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Emily Lima (parte 4)

Equipe Ludopédio 29 de março de 2018

É com grande satisfação que o Ludopédio publica a entrevista realizada em parceria com o Museu do Futebol com Emily Lima, ex-técnica da Seleção Brasileira de Futebol Feminino. No mês de março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher, nada mais simbólico do que a narrativa da história de vida dessa notável profissional e sua luta em defesa da representatividade feminina no campo esportivo. Acompanhe conosco a entrevista realizada na casa dela no final do ano passado.

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Emily conta como era a sua rotina na CBF. Foto: Max Rocha.

Quais são suas referências de técnicos e técnicas em sua vida?

Eu gosto muito do Felipão, sempre gostei, desde 1991, 92, 93. Depois nas Copas do Mundo, é claro. Tudo o que ele fazia com a equipe era incrível! O que aconteceu na última Copa é algo que a gente tem que esquecer. Não deixou de ser bom de um dia para o outro. O grupo de atletas influencia muito em todos os resultados do futebol, não é só o treinador. Ahhh, o Tite em 2012, 13 e 14. Eu sou são-paulina, mas assistia ao Corinthians jogar, porque eu gostava da forma como o time jogava, por conta do que o Tite também fazia. Isso no masculino. Aí, tem Mourinho e Guardiola, que são referências mesmo. Leio muito sobre eles.

Das mulheres, eu gosto muito da Pia Sundhage, que foi atleta da Suécia, foi treinadora da seleção americana e hoje é da sueca de novo. E gosto da Silvia Neid, que foi treinadora campeã da Olimpíada de 2016, mas já tinha sido antes treinadora da Alemanha, já foi campeã mundial também e hoje está como coordenadora da seleção alemã. Então, isso é bastante interessante. E a ex-atleta Steffi Jones, a qual foi preparada por eles para assumir como treinadora da seleção alemã. Então, é um trabalho totalmente diferente do que a gente tem no Brasil. Essas são as minhas referências de treinadores.

Você chegou a conviver com o Tite na seleção. Já que o admira tanto, você teve algum contato com ele? Você o procurou, ele a procurou?

A gente tinha contatos diários, porque trabalhávamos no mesmo setor. A sala dele era a cinquenta metros da minha, nem isso. Nós almoçávamos juntos quase todos os dias. Eu não almoçava todos os dias, mas sempre que ia almoçar a gente se encontrava. Tinha muito mais contato com o Edu Gaspar do que com ele, mas o pouco contato que tinha a gente trocava algumas palavras. A gente sabe que ele é um cara muito restrito. Ele ficava lá na sala dele estudando, analisando jogos. E a gente também na nossa sala. Conversava muito mais com o Cleber Xavier do que com o próprio Tite. Conversava muito mais com o Fernando Lázaro, que é o analista de desempenho, e com o Matheus Bachi, filho dele, e com mais um analista de desempenho que nos ajudou demais. Demais mesmo! Em relação ao processo novo que eles estavam fazendo dentro da CBF. Cheguei ao Edu e falei: “A gente quer seguir uma linha que é muito parecida com a de vocês. O que vocês têm para nos ajudar?”. Então, foi uma troca de informação que, para toda a nossa comissão, levaremos para a vida toda, porque é um trabalho diferenciado de tudo. Esse era o nosso contato. Um cara muito educado, sempre cumprimentava, conversava, perguntava: “Precisando de alguma coisa, nossas portas estão abertas. Vamos trocar ideias.”.

Você sentiu que essa prontidão por parte do Tite foi genuíno?

Foi, foi, foi. Foi porque a gente entendeu que eles viam que nós queríamos trabalhar, mas com pouco apoio. Então, eles queriam se prontificar a ajudar, mas tinha um limite porque nós tínhamos um coordenador. E eles iam até o limite deles. “Emily, agora você tem o seu coordenador.”. Aí que é onde parava o trabalho, aí que as coisas não andavam… Mas a gente conseguiu colocar em prática o nosso trabalho. Foram dez meses, mas pelo menos dentro do escritório, dentro da CBF, a gente conseguiu mudar muita coisa, muitos dados que não existiam, nada sobre a modalidade. Fizemos um levantamento Brasil que não tinha dentro da CBF. Dentro do campo, a gente conseguiu colocar tudo em prática. Tudo, tudo, tudo! E os resultados dentro de campo estavam acontecendo. Claro que o resultado que fica lá no placar eletrônico é o complicado, né?! Esse é o único que eles olham. Porque não é fácil você vim de um trabalho, de uma metodologia, chegar em outra e as coisas acontecerem de uma hora para outra. Cada uma vem de um país diferente, de uma cultura de jogar diferente, uma de muita força, outra de muita técnica. Então, não é tão simples assim. Mas a gente conseguiu trabalhar. Foi muito importante nossa passagem lá, porque abriu. Mesmo ele – até ele – querendo fechar muitas portas para mim, muitas portas se abriram porque já o conhecem e me conhecem também. Então, isso é o mais importante. É o reconhecimento que foi feito de trabalho.

Pensando nisso, desdobrando sua resposta, a gente queria te perguntar sobre apoio, não nos referimos só a apoio institucional. Você recebeu manifestações, demonstrações de apoio? Teve alguém que você esperava poder contar e não apareceu nas horas mais difíceis na seleção?

Vocês sabiam que a vida ensina a gente a fazer e não esperar o retorno. Eu não preciso fazer e sair falando que fiz, mas eu já ajudei e ajudo muitas pessoas, muitas atletas, muitas pessoas que vêm me pedir porque têm um projeto e precisam disso, daquilo. A gente sempre ajuda quando pode… Então, não esperava que alguém tomasse a frente. Eu quero que elas e eles tomem a frente pela modalidade, não por mim nem pela seleção brasileira! Porque a seleção vai caminhar naturalmente se a nossa modalidade no país estiver caminhando. Isso é o que eu acredito, é o que vejo em todos os países.

A seleção espanhola melhorou porque a liga melhorou. A liga americana é uma das melhores, mas o que elas fazem? Elas levam as melhores de fora lá para dentro: as melhores brasileiras, as melhores alemãs, as melhores canadenses, as melhores holandesas… Eles levam lá para dentro. Se a liga estiver bem competitiva, a seleção vai caminhar naturalmente. A Alemanha é a mesma coisa. É uma das melhores ligas que têm no futebol feminino.

Assim, eu torço e quero que elas tomem a frente para a melhora da modalidade no país, mesmo elas estando fora do país, ganhando o que estão ganhando. Eu não sei o que elas querem para a vida delas, se querem ser treinadores, preparadoras físicas, gestoras. Provavelmente, elas vão querer trabalhar no Brasil, algumas vão querer mudar isso aqui. Porque tem como mudar.

Então, o que fizeram surpreendeu eu e toda a comissão. Porque nós fizemos um trabalho simples. Valorizamos todas as atletas, não só uma. Que eu sentia muito isso ali dentro, a responsabilidade em cima de uma só e sobre as demais estava tudo certo. Quer dizer, nós quisemos passar essa responsabilidade para todas. Todas eram iguais. A seleção brasileira era a seleção brasileira, não era a seleção da fulana ou da sicrana. Acho que a gente conseguiu ganhar o grupo nisso, no tratamento com elas. A gente não precisava puxar saco de ninguém, a gente tratava todo mundo igual. E acho que elas se sentiram um pouco mais valorizadas porque a gente conseguiu algumas coisas tão bizarras, como nome na camisa. “Emily, sempre foi uma briga colocar o nome na camisa!”. Olha que coisa bizarra. Mas isso fazia com que elas se sentissem bem. Elas já ganham pouco, já tem uma diária que – hoje não sei – para sair da China e ir jogar na seleção é porque você precisava gostar muito de vestir a camisa…

É um narrador da Band… Téo José, em 2015, depois do mundial. Procura na internet. O Téo bate no Marco Aurélio falando que não teve resultado e por que a continuação do trabalho. Aí ele fala: “A gente precisa ter o desenvolvimento, a gente precisa trabalhar. Vocês da imprensa só olham resultado, a gente está olhando o desenvolvimento do trabalho do Vadão.”. Assim, ele cai em contradição a todo momento. E esse grupo de trabalho das meninas está pegando exatamente essas falas dele. Entendeu? Todas essas falas elas estão pegando, porque toda hora ele cai em contradição no que fala.

Quando você saiu da seleção para o São José, você contou que quando chegou com sua proposta, sua equipe, foi uma fase difícil de transição, já que estava acostumada com uma forma de trabalhar e as meninas, com outra. Queríamos pensar se isso também aconteceu na seleção brasileira. Por mais que tivesse um respaldo de um grupo muito grande de fora que apoia a modalidade, pensando que era muito importante ter uma mulher ocupando esse cargo de ponta que é ser técnica de uma seleção principal, você também sentiu isso das atletas que já vinham sendo convocadas? Quando se pensa a seleção, as pessoas acham que é um grupo harmônico, mas a gente sabe que não é. Tem as panelinhas, tem gente chegando pela primeira vez. Como foi sua chegada, de fato, no grupo?

Eu me lembro como se fosse hoje de nossa primeira reunião, de nossa primeira convocação para o torneio internacional de 2016. Para o torneio, não foram convocadas Cristiane e Marta. Estava a Formiga, que foi até a despedida dela, e estavam as demais atletas. E eu deixei muito claro ali que iria jogar quem estivesse bem, independente do nome. Muitas pessoas me questionaram por que a Cristiane e a Marta não estavam lá. A gente não podia ficar dependente disso. Eu via uma dependência muito grande delas e via uma insegurança de algumas atletas quando elas estavam. Assim, é muito complicado você fazer a gestão de tudo isso.

E somos nós, da comissão, que temos que fazer. Então, o primeiro contato foi deixar muito claro o que nós estávamos fazendo lá, que nós íamos trabalhar, que nós íamos cobrar, que elas atletas profissionais, que elas atletas da seleção brasileira e que o tratamento ia ser igual tanto para a Marta, vamos dizer assim, quanto para aquela atleta que estava sendo convocada pela primeira vez. A gente deixou isso muito claro e seguimos isso durante dez meses. Incomodou algumas, que a gente sabe e a gente sente quem incomodou, mas a gente ganhou o grupo, que é muito mais interessante. É muito melhor você ter o grupo do que uma, duas, três, quatro, porque isso você consegue administrar. Ou até excluir, para que não crie um atrito dentro do grupo.

Eu senti que elas foram entendendo que “ou é ou não é”. Quer dizer: “Vem pra cá porque a gente precisa ir. Vem pra cá porque eles não vão mudar. Eles falaram isso e vai ser isso em todas as convocações.”. Então, a gente foi muito taxativo: “em todas as convocações”. Elas entenderam que “ou a gente treina e vai fazer o sério mesmo, trabalhar duro, ou a gente vai continuar chegando e perdendo, chegando e perdendo…”. Nós ganhamos as meninas nesse sentido.

Assim, eu não tenho o que falar das atletas, do grupo em si. Se tinha antes, eu não sei. Na verdade, a gente acaba sabendo, mas, se tinha antes, isso não me interessa. Mas o tempo que nós ficamos ali… Na segunda convocação, as coisas já estavam muito diferentes. Na terceira, muito mais. Na quarta, muito mais. Assim, as coisas foram acontecendo. Elas foram entendendo, elas foram melhorando, elas foram atingindo as metas que a gente colocou ali dentro, de percentual de gordura, dos testes que a gente fazia. Se não atingisse nossas metas, elas iam tomar um “cartão amarelo” e depois um “vermelho”. Enfim, a gente colocou algumas metas ali dentro, porque não adianta ter atletas gordas e jogar contra os Estados Unidos, cujas atletas têm um percentual de 11%, são todas fortes, todas monstruosas. A gente vai levar duas pessoas nas costas enquanto elas vão correr de boa. Quer dizer, elas foram andando junto com a gente.

Tanto que, no final de tudo, elas fizeram uma carta, a tal carta que eu fiquei sabendo depois que o presidente a recebeu. Das 26 atletas, 24 assinaram a carta para que a gente permanecesse no trabalho à frente da seleção. Algumas delas declararam que havia muitos anos não se via uma comissão técnica tão preparada à frente da seleção como a nossa. Tudo isso foi me preocupando cada vez mais, porque eu amo futebol feminino, eu torço demais para a seleção brasileira e eu ouço isso delas, então alguma coisa está errada. É igual a uma empresa. Se você entra em uma empresa e tem uma linha de produção em que as pessoas que estavam antes produziam mais do que agora, então você quer que essas aqui saiam e venham as que produzem mais. Só que eles acabaram trazendo o que produz menos para elas, vamos dizer assim.

Eu não sei e não conheço o trabalho deles. A gente só ouve dizer… Volto a dizer: isso só fortaleceu para que a gente trabalhasse mais, cada dia mais, cada vez mais. E esse foi o grande problema do nosso coordenador, do Marco Aurélio Cunha, porque a gente trabalhava demais. Eu ouvi muitas vezes isso dele: “Poxa, Emily, você trabalha demais! Relaxa mais.”. Não consigo. Se eu estou em um período de nove dias, que era o da convocação, e só tenho esses nove dias com elas, a gente precisa trabalhar. Lógico, dentro de uma realidade que a parte da fisiologia passa para nós:

— A gente tem que treinar no máximo uma hora e vinte com período de descanso, água, palestras, tal.

— Ok. Se é para trabalhar assim, vamos. Nós temos GPS, frequencímetro, o tempo a todo o momento.

Então, se ele disser que nós trabalhávamos além da conta, é mentira, porque os dados estão aí, e nós temos todos os dados. Nossos treinos davam mais ou menos quarenta, cinquenta minutos. No total, dava uma hora e vinte. Estava tudo dentro do planejado, dentro do que é a realidade do futebol. Só que a gente queria bater um papo com elas depois da janta, mostrar um jogo que nós tivemos com a seleção americana, japonesa, sei lá o quê. A gente queria mostrar os pontos fortes, os pontos fracos. Esse é o nosso dever ali dentro. Não é chegar depois da janta e passear para cassino, ir para o bar tomar uma “gelada”. A gente não queria isso! E a gente sabe que isso acontecia e que vai voltar a acontecer. Isso deixa a gente muito triste, porque fizemos tudo correto, trabalhamos do jeito que acreditávamos que tinha que ser e isso acabou sendo taxado por “errado”. Mas vou continuar trabalhando dessa forma, porque eu acredito que assim a gente pode chegar a algum lugar. Isso é o que eu acredito.

Além da carta, com a sua saída aconteceu um episódio muito importante, que é a renúncia dessas jogadoras que têm um status, que são reconhecidas internacionalmente, que são conhecidas na mídia devido ao futebol feminino ter crescido muito nos últimos anos. O que foi esse momento para você?

Eu acredito que não foi por conta da minha demissão. Mesmo porque acho que eu e toda a comissão não merecíamos isso. A gente tem muito que aprender ainda, muito que mostrar para a modalidade. Eu acho que a gota d’água para elas foi, por mais uma vez, elas pedirem algo para o presidente, e eles virarem as costas. Sempre foi assim! A fala da Cristiane foi: “Durante dezessete anos, a gente sempre pediu e vocês viraram as costas. E agora a gente manda uma carta para o senhor, e o senhor mais uma vez vira as costas para um pedido nosso.”. Acho que isso foi a gota d’água para elas. “Cansei!”. Algumas que já tinham trabalhado com essa comissão atual, que era a mesma antes da nossa, falaram que não queriam mais viver o que viveram. Então, cada uma tem o seu por que, mas eu acredito que foi por conta de mais uma vez eles virarem as costas e não ouvirem o que elas podiam relatar sobre a gente. De um lado, uma pessoa, que é o coordenador, falou de nós; de outro, 24 atletas viam a diferença do trabalho em si. Ele ouviu uma pessoa, que é o olho dele ali dentro. E que não é só o olho, né?! Pode ser muitas outras coisas que a gente não sabe. Então, é complicado, é bastante difícil.

Emily Lima - Ludopédio-24
Emily Lima e seu campo de futebol. Foto: Max Rocha.

Você acha que essas atletas acabam se tornando reféns dessas convocações ou dessa relação em que “se você reclamar, não é convocada”, “se você se expor e falar mais do que deve, também deixa de ser convocada”, “você sempre tem uma substituta”, porque a seleção é diferente de um clube?

Sim! Isso já aconteceu na seleção brasileira. Nós tivemos a Bagé que foi capitã da seleção, foi capitã muito tempo do São José, e saiu num Panamericano, numa Olimpíada ou num mundial, não me lembro exatamente, uma placa. E nunca mais foi convocada. Então, elas se sentem, sim, reféns… É um erro, porque a seleção americana tem tudo o que tem porque elas são unidas. Tudo que elas conseguiram e conquistaram foi juntas. E isso foi uma fala minha em minha última convocação lá na Austrália, que elas precisavam em qualquer decisão estarem juntas, porque elas só iriam conseguir juntas. E as americanas fazem isto: “Nós não vamos ser convocadas, nós não vamos nos apresentar se não acontecer isso, isso e isso.”. Assim, aí é que está a grande diferença.

Aí acontece isso, um grupo lá, o outro aqui fora agora. A gente teve que ouvir do coordenador que essas que estão fora agora já não iam mais ser convocadas mesmo. Menosprezou porque não gosta da modalidade, não tem um pingo de respeito, não tem um pingo de respeito pela história de cada uma dentro do futebol feminino. E está tudo muito cômodo, porque ele tem o respaldo do presidente e de toda a cúpula da CBF. Então, para ele é muito fácil.

Mas eu não as culpo. Eu acho que é uma vitrine. Elas sabem que precisam estar na seleção, que o objetivo não é jogar no Brasil, é jogar fora. Assim, acho que elas têm de pensar nelas infelizmente. Mais pra frente quem sabe, quando todas tiverem uma cabeça um pouco melhor, elas se juntam e falam: “Agora a gente precisa pôr um ponto final nisso.”.

Como faz para ter uma cabeça melhor, sendo convocada, tendo que pensar na carreira individualmente e também pensar como mulher coletivamente, uma vez que você precisa de um engajamento feminista? Existe algum projeto dentro dessa esfera da seleção ou dos próprios clubes que de alguma forma ajudam essas mulheres a se tornarem mais empoderadas, mais fortes, mais conscientes de sua história?

Não, infelizmente não… Com a Sandra, a coaching, a gente estava tentando mostrar para elas que a seleção era um processo de todo um trabalho que elas vinham fazendo durante a carreira, que é um objetivo de todas elas, mas que aquilo não era o tudo. A Sandra fez um trabalho muito bacana, muito interessante, que muita gente não dá valor, porque acha que coaching não dá resultado nenhum. Dá, sim! Muitas atletas que tiveram problema fora da seleção a Sandra atendeu sem receber nenhum centavo. Atletas da seleção ela atendeu. Porque é diferente quem gosta da modalidade, quem ama a modalidade, e quem está ali por status. Há uma diferença muito grande. Então, a Sandra acabou contribuindo, sim, com algumas atletas até fora da seleção, que foram os casos da Fabi, Thaís Picarte, Rosana, Maurine… Muitas atletas entravam em contato com ela quando tinham algum problema, e estava lá a Sandra pronta para ouvir, para esclarecer tudo. O que a gente poderia fazer? Ir para os Estados Unidos, entender o que elas fazem e falar: “Agora nós vamos fazer aqui.”.

O técnico João Saldanha, quando foi perguntado se tinha ficado surpreso ao ser demitido do comando da seleção, disse: “Não. Fiquei surpreso de ter sido escolhido para ser técnico.”. Você acha que isso cabe para você também?

Cabe, mas tem uma história um pouco triste nisso. Porque você começa a entender as coisas. Eu fiquei contente com a contratação… Até hoje não sei se fiquei triste com a demissão, ou contente, porque não sei se estava no lugar certo, não. Mas nesse meio tempo, eu fui a cobaia do momento. Então, a FIFA obrigou. A ideia deles era: “Vamos trazer, mostrar para a FIFA que nós a trouxemos, vamos mostrar para eles que não deu certo e a gente volta de novo com o que estava.”. Assim, é triste.

E outra coisa: no mundo do futebol, a gente conhece muita gente. Eu conhecia muita gente dentro da CBF que ninguém sabia. Ninguém precisava saber. Essas pessoas traziam as coisas para mim. Dentro das comissões técnicas anteriores, tinha amigos e amigas minhas. Ouviram muita coisa e, depois que fui demitida, me trouxeram tudo. Então, você vai começando a entender tudo. Já estava tudo muito articulado para a entrada da cobaia, o “Ah, é o momento!”, e a saída. Mas a CBF não sabe o bem que ela me fez, porque, querendo ou não, é um currículo. Eu consegui junto com a comissão mostrar o nosso trabalho, inclusive para as atletas. Assim, foi muito mais positivo para mim do que negativo.

Você citou um jogo inesquecível em que você jogou, mas fale de a que você assistiu?

Mas este que falei não é o meu marcante ainda. O que marcou para mim foi na seleção sub-17, um jogo amistoso contra a Holanda. Foi a primeira seleção sub-17 que teve, em 1997. Esse foi meu jogo marcante, particularmente… Foi marcante porque eu não ia ser convocada, mas de última hora fui, e fui titular, e joguei bem. Chamou a atenção de todo mundo. Então, foi um jogo que me marcou pelas dificuldades. Eu acabei superando e jogando bem. Porque para mim era o mais importante. Quando digo “jogar bem” não é individualmente, é jogar bem para a equipe. Isso para mim foi o jogo que mais me marcou.

Agora, a um jogo que assisti… Ahhh, lembrei! Final da Euro, Portugal e França. Esse foi marcante. Me marcou muito pela saída do Cristiano Ronaldo, e ele ficar ali fora torcendo, e estar junto com o grupo. Aquilo me marcou demais. A gente fez uma puta festa aqui! Isso foi marcante… E, olha, estamos ansiosos para ver Portugal jogar na Copa, hein?!

Você tem mais ansiedade para ver a seleção portuguesa ou a brasileira?

Não, a brasileira é a brasileira. É o meu país, eu nasci aqui e tudo mais. Mas a seleção portuguesa me dá muito mais… Eu falei e já me arrepiei! Ela me dá muito mais tesão de assistir, de ver. Eu não sei se é porque eu era muito ligada ao meu pai e eu trago isso dele. Então, a seleção portuguesa me dá isso. A seleção brasileira é aquilo de torcer mesmo e que a gente sabe que a qualquer momento vai ganhar. A portuguesa é de torcer mesmo e falar: “Vamos!”. É isso.

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