Visões do Tri

Depoimentos de jogadores da Seleção no Mundial de 1970

 

Nota Explicativa

Esta série é parte integrante do projeto “Futebol, Memória e Patrimônio”, desenvolvida entre os anos de 2011 e 2012, com o apoio da FAPESP. A pesquisa foi realizada em parceria pelo CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e pelo Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB), equipamento público vinculado ao Museu do Futebol/Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Nesta seção, serão apresentadas as edições de 8 entrevistas concedidas por atletas brasileiros que estiveram presentes na Copa do Mundo de 1970, no México, a nona edição do torneio organizado pela FIFA. São eles: Félix, Carlos Alberto Torres, Marco Antônio, Gérson, Edu, Piazza, Roberto Miranda, Tostão. O propósito dos depoimentos, com base em sua história de vida, método caro à História Oral, foi rememorar as lembranças dos futebolistas acerca de sua participação na competição, de modo a destacar os preparativos para o Mundial, os jogos e a volta ao Brasil.

Local da Entrevista: CPDOC/FGV – Rio de Janeiro, RJ; Entrevistadores: Bernardo Borges Buarque de Hollanda, Bruno Romano Rodrigues e José Alan Dias Carneiro; Data da entrevista: 23 de janeiro de 2012; Transcrição: Roberta Zanatta; Edição: Pedro Zanquetta Junior; Supervisão: Marcos Aarão Reis.

 

Carlos Alberto Torres. Nasceu no dia 17 de julho de 1944, no Rio de Janeiro, e faleceu em 25 de outubro de 2016, na mesma cidade. Iniciou carreira no juvenil do Fluminense, em 1960, aos treze anos de idade. Três anos depois, atuava pela categoria Juniores do tricolor carioca, quando foi convocado para a Seleção brasileira de base. Nesta ocasião, conquistou a medalha de ouro nos IV Jogos Pan-Americanos, em São Paulo. No mesmo ano, fez seu primeiro jogo como profissional. Aos vinte anos de idade, foi chamado pela primeira vez para a Seleção brasileira principal. Com a camisa verde-amarela, disputou cinquenta e seis jogos. Em 1961, transferiu-se para o Santos de Pelé. Logo que chegou, sagrou-se campeão da Taça Brasil e campeão estadual paulista. A partir de 1968, firmou-se como titular da Seleção. Pelo Santos, venceu a Recopa Sul-Americana e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Durante a Copa de 1970, foi o capitão da equipe brasileira, sendo titular em todos os jogos. Marcou o último gol do Brasil na final contra a Itália. Na edição seguinte, foi cortado da Seleção em razão de uma contusão no joelho. Após dez anos no Santos, em 1975, o “capitão do Tri” voltou ao Fluminense. Dois anos mais tarde, transferiu-se para o Flamengo e em seguida para o New York Cosmos, voltando a jogar com Pelé. Em 1982, encerrou a carreira. Tornou-se treinador e teve passagens vitoriosas por Flamengo e Fluminense. Comandou grandes clubes, como o Corinthians, o Botafogo e o Atlético-MG, além de trabalhos no México, na África e no Oriente Médio. Foi eleito vereador no Rio de Janeiro, em 1989. À época da gravação desse depoimento, dava palestras e prestava consultoria esportiva. Em seguida, tornou-se comentarista esportivo do canal SporTV. Faleceu em outubro de 2016. O filho, Alexandre Torres, também foi jogador de futebol.

Carlos Alberto Torres. Foto: Rafael Ribeiro/CBF.

Peço que você comece dizendo a data e o seu local de nascimento.

Sou do tempo em que nascíamos em casa, com parteira. Nasci no dia 17 de julho de 1944, em São Cristóvão, na Rua Sabino Vieira, 23, casa 12. É uma casa de vila. Tem muita gente da minha infância morando lá ainda. De vez em quando, vou visitar o local, dar um abraço na turma. A nossa rua era o término da avenida da vila e um muro a separava da Quinta da Boa Vista. Fizemos um buraco, passávamos por ele e tínhamos muito espaço na Quinta para jogar futebol. Era garotinho, ia e me divertia. Logo depois, quando tinha sete, oito anos, a minha família foi morar em um bairro agora famoso, mas diria com certeza absoluta que sou o pioneiro da Vila da Penha.

Fomos morar no Largo do Bicão, um lugar muito conhecido, e ali comecei a ver as dificuldades da vida. Para ir da Vila da Penha até a cidade, não havia os meios de transporte que se tem hoje. Atualmente, em 40 minutos você sai de qualquer lugar e chega na cidade. Eu ia ao Colégio Municipal Souza Aguiar, na Praça Tiradentes. Às quatro horas da manhã, minha mãe ia guardar um lugar para mim na fila do ônibus, enquanto eu acordava e tomava café, para estar no colégio às sete e meia. Tudo era muito difícil.  Mas, foi uma época muito bacana e aprendi muito. Hoje, a garotada tem muita facilidade: todo mundo tem carro, motorista, chama um taxi pelo telefone [Risos]… É a evolução que a vida teve, mas dou muito valor às dificuldades que enfrentei quando moleque.

E você era filho único?

Não, tinha três irmãos. Dois homens e uma menina. Infelizmente perdi a minha irmã, a mais velha de nós, e depois um irmão faleceu ainda jovem em um acidente de automóvel. E tem o Carlos Roberto, que é meu irmão gêmeo, mas não tem nada a ver comigo. Graças a Deus, somos muito unidos, ele diariamente visita minha casa, é como um secretário, porque viajo muito. Cuida de tudo para mim, mas não jogou bola. Meu irmão que faleceu se chamava Zé Luis e jogava muito bem. Jogou no juvenil do Fluminense e foi quem me levou para treinar no clube em 1960. Depois, arrumou uma namorada e largou o futebol por causa dela. No começo da minha carreira no tricolor, todo mundo me pedia para levá-lo de volta. Quando o havia convencido a voltar a treinar, infelizmente aconteceu o acidente. Era um grande jogador, muito bom.

Seu pai trabalhava em quê?

Meu pai era mecânico da prefeitura, sabia tudo de automóvel. Ele tinha um Chevrolet 40, uma raridade, e todo mês arrumava alguma coisa e desmontava o motor dele. Eu e meus irmãos colocávamos o macacão para ajudar. [Risos] Ele limpava tudo com querosene, gasolina. Depois, ajudávamos a montar tudo de novo. [Risos] Era uma mania dele. Mas confesso: não aprendi nada, sou mecânico nota zero.

Esse carro era de praça, tinha placa vermelha e ajudava no orçamento. Meu pai saía com ele de manhã, tinha expediente na prefeitura até às quatro horas da tarde, depois ia à praça ganhar algum trocado para dar um pouquinho mais de conforto a nós. O suficiente para podermos ir ao cinema. Na Vila da Penha havia um desses chamados de poeira, um cineminha pequenininho, em que íamos uma vez por mês.

E sua mãe trabalhava?

Minha mãe era a típica dona de casa. À medida que o tempo foi passando e a gente crescendo, meus irmãos mais velhos, o Zé Luis e a Marilena, começaram a trabalhar. Eu e o meu irmão éramos os mais novinhos, só estudávamos. Mas, aos 14 anos, começamos a trabalhar também.

E você começou trabalhando com o quê?

Era office boy, levava correspondência para os clientes de um escritório imobiliário. O dono tinha algumas propriedades e terrenos em Queimados, próximo a Nova Iguaçu. Uma vez por mês, eu saía de casa na Vila da Penha e ia até Madureira. Tomava o trem, com 13 para 14 anos, e ia a Queimados. Depois voltava até o centro da cidade na Central do Brasil e dali ia até o Castelo.  Esse último trajeto talvez dê uns seis quilômetros em linha reta. Ia andando e poupava o dinheiro que me davam para pegar o ônibus. Foi difícil, mas muito proveitoso, aprendi a dar valor às coisas.

Os seus avós eram do Rio? Você conheceu eles?

A família da minha mãe é toda do Rio. Não conheci os meus avós paternos, eles eram de Recife, Pernambuco.

E o seu pai tinha dois filhos jogando bola…

A dificuldade em jogar bola era grande. Hoje, famílias de boas condições, de classe média alta, querem que o garoto vá jogar futebol, porque é um grande negócio, mas antigamente não era. As famílias diziam que futebol não dava camisa a ninguém. E não dava mesmo, a não ser que o jogador fosse realmente fora de série, aí ganhava alguma coisa, mas não como hoje.

Por isso, meus pais eram totalmente contrários. O meu irmão, Zé Luis, já estava no Fluminense, foi na marra: – “Ah, vou jogar”. Queria ir também, mas meus pais não deixavam de jeito nenhum. Eu trabalhava de dia, estudava à noite. Às dezessete horas, saía do escritório, no centro do Rio e ia a Olaria, onde estudava das dezenove até às vinte e três horas. Dali, voltava à minha casa. Chegava meia noite, comia um negocinho que minha mãe deixava em cima do fogão. Às cinco horas acordava e ia trabalhar.

Mesmo assim, jogava futebol na Vila da Penha. Tinha muito campinho de várzea, todo mundo que jogava achava que eu deveria tentar a sorte no futebol. Falei: – “Até tento, mas preciso convencer o meu pai e a minha mãe”. Um dia, de tanto as pessoas me incentivarem a procurar um time, o Roberto Alvarenga, ex-supervisor do Fluminense[1] e meu amigo de infância, armou no tricolor para eu ir fazer um teste.

Seu irmão jogava no Fluminense, ele teve participação nisso?

Sim, mas ele não se meteu porque sabia que o pessoal em casa era contra. O Roberto arrumou todo o esquema.

Eu precisava inventar uma desculpa no escritório, pensei: – “Pô, como vou fazer? O cara iria me deixar sair para treinar?”. Doutor Geraldo Albernaz, lembro até hoje. Inventei uma desculpa. Disse que naquele dia precisava sair depois do almoço, pois iria ao hospital visitar uma tia enferma. Ele me liberou e corri para o Fluminense. Estava treinando, eram umas quatro horas da tarde, saiu uma bola pela lateral do lado da social do Fluminense. Havia uma pista de atletismo em volta do campo. Fui pegar a bola, quando levantei a cabeça, quem vejo sentado na social? Meu pai. Alguém me dedurou. [Risos] Na hora, pensei: – “Tô roubado! Estou perdido!”. Mas refleti: – “Ah, deixa eu continuar treinando, depois vejo o que vou fazer.”

Uma desconcentração rápida, não é?

Continuei treinando e me aprovaram. Meu pai quando percebeu que eu o tinha visto, levantou e foi embora. Sai de lá para o colégio pensando: – “Bom, até eu chegar em casa, ele vai esquecer”.

Do colégio, voltei para casa, entrei bem devagarzinho. Todo mundo dormindo. Tomei um banho e dormi. Tínhamos uma mania em casa, era costume de todas as famílias, nas refeições todos sentavam à mesa. Tomávamos café juntos. Deu seis horas da manhã, é hora de despertar. Levantei embaixo de cinto e chinelada. – “Seu vagabundo!” e vapt, vapt. Mesmo apanhando, tomei coragem de enfrentar meus pais. Foi a primeira vez na minha vida. Havia um respeito muito grande em relação à educação dos filhos. Disse: – “Espera aí, vamos conversar”. Na mesa com toda a família, falei: – “Resolvi que quero ser jogador de futebol”. Pela primeira vez, vi meu pai ficar calado e não discutir conosco. Continuei: – “Prometo a vocês não abandonar os estudos”. Este era o grande temor da minha família. – “Não vou parar de estudar”. – “Promete?”. – “Prometo”. – “Então está bom”.

Meu pai foi comigo ao trabalho e falou com o chefe: – “O Carlos Alberto, não vem mais. Nós concordamos que ele treine no juvenil do Fluminense”. Fiz um contrato de gaveta e ganhava no time o mesmo que no escritório. Sendo que, só treinava duas vezes por semana, terças e sextas-feiras, e jogava no domingo. Então, economizava três dias por semana de passagem. Foi um bom negócio.

Tive uma carreira bacana, tudo aconteceu muito rápido.  Isso foi em 1960, eu tinha 15 para 16 anos. Em 1962, era do aspirante e, várias vezes, o Zezé Moreira me escalou na equipe de cima, com apenas dois anos de carreira. Em 1963, já era titular absoluto do Fluminense. No ano seguinte, antes de completar 20 anos, era titular da Seleção Brasileira. Graças a Deus, consegui provar aos meus pais que eles estavam certos em admitir que eu fosse jogar futebol. [Risos]

Qual era o time do seu pai?

Meu pai era torcedor do São Cristóvão. Ele dizia que havia jogado no time, mas não acreditávamos. [Risos] Ele falava: – “Tentei, mas em um jogo deram uma solada, quebrei a perna e parei”. [Risos]

Muitos dizem que antigamente a própria família achava que jogador de futebol era coisa de vagabundo.

Era difícil, não havia os recursos de hoje, essa evolução da publicidade, televisionamento dos jogos, enfim, uma série de coisas que envolvem uma equipe…

Não tinha profissionalização total, à exceção talvez dos grandes jogadores, de um Garrincha, de um Pelé. Fazíamos contrato de dois anos. Neste período, ganhávamos o suficiente para comprar um apartamento, que, quando fosse alugar, daria hoje, no máximo, uns mil reais por mês. Então, assinávamos geralmente seis contratos, dos 20 aos 32 anos, para, pelo menos, encerrar a carreira com um imóvel para morar e cinco alugados.

Agora, imagina um jogador de futebol que, durante aqueles 10, 12 anos tem um nível de vida bom, porque participa de excursões, se concentra em grandes hotéis, come do melhor…. Quando termina, como sobrevive no mesmo nível com o aluguel de cinco apartamentos que rendiam, no máximo, cinco mil reais? Se for comparar com hoje, não havia como. Por isso, havia muita resistência das famílias em deixar seus filhos jogarem futebol. Eu sei, porque passei isso na minha casa. Antes de parar de jogar, o futebol evoluiu de tal forma que o meu filho quis ser jogador e teve todo o meu apoio. Graças a Deus, o Alexandre[2] fez uma carreira legal profissionalmente e financeiramente conseguiu o seu pé de meia.

O seu pai torcia para o São Cristóvão, e você?

Eu era Flamengo quando garoto. Tinha um tio, casado com uma irmã da minha mãe, que era rubro-negro doente e levava eu e o Carlos Roberto quase todo final de semana ao Maracanã. A gente tinha que torcer para o time dele, não é?

E era a época do Dida[3]?

Sim. Por sinal, quando decidi jogar, treinei no Bonsucesso antes de ir ao Fluminense, mas não fiquei. Tentei no Flamengo, porque na Vila da Penha havia um jogador chamado Othon[4], que jogava no rubro-negro, era reserva do Joel[5], muito bom jogador. O pessoal pediu a ele: – “Pô, dá uma força para o Carlinhos treinar lá”. – “Então vai dia tal”. Como ele marcou, compareci. Esperei em frente ao campo e não via o Othon: – “Será que ele chegou e não vi?”. Fiquei na porta esperando. De repente, avisto o Dida, o nosso grande ídolo. Fiquei todo feliz: – “Dida, poxa, sou amigo do Othon, ele está me esperando. O senhor pode pedir para ele vir aqui falar com o Carlinhos?”. O Dida me olhou e foi embora. A maior decepção da minha vida. O cara era o meu ídolo, esfriou aquela admiração por ele. Mas depois veio a se tornar meu amigo. Quando me tornei profissional, passamos a jogar um contra o outro. Às vezes, estávamos juntos na seleção carioca. Eu contava essa história para ele…

Você me desprezou! [Risos] Esse sentimento é porque você dá muita atenção aos fãs, não é?

Isso é normal. Fiquei tão chateado e triste que acabei indo embora. Peguei meu ônibus, não quis esperar, nunca mais voltei a treinar no Flamengo. Então, armaram para eu ir ao Fluminense.

Quando chegou no Fluminense, a sua posição já estava definida?

Quando comecei na Vila da Penha, jogava muito descalço. Aqueles campinhos pequenos. O Roberto Alvarenga formou um clube chamado Ipiranga, uma das grandes equipes amadoras do bairro. Ele fez um time juvenil, um aspirante e um profissional. Comecei no juvenil, ele me colocou na lateral esquerda, depois no meio do campo.

Surgiu uma oportunidade de eu jogar, com 15 anos de idade, no profissional, o Roberto me pôs na lateral direita. Fiquei nessa posição. Isso foi em 1959, mais ou menos, e já jogava como os alas jogam hoje.

Você não era um lateral fixo.

Eu queria jogar: – “Pô, ficar aqui? Não”.

O Zezé Moreira[6], conhecido por ser disciplinador, teve alguma influência no seu modo de jogar?

Nunca nenhum treinador me falou: – “Guarda a posição”. Sempre joguei dessa forma. No juvenil do Fluminense, depois aspirante, profissional, jogava indo e voltando. Talvez por isso, nenhum técnico tenha chamado a minha atenção: – “Ó, fica, não vai”. Tem muito jogador que vai e volta andando, não é? Eu não. Ia e sempre retornava.

Quem era o lateral direito do time profissional quando você chegou no Fluminense?

Era o Jair Marinho. Achei que nunca teria oportunidade de jogar, porque ele era da Seleção Brasileira. Foi campeão do mundo em 1962 no Chile, apesar de ser reserva do Djalma Santos. Mas eu estava bem, evoluindo a cada partida do juvenil, do aspirante, só esperando uma oportunidade. Já se falava nas Laranjeiras, quando subi para o profissional, na venda do Jair Marinho para eu me tornar titular. Infelizmente, num Botafogo e Fluminense, ele quebrou a perna em uma disputa de bola com o Amarildo. Então, me tiraram do juvenil, levaram para o titular e fiquei. Quando ele se recuperou, foi vendido à Portuguesa de Desportos, em São Paulo.

Tinha algum jogador em quem você se espelhava? Havia algum lateral que avançava?

Não, antigamente era muito difícil o jogador avançar. Às vezes, a cada 90 minutos, o lateral subia uma vez ao ataque. Como o Nilton Santos, na Copa do Mundo, que foi à frente em uma partida contra a Áustria e fez um gol. Mas não era normal o lateral jogar fazendo vai e vem.

Djalma Santos também fez isso.

O Djalma era mais de marcação. Era um jogador com uma classe extraordinária, o meu grande ídolo na posição. Marcava bem, tinha muito recurso, se saía bem de situações adversas dentro da partida. Às vezes, pensávamos: – “Pô, vai perder a bola”. Não, ele tinha uma jogada que levantava a bola e saia dessas situações. Mas não era um jogador de muito ataque.

Jogar dessa maneira era um costume desde garoto, porque eu gostava de participar.  Ninguém nunca me pediu: – “Vai e volta”. Comecei jogando dessa maneira e fiz escola, não é?

Sim. Na Copa de 1950, você tem cinco anos de idade. Alguma lembrança?

Não, absolutamente. E eu morava ao lado do Maracanã.  Não tenho lembrança nenhuma, a comunicação não era como hoje.  Em 1958, já tinha o rádio que transmitia. Eu ficava com os meus irmãos ouvindo o jogo e a cada gol a gente pulava. Ali começou realmente essa coisa de querer ser jogador de futebol, o entusiasmo tomou conta.

Em 1962, você lembra da Copa?

Lembro que via os jogos pelo tape, não tinha televisão direta. Eu já era do Fluminense, quase profissional. Participei inclusive de alguns treinamentos da Seleção Brasileira nas Laranjeiras. Eles se concentravam no Cosme Velho, no Hotel das Paineiras. Às vezes, desciam e faziam o treinamento no Fluminense. Se faltasse alguém, eu treinava no lugar. Na equipe reserva, claro, completando a posição da lateral, quando o Djalma Santos ou o Jair não podiam participar.

Alguns jogadores do Santos estavam na Seleção, me viram e indicaram o meu nome. Se o Fluminense tivesse concordado em me liberar, eu seria campeão mundial interclubes. Mas, o tricolor não quis: – “Ah, não. Ficará aqui”. Logo depois, no início de 1965, fui para o Santos.

Como se concretiza a sua transferência para Santos em 1965?

Em 1963, no meu primeiro ano como profissional e titular do Fluminense, não assinei contrato e fiquei jogando como amador, por causa dos jogos pan-americanos em São Paulo. A CBD[7] não permitiu ou pediu ao clube que não me profissionalizasse. Era preciso ser amador para disputar os jogos.

Fui ao Pan-americano. Na mesma época, disputavam um torneio Rio – São Paulo, e eu concentrado com a seleção no Morumbi. Teve uma partida entre Fluminense e Santos no Pacaembu. A CBD me liberou para ir atuar pelo time e foi uma grande partida. Ganhamos de quatro a dois e, modéstia à parte, joguei muito bem. Ali passou a realmente haver um interesse maior do Santos em me contratar. A coisa demorou um ano e pouco até ser concretizada.

Depois daquela partida retornei à concentração. Jogamos o Pan-americano, fomos campeões pela primeira vez e eu já era capitão da seleção. No meio do ano, teve uma excursão da Seleção na Europa. O Brasil perdeu alguns jogos de goleada. O Aymoré Moreira[8] era o técnico e queria me levar. Mas o João Havelange[9] não deixou: – “Não, o Carlos Alberto é mais para frente”. Então, não viajei com a seleção principal.

Então, muito cedo você se tornou capitão de time?

Sempre fui capitão no juvenil e no aspirante do Fluminense. Só não fui na equipe profissional em 1963 e 1964, pois havia outros jogadores mais experientes: Castilho, Altair, Procópio.

No Santos também. Cheguei em 1965, olhava era só ferona: Gilmar, Mauro, Zito, Sandoval, Coutinho, Pelé, Pepe… Não sabia onde olhar. Dava vontade de pedir autógrafo. Um timaço! E o primeiro ano, 1965, foi… Nossa Senhora! Fomos campeões paulista com antecedência, eram pontos corridos, turno e returno. O Santos perdeu apenas dois jogos naquele ano, para o Palmeiras, que também tinha um grande time. No último jogo do primeiro turno, perdemos de um a zero na Vila. No último do campeonato, perdemos de quatro ou cinco no Parque Antártica. O Gilmar não estava inspirado naquele dia, tomava cada gol e ainda ficava rindo. – “Pô, tomou de quatro, cinco”. – “Não, está bom, levamos o campeonato”. [Risos] A minha melhor experiência: ainda muito jovem, jogar naquela equipe do Santos.

E o posto de capitão foi por quê? Por sua liderança?

No juvenil e aspirante do Fluminense, e na seleção pan-americana me escolheram capitão. Sempre tive este modo extrovertido de falar, nunca joguei calado. Em 1967, o Zito, capitão do Santos, abandonou o futebol. A direção do clube, antes de definir quem seria o capitão da equipe, escolheu um jogador para ter este posto em cada partida. Todos nós fomos.

Ia ter uma excursão na África. O Santos ia muito lá por causa do Pelé. Ele havia renovado um contrato com o time, iria ganhar uma quantia por jogo. Mais que merecido, não é? Fazíamos todos aqueles jogos por causa dele. Para pagar a cota extra ao Pelé, a diretoria tinha que diminuir o nosso bicho. Houve chiadeira do pessoal. Era uma coisa assim: ganhávamos 500 dólares, ia diminuir para 300. Todo mundo: – “Ah, não vou”. Ninguém ia. Antes de um treino, às vésperas do embarque, me pediram para negociar com o diretor a posição do grupo: – “Não temos nada contra o Pelé. Mas, se diminuir o que estamos acostumados a ganhar, ninguém viaja”. Tinha 23 anos ainda, imagina, em um grupo como aquele do Santos!

O diretor era o Athiê [10]?

Sim. Afirmei: – “A posição do grupo é esta. Se diminuir o nosso bicho ninguém quer viajar”. Ele respondeu: – “Ah, então fala com o pessoal que depois do treino vou conversar com eles”. Voltei ao campo, avisei a turma

O diretor veio, reuniu todos: – “Olha só, o Carlos Alberto disse que ninguém quer viajar. Quero saber quem não viaja. Quem não vai, levanta o dedo”. Olhei para um lado e para o outro, ninguém levantou, só eu. Mantive meu braço, ele virou para mim e falou: – “Depois do banho, conversa comigo”.

Fiquei pensando: – “Estou roubado, acabei com a minha carreira”. Naquele tempo, existia o passe, se o clube quisesse acabava a carreira do jogador. Refleti: – “O que vou fazer da minha vida?”. Tinha dois filhos pequenos, casei com 21 anos. – “Ai meu Deus, o que será?”. Segui até o vestiário bem devagar, fiz uma massagem de uma hora, tomei banho em mais uma hora: – “Pô, daqui a pouco o homem esquece e vai embora”. [Risos] Coloquei a roupa e fui ver se o diretor ainda permanecia lá. Subi e ele me aguardava. A secretária mandou entrar. Quando andei em direção à mesa, ele levantou, me cumprimentou e falou: – “A partir de hoje, você será o capitão do Santos. E o bicho que vou reduzir para pagar a cota do Pelé, você receberá o integral. Não conte a ninguém”. Não falei mesmo. Passei a ser o capitão e, na excursão, ganhei o bicho. [Risos]. Evidentemente, por capitanear um time daquele, automaticamente levei a braçadeira para a Seleção.

Muitos, inclusive o Djalma Santos, dizem que você merecia ter ido à Copa de 1966. A que você atribui o fato de não terem te chamado? Foi uma questão política?

Também acho que merecia. Pode ter sido. Joguei como titular em praticamente todos os treinamentos e em alguns jogos da Seleção no Brasil. Antes de viajarem para a Europa, eu era o titular. Até que um dia, quando anunciaram os jogadores que viajariam, meu nome não constava. Foi uma surpresa geral, ninguém entendeu. Se você perguntar a algum jornalista daquele período, nenhum encontrará uma coisa razoável para justificar o meu corte.

Vou contar uma coisa que nunca falo: quando me transferi para o Santos em 1965, havia um dirigente do Fluminense ligado à CBD que tentou me convencer a não sair do tricolor.  Minha venda foi a maior transação do futebol brasileiro: 200 milhões de cruzeiros, uma coisa absurda. Este dirigente tentou me convencer a não ir. Falei: – “Eu vou, é a grande oportunidade da minha vida”. Ele: – “Não vai”. Acabei indo. Sabe o que aconteceu depois? Em várias convocações, meu nome não constava, mesmo sendo apontado como o melhor da posição no Brasil. Em 1966, me convocaram porque foram quatro de cada posição. Não havia como justificar a minha ausência. Mas não fui a Copa do Mundo. Pode ter sido um problema político, não é?

Uma espécie de represália pelo fato de você ter optado pelo Santos. Mas isso te gerou uma frustração?

Não. Talvez o fato de eu jogar no Santos tenha, em grande parte, ou totalmente, feito com que não sentisse nenhum tipo de abatimento por não ter ido à Seleção de 1966. Era um grande time. Era melhor do que jogar na Seleção Brasileira. E também, o fato de não terem ganhado a Copa e as pessoas sempre falando o meu nome: – “Por que o Carlos Alberto não foi? Não dá para entender”. Isso foi um consolo muito grande.

Quando você assumiu a titularidade da seleção?

Após a Copa de 1966, passei a ser parte integrante da Seleção Brasileira. Em todas as convocações, a não ser uma vez ou outra, quando estava contundido. Por exemplo, na despedida do Pelé em 1971, não participei. Machuquei na última partida do campeonato carioca, tinha sido emprestado ao Botafogo. Joguei só 10 ou 15 minutos. Uma semana depois, era a apresentação dos jogadores para a despedida do Pelé no Maracanã. Fiquei no banco com o joelho operado.

Mas, na despedida do Pelé em São Paulo, não deu pra ir. Havia retornado a Santos para fazer a recuperação. Em 1974, quando a seleção começou a se preparar para a Copa da Alemanha, me convocaram. Sofri outra contusão e não me recuperei, acabei cortado. Depois, em todas as outras me chamaram.

Você gostava da rotina de concentrar, treinar? Como era viajar tanto?

O Santos viajava muito. A gente mal parava em casa. Às vezes, saíamos de uma partida direto para o aeroporto e viajávamos a algum lugar no mundo. Fazíamos o amistoso e retornávamos para jogar o campeonato paulista. Viajar era conosco. Passávamos mais dias fora do que em casa.

Sua rotina no Fluminense em relação ao Santos mudou muito?

A gente vai acostumando. Sempre fiz questão de deixar claro que eu e poucos jogadores tiveram o privilégio de ter um professor como o Pelé. Ora, ninguém é mais requisitado do que ele. Com toda aquela fama, era o rei do futebol, o que jogava, o prestígio que tinha, e era o cara mais humilde. Pensávamos: – “Por que vou me recusar a viajar, jogar e treinar?”. Não havia como.

O Pelé foi nosso grande professor. Gostaria que muitos jogadores dos dias de hoje tivessem, pelo menos uma vez, a oportunidade de ver o que ele significava, para servir de exemplo na carreira de alguns dos nossos jovens atletas. Ele realmente era o maior exemplo para todos nós.

Era a referência.

Era a nossa grande referência. Ninguém faltava treino, colocava chinelinho, porque o Pelé estava no campo. Com todos os compromissos que ele tinha, nunca faltava. Não dava como desculpa: – “Não vou treinar amanhã porque vou gravar não sei o que”. Aparecia lá na hora do treinamento. Foi o grande espelho da minha vida, profissionalmente falando.

E você jogou com ele no Santos, na Seleção e ainda no Cosmos, não foi?

Sim, no Cosmos também. Joguei com o Pelé durante 12 anos seguidos. Sou um dos poucos que tiveram o privilégio de atuar por tanto tempo ao lado dele.

Era diferente jogar no clube e na Seleção Brasileira? Tinha mais motivação na Seleção?

A Seleção era a motivação maior.  No dia da convocação, ficávamos com o ouvido colado no rádio para ver se falavam o nosso nome. Hoje, os caras não estão nem aí, são avisados pela assessoria deles.

Além do orgulho de servir à Seleção Brasileira, havia o lado da valorização profissional do jogador convocado. Atualmente, os jogadores possuem contratos altíssimos e nem ligam. Para o clube, não quer dizer nada se ele irá à Seleção, acham que ele vale aquilo e acabou.

Todos tinham uma vontade imensa de ser chamado. Quando me tornei titular da Seleção, como Jairzinho, Pelé, Gérson, Didi e Nilton Santos, ficávamos ansiosos para ter o nome na convocação.  Em duas ou três convocações que não estava bem no Santos, meu nome não apareceu e foi uma grande frustração. Hoje, o jogador é chamado pelo que fez na Seleção, não é pelo que ele faz atualmente. Isso é um grande erro. Tomara que daqui a pouco isso acabe.

A partir de 1967, você passa a ser convocado quase sempre.

Sim, bastante. Sempre me chamavam. Não fui uma vez ou outra quando contundi, como em 1971 e 1974. Fui convocado até 1977.

Então, quando foi anunciada a convocação para a Copa de 1970, você já esperava?

Já, era praticamente garantido que seria chamado pela continuidade do trabalho do João Saldanha[11], em 1969.

Essa transição foi um momento turbulento, há divergências sobre a demissão do Saldanha. Qual a sua versão?

Em 1969, a Seleção passava por um momento de total descrédito junto ao país: opinião pública, torcedor, imprensa, ninguém acreditava na Seleção. O João Havelange teve um golpe de mestre: – “Vou chamar quem?”. Nomeou o João Saldanha. Muita inteligência dele, porque a imprensa apoiou de cara. O Saldanha era da mídia, famoso pelas tiradas na rádio, jornal e televisão. O público adorava. Então, ele de cara ganhou todo mundo e chegou anunciando a seleção titular, chamando as feras, os 22 jogadores.

A grande jogada do Saldanha foi escolher a equipe titular que ia jogar as eliminatórias. Ele escolheu seis jogadores do Santos, que era o melhor time. Foi toda a defesa: eu, Djalma Dias, Joel e Rildo. E na frente: Pelé e Edu. O goleiro seria o Cláudio, se ele não tivesse se machucado. Então, colocaram o Félix, grande goleiro da época. De meio campo: Piazza e Gérson. Na frente, ainda tinha Jairzinho e Tostão. Não precisamos de treino para a equipe se ajeitar.

Fomos às eliminatórias e ficamos na história como o primeiro e único time, até hoje, a ganhar todos os jogos de classificação e os da Copa do Mundo.

No ano seguinte às eliminatórias, o Saldanha mudou tudo. Deixou de chamar o Djalma Dias, que para mim era o melhor zagueiro central do Brasil. Não chamou o Rildo, grande marcador, na lateral esquerda. O Joel não era mais titular e o Edu deixou de jogar. E fez outras mudanças. Não havia ninguém com 30 anos. Deixou de chamar alguns e mexeu em toda a equipe. Começou a dizer que o Pelé e o Tostão não podiam jogar juntos. Então, colocou outros, escalou outra Seleção e para conseguir um entrosamento em um time leva tempo, por melhor que seja. Em dois, três meses, como, de repente, fazer uma grande equipe?

Os dias foram passando, os amistosos se sucederam, perdemos do Bangu de um a zero. A imprensa começou a criticar e as pessoas ligadas ao futebol também, o que não foi aceito pelo Saldanha. Como o caso do Yustrich[12], técnico do Flamengo, que o criticou e ele saiu da concentração para ir brigar com o treinador do rubro-negro em São Conrado, na concentração deles, que era perto de onde estávamos.

A sorte é que o Yustrich soube e saiu fora para não criar um atrito maior. O Havelange tomou a decisão de mudar porque todo mundo falava mais dos problemas extra campo do que da Seleção. A CBD tentou convidar o Dino Sani, que não aceitou.  Era para ele ser o técnico.

O Sani era muito amigo do João Saldanha?

Sim. Um dia o Havelange decidiu escolher o técnico. Como na comissão técnica a maioria era do Botafogo – o Chirol[13], o doutor Lídio Toledo[14] –, eles indicaram o nome do Zagallo, que começava a carreira de treinador no Botafogo. Era jovem, não tinha nem 40 anos e era bicampeão carioca com a equipe de amadores. Foi o escolhido como técnico e muito bem aceito pelos jogadores. Era como se fosse um companheiro nosso mais experiente, assumindo o cargo de treinador.

E essa história, ou mito, de que houve uma intervenção política do Médici na saída do Saldanha?

Sinceramente, não acredito. Não lembro que tenha ocorrido isso. A gente convivendo ali, em momento nenhum ouviu nada. Dizem que o governo queria se meter na Seleção, mas nunca vimos ninguém dentro da concentração querendo dar palpite.

Profissionalmente, sabíamos a importância de ganharmos aquela Copa do Mundo. Para o Pelé, Brito, Gérson, Piazza, Tostão e a maioria dos jogadores, era última oportunidade de jogar uma Copa e ganhar. Tínhamos grupo para isso, pelo trabalho planejado e desenvolvido pela comissão técnica, principalmente da preparação física. Estávamos confiantes de que se nós seguíssemos toda a orientação, teríamos tudo para vencer.

É bom lembrar da preparação. Quatro anos antes, o Brasil havia sido surpreendido pelos europeus com o chamado futebol força. Era o power futebol, na base da pancada mesmo, jogavam duro. Quem não lembra daquele cara sem dente da Inglaterra, o Stiles[15], que amedrontava todo mundo na base do pau?

A CBD assimilou isso e o Havelange teve um cuidado muito grande na escolha da comissão técnica, preparadores físicos. Foi a primeira vez que a Seleção levou uma comissão: Chirol, Coutinho, Parreira e Zé Bonetti[16], de supervisor. Fizeram um planejamento e mostraram ao grupo: – “Se vocês seguirem isso em termos de trabalho físico, vão chegar, pelo menos, na final da Copa do Mundo. Temos que estar muito bem preparados fisicamente, primeiro pelo trabalho na altitude e segundo pela maneira como o futebol europeu joga hoje”. Seguimos tudo. Diariamente, fazíamos reuniões com o Chirol, principalmente, com o Cláudio Coutinho, e eles avaliavam a performance de cada um. Aquilo nos incentivou: – “Pô, tá legal, vamos lá!”. E foi o que aconteceu.

Foi realmente um marco essa Copa de 1970.

Quando as coisas se ajustaram, veio o detalhe principal. Para chegarmos na final da Copa do Mundo, analisamos o grupo em que estávamos na primeira fase. E era nada mais nada menos que a Inglaterra, a favorita ao título naquela Copa. Era a campeã mundial e tinha um timaço. Foi feito um trabalho de conscientização com o grupo, de que o jogo da Copa era aquele contra os ingleses. O primeiro colocado naquele grupo, seria Brasil ou Inglaterra, com todo respeito à Tchecoslováquia e Romênia.

O primeiro daquele grupo permaneceria jogando em Guadalajara, praticamente nível do mar. O segundo ia sair da cidade e subir na altitude. Para encarar quem? A Alemanha. E foi o que aconteceu. Ganhamos da Inglaterra, que enfrentou os alemães e foi desclassificada. Então, tudo traçado, não foi de orelhada. O Zagallo, o Chirol e o Coutinho falavam: – “Se ganharmos essa jogo, fatalmente vamos à final. Ganhar é outra coisa, temos que ver quem estará do outro lado. Mas, na final com certeza estaremos”. Tivemos um trabalho muito bem planejado, orientado, mostrando a importância da preparação física, de ser o primeiro, ganhar da Inglaterra.

Fizeram preparação na altitude para depois descer?

Saímos daqui 40 dias antes do início da Copa do Mundo. Ficamos poucos dias em Guadalajara e fomos a Guanajuato, Irapuato, cada uma mais alta que a outra. Quando voltamos a Guadalajara, ficamos ali dez, doze, quinze dias, durante os três primeiros jogos, depois a quarta e a semifinal. Sobrou pulmão. O time estava muito bem.

Houve um trabalho muito bem planejado. Não digo tanto do trabalho técnico, mas do físico, o mais importante para a gente que precisava aguentar aquele rojão de jogar na altitude e de enfrentar o futebol força dos europeus. Deu tudo certo, porque todo mundo pegou firme.

O entrosamento não foi só entre os jogadores, mas também com a comissão técnica.

Tínhamos reuniões todos os dias para trocar ideia, para cada um mostrar ao Zagallo, e à comissão, como se sentia. Era liberdade total no sentido de buscar o melhor para a equipe. Para vários jogadores era a última Copa.

Tínhamos alguns dias de folga na programação da comissão técnica. Jogávamos na quarta e voltávamos à concentração. No dia seguinte, depois do almoço, todo mundo era liberado para sair, até de noite. A maioria não saía: – “Ah, não quero folga, deixa eu descansar aqui, fazer minhas massagens. Vamos ganhar isso que tenho folga o resto da vida para curtir”. [Risos] A mentalidade era essa. Hoje, mudou tudo, não é assim. Quando a gente quer pegar firme, vai e ganha.

Você falou no futebol força, acha que ficou claro na partida contra a Inglaterra? Esta Copa foi marcada por esse tipo de futebol mais agressivo?

Ainda havia um resquício daquilo que vimos em 1966. No jogo da Inglaterra, eles tentaram impor uma maneira de jogar que não concordávamos, chegando mais junto. Em duas oportunidades, o Félix pegou a bola e o Francis Lee[17] chegou chutando, podia evitar, a bola estava mais para o goleiro. Por que o cara chuta a cara do goleiro? Chutou a primeira, na segunda chegamos junto. Lembro de falar: – “Pelé, tem que…”. Ele sabia bater, eu não. Era escandaloso, arriscava ser expulso. O Negão falou assim: – “Pode deixar comigo”. Só que a partida foi reiniciada e a primeira bola sobrou para o Lee dividindo comigo. Pensei: – “Não vou esperar o Pelé”. Fui meio desajeitado, acertei ele na coxa e ficou aquela marca vermelha, porque era muito branco. Na hora, virei a cara: – “Ih, estou expulso”. O juiz, parece que reconhecendo que o cara jogava maldosamente, deu apenas o cartão amarelo. A partir dali, o jogo subiu tecnicamente. Eles tinham um grande time, começaram a jogar só futebol mesmo. Demos muita sorte naquele jogo, porque depois fizemos um a zero…

Teve bola na trave.

Eles colocaram jogadores de dois metros para aproveitar cruzamento. Bola na trave. O Félix fazendo milagre.

Vocês carregaram o estigma das feras do Saldanha, daquele jogo contra o Peru no Maracanã, não foi?

Teve uma briga ali feia, não é?

Sim. A partir dali vocês ganharam esse nome de feras do Saldanha e ficaram mais fortes, com apoio maior.

Foi. Começaram a cobrar das feras: – “Tem que jogar! Cadê as feras?”. [Risos] Mas, a equipe foi encorpando e ganhando. A partir daquele lance meu com o Lee, o jogo ficou bonito, limpo. Não havia muitas faltas. E de grandes lances, memoráveis. Eles tinham jogadores muito bons: Bobby Charlton[18], Bobby Moore[19].

Vocês estudavam esses jogadores antes?

Não. Este trabalho era da comissão técnica, fazia parte do planejamento. Quando começou a Copa do Mundo ficou definido que o Parreira, junto com o Rogério[20] – que seria titular, mas foi cortado e, ao invés de regressar ao Brasil, foi aproveitado como observador – não veriam os jogos do Brasil, só a final, iam ver sempre o nosso próximo adversário. O Parreira fotografava e eles mostravam, um dia antes do jogo, slides com os lances, posicionamento da defesa, posicionamento do ataque. Assistíamos os detalhes, principalmente a parte defensiva, como eles marcavam o posicionamento dos jogadores. Lembro um detalhe da seleção da Itália, o posicionamento da defesa deles quando iam ao ataque. O Parreira foi felicíssimo nas fotografias que trouxe. Digo isso em relação ao gol que fiz, porque o Zagallo mostrou e comentou: – “Quando eles saem para o ataque, a marcação é homem a homem. Se os nossos homens de ataque se movimentarem quando eles estão atacando, pode abrir um espaço para subida do Carlos Alberto. O Jairzinho puxa o Fachetti[21] para o lado esquerdo, o Tostão vai para lá, o Rivelino…”. E foi o que aconteceu.

Veja bem, quarenta e um minutos do segundo tempo, ganhávamos de três a um, vitória mais que garantida, campeões do mundo. Faltando dois minutos, eu atrás descansando, podia ficar esperando a hora passar. A mentalidade do time era altamente ofensiva, senão quando o Tostão tirou a bola do jogador italiano na nossa intermediária e atrasou para o Everaldo. O que ele podia fazer? Recuar a bola para o goleiro e matar uns três minutos ali. Mas, como a equipe jogava para frente, pegaram a bola e foram saindo. Observei, não havia ninguém do meu lado, lembrei da orientação do Zagallo. Fiquei esperando. Quando lançaram a bola na esquerda para o Jairzinho, do Rivelino. Pensei: – “Opa, se a bola cair no Pelé, ela vem para mim”.

Ele deu uma olhada, quando te viu, rolou a bola e deu aquele quiquezinho sob medida.

Arranquei no momento em que o Jairzinho tocou a bola para o Pelé. Cheguei na passada certa, por isso o chute saiu forte. Não precisei ajeitar a passada para chutar. Foi tudo programado, nada de improvisação, que é um forte do jogador brasileiro. Alguns detalhes importantes na campanha foram todos programados. Não éramos robôs, mas sabíamos que poderia acontecer.

A propósito, houve uma invenção tática de posicionamento entre o Clodoaldo e o Gérson? O cabeça de área deveria ser o Clodoaldo?

Sim. Na partida contra o Uruguai. Uma decisão nossa dentro do campo. O Pelé era o nosso diferencial. Toda equipe campeã tem um cara que faz a diferença. Pode ver a história dos campeões de Copa do Mundo. O Pelé era o nosso, mas o cabeça do time era o Gérson. Todas as jogadas, quando vinham de trás, eram do Gérson. Eu mesmo pegava a bola: Gérson. Às vezes, ele voltava para mim, mas a primeira bola era dele.

Os caras ficaram observando, assim como nós fazíamos. O técnico do Uruguai sacou que o Gérson era o nosso… – “Pô, esse cara não pode ter liberdade total. Bota um cara ali perto dele”. Não marcava homem a homem, mas ia um cara perto dele. E o nosso cabeça sentiu dificuldade. Via que o nossa equipe não andava. O Uruguai ainda deu a sorte de fazer aquele gol.

Fez o primeiro gol. O cara errou o chute. O Félix se preparou para um chute forte, o cara errou e…

Matou o Félix! A coisa ficou meio complicada, o time não se acertava. Em determinado momento, o Jairzinho foi atendido pelo Mário Américo[22], o Gérson me chamou: – “Pô, Carlos Alberto, estou sentido dificuldade de jogar porque tem um cara aqui colado comigo”. Tu vê um cara perto do teu companheiro, não se arrisca e passa a bola, principalmente contra uma equipe que joga duro como o Uruguai. Ele continuou: – “Acho que vou trocar de posição com o Clodoaldo, o que tu acha? Ao invés de ficar aqui sendo marcado pelo cara, vou recuar. Se ele continuar perto de mim, eu é que vou marcar ele. E vamos liberar o Clodoaldo”.

O Clodoaldo dificilmente passava do meio de campo. Ele ia até ali, ficava aguardando para cobrir eu ou uma possível subida do Everaldo. Chamei-o e falei da ideia do Gérson: – “Ó, ele está sugerindo isso. Temos que tentar alguma coisa para mudar o jogo. Ele ficará na tua posição. Você troca de posição e sai para o jogo”. Poucos minutos depois, o Clodoaldo fez o gol. Sorte da gente, o Gérson ter sacado essa situação e ele receber aquele passe e marcar.

Sorte e competência.

Empatamos a partida. Foi fundamental para dar moral ao time e prevenir o ataque do Uruguai. Ficou tudo igual de novo, e de igual para igual, eles sabiam da dificuldade que teriam de ganhar da nossa equipe. Intervalo, no túnel do vestiário, o Zagallo veio falar comigo: – “Pô, legal, ideia brilhante. De quem?”. Respondi: – “O Gérson falou comigo”. Tínhamos autorização do treinador. – “Se precisar mudar alguma coisa, não fique esperando”. O Zagallo era muito inteligente também neste aspecto, dava liberdade aos jogadores.

Liberdade de quem também foi jogador, não é?

Claro. Igual àquela posição que o Zagallo jogava. Pelo que sei, nenhum treinador disse para ele jogar daquela maneira. Foi coisa dele. Então, trouxe isso para nós também.

Teve algum quê de vingança 20 anos depois nos uruguaios, tinha alguma rivalidade especial?

Não. A maioria dos jogadores de 1970 não lembrava de ter visto a Copa de 1950. Talvez o Pelé, mas ele tinha nove anos de idade. O Gérson talvez não lembrasse tanto.

Nada fomentado pela imprensa ou pela torcida?

Em 1970, começou essa coisa da torcida começar a acompanhar a Seleção. Não como hoje, mas vários brasileiros foram torcer. Como a nossa concentração ficava numa avenida, não era hotel como hoje. Vários brasileiros iam até lá e começavam a falar: – “Pô, será que vai acontecer como em 1950?”.

Evidentemente, aquilo ia entrando na sua cabeça e na de todo mundo. Acredito que tenha prejudicado um pouco, até o Clodoaldo fazer aquele gol, irmos ao vestiário e o Zagallo chamar todo mundo: – “Vamos lá, vamos lá!”. Ele chamava mesmo. Tanto que o time voltou tranquilo no segundo tempo. O gol veio no momento certo. A presença dos brasileiros na concentração falando muito de 1950 trazia um temor em todo mundo. Isso, em parte, prejudicou psicologicamente o nosso grupo.

Você falou da torcida. Teve um fenômeno que foi a adesão impressionante da torcida mexicana em prol dos brasileiros. Foi uma surpresa? 

Não. Naquela época, havia três times que iam jogar muitas vezes no México: Santos, Botafogo e Cruzeiro. Já tínhamos por parte deles um carinho todo especial, então não foi novidade.

Logicamente, com as atuações da seleção e a eliminação do México, eles passaram a torcer por nós, sabíamos que poderia acontecer. Pela proximidade do Brasil, em termos de povo e de admiração deles pelo futebol que nossos times jogavam. Fatalmente eles viriam para o nosso lado.

Dessas seis partidas, o que mais te emocionou ou te marcou?

Evidentemente, não poderia falar outra coisa que não fosse o jogo final. Na realidade, o que marca a participação de um jogador na Copa do Mundo é a vitória. Se tem uma grande equipe e não ganha, o que marca é a derrota. No meu caso, o fato de ter feito aquele gol e, logo depois, como capitão, receber a taça Jules Rimet. Aliás, a partir daquele momento, ela viria em definitivo para o futebol brasileiro. A grande diferença entre o modelo da Jules Rimet e o atual da Copa Fifa é que, antes, você jogava para ganhar um troféu de posse definitiva. Hoje, sabe que o troféu jamais será definitivamente de alguma federação. No máximo, ganha uma réplica.

Inicialmente era para quem ganhasse três vezes seguidas, depois modificaram.

Sabíamos que, ganhando aquela Copa do Mundo, a taça era nossa definitivamente. A Fifa poderia rever a decisão de fazer o rodízio, para que, se alguém ganhar três vezes, definitivamente fique de posse dessa taça e façam outra. Isso motiva o jogador. – “Vou ver uma taça, e aí? Depois ser obrigado a devolver”. Não, o sentimento é diferente de jogar para ganhar uma coisa que será tua definitivamente.

Após aquele término de partida, as imagens são muito impressionantes. A torcida invadiu e praticamente deixou os jogadores de cueca.

Foi uma reação da torcida mexicana que, para nós brasileiros, não era novidade. Aqui se fazia e lá também, era normal a torcida invadir. Antes mesmo de terminar, já estavam invadindo, o juiz pediu: – “Não, ainda não acabou o jogo”.

Você fugiu?

Não, nós ficamos ali. Não tinha como fugir, eles cercaram o campo.

O Tostão saiu só de cueca.

É. E o Rivelino de maiô. Foi realmente uma manifestação dos mexicanos que impressionou muito. A receptividade, a alegria que víamos neles pela vitória da Seleção Brasileira, foi muito legal, bacana. É um negócio que marca, não dá para esquecer.

E o gesto de você beijar e erguer a taça em um estádio asteca imenso.

Foi uma coisa instintiva. O fato de receber a taça já é uma alegria, uma emoção que não dá para falar o que sinto. Junta tudo de bacana, de emocionante; impossível descrever. E sabendo que naquele momento você está representando seu país, não é individual, recebe em nome de um país, do grupo, dos jogadores, não só dos que participaram, mas de todos os outros. A conquista da Copa do Mundo valoriza não só os jogadores que participaram, valoriza todo mundo, o país é campeão do mundo.

Quando o presidente do México me deu a taça, achei bonita, nunca tinha visto, tive vontade de beijá-la. Uma coisa pioneira também. O Bellini[23] foi o primeiro a erguer, falou que tava pesada, era pesadinha mesmo. Então, ele ergueu. A vontade que me deu de beijar o troféu virou moda. Agora, todo mundo recebe e beija antes de erguer.

No teu caso, foi espontâneo.

Nunca pensei naquela coisa. Eu só, claro, falei antes da partida: – “Pô, se ganhar vou ter que erguer a taça”. É o que todo capitão faz. Mas beijar, decidi ali na hora. Quis que todos os companheiros compartilhassem da alegria, levei a taça para todos, todo mundo beijando ela também. Foi legal. Fomos ao vestiário. Depois demos a volta olímpica, que não era muito normal na Copa do Mundo.

O estádio cheio, ninguém foi embora.

Na recepção na embaixada, antes de viajarmos de volta ao Brasil, a taça teve um lugar de destaque: um banco só para ela. E um assento no avião. A chegada no Brasil, cada vez mais é uma loucura. Fica todo mundo ligado, ganhou uma proporção grande cada vitória da Seleção Brasileira, virou uma festa.

Acho que em termos de sentimento, nada é comparável à Seleção de 1970.

Tinha a situação que o país vivia. A vitória naquele momento ganhou uma importância muito maior. Foi como um alívio do povo. A própria taça ser definitivamente de posse do futebol brasileiro. Juntou tudo e foi um momento de alegria muito grande. Nós jogadores temos ciência da alegria que demos ao povo brasileiro numa época tão difícil. A gente acha que contribuiu de alguma forma, de uma maneira positiva.

Uma derrota não sei como seria. Mas, graças a Deus, deu tudo certo e as pessoas deixaram um pouco de lado aquela coisa da política, da dureza do regime para comemorar. Conheço várias pessoas que participaram mais ativamente, politicamente, daquele momento. Eles até dizem: – “Pô, estava não sei aonde, mas acompanhando e torcendo”. Isso é bacana.

Até os presos políticos davam graças porque tinham a “hora do recreio”, como eles chamavam.  Enquanto os algozes viam o jogo, eles não estavam apanhando.

Então! Isso nos dá uma noção de que contribuímos com uma fatia grande desse momento da vida pública do Brasil.

Depois, voltar a jogar em clube, você ficou no Santos até 1974. Ficou muito frustrado por não ter ido a Copa nesse ano? 

É a vida que segue. Me convocaram em 1974, só não fui à Copa porque me machuquei e não consegui me recuperar. Mas gostaria, lógico! Antes, ir à Seleção Brasileira era primordial, pela valorização que tinha. Hoje, não. Para alguns jogadores tanto faz ser convocado ou não, o valor dele fica inalterado.

Após este momento, quando jogava no Cosmos em 1978, você via possibilidade de representar o Brasil na Copa? 

Não, por causa da idade.  Em 1978, estava com 34 anos. Era muito difícil convocar jogador com essa idade na Seleção. Até hoje há resistência de colocar. Então, fiquei feliz de ter sido escolhido pelo Cosmos, em um momento crucial do futebol nos Estados Unidos, fiz o meu nome lá. Graças a Deus, tenho um prestígio intacto naquele país. Sou embaixador do Cosmos, ainda trabalho para eles.

Carlos Alberto, queria ouvir sua opinião a respeito das expectativas para 2014, pelo fato de o Brasil ser não apenas país sede, como a grande expectativa em torno dessa Copa. Há muita polêmica em torno da organização. Como você está vendo tudo isso?

Organização em campo também, não é? [Risos] Olha, talvez se consiga reverter o quadro que se vê. Muitas pessoas não acreditam que os estádios vão ficar prontos. O Brasil teve uma oportunidade de se situar como uma grande nação em termos de organização. Quer organizar uma Copa do Mundo? Então, vamos fazer direito, começar logo! Quando a Fifa deu ao nosso país o direito de sediar? Faz quatro ou cinco anos…

Em cinco anos, a gente poderia estar com quase tudo preparado, caminhando para realmente fazer a Copa das Copas. Não será. Talvez ela se destaque pela paixão do brasileiro pelo futebol e a proximidade de povos latinos. Por outro lado, pelo aspecto de organização, em relação aos estádios e estruturas que a Fifa exige, perdemos a oportunidade de ser um espelho para o mundo todo.

Estou reticente, espero para ver. Não vou dizer: – “Não, dá tempo. Tem estádio que não ficará pronto”. Se o governo assumiu a responsabilidade, pode segurar essa barra e fazer uma boa Copa. Só não sei se será belíssima.

Em relação à equipe, peço a Deus que esteja errado, mas não acredito nesta Seleção para ganhar a Copa do Mundo, mesmo jogando no Brasil. Pois ninguém faz uma seleção vencedora de uma hora para outra. Sempre tem alguma coisa que vem lá de trás, preparando, ganhado experiência, jogando um Mundial, perdendo no próximo… A história mostra que, pelo menos 90% dos times campeões, foram formados uma Copa antes. E o Brasil está fazendo um time agora. Se ninguém consegue fazer uma equipe de futebol que os jogadores no dia a dia estão juntos, o que se falar de uma Seleção que está saindo de uma geração para outra. Temos dificuldades enormes, com uma ou duas exceções, como o Neymar, que ainda precisa provar que pode ser o diferencial numa Copa do Mundo.

A Seleção para mim é um ponto de interrogação. Com futebol nós precisamos ser práticos: ou é ou não é. Nesse momento, infelizmente, o Brasil não tem time. De repente, as coisas mudam. Como, não sei. [Risos] Você vê a história da Copa de 1970? Três meses antes, ninguém achava que o Brasil ia ser campeão do mundo com o Pelé. De qualquer maneira, precisamos torcer para tudo dar certo.


[1] Roberto Alvarenga foi supervisor do Fluminense entre 1959 e 1999.

[2] Carlos Alexandre Torres, mais conhecido como Alexandre Torres, atuou como zagueiro entre 1985 e 2001. Durante sua carreira defendeu o Fluminense, o Vasco da Gama e o Nagoya Campus Eight do Japão.

[3]Edivaldo Alves de Santa Rosa, meio-campista que atuou no Flamengo entre 1954 e 1964. Foi campeão da Copa do Mundo de 1958.

[4] Othon Alberto da Cunha, atacante do Flamengo de 1958 a 1962.

[5]Joel Antônio Martins, ponta direita do Flamengo entre 1951-1958 e 1961-1963.

[6]Alfredo Moreira Júnior, mais conhecido como Zezé Moreira, foi atacante e técnico. Era irmão de Aymoré Moreira e de Ayrton Moreira, também treinadores. Comandou a equipe do Fluminense entre 1951-1954, 1958-1962 e em 1973.

[7] Confederação Brasileira de Desportos.

[8] Treinador da seleção brasileira em 1953, 1961-1963, 1965, 1967 e 1968.

[9] Presidente da Confederação Brasileira de Desportos entre 1956 e 1974.

[10] Athiê Jorge Coury, presidente do Santos entre 1945 e 1971.

[11]João Alves Jobin Saldanha foi jornalista e treinador de futebol. Atuou como técnico da Seleção brasileira entre 1969 e 1970.

[12] Dorival Knipel, mais conhecido por Yustrich, foi goleiro em diversos clubes cariocas e ficou famoso como um técnico exigente e de temperamento explosivo. Havia comandado a Seleção brasileira em 1968 e, entre 1970-1971, treinou o Flamengo.

[13] Admildo de Abreu Chirol, preparador físico da Seleção brasileira em 1970, 1974, 1978 e 1993.  

[14] Lídio Toledo, médico da Seleção brasileira nas Copas do Mundo de 1970, 1974, 1978, 1990, 1994 e 1998.

[15] Norbert Peter Stiles, mais conhecido como Nobby Stiles. Meia defensivo que defendeu a seleção inglesa entre 1965 e 1970.

[16] Cláudio Coutinho, Carlos Alberto Parreira e José Bonetti.

[17] Francis Henry Lee, atacante da seleção inglesa.

[18] Meio-campista e atacante da seleção inglesa.

[19] Zagueiro inglês.

[20] Rogério Hetmanek, ponta-direita que atuava pelo Botafogo em 1970.

[21]Giacinto Facchetti, lateral-esquerdo italiano.

[22] Massagista da seleção brasileira nas Copas do Mundo de 1954-1974.

[23] Hilderaldo Luiz Bellini, capitão da Seleção brasileira na Copa do Mundo de 1958.

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Bernardo Borges Buarque de Hollanda

Professor-pesquisador da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV).

Daniela Alfonsi

Antropóloga, Diretora Técnica do Museu do Futebol e doutoranda pela USP. Trabalha com e pesquisa sobre os museus esportivos.
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