Visões do Tri

Depoimentos de jogadores da Seleção no Mundial de 1970

 

Nota Explicativa

Esta série é parte integrante do projeto “Futebol, Memória e Patrimônio”, desenvolvida entre os anos de 2011 e 2012, com o apoio da FAPESP. A pesquisa foi realizada em parceria pelo CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e pelo Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB), equipamento público vinculado ao Museu do Futebol/Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Nesta seção, serão apresentadas as edições de 8 entrevistas concedidas por atletas brasileiros que estiveram presentes na Copa do Mundo de 1970, no México, a nona edição do torneio organizado pela FIFA. São eles: Félix, Carlos Alberto Torres, Marco Antônio, Gérson, Piazza, Edu, Roberto Miranda e Tostão. O propósito dos depoimentos, com base em sua história de vida, método caro à História Oral, foi rememorar as lembranças dos futebolistas acerca de sua participação na competição, de modo a destacar os preparativos para o Mundial, os jogos e a volta ao Brasil.

Local da Entrevista: Residência do entrevistado, Belo Horizonte; Entrevistadores: Bernardo Borges Buarque de Hollanda e Bruna Gottardo; Data da Entrevita: 25 de Outubro de 2012; Transcrição: Letícia Cristina Fonseca Destro; Edição: Alexandre Massi; Supervisão de Edição: Marcos Aarão Reis.

Tostão. Foto: Bob Wolfenson/Digulgação.

Eduardo Gonçalves de Andrade (Tostão). Nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, no dia 25 de janeiro de 1947. Na infância, viveu no conjunto habitacional do IAPI (Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários), na capital mineira, onde costumava jogar bola com os colegas. Por ser sempre o menor jogador entre os meninos, ganhou o apelido de Tostão. Aos treze anos, passou a jogar futebol de salão no Cruzeiro e aos quinze iniciou no futebol de campo no América-MG. No ano seguinte, assinou contrato com o Cruzeiro, equipe pela qual atuaria até 1972. Na equipe alvi-anil, formou o famoso tripé com Dirceu Lopes e Wilson Piazza. No Cruzeiro, atuou em 373 jogos e marcou 249 gols, sendo campeão brasileiro em 1966 e pentacampeão mineiro. Esteve sempre presente nas convocações para a Seleção Mineira e, posteriormente, para o selecionado nacional. Participou da Copa de 1966, na Inglaterra, e da Copa de 1970, no México. Sagrou-se campeão na segunda oportunidade. Foram 65 jogos na Seleção, com a marca de 36 gols. Encerrou prematuramente a carreira aos vinte seis anos, quando jogava pelo Vasco da Gama. Antes da Copa de 1970, havia passado por uma cirurgia nos EUA para corrigir um descolamento de retina. Anos depois, o problema retornou e Tostão foi obrigado a abandonar o futebol. Após sua aposentadoria dos gramados, voltou a se dedicar aos estudos e ingressou no curso de Medicina na Universidade Federal de Minas Gerais, formando-se em 1981. Concluída a graduação, tornou-se professor universitário. Atualmente, aposentado na Medicina, dedica-se à crônica esportiva, no jornal Folha de S. Paulo.

Tostão após a entrevista.

Tostão, boa tarde. Por favor, fale um pouco sobre a infância.

Nasci em 25 de janeiro de 1947, em Belo Horizonte. Aos dois anos, fui morar no IAPI, conjunto habitacional no bairro de Lagoinha. São 999 apartamentos interligados por pontes, com vários campos no centro. Foi nesse ambiente, de liberdade total às crianças, que comecei a gostar de futebol. Sou o caçula de quatro irmãos. Os outros três trabalhavam, ajudando meus pais a terem uma renda melhor. Assim, fui protegido emocional e materialmente. Podia estudar e brincar. Instruídos, conscientes e responsáveis, eles foram importantes na minha formação.

Neste lugar que surgiu o seu apelido?

Justamente. Tostão, além de ser o menor valor da moeda, faz referência ao meu tamanho. Segundo um dos meus irmãos, eu, todo pequenininho, sempre aparecia acompanhado de pessoas mais velhas.

O que seus pais faziam?

Minha mãe trabalhava em casa e nos Correios. Muitas vezes, sem ter com quem me deixar, ela me levava junto. Até ajudava carregando as máquinas de selar cartas. Meu pai era bancário.

Ele que te fez gostar de futebol?

Sim. Na fase amadora, atuou no América Mineiro. Ele me levava às partidas e treinos do time desde os sete anos. Depois, ainda ia ao Café Pérola, no centro de Belo Horizonte, discutir com a turma. Nessa idade eu já atuava em campos profissionais, uniformizado. Todo domingo, às 11 horas, rolava um contra. Diziam que eu levava jeito. E o meu pai, quase patrono da equipe, comprava e distribuía bananas no intervalo.

Qual era o nome do time?

Industriários. Uma referência ao nosso condomínio (Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários). Fizemos sucesso na cidade. Chegamos a ganhar do infantil do Atlético. Saí carregado de campo, tamanha a festa.

Quando o senhor chega ao Cruzeiro e em que momento passa a se dedicar exclusivamente ao futebol?

Morei no bairro de Lagoinha até os 12 anos, quando fomos para outro conjunto habitacional de bancários. Passei a jogar futebol de salão no Cruzeiro. Na época, o meu ideal de vida era me formar. Via o esporte como diversão. Aos 16, enquanto cursava o primeiro ano do científico, assinei o meu primeiro contrato profissional. Ainda assim pensava em ser engenheiro, médico… Não sabia ao certo. Precisei tomar uma decisão ao fim do terceiro ano colegial, às vésperas do vestibular. Aí parei de estudar, pois já atuava pela Seleção brasileira. Ao todo, tive uma carreira de dez anos. Tanto é que depois retomei o sonho de adolescente e virei médico.

Seus pais apoiaram a decisão?

Eles achavam que seria uma loucura não me dedicar ao futebol. Eu já integrava a Seleção brasileira, ganhava um salário muito bom e poderia ir ao Mundial de 1966.

Mas o senhor tinha em mente retomar os estudos depois?

Sabia que o futebol seria uma carreira curta. Só que isso, normalmente, ocorre por volta dos 35 anos. Se eu tivesse parado nessa idade, certamente não teria ânimo de encarar uma faculdade. Então, a aposentadoria precoce teve um lado positivo. Pude recomeçar a minha vida. Quando larguei o esporte, houve muita curiosidade sobre a minha postura a partir daquele momento. Abandonei o mundo da bola. Não por raiva ou desgosto, mas porque queria ter uma vida comum, ao lado da família e dos amigos. As pessoas não compreenderam isso. Fiquei um bom tempo ser assistir às partidas, me envolvi profundamente com a medicina. Modéstia à parte, eu fui ótimo doutor.

Falando agora da trajetória futebolística, a sua afirmação ocorre num momento especial: inauguração do Mineirão, agigantamento do público frequentador do estádio e entrada do Cruzeiro no cenário das rivalidades.

Comecei em 1963 e ainda atuávamos no Independência. O clube gozava de menos prestígio que América e Atlético. A chegada do Mineirão, em 1965, provocou uma transformação. Neste período, coincidentemente, surgiram vários jovens talentos: eu, Dirceu Lopes, Piazza, Zé Carlos[1], Natal[2]… E o Cruzeiro adquire prestígio nacional ao derrotar a melhor equipe do mundo, o Santos. Isso ajudou a formar uma enorme torcida. Hoje, existe uma discussão em Minas Gerais sobre quem tem o maior número de seguidores. Em Belo Horizonte, não tenho dúvida que é o Atlético. 

Em que momento o senhor encontra a sua posição em campo?

Quando menino, atuei mais recuado. Depois é que me adiantei. Gostava de fazer gol (risos). No Cruzeiro, fui um meia-avançado que dava passes e fazia muitos gols. Quer dizer, possuía as duas qualidades. As pessoas mais jovens, que assistem aos teipes de partidas da Seleção de 1970, acham que fui centroavante por me posicionar à frente do Pelé. Na verdade, nunca fiz isso no Cruzeiro. Ali foi uma adaptação, pois não havia como tomar o lugar do Rei. Para não ser reserva, me encaixei num setor diferente.

O senhor preferia falar ou ficava mais calado dentro das quatro linhas?

Gostava de discutir. No Cruzeiro, eu e o Piazza fomos os técnicos em campo. Ele falava até demais. Não me esqueço, por exemplo, que o Dirceu Lopes era fenomenal com a bola nos pés. Porém, não observava o jogo. Podia ter qualidades individuais fabulosas, maiores do que as minhas, mas não enxergava a partida. No fim, formei com o Piazza uma dupla de coordenadores e deixamos o Dirceu à vontade para fazer as maravilhas dele. 

A primeira chance Sa seleção brasileira te surpreendeu?

Eu imaginava, mas não deixa de ser um acontecimento. Fui convocado logo de cara para a Copa do Mundo de 1966. Só que havia a discussão: “Quem será o representante mineiro: Tostão ou Dirceu Lopes?” Quase todos atuavam no Rio ou em São Paulo. Os que não pertenciam aos dois estados foram chamados por questão política, um agrado aos estados. No fim, eu e o Alcindo, único do Rio Grande do Sul, fomos bem durante a preparação e conquistamos um lugar. A façanha de chegar à Seleção num quadro com Pelé, Garrincha e a turma toda de 1958 e 1962, pode ser vista também de outra forma.

A presença de vários atletas experientes pode nos ajudar a explicar o fracasso no Mundial. Tirando o Rei, ninguém deveria ter participado de outra Copa. Todos decadentes. Pior: caímos numa chave fortíssima, com Portugal e Hungria. Na volta ao país, ainda que tenhamos falhado, organizaram uma festa em Minas como se eu tivesse sido o herói brasileiro. Não sabia se ficava alegre ou triste com tantas homenagens.

Havia uma expectativa de entrar nos confrontos?

Estava na reserva do Pelé. Quando ele se machucou, entrei. Fiz até gol na Hungria. Depois, diante de Portugal, ele voltou. Cheguei a ter esperança de atuarmos juntos ali, mas não aconteceu. Ocupar o mesmo espaço do campo que ele foi um problema ao longo da minha trajetória.

Apesar da mudança de técnico após o Mundial de 1966, o senhor seguiu sendo convocado?

Sempre. E entrava de titular quando o Pelé não tinha condições. O auge técnico veio em 1969, nas eliminatórias. Não me esqueço do primeiro dia do João Saldanha na Seleção. Ele perguntou se eu estava com algum problema. Respondi que o único era as pessoas acharem que não podia atuar ao lado do Pelé. Aí ele disse: “A partir de hoje, você é titular absoluto. Pode ir mal quantas vezes quiser.” Comunicou à imprensa e falou que não aceitaria perguntas sobre o tema. O prestígio dado me fortaleceu emocionalmente.

E o senhor passou a ser uma das feras do Saldanha…

E fizemos parte do maior público da história do Maracanã: Brasil e Paraguai, válido pelas eliminatórias. Eles calcularam mais de 200 mil pessoas no estádio e um número menor de pagantes[3]. 

Como foi o momento da mudança de treinador?

Vi a minha posição ameaçada novamente. O Zagallo fez o oposto do Saldanha, disse que eu seria reserva do Pelé por ocupar o mesmo setor de campo e convocou dois centroavantes. Chamou o Roberto Miranda, do Botafogo, e o Dario, do Atlético Mineiro. Ainda me recuperava da operação no olho quando ele deu essa declaração, o que achei até bom. Sabia que eles teriam chances, mas estava confiante de pegar o lugar deles. Foi o que aconteceu. 

Explique o que ocorreu na sua vista.

Setembro de 1969, Cruzeiro e Corinthians. Campo encharcado e o Ditão[4] chutou aquela bola pesada no meu olho direito. Tive deslocamento de retina e fui operado nos Estados Unidos. Fiquei seis meses sem fazer nada. O Saldanha, exagerado, logo falou aos repórteres: “O único que está escalado na Copa é o Tostão. Ele terá o tempo que quiser de recuperação.” Acho que essa admiração vinha do meu comportamento, das nossas conversas. Ele tinha um lado culto, politizado. Havia uma identificação recíproca.

O que o senhor fazia durante esse longo tempo ausente?

Ficava lendo, já que pelo menos um olho funcionava, e em repouso. As restrições diminuíram gradativamente. Foi um período de incertezas. Para piorar, uns dez dias antes da Copa, o Zagallo repetiu o discurso de que utilizaria um centroavante entre os titulares. Mudou de ideia apenas durante um treino contra uma equipe mexicana, quando me saí muito bem. Agora, a situação não ficou tão tranquila assim. Dias depois, ainda apareci com uma hemorragia no olho.

Fala-se muito do futebol-arte praticado em 1970. Contudo, hoje em dia, a gente tem consciência de que a preparação física permitiu que a habilidade do grupo pudesse aflorar.

Isso é o mais interessante. O nosso futebol era visto como diversão, show e exibição. Naquele período, só se falava da objetividade do futebol europeu. Foi nesse momento que o Nelson Rodrigues, contrário à teoria, chamou os jornalistas de “idiotas da objetividade”. Então, se organizaram atividades na altitude. Algo extremamente moderno na época. Além de ganharmos, mostramos um futebol coletivo. O mundo ficou extasiado. O Pasolini, cineasta, escreveu que “o Brasil juntou a poesia e a prosa.” Foi uma revolução.

O apoio da torcida mexicana os surpreendeu?

Na minha opinião, sim. A vida mexicana é muito identificada com a brasileira. O tipo de cidade e a postura coletiva. O que emperra nosso crescimento também atrapalha a evolução do México. Eles nos adotaram. Tanto é que sempre procuraram imitar o nosso estilo e têm nos vencido frequentemente.

Qual confronto, fora a decisão contra a Itália, que ainda está gravado na sua cabeça?

Acho que não fui tão bem quanto no Cruzeiro por dois motivos: atuei fora de posição e convivia com o problema na vista. O preparo físico implementado também não era o meu modelo. O que me orgulho é ter sido decisivo nas duas vezes que o Brasil correu riscos. Diante do Uruguai, fiz dois dos melhores passes da minha vida. Contra a Inglaterra, construí o lance da vitória. Fui protagonista nos momentos de maiores riscos, mas fiquei aquém na média.

Para se proteger do sucesso e da fama, o senhor adotava um estilo mais fechado, arredio. Sob esta ótica, descreva a preparação na véspera da final. 

Em toda a carreira, sempre fiquei tenso antes das partidas. Não dormia bem, pensava no confronto por vir. Até certo ponto, a ansiedade é benéfica. Naqueles dias, conversei bastante com o Piazza. Sociável, ele ajudava a controlar o nervosismo. No café da manhã que precedeu a decisão, também tivemos as palavras do Darío: “Quero comunicar uma coisa importante: sonhei que fiz três gols. Podem me escalar que eu garanto.” (risos) Descontraiu o ambiente, sendo que nem ficou na reserva. Mesmo assim, todos estavam nervosos. 

Vocês analisavam os adversários?

O Parreira, então auxiliar da preparação física, acompanhou a Itália e nos passou as informações. Ele gostava dessas coisas desde novinho. Lembro que fez uma preleção e exibiu uma sequência de fotografias tiradas na semifinal contra a Alemanha. Algo absurdo se compararmos aos dias de hoje. Vimos que os italianos atuavam numa linha de quatro, mais o líbero. E me posicionei perto deste último, esperando a marcação. Acabei me sacrificando individualmente, mas deu certo. Nos gols do Brasil, ele deveria fazer a cobertura dos zagueiros e não conseguiu por estar me marcando.

Imagino a festa depois da vitória…

Em campo, quase fiquei pelado. Mais um pouco e vinha alguém tirar a minha sunga. Isso me deixou apavorado. À noite, houve uma festa fechada. Acabou que achei um cara que me levou de volta ao hotel. Fiquei quietinho lá, abri uma cerveja e chorei sozinho. Depois, falei por telefone com algumas pessoas.

De quebra, ainda lançaram o filme “Tostão, a fera de ouro”.

Isso foi antes, em 1969. Tanto é que na passagem final aparece: “Continua na Copa”, algo assim. O Paulo Laender e o Ricardo Gomes Leite, dois cineastas mineiros de prestígio, dirigiram o documentário. Eles me acompanharam durante seis meses. Ficou bem feito. O ponto alto é a música do Milton Nascimento, que virou sucesso independentemente do filme: “Brasil está vazio na tarde de domingo…”[5]

E a volta ao Cruzeiro após a conquista do campeonato mundial?

Aí veio o meu lado final. Até 1972, atuei normalmente. No ano seguinte, os problemas no olho voltaram e precisei ir de novo aos Estados Unidos. Fora isso, o Cruzeiro montou um time ruim. Acabei vendido ao Vasco. O que precipitou a minha saída foi a chegada do técnico Yustrich[6], um sujeito bruto. O contrataram para colocar todos na linha, pois a constatação era de que o elenco estava desinteressado. Fiquei ofendido e deixei o clube. O Vasco, que era uma bagunça total, ainda reuniu vários especialistas para me examinar e ver se a visão estava boa. Todos avalizaram. De repente, a retina voltou a se descolar. Nova cirurgia em terras americanas e a proibição de entrar em campo. Abandonei o futebol em 1973, aos 26 anos.

O Vasco fez uma grande festa na sua chegada…

Não tive condições de jogar o que eu queria e o que eles esperavam. Dessa vez, o problema foi diferente. Além do risco de boladas ou cotoveladas, passei a ter um déficit importante de visão. Mesmo que fosse doido de seguir, não teria a mesma qualidade. Perdi muito da visão do olho esquerdo. Mataria a bola de canela, por exemplo.

O senhor ficou angustiado por causa da aposentadoria precoce?

No primeiro dia longe da profissão, telefonei ao cursinho para voltar a estudar. Comecei a pensar rapidamente em seguir outra carreira, ter uma vida nova. Só pensava nisso. A ideia de ter outra profissão cresceu dentro de mim de maneira avassaladora. 

E quando ocorre a reaproximação com o futebol?

Antes disso, acho que vale fazer um adendo. Quando me dediquei à medicina, além da questão prática, precisava eliminar o futebol para me identificar com a nova vida. Havia também o desejo de ser um cidadão comum. Até hoje faço questão disso. A partir dos anos 1990, voltei a ter gosto de assistir às partidas. Meu filho também adorava, íamos ao estádio e passei a me interessar mais. Paralelamente, a medicina me frustrou. Trabalhava em período integral na faculdade, atendia os alunos. Mas era uma ineficácia total, uma pobreza em termos de recursos. Em 1994, houve o convite de acompanhar a Copa nos Estados Unidos. Tirei férias e me envolvi emocionalmente com aquilo. As pessoas gostaram dos meus comentários, passaram a me convidar para os programas. Só que a televisão me angustiava e peguei gosto pela escrita. Por isso que virei colunista e estou aí até hoje.

Dizem que um dos pré-requisitos para o novo escritor é ser também um bom leitor. Esse gosto sempre te acompanhou?

Tive fases de gostar mais. Atualmente, leio menos por causa do trabalho de escrever. Acabo ocupando o tempo todo. Nunca tive a pretensão de ser intelectual. Como o meio é muito simples do ponto de vista cultural e eu tinha um nível diferente, criou-se uma lenda de que sou uma pessoa intelectual, culta. Estudei psicanálise, mas sou médio neste aspecto.

Existe um método para elaborar as crônicas?

Escrevo duas vezes por semana. Às vezes, fico dividido entre o factual e o não factual. Com o mundo multimídia de hoje, o acontecimento de domingo acaba tão sugado que ninguém quer mais saber daquilo na quarta-feira. Então, tento fazer algo mais reflexivo. De vez em quando, não acho nada interessante, descubro na hora, começo a escrever e faço associações na cabeça. Noto que são as melhores, pois não premeditei. Estou numa fase de me achar repetitivo. Na hora de fazer uma coisa, gosto de abordar os meus conceitos – muitas vezes já falados. Mas o assunto volta e preciso retomá-lo. E ainda tem o problema do tamanho, o espaço reduzido. Então, fico nesse jogo.


[1] O meio-campista José Carlos Bernardo defendeu o Cruzeiro entre 1964 e 1977. Depois, ajudou o Guarani a conquistar o Campeonato Brasileiro de 1978.

[2] Ponta direita do Cruzeiro entre 1964 e 1971, Natal de Carvalho Baroni também atuou por Corinthians, América-MG, Bahia e Vitória.

[3] Brasil 1 x 0 Paraguai (31/08/1969). Pelé foi o autor do gol. Confronto teve 183.341 pagantes

[4] Geraldo de Freitas, o Ditão, foi símbolo da raça corintiana nos anos 1960. Antes, o zagueiro passou por Portuguesa e Juventus.

[5] Tostão se refere a “Aqui é o país do futebol”, composição de Wilson Simonal, regravada por Milton Nascimento.

[6] Dorival Knipel foi goleiro de Vasco e Flamengo nas décadas de 1930 e 1940.  Nos anos 1950, deu início à carreira de treinador.

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Bernardo Borges Buarque de Hollanda

Professor-pesquisador da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV).

Daniela Alfonsi

Antropóloga, Diretora Técnica do Museu do Futebol e doutoranda pela USP. Trabalha com e pesquisa sobre os museus esportivos.
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