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Victor Andrade de Melo (parte 4)

Equipe Ludopédio 28 de abril de 2017

Professor em Educação e em História Comparada/Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e também professor em Estudos do Lazer da Universidade Federal de Minas Gerais, Victor Melo tem se dedicados aos estudos do esporte e das práticas corporais em diferentes áreas: História, Educação Física, Lazer, Educação. Autor de uma vasta produção bibliográfica, com diversos livros e artigos dedicados à temática esportiva, atualmente é coordenador do Sport: Laboratório de História do Esporte e do Lazer e membro do Laboratório de Estudos da Educação do Corpo (Labec/UFRJ).

Foto: Sérgio Giglio
Victor Andrade de Melo. Foto: Sérgio Settani Giglio.

Quarta parte

No Simpósio “Balanço dos Jogos Olímpicos no Brasil”, você disse que era importante construir uma pauta ibero-americana da história dos esportes. O que você pensa mais detalhadamente sobre isso, sobre essas conexões parcialmente estabelecidas?

Isso tem a ver com esse movimento de internacionalização. Eu não tenho dúvida de que a gente tem que internacionalizar e tudo mais, mas a gente não pode aceitar essa centralidade do inglês, “dar de barato” nisso. Essa coisa que dizem: “Não tem jeito, é assim mesmo.”. Não tem jeito, é assim mesmo o quê? É divino? Não, estamos falando de processos históricos. Gosto muito do texto do Renato Ortiz chamado “As Ciências Sociais e o inglês”, que depois virou livro. No texto, ele aponta as falsas verdades que estão por trás dessa ideia de que o inglês é a língua universal. Ele diz: “Não tem razões linguísticas para isso, as razões são políticas e econômicas, e as Ciências Sociais não pode tolerar esse tipo de coisa barato.”. Essa é a motivação, uma tentativa de fugir dessas armadilhas.

Que isso é uma armadilha impressionante! O cara é dono da revista e dono do indexador. Os governos adotam esses indexadores privados e compram as bases desse cara. E essa pessoa faz as bases dele com um artigo que pegou de graça. Quer dizer, ele pega meu artigo de graça, vende este artigo e as bases para o governo. Aí o governo tem que pagar por todas as bases, sendo que ele já pagou a minha pesquisa para enviar. Não é isso? Então, isso é um grande negócio, negócio da China! Ao mesmo tempo, é absolutamente perverso do ponto de vista da difusão de conhecimento. Por trás disso, tem hierarquizações do mundo social, algo que em um texto que eu gosto, do português João Pina Cabral, está dito assim: “O insuportável é ver os estrangeiros achando que a gente é sempre aprendiz, mesmo quando o cara é bem mais jovem do que eu e não tem a trajetória de pesquisa que eu tenho.”. É um pouco isso.

Eu frequento com tranquilidade eventos internacionais, mas sempre acho que a gente tem que manter uma ideia de soberania, de autonomia. A História do Esporte que a gente faz neste país não deixa nada a desejar para nenhuma História do Esporte no mundo. Eu tenho certeza que estamos entre as melhores histórias do esporte do mundo. Agora, se os caras não leem nossos trabalhos, isso não é problema meu. É um problema da ausência, da incapacidade linguística deles. Geralmente, os anglofalantes são os mais monoglotas, porque eles só veem eles mesmos. Eu leio os trabalhos deles, mas eles não podem me ler os meus. Então, acho que a gente tem que encontrar alternativas para escapar desse negócio.

Uma alternativa que me parece plausível é pensar em cenários ibero-americanos, cenários latino-americanos com Portugal e Espanha, que também estão bastante alijados desse processo. A gente tem uma série de pontos em comum na história, por uma relação colonizado-colonizador, pela língua, o português e o espanhol são idiomas próximos que podem frequentar tranquilamente o mesmo espaço de influência. Nós não deveríamos ter governos entreguistas, como esses que ficam referendando – mesmo um governo democrático-popular, como o Partido dos Trabalhadores, que simplesmente referendou esse processo de “autocolonização”. O que a gente vive na ciência é isto: um processo de “autocolonização”, em que as pessoas acham isso mesmo, que todo mundo tem que saber inglês. Que história é essa? Que maluquice é essa? Então, eu acho que a gente tinha que organizar um campo acadêmico alternativo, com os nossos parâmetros, com os nossos colegas que circulam nessa região do mundo e que têm alguns pontos em comum. É lógico que uma ideia de comunidade ibero-americana é mais uma ideia de devir do que de ser. Quer dizer, não existe uma identidade ibero-americana. O que a gente pode pensar é, estrategicamente, possibilidades de organização para fazer frente ao poder do inglês no cenário científico internacional.

Além do mais, eu acho que a gente ganha pra caramba com as comparações entre nós, da América do Sul, por proximidade históricas. E devemos entender melhor essa relação nós-eles, Brasil com Portugal, e ex-colônias espanholas com Espanha. Na verdade, mais nós com Portugal, porque sempre mantivemos uma relação intensa com o antigo colonizador, enquanto nossos vizinhos romperam com a Espanha.

Nesse sentido, você acha que daria para pensar em uma teoria que surgiria dessa pauta?

Não sei… O que dá para fazer é apontar os limites das teorias europeias, centrais. Eu acho que a gente embarca muito fácil nos grandes teóricos europeus, especialmente o Elias e mesmo o Bourdieu, e não percebe que os conceitos deles não dão conta da experiência latino-americana. É um pouco na linha do pessoal dos estudos culturais, tal como apontam o Barbero e o Canclini: a ideia de que a gente precisa de conceitos específicos para entender o caso latino-americano e o caso africano. Os europeus podem ser até interessantes como provocação inicial, mas não passam disso. Esse amor pelo Elias me incomoda profundamente. Como a gente pode embarcar numa teoria tão eurocêntrica como aquela? Peremptoriamente, eu quero afirmar que aquilo não dá conta dos nossos casos. E isso fica claro quando alguns colegas querem utilizar o Elias de forma brutal e fazem com que os dados tenham que se encaixar naquela teoria, só que os dados estão mostrando que não se encaixa. A empiria está dizendo assim: “Não dá! Não dá para pensar isso aqui.”. Com a tese do Elias, não dá para pensar nem a Europa do Sul, mal da para pensar uma parte da Europa do Norte. Dizendo isso, eu não estou diminuindo o Elias, eu só quero dizer que a gente não pode embarcar nesses referenciais teóricos dessa maneira. A gente precisa fazer as traduções para nossa trajetória e cenário específicos. Então, eu não sei se a gente consegue fazer uma teoria, mas conseguimos contestar essas teorias que vêm do centro se tivermos uma mirada ibero-americana, latino-americana, sul-americana. Isso torna os nossos estudos mais ricos, pois paramos de querer fazer nossos dados caberem nesses autores. Os dados não cabem em seus conceitos, estes apenas são inspiradores, só isso.

Por outro lado, você acha que os pesquisadores ibero-americanos estão interessados em nossa produção, ou eles estão com essa preocupação de olhar só para o contexto europeu, para a produção em língua inglesa? Você acha que existe também essa dupla-face do processo? Pois não adianta a gente querer se eles não querem dialogar conosco.

Eu acho que todo mundo está um pouco confortável. Esse foi o tom da palestra que eu dei em um seminário sobre esporte no contexto ibero-americano: “Pegue as ementas de História do Esporte e veja quando a gente usa tudo o que os europeus produzem, mas não usamos os textos do colega do Uruguai, da Colômbia, da Argentina…”. Às vezes, não usamos os textos do colega brasileiro! Quer dizer, eu não uso texto do colega brasileiro, mas fico usando textos de europeus e reproduzindo aquilo eternamente. Não estou dizendo que não temos de ler e usar os textos deles, porém a gente não pode deixar de ler os textos de cenários que estão mais próximos de nós. A gente circula muito pouco entre nós, a gente se lê muito pouco. E os nossos vizinhos, por sua vez, também. Então, por que está todo mundo usando esses autores europeus? Que fetiche é esse nosso? E olhe que eu gosto de historiografia inglesa, trabalho com Thompson.

Está bom, os trabalhos do Mangan, do Holt e do outros são importantes para nós, mas os trabalhos do Pablo Alabarces, assim como os dos colegas brasileiros, também são tão importantes quanto. Então, nós acabamos referendando essa hierarquia do conhecimento, nos colocando num patamar mais baixo. Eu acho que isso, de alguma maneira, a gente tem que começar a contestar e afirmar a qualidade daquilo que temos feito. E dizer: “O trabalho do Vigarello é bom, mas o do Victor Melo também é bom pra cacete.”. Esses dois trabalhos não deixam a desejar. Podem ter uma repercussão acadêmica diferenciada, mas, do ponto de vista da qualidade, o meu, o seu, o do Flavio de Campos, o do Sérgio Giglio, o do Luiz Henrique de Toledo também são bons. Eles têm de estar nos meus programas no mesmo patamar que estão os trabalhos dos autores europeus. Mesmo de autores clássicos como Elias e Bourdieu? Não, não. Os nossos trabalhos são mais importantes do que os deles, porque são trabalhos de aplicação. Eles me ajudam a pensar o meu tema, porque tentaram aplicar determinados conceitos na articulação com suas fontes ao olhar para um tema.

O que estou dizendo é o seguinte: a gente tem que abandonar definitivamente essa postura colonizada nossa. Isso não significa ser xenófobo, mas, sim, afirmar a nossa autonomia, a nossa competência de investigador. Isso vai passar, também, por esses usos que a gente faz da literatura, no meu modo de entender.

Foto: Sérgio Giglio
Victor Andrade de Melo. Foto: Sérgio Settani Giglio.

Pensando nessa discussão toda, com a entrada da internet o mundo mudou até do ponto de vista acadêmico. Nós conseguimos acessar as fontes de nossa casa ou do celular, o que seria algo impensável há poucos anos. Ao mesmo tempo, estamos nessa estrutura acadêmica em que existe uma hierarquização de revistas internamente, o que significa que um artigo vale mais se for publicado em uma revista A1 e vale menos se o for em um periódico que não esteja no Qualis da CAPES. É possível escapar disso? Além disso, uma outra dimensão colocada pela internet é que os textos, inclusive os acadêmicos, escritos com uma linguagem diferente são até mais lidos do que aqueles científicos publicados em uma revista A1. Então, um texto de um blog ou que está em outras plataformas, como o próprio Ludopédio, e que atinge um público mais amplo tem mais repercussão e diálogo do que aquele que foi criado para ser o diálogo principal. Nós estaríamos em crise? Precisamos repensar o que fazemos nesse sentido?

Eu acho que a gente não tem como escapar disso. Eu não vejo problema na hierarquização da avaliação. Pelo contrário, acho que tem que hierarquizar. Eu vejo problema nos critérios que são utilizados na hierarquização. Dizer que determinadas revistas circulam mais do que as outras tudo bem, mas a forma como isso é feito é o que deixa eu e muita gente assustados. Mais algumas maluquices que o mundo acadêmico está criando, como o conceito de autoplágio. Quer dizer, eu não sou dono mais de minha produção. Eu escrevi com meus recursos, mando para a sua revista, e você vira o dono?! Essa coisa do direito autoral é um perfeito absurdo. Enquanto o mundo todo está discutindo a polêmica dos direitos autorais, o mundo científico está referendando isso. A revista se torna proprietária da reprodução?! Eu, particularmente, acho isso um absurdo. Se é meu, eu publico do jeito que quero e onde quiser. Que direito tem uma revista de estabelecer controle e ameaças quando não paga um centavo pela publicação?

Tem revista que ameaça por motivos diversos: “Vou te despublicar” porque se publicou extratos em outros lugares. Ora, as revistas desconsideram as iniciativas de difusão. Muitas revistas viraram nichos de poder que muitas vezes desrespeitam os autores, tipo assim: “Estamos fazendo um favor de publicar seu trabalho.”. Dá vontade de dizer: “Não, cara. Eu é que estou fazendo um favor publicando na tua revista, porque tu não me pagou porra nenhuma para publicar aí. Não é assim que funciona.”. Só que nessa maluquice as revistas viraram nichos de poder e os pareceristas fazem o que querem e tudo mais. Há que se entender que editores, pareceres e autores devem dialogar, respeitar suas funções, mas jamais tentar se sobrepor ou reinar como soberanos.

Eu acho que a gente tinha de encontrar formas criativas de lidar com isso. Teremos de alguma forma que percorrer essas revistas A1, A2… A não ser que a gente abra mão das pós-graduações. Isso é algo a ser pensado. Eu te confesso: tenho pensado cada dia mais se eu quero ficar em programa de pós-graduação. Porque ficar em programa de pós-graduação ficou uma coisa chata. Eu perco tempo pra cacete daquela minha atividade fim que é investigar. Eu estou começando a acreditar que seria melhor eu não estar em programa de pós-graduação, que ganharia mais tempo para pesquisar. A gente foi submetido a uma burocracia imbecil, por vezes a um convívio de colegas tão imbecis quanto a burocracia, que é melhor escapar disso. O que é uma coisa ruim porque a gente precisa formar as novas gerações também. Mas, pô!, tem uma hora que você fica cansado disso. Então, se a gente quiser ficar em programa de pós-graduação, vai ter de alguma forma que fazer esse jogo. Teremos que separar alguma coisa para essas revistas A1, A2 e assim por diante. Acho que temos de fazer e coordenar isso com outros projetos de difusão acadêmica, que é um pouco o que acontece com o Ludopédio, com o blog Histórias do Esporte. Quer dizer, a gente tem que atuar nos dois lados.

A verdade é que aquele trabalho da revista A1 ninguém vai ler, só alguém que vai fazer alguma pesquisa e pegou o artigo no Google. Mas o grande conjunto da população está lendo os nossos blogs. Volta e meia a gente se surpreende com alguém falando: “Pô, meu pai estava nesse jogo!”. Ou um repórter entra em contato e diz que queria fazer uma matéria sobre um determinado jogo ou assunto. Então, eu acho que a gente tem que fazer isso. Obviamente, vai ter que “se virar nos trinta”, tem que fazer todas as tarefas e dar conta disso. Só é possível se a gente faz equipe, que é o caso do nosso blog. Nós temos dezoito autores agora – chegamos a ter vinte. Fazemos um calendário anual e cada um vai entrar com três posts por ano. Quem quiser escreve até mais, mas pelo menos a gente garante uma atualização semanal. Cinquenta posts por ano já está legal pra caramba! Aquele leitor cativo, a gente sabe disso, volta toda segunda-feira para ler o post novo. Isso mantém o interesse e por isso que não pode falhar. Nosso acordo no blog é isto: não pode falhar, não há justificativas para falhar. “Se você é voluntário eu agradeço, mas se quiser participar não pode falhar.”. De segunda a quarta-feira tem que ter um post novo exclusivo. É isso o que a gente está fazendo: usando criativamente essas linguagens para resistir e sobreviver à caretice que ficou a universidade.

A universidade ficou uma caretice profunda, essa coisa de ficar apontando o pontinho de todo mundo. Parece que escrever agora é para marcar ponto, não é por que você tem alguma coisa para comunicar, nem por que tem o prazer de escrever. Pô, eu não perco isso. Eu escrevo bastante porque tenho o prazer de escrever. Se eu pudesse, eu me dedicava a isso, a escrever, a investigar. Agora, eu não vou entrar nessa maluquice, senão acho que tira o que é mais maneiro em nossa profissão, que é um pouco essa pretensão de que isso pode ajudar alguém em algum lugar. Caso contrário, vira tudo um serviço burocrático.

Como você analisa a passagem dos megaeventos pelo Brasil e, em especial, pelo Rio de Janeiro, que é a cidade onde você vive e que foi bastante impactado pelos Jogos Olímpicos? O que eles representaram? O que ficou deles?

Dizer que não trouxe nenhum benefício para o Rio de Janeiro eu acho um pouco absurdo. Os Jogos Olímpicos trouxeram alguns impactos na estrutura urbana interessante, por exemplo: uma rápida ampliação da linha do metrô. Ok, a linha do metrô é horrível, porque não era para ter sido feita daquele jeito e tal, mas foi feita. O impacto na cidade já se sente agora, porque um dos piores problemas da cidade é a ligação entre a Zona Sul e a Barra da Tijuca. Então, o trânsito melhorou muito porque a galera agora deixa o carro e pega o metrô. Ele está funcionando superbem, agora em dezembro ele já vai funcionar full time, já que ele ainda está funcionando em período experimental. Isso foi uma coisa bacana. Alguns corredores de ônibus, também. Ok, os ônibus continuam cheios, mas agora ficam menos tempo cheios… A implantação do VLT na região central do Rio de Janeiro foi bastante interessante. As obras da região do porto foram espetaculares. A gente teve uma movimentação financeira muito grande na cidade por causa de construção civil e tal. Obviamente, isso traz um aspecto negativo que é o aumento da especulação imobiliária, custo de vida… O Rio de Janeiro tornou-se uma das cidades mais caras do mundo. Para nós que somos de classe média, ficou bastante difícil viver nela. De outro lado, ela ganhou um dinamismo cultural, que o Rio de Janeiro sempre teve, mas que acabou se potencializando. E ainda tem um patrimônio sentimental, do qual não se fala, que é legal pra cacete! É legal demais ter vivido numa cidade que viveu aquilo. Foram dias incríveis! Tanto da Copa do Mundo quanto dos Jogos Olímpicos.

Mas isso não pode fazer a gente fechar os olhos para o que está por trás disso. Efetivamente, por trás disso, houve muita violência urbana, custo elevado, obras mal feitas – cujo exemplo maior foi aquela ciclovia que caiu matando pessoas –, coisas que já estão desmanchando agora, e fundamentalmente não tem um plano de legado. A gente sempre falou antes: “Qual plano de legado? Não tem!”. Quer dizer, a gente tende uma vez mais jogar fora um montão de coisa porque não sabia que destino teria. A piscina olímpica vai pra onde? Ninguém sabe o que vai fazer com ela. Ao mesmo tempo, tem um problema enorme, porque o governo federal pagava uma série de custos que agora não vai passar a pagar mais. Quem é que vai pagar? O Estado que está quebrado? A cidade do Rio de Janeiro? Que dizem que não está quebrada, mas que está numa situação bem precária. Então, vamos ver e acompanhar que desdobramentos que a gente vai ter disso daí. O cenário não é bom, ele nos faz ficar bastante preocupados, inclusive com o recrudescimento da violência, que é o problema central do Rio de Janeiro. Não que a cidade não continue linda e exuberante. O Rio de Janeiro tem uma exuberância incrível! Tem sempre festa acontecendo, tem sempre pessoas na rua, tem final de semana que você não sabe para onde vai de tanta coisa acontecendo, seja para criança, seja para adulto, seja para idoso, para todas as idades. Mas, de fato, a cidade e o Estado estão à beira de uma convulsão social, e isso não é um bom desdobramento de um evento que pretendia deixar um legado tão grande.

Qual é sua partida inesquecível?

Minha partida inesquecível foi Flamengo e Atlético Mineiro, quando o Flamengo foi campeão brasileiro pela primeira vez. Eu estava assistindo com meu pai, e ele viajava muito. No primeiro jogo, em Belo Horizonte, o resultado não foi favorável ao Flamengo. Mas, por telefone, ele me falou: “Não se preocupe. Nada tira esse título do Flamengo. A gente vai ser campeão!”. Naquele dia, eu até escrevi sobre esse jogo… Curiosamente, outra partida inesquecível foi a do último título do Flamengo, no Campeonato Brasileiro também, que aí eu já assisti com o João. Depois, eu também escrevi um texto sobre isso, refletindo como o futebol dramatiza essa coisa da vida, pois tantos anos depois a situação se inverteu. Eu que era o filho virei o pai, em dois campeonatos brasileiros… Acho que com meu pai foi mais inesquecível, naquele Flamengo e Atlético Mineiro, inclusive por ter sido um jogo sofridíssimo. O Reinaldo jogava pra cacete, o gol do Nunes foi no final, foi um jogo incrível! E foi incrível a festa, porque o Rio de Janeiro parou. Foi todo mundo pra rua, no bairro que eu morava todo mundo foi comemorar na rua, soltando fogos, bebendo… Foi uma coisa bastante incrível aquilo.

O que é o futebol pra você?

Eu poderia dizer o que é o esporte para mim. O esporte, como um todo, é o mais incrível fenômeno humano que nós pudemos criar. Se tem algum fenômeno que consegue dramatizar tudo de melhor e de pior dos seres humanos é o fenômeno esportivo. A competição mais brutal e a colaboração mais brutal… O maior idealismo e o comercialismo mais brutal. Quer dizer, os seres humanos conseguiram criar um fenômeno que, de fato, dramatiza todas as suas ambiguidades, todas as suas contradições, todas as suas aporias, todos os seus conflitos… E tudo materializado em alguns minutos, com algumas regras. E essa é a chave de sua popularidade, porque eu acho que não tem ser humano que não se enxergue ali, mesmo que não seja dessa forma racional que eu estou falando. No fundo, a gente mergulha naquele espetáculo e remonta os dramas humanos a cada vez que vemos um esporte. Por isso que em muitos textos eu brinco com a frase do Nietzsche: “Humano, demasiadamente humano.”. Por isso que é tão bom estudar! Porque a gente consegue sacar muito do ser humano e do mundo nesse treco que parece tão frívolo, mas que a gente sabe que não é.

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