadas surgirem, já existia muita confusão. Antigamente, não havia uma mídia estabelecida e por isso há poucas notícias, porém em um confronto entre Flamengo e Vasco, em São Januário, nos anos 1940, havia mais brigas do que hoje. Não era fácil! Mesmo no Maracanã, nos anos 1950, ocorriam inúmeros conflitos. A questão está na divulgação. Para ir ao campo do Olaria era preciso ter peito, porque lá a porrada comia solta. Em Bangu piorava. O estádio era pequeno e os visitantes precisavam passar por debaixo da torcida da casa. Jogavam tudo em cima da gente. Na hora de ir embora, eles saíam mais cedo e fechavam a rua para pegar todos nós.

Apesar disso, muitas famílias frequentavam o estádio e as torcidas organizadas, não é?

Exato. As organizadas eram bonitas, coloridas e todos iam muito bem arrumados. Hoje, é uma mulambada que Deus me livre! [Risos] Não estou falando sobre ser pobre. Por exemplo, nos anos 1950, todos faziam questão de vestirem uma calça limpa e uma camisa ou um sapato novo para irem ao Maracanã. Agora, procuram no armário a pior roupa que possuem. Geralmente, vão de chinelo. Isso atrapalhou muito. Afora a concorrência da praia, da Barra da Tijuca, da facilidade de ir para Niterói após a construção da ponte… Tudo isso colaborou para esvaziar o estádio.

No passado, as partidas começavam às quinze horas, mas como a praia passou a ser um forte concorrente, mudaram para às dezessete. Antes, o sujeito saia da praia e ia direto para o Maracanã. Agora, vai para casa, toma um banho, almoça um prato gigante, toma duas cervejas e desiste de ir ao jogo. O dirigente de futebol está padecendo hoje pelo comodismo que desempenhou no passado. Infelizmente, eles não enfrentaram as novas conjunturas e perderam para as outras opções de lazer.

Além disso, os meios de comunicação contribuíram para a ausência de torcedores no estádio. Eles perseguiram as torcidas organizadas para que todos passassem a acompanhar os jogos em casa, pelo rádio ou televisão. O José Carlos Araújo (locutor esportivo da Rádio Globo, também conhecido pelo apelido de Garotinho) é um dos principais causadores do medo que o estádio causa nas pessoas. A imprensa divulgou tanto a violência, que todos ficaram espantados.


A partir de que momento os radialistas começaram a perseguir as torcidas organizadas?

Quando sentiram que estavam perdendo audiência para a torcida presente no campo e para a televisão. Tentaram, inclusive, criar uma nova opção: a de ouvir o rádio e assistir ao jogo. Algo que, particularmente, não vejo sentido, pois há atraso: quando ele narra, eu já vi o gol.


Gostaria que você falasse sobre as viagens da torcida. Quando elas começaram?

Nos anos 1950, as organizadas já viajavam muito. Eu me recordo que, no final dos anos 1960, me desloquei bastante para ver as partidas do Torneio Rio-São Paulo. Os nossos ônibus paravam na Praça da Sé e éramos recebidos pela Organizada do São Paulo que nos abraçava, nos levava para almoçar… Todo mundo se dava, era diferente. Eles só não aceitavam fazer isso quando era campeonato nacional ou confrontos entre selecionados paulistas e cariocas. Nesses casos, o enfrentamento acontecia.

Nós costumávamos ir de trem para lá também. Pegávamos uma carona na Central do Brasil. As composições, naquela época, tinham seis vagões de passageiros e dois ou três de carga. Nós entrávamos na Pedreira de São Diogo e pulávamos o muro. Quando o trem encostava, nós subíamos em um vagão de carga e nos escondíamos. Dessa forma, íamos até Guarulhos, onde saltávamos e pegávamos um ônibus para São Paulo. Fazíamos isso para despistar os rivais. Se descêssemos na Estação Roosevelt (atual Estação Integrada do Brás), eles nos pegavam e não víamos jogo nenhum. Eram capazes de nos reconhecer à primeira vista, porque somos morenos, queimados de praia. [Risos] Uma vez em São Paulo, andávamos escondidos e quietos. O sotaque era nosso inimigo. [Risos]


Qual era a origem da relação amistosa que você citou com os são-paulinos?

Essa aliança vinha do fato de ambos sermos tricolores. Construímos uma relação com a Força Jovem do Santos também, por lá ser uma cidade turística e praiana, como o Rio. E ainda com o Palmeiras, em virtude da origem italiana.

Até 1981, os palmeirenses também nos recebiam. Nós almoçávamos no clube, tomávamos banho de piscina de graça, assistíamos à partida, não ocorria nenhuma desordem. A tensão que se estabeleceu a partir daquele ano foi causada por um componente nosso chamado Zezé. A reestreia do zagueiro Luís Pereira no Palmeiras após um período na Itália foi contra nós e uma turma liderada pelo Zezé começou a xingá-lo de maconheiro e de outros nomes. Ele se irritou com aquilo a ponto de ser expulso. Quando deixava o campo, passou rente ao alambrado e nos chamou para a briga. O Zezé desceu, jogou um surdo da bateria na cabeça dele e, em seguida, acertou uma cusparada. A torcida deles veio toda para cima de nós. O pau quebrou no estádio e, na saída, enfrentamos toda a cavalaria da polícia paulista na rua. Até hoje não fizemos as pazes com eles.

O Zezé era um espírito de porco e protagonizou outra confusão importante em São Paulo, em uma partida contra a Portuguesa de Desportos.Na ocasião, um garoto levado por ele derrubou um policial do cavalo com uma bambuzada e a Polícia Militar começou a bater em todos que vestiam a nossa camisa.Como eles estavam em número reduzido, acabamos nos reunindo e eles apanharam. [Risos] Em razão dessas atitudes, eu o expulsei e ele foi parar na Força-Flu.


Vocês tinham uma aliança com o Corinthians também, não é?

Sim. Até que brigamos em 1984 e eles firmaram uma amizade com o Flamengo. Em virtude disso, os vascaínos e botafoguenses se desentenderam com os corintianos também e os primeiros se uniram aos palmeirenses. Após muito esforço, consegui reatar o vínculo com o Corinthians. O pessoal deles era o melhor. Porém, ao fazermos isso, perdemos a ligação com os santistas. Por fim, a Young-Flu acabou brigando com todas elas e atualmente restam poucas amizades que não valem muita coisa, como a do Guarani e do Paraná. [Risos]


Como eram elaboradas as viagens para outros estados?

Para realizar um deslocamento era necessário ter apoio de um jornal, onde publicávamos um anúncio, e crédito com uma companhia de ônibus. Também era preciso ter pessoas boas ao meu lado para liderarem cada veículo e montarem um bom esquema. Na minha época, passávamos a semana inteira anunciando a viagem no Jornal dos Sports e em outros periódicos. Em virtude disso, recebíamos muitas famílias. Elas são muito importantes! Lamentavelmente, por conta da porcaria da maconha e da cocaína, as perdemos. Outro fator problemático foi desencadeado quando o Eurico Miranda (figura de destaque nos quadros administrativos do Vasco da Gama desde a década de 1960 e presidente do clube entre 2001 e 2008) e o Castor de Andrade (presidente de honra e financiador do Bangu entre as décadas de 1960 e 1990) inventaram essa moda de darem ingressos e custearem parte dos valores dos ônibus. O Eurico, no início, pagava vinte e cinco por cento dos gastos. Depois, passaram a dar o ônibus de graça e o torcedor perdeu a qualidade. O componente passou a convidar o amigo flamenguista para ver o jogo do Fluminense em São Paulo. Esse cara, quando chegava lá, não tinha nada a perder. Arrumava confusão e quem pagava era a torcida como um todo.


Vocês faziam contato com as polícias locais, a fim de serem escoltados?

Sim. Eu tinha força e ligava, por exemplo, para a Secretaria de Segurança em São Paulo exigindo acompanhamento. Eles não tinham como não ceder e sempre mandavam uma escolta da Polícia Militar nos esperar na Rodovia Presidente Dutra (via que liga o Rio de Janeiro a São Paulo). Nós íamos protegidos, contudo sempre havia enfretamento.


No período em que você foi líder, existia disputa dentro da torcida?

Sempre houve rivalidade. No meu tempo era pouca porque eu controlava tudo e exercia poder até sobre a Força-Flu.


Esses conflitos internos estimularam o surgimento de uma série de dissidências no final dos anos 1970, não é?

Exato. Nesse período nasceram a Fluturo, a Copa-Flu, a Influente, a Cachaça-Flu, a Flutaí, a Casca-Flu… Acho que eram dezessete. Depois a maioria desapareceu, porque era demais. Uma crise financeira também contribuiu para isso. Em decorrência desse aumento, a qualidade dos líderes caiu e pessoas que não tinham a menor capacidade assumiram a liderança de torcidas. Hoje, com exceção da Força Jovem do Vasco – a única bem administrada -, todas estão em crise.


Em termos práticos, o que significa uma torcida ser bem administrada?

No caso da Força Jovem, eles conseguem manter o modo de torcer e tudo o que almejam. Conquistaram uma união que as outras não têm. Passam por problemas internos, entretanto logo se ajeitam, pois tem muitos advogados e pessoas de qualidade lá. A Fúria Jovem do Botafogo também parece estar bem gerida. Todas as outras estão uma bagunça.


Confira a terceira parte da entrevista no dia 30/07/2014

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Bernardo Borges Buarque de Hollanda

Professor-pesquisador da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV).
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